Em 1º de setembro de 1917 nascia na cidade de Cruz Alta (RS) o menino David Russowski.
Filho de uma abastada e tradicional família judia, mudou-se para Porto Alegre, para estudar. Em 1934 ingressou no Grêmio, onde atuou até 1936. Nesse período ele disputou seis Gre-Nais, vencendo um, empatando dois e perdendo três. Marcou dois gols, ambos no clássico de 30 de agosto de 1936, vencido pelo Colorado por 3x2. Pelo Grêmio, conquistou apenas o campeonato municipal de 1935.
Em 1937, Russinho trocou o Grêmio pelo Americano, mas o Tricolor tentou evitar a transferência, recorrendo à Associação Metropolitana Gaúcha de Esportes Atléticos (AMGEA), que administrava o futebol da capital. Pouco depois, com o rompimento entre os clubes que adotaram o profissionalismo e os que se mantiveram amadores, Grêmio e Americano ficaram em ligas diferentes, mas Russinho preferiu continuar no clube grená, onde seria vice-campeão municipal em 1937. Em 1938, o Americano abandonou a AMGEA "Cebedense" (amadora) e ingressou na AMGEA "Especializada" (profissional). Mas pelo acordo da AMGEA "Especializada" com a AMEA carioca, a 1ª divisão da capital poderia contar com apenas 5 clubes, e o Americano ficou de fora do campeonato, disputando apenas amistosos com os outros clubes filiados. No início de 1939, levado pelo seu irmão Gildo Russowski (mais tarde presidente do clube), Russinho se transferiu para o Internacional.
Russinho estreou no Internacional com derrota. Em 11 de março de 1939 o Internacional perdeu um amistoso para o Ferroviário por 3x2. Mas sua passagem pelo Colorado seria marcada por vitórias. Um de seus primeiros momentos de destaque ocorreu no Gre-Nal de 20 de julho de 1939. A partida valia pela Taça Diário de Notícias e marcava a inauguração da nova iluminação da Baixada. O Grêmio abriu 3x0, mas o Colorado reagiu e empatou, cabendo a Russinho o 3º gol colorado.
Nesta primeira temporada pelo Colorado, conquistou o Torneio Relâmpago, brilhando ao lado de Carlitos e Sylvio Pirillo. O campeonato da cidade havia sido unificado, após dois anos dividido. Como não era possível organizar um campeonato municipal com os onze clubes que faziam parte da liga, foi organizado um torneio, em turno único, que classificaria os cinco primeiros para a Série A, e rebaixaria os demais para a Série B. Em 6 de agosto de 1939, por esse torneio, o Internacional venceu o Sokol por 13x1, e Russinho abriu e fechou a goleada. No campeonato municipal, apesar da boa campanha e do clube já contar com Tesourinha, o título não veio.
Em 1940, porém, o Colorado dominou o futebol gaúcho, retomando a hegemonia estadual. Em 18 de agosto de 1940, o Internacional empatou em 4x4 com o São José, pelo campeonato municipal. O Colorado perdia por 4x2 até dez minutos antes do fim da partida, quando Russinho marcou dois gols, garantindo o empate. O quarto gol colorado foi uma pintura! Houve uma sequência de passes de cabeça: Alfeu para Rui, Rui para Russinho, Russinho para Carlitos e Carlitos para Russinho, que marcou o gol. O goleiro do São José era nada menos que Ivo, que mais tarde brilharia no Rolo Compressor. Em 20 de outubro de 1940, também pelo campeonato municipal, o Internacional bateu o Grêmio por 4x3, com Russinho marcando o gol 300 do clássico. Na decisão do campeonato estadual, em 24 de novembro de 1940, Russinho marcou o gol do título, na vitória de 2x1 sobre o Bagé.
Em 1941, novamente o Colorado arrebatou os campeonatos municipal e estadual. E em dezembro de 1941 Russinho formou-se em direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mas a grande temporada de Russinho ainda estava por vir.
O ano de 1942 não começou muito bem para Russinho. No início do ano ele participou da delegação gaúcha que disputou os Jogos Universitários, no Rio de Janeiro. Tal atitude desagradou o técnico colorado, o uruguaio Ricardo Díez. O novo comandante do Internacional organizou a primeira pré-temporada da história do clube, com treinos específicos e exames médicos. Por iniciativa dele, o clube montou algo revolucionário no futebol gaúcho: um Departamento Médico.
