Em 28 de setembro de 1897, nasceu em Portugal o menino José Pinheiro Borda. Em 1929 Pinheiro Borda mudou-se para o Brasil. Chegou a Porto Alegre como representante comercial de uma firma carioca, e acabou se estabelecendo na cidade, onde abriu uma casa de fazendas no antigo Caminho Novo (atual Rua Voluntários da Pátria). Logo tornou-se um apaixonado torcedor colorado, e ferrenho antigremista. Costumava declarar publicamente: "Jamais entrarei no estádio deles". Era daqueles torcedores que não perdia treino, e era amigo da maioria dos jogadores. Também costumava auxiliar famílias de torcedores pobres, no legítimo espírito do Clube do Povo.
Sócio do clube, acabou por ser eleito conselheiro. Na década de 1950 chegou à presidência do Conselho Deliberativo do clube. Várias vezes foi convidado para concorrer à presidência do clube, mas jamais aceitou. Para ele, bastava ser colorado. O próprio Borda definia esse sentimento: "Eu me sinto orgulhoso de ser colorado. Apenas isso. Para mim, ser colorado é a maior coisa do mundo. Maior ainda porque eu posso falar e falando eu posso dizer isso." Mesmo depois de tornar-se dirigente, continuou sem frequentar o estádio gremista. Em dia de Gre-Nal no Olímpico, ficava com os jogadores, na concentração, até a hora da partida para o estádio. Aí ele se dirigia para a colina dos cemitérios da cidade, e de dentro de um deles, conseguia vislumbrar, ao longe, alguns lances da partida.
Borda também era um conhecido turfista. Foi um dos responsáveis pela construção do Hipódromo do Cristal, inaugurado em 1959, e foi presidente do Jockey Club de Porto Alegre em 1960 e 1961. Era chamado pela imprensa o "incansável José Pinheiro Borda". Em seu mandato enfrentou tempos difíceis com o decreto antiturfe de Jânio Quadros, que quase levou a falência a maioria dos Jockeys Clubs do país. Também negociou com a prefeitura e Câmara Municipal a questão do terreno dos Moinhos de Vento, onde se localizou o antigo hipódromo. Mas em dezembro de 1961 perdeu as eleições onde buscava a reeleição para Indemburgo de Lima e Silva, por 468 a 433 votos.
Em 1962 o Internacional pretendia tirar o Beira-Rio dos sonhos e transformá-lo em realidade. José Pinheiro Borda foi o nome lembrado para ser presidente da Comissão de Obras, pela sua experiência na construção do Hipódromo do Cristal. Mesmo assim, foi necessário um grande esforço para convencê-lo de assumir esse cargo, pois se achava velho demais para a função. Somente após uma longa sessão do Conselho Deliberativo, com discursos emocionados de tradicionais colorados, Borda aceitou a missão, em junho de 1962.
Em pouco tempo, Pinheiro Borda organizou a Comissão do Estádio, e começou a lutar para conseguir fundos para a obra. Enfrentava com orgulho e confiança as provocações gremistas de que estava vendendo boias cativas, quando lançou a venda de cadeiras cativas e títulos patrimoniais do futuro estádio. Borda percorreu boa parte do interior do estado, conclamando todos os colorados a colaborarem com a construção do Gigante. Também era presença constante na imprensa, divulgando o estádio e pedindo colaborações. Após o lançamento da pedra fundamental do estádio, em julho de 1963, Borda costumava passar várias horas por dia junto ao gigante que nascia.
Origem da foto: http://memoriadointer.blogspot.com/
Nome respeitado por todos os colorados, em outubro de 1963 chegou a ser cogitado como candidato de consenso à presidência do clube, evitando a disputa entre Manoel Tavares e Salvador Lopumo, mas preferiu continuar chefiando as obras do estádio. Em 12 de dezembro de 1963 recebeu o título de "Cidadão de Porto Alegre" da Câmara Municipal. Dias depois, ficou em 2º lugar como desportista do ano na escolha do jornal Diário de Notícias, perdendo por um voto para Rudi Petry, diretor gremista.
Dedicado integralmente às obras do estádio, seguia os princípios que declarou em entrevista: "Esse estádio vai ficar pronto muito breve. Os colorados estão ajudando e o dinheiro entrando. E é dinheiro sagrado, no qual diretoria nenhuma colocará a mão".
