Bráulio, o "Garoto de Ouro" estreou no time principal do Internacional em 1965, aos 16 anos. Jogador de grande qualidade técnica e passe certeiro, logo caiu no agrado da torcida. Mas os anos 1960 não foram bons para o Colorado. Vários jogadores habilidosos eram revelados pelas categorias de base, mas não conquistavam títulos. Logo começaram a ser considerados pouco competitivos e fisicamente mais fracos que os adversários.
Em 1968 o Internacional havia contratado o ex-técnico gremista Oswaldo Rolla, o Foguinho, considerado um adepto do futebol-força. Mas seu trabalho não rendeu os frutos esperados, e em 17 de setembro de 1968, três dias depois de bater o São Paulo no Morumbi, Foguinho demitiu-se. No mesmo dia o Internacional contratou Daltro Menezes, técnico do Juventude. Falastrão, mas adepto de um futebol de marcação forte, Daltro caiu nas graças dos Mandarins, grupo que pretendia mudar o perfil do Internacional, priorizando a força na formação da equipe. Com Daltro, o Internacional foi vice-campeão do Robertão em 1968, e bicampeão gaúcho em 1969 e 1970.
Apesar dos título, entretanto, Daltro não caiu nas graças da torcida. Seu futebol de forte marcação e pouca preocupação ofensiva não entusiasmava os torcedores. Além disso, Bráulio, o ídolo da torcida, começou a ser sacado do time. Os títulos e o apoio do Mandarins conseguiam contrabalançar a pressão da torcida. Mas no final de 1970 a situação de Daltro começou a piorar rapidamente. No final de novembro de 1970, faltando três rodadas para encerrar a fase classificatória, o Internacional estava muito próximo do Quadrangular Final. O clube precisava de duas vitórias nos três jogos (ou dois empates e uma vitória). Os dois primeiros jogos foram no Rio de Janeiro, contra América e Flamengo. O Colorado perdeu os dois por 1x0, ficando fora da disputa antes da última rodada. E Daltro sequer levou Bráulio como reserva para o Rio. Na volta, a demissão do técnico era certa, mas os Mandarins conseguiram mantê-lo no poder.
O ano de 1971 não começou nada bem para Daltro. O time fracassou no Torneio do Povo. Pouco depois, o presidente Carlos Stechmann decide afastar o Mandarins do futebol, passando Aldo Dias Rosa para as finanças e aceitando a demissão de Ibsen Pinheiro e Cláudio Cabral, entre outros. A saída de Daltro parecia certa, mas ele continuou. Porém, foi avisado de que jogadores considerados de qualidade deveriam receber mais chances no time. Ao mesmo tempo, voltou ao clube um desafeto do técnico, Hugo Amorim, ex-Mandarim, para exercer a função de assessor de futebol.
No dia 15 de março de 1971 começa a agonia final de Daltro. Nesse dia, no Beira-Rio, o Colorado apenas empatou com o São José (1x1). No dia 20, novo empate em casa, com o Novo Hamburgo (0x0). Bráulio jogou, mas foi substituído. Em 24 de março, novamente no Beira-Rio, o Gre-Nal que decidia o Torneio Internacional de Porto Alegre. O Internacional perdeu por 2x0, sem Bráulio. Após a partida, o diretor de futebol Gildo Russowsky declarou à imprensa: "temos que tomar uma atitude. Esta situação não pode continuar". Daltro recebeu um ultimato, teria 15 dias para mostrar uma evolução do time. Isso incluía três partidas: um amistoso contra o Atlético de Carazinho, o Inter-Cruz pelo campeonato gaúcho, e o amistoso comemorativo do aniversário do clube, contra o Flamengo do Rio.
No dia 28 de março o Internacional bateu o Atlético por 4x1, em Carazinho. No dia 4 de abril, a partida contra o Cruzeiro foi preparada para ser uma grande festa de comemoração dos 62 anos do clube. Dirigentes históricos e ex-jogadores estavam presentes ao evento, e esperavam uma boa vitória. Mas o Colorado jogava pouco. Mesmo assim, aos 44' do 1º tempo, Dorinho, jogador de confiança de Daltro, fez 1x0. Entretanto, aos 10' do 2º tempo o veterano Ortunho empatou, 1x1. O Internacional apresentava dificuldades de criar novas chances de gol, e aos 20' Daltro resolveu mexer no time. E o fez da pior maneira possível: tirou Bráulio para colocar Jangada. Durante dois minutos o Beira-Rio tornou-se uma única voz, bradando "burro, burro, burro!". O Internacional ainda teria um gol legítimo mal anulado pelo juiz, mas nada desviou o foco da raiva dos torcedores. E aí vieram as entrevistas de fim de jogo...
Daltro (que treinou o time usando uma camisa azul), talvez sem perceber que estava cavando a própria sepultura, declarou aos repórteres: "a nossa torcida é espetacular. Acho que em matéria de vibração e de incentivo não existe outra. Acontece que ultimamente ela tem prejudicado muito o time. Resolveram endeusar o Bráulio. Isso não pode acontecer. Ele não é nenhum perna-de-pau, mas também não é fenômeno. É apenas um grande jogador, pode ser substituído".
Em outro ponto do estádio, Hugo Amorim declarava aos repórteres: "todas as manifestações da torcida são justas. Não podemos proibi-la de manifestar descontentamento, quando este é justo. Se ela acha que Bráulio é um grande jogador, tem razão. Ele não pode sobrar no plantel colorado. E, quando for substituído, só quando for por um grade jogador. Daltro deu o troco pelas rádios: "pode cair a casa inteira em cima de mim que eu tiro o Bráulio quando achar necessário." Na mesma noite começam as especulações sobre possíveis substitutos de Daltro: Didi, Sylvio Pirillo, Aimoré Moreira, Telê Santana, entre outros.
Na manhã de 6 de abril, após reunião da direção, Daltro Menezes foi demitido, e saiu disparando: "o Internacional voltou a priscar eras. A torcida pediu a cabeça do treinador e a diretoria atendeu". Gilberto Tim assumiu o comando do Internacional interinamente, e começou a busca por um novo técnico. Otto Pedro Bumbel (Sevilla ESP) e Sylvio Pirillo (Guarany PAR) foram descartados porque não seriam liberados por seus clubes. O nome preferido da direção era Didi, que estava no River Plate ARG, mas o valor da multa com o clube argentino era elevada demais. Também não foi possível tirar Telê Santana do Atlético MG. Assim, em 14 de abril o clube anunciava Dino Sani, que já havia feito um bom trabalho no Corinthians.
Em São Paulo, no dia 20 de abril, Daltro declarou à imprensa: "a torcida do Inter queria Bráulio no time, que jogava para ela. Mas ele não tinha condições de entrar no meu time. Por isso afastei-o." A bronca do ex-técnico também voltava-se para a torcida. "É preciso mudar a mentalidade daquela torcida. Eu não consegui, apesar de ter sido bicampeão do estado e quase tri." No dia seguinte, na estreia de Dino Sani, mesmo sem jogar bem o Internacional bateu o Riograndense, em Santa Maria, por 3x0. Ao final do jogo o presidente Carlos Stechmann respondeu a Daltro: "o time é o mesmo, você viu. Só que este time, agora, faz três a zero."
Assim terminava a saga da passagem de Daltro Menezes pelo Internacional. Em 1985 o "Gordo" voltaria ao clube, sem sucesso. Já o "Garoto de Ouro" jogou no Internacional até 1973, jogando depois no Coritiba, América RJ, Botafogo e Universidad de Chile.
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