Russinho não participou da pré-temporada, nem fez os exames médicos. Quando retornou a Porto Alegre, o técnico declarou que enquanto o atleta não passasse por uma bateria de exames e treinamentos especializados, não poderia jogar. Aborrecido, Russinho declarou que iria abandonar o futebol, causando verdadeira comoção na torcida colorada. A pressão da torcida para que Russinho fosse escalado era grande, e a direção passou a apoiar o craque. Irritado com a intromissão no seu trabalho, Ricardo Díez pediu demissão.
Mesmo sem ter participado da pré-temporada, Russinho não decepcionou. E 1942 marcava uma série de acontecimentos especiais. Esta foi a única temporada que a escalação clássica do Rolo Compressor atuou: Ivo; Alfeu e Nena; Assis, Ávila e Abigail; Tesourinha, Russinho, Vilalba, Rui e Carlitos. Além disso, o Rio Grande do Sul, pela primeira vez, poderia ter um tricampeão estadual.
Em 12 de julho de 1942 o Internacional derrotou o Grêmio por 4x2, pelo campeonato municipal. Russinho marcou dois gols, o segundo, uma linda bicicleta. Este gol foi reproduzido em um panfleto colorido e distribuído pela cidade. Russinho recebeu uma placa com uma bicicleta de ouro, oferecida por torcedores e dirigentes.
No final da temporada, o Colorado conquistou, de forma invicta, o municipal e o estadual. Na final do campeonato estadual, marcou um dos gols na vitória sobre o Floriano por 4x1. A seguir, viajou para Curitiba, onde jogaria dois amistosos. Venceu o Atlético por 3x1, e perdeu para o Coritiba por 7x4, em uma partida onde o goleiro Ivo lesionou-se, e o time desandou em campo. Após a partida (na qual marcou um dos gols), Russinho decidiu abandonar o futebol. Sequer jogou o último amistoso da temporada, contra o Libertad do Paraguai.
Torcedores e dirigentes tentaram convencer Russinho a continuar jogando, mas o jogador queria seguir a carreira de advogado. Em meados de 1943, quando o jornalista (e ex-goleiro colorado) Francisco de Paula Job, radicado no Rio de Janeiro, esteve em Porto Alegre, foi homenageado com um grande jantar, onde pediu, em público, que Russinho reconsiderasse sua decisão, mas não adiantou. Pouco depois, o Internacional contrataria Joane, jovem promessa que havia atuado no Corinthians e no Palmeiras, com a missão de substituir Russinho.
Russinho era de família rica. Nunca precisou do futebol para sobreviver. Seu salário era quase todo gasto ajudando funcionários do clube ou mesmo jogadores mais necessitados. Costumava bancar o jantar do grupo de jogadores, após as vitórias. Brincalhão e amigo de todos, Russinho era adorado por colegas, dirigentes, funcionários e torcedores. Era chamado de “Doutor” pelos colegas. Foi capitão do time entre 1940 e 1942. Encerrada a carreira, manteve-se ligado ao clube, onde foi conselheiro.
Em 4 de setembro de 1958 Russinho estava em São Paulo, onde realizaria uma cirurgia para curar uma úlcera. Infelizmente, o ídolo colorado sofreu um choque anafilático durante a intervenção cirúrgica. Sua morte, três dias após completar 41 anos de idade, surpreendeu e comoveu a torcida gaúcha. Seu corpo foi trazido de avião e enterrado no Cemitério Israelita. Dirigentes e atletas de todos os clubes da cidade compareceram ao enterro. A Federação Gaúcha e a dupla Gre-Nal decretaram luto oficial de três dias. O presidente colorado, naquela temporada, era Gildo Russowski, seu irmão.
Seus números no Internacional:
89 partidas
59 vitórias
19 empates
11 derrotas
70 gols marcados
Campeão gaúcho em 1940, 1941 e 1942
Campeão municipal em 1940, 1941 e 1942
Campeão do Torneio Relâmpago em 1939
Suas vítimas:
Força e Luz - 11 gols
Grêmio - 10 gols
São José - 8 gols
Cruzeiro - 7 gols
Novo Hamburgo/Floriano e Pelotas - 5 gols
Bagé - 4 gols
Ferroviário/Nacional - 3 gols
Porto Alegre, Americano, Sokol, Internacional SM, Riograndense PF, Rio Grande e Armour - 2 gols
Independiente ARG, Gimnasia y Esgrima ARG e Riograndense SM - 1 gol
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