Infelizmente, esse grande colorado não conseguiu realizar seu maior sonho: ver o estádio inaugurado. A sua última entrevista parecia antever o que aconteceria, quando Borda declarou: "Eu tenho três coisas que amo profundamente, a minha esposa, o Internacional e o Gigante da Beira-Rio. Nunca cometi pecados graves. Por isso, peço a Deus que me dê a graça de ver construído o Gigante". Mas uma doença surgida repentinamente derrubou rapidamente o grande colorado. Em 25 de abril de 1965 falecia José Pinheiro Borda. Internado desde o dia 10 no Hospital Moinhos de Vento, o coração do Gigante parou de bater as 8 horas da manhã. Velado nos Eucaliptos, seu enterro atraiu uma grande multidão. Após o corpo sair dos Eucaliptos, foi levado até às obras do Beira-Rio, para a triste despedida, antes de ser levado para o sepultamento no cemitério da Santa Casa. Em seu funeral discursaram Manoel Braga Gastal (presidente do Internacional), Fernando Jorge Schneider (presidente do Joquei Clube) e Renato Souza (prefeito em exercício da Capital). O Internacional declarou luto oficial de três dias, cancelando o amistoso com o Cerro de Montevidéu, marcado para 28 de abril.
Em 4 de maio de 1965, a diretoria do Internacional, presidida por Manoel Braga Gastal e tendo José Asmuz como vice-presidente de patrimônio – ad referendum do Conselho Deliberativo, conforme permitia o estatuto – nomeou ao novo estádio do clube como José Pinheiro Borda. Mas nunca houve a oficialização do nome, que segundo o próprio Braga Gastal, “não pegou”. Mas conhecendo a simplicidade e humildade de Pinheiro Borda, ele próprio certamente preferiria Gigante da Beira-Rio como nome do estádio.
Apesar de nunca ter sido oficializado, José Pinheiro Borda foi citado como nome do estádio no discurso do presidente José Alexandre Záchia, no jantar comemorativo ao 59º aniversário do clube.
Também em anúncios comerciais no dia da inauguração do estádio o nome de Pinheiro Borda foi citado.
Em homenagem a esse grande colorado, sem o qual dificilmente teríamos o Gigante, foi erguido um busto, na entrada do estádio, próximo ao Portão 1. O busto foi inaugurado em 24 de abril de 1966, antes mesmo da inauguração do estádio. O presidente do clube na época, Ephraim Pinheiro Cabral, assim se referiu a Pinheiro Borda: "Não resta a menor dúvida que Pinheiro Borda foi um dos maiores colorados de todos os tempos. Foi um dos artífices da grandeza do Internacional em todos os setores e em todos os sentidos".
As homenagens seguiram adiante. O Departamento de Excursões do Internacional, que organizava as excursões dos torcedores para os jogos fora de Porto Alegre, recebeu o nome de José Pinheiro Borda. O Jockey Club passou a realizar regularmente o Grande Prêmio José Pinheiro Borda. E em março de 1967 a Avenida Guaíba passou a se chamar rua José Pinheiro Borda.
No dia da inauguração do Beira-Rio, houve um evento oficial junto ao busto de Pinheiro Borda, pela manhã. Durante o dia, inúmeros foram os colorados que ajoelharam-se e rezaram junto ao busto, agradecendo ao abnegado colorado que deu a vida pelo estádio. Em 6 de abril de 2009, quando o estádio completou 40 anos, o busto de José Pinheiro Borda foi "reinaugurado". No local, além do busto do dirigente colorado, estavam placas de cimento com os nomes escritos à mão dos jogadores de Benfica, Peñarol e Seleções do Brasil, Hungria e Peru, que participaram do festival de inauguração do estádio (atualmente essas placas estão dentro do estádio, protegidas das oscilações do clima).
Em 2019, nas celebrações dos 110 anos do clube e dos 50 anos do Beira-Rio, o Internacional inaugurou a Praça José Pinheiro Borda, com a reinstalação do busto do ex-dirigente, entre o ginásio Gigantinho e o Centro de Eventos Arthur Dallegrave. Também foi enterrada no local a Cápsula do Tempo, uma urna acrílica com inúmeros documentos do Centenário colorado e da reforma do Beira-Rio (fotos, revistas, jornais, livros, etc), que ficarão lá até o bicentenário, em 4 de abril de 2109.
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