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segunda-feira, 7 de março de 2022

Crônica de Vargas Netto sobre o Internacional


Manuel do Nascimento Vargas Netto era sobrinho de Getúlio Vargas. Jornalista, atuou no Rio Grande do Sul e depois mudou-se para o Rio de Janeiro, durante o governo do tio.

Esportista, era torcedor do Internacional. No Rio, foi cronista no Jornal dos Sports e chegou até a presidir a Federação Metropolitana de Futebol, que organizava o campeonato carioca, na época.

Em 1º de julho de 1945 o Internacional iria enfrentar o Flamengo, na Gávea. O amistoso marcava a inauguração das arquibancadas da Gávea. Inicialmente o Flamengo convidou o River Plate, mas na impossibilidade do clube argentino aceitar o convite, o Colorado foi o adversário buscado pela direção rubro-negra

No mesmo dia, Vargas Netto escreveu uma crônica intitulada "O Meu Internacional", onde falava sobre os primeiros tempos do clube e sua torcida. Eis o texto:

"Ainda me lembro daquelas tardes luminosas de Porto Alegre, quando a torcida do Internacional vibrava, agitando lenços vermelhos, flamulas rubras, bandeirolas encarnadas, incentivando a equipe 'colorada', que corria em campo tangida pelo grito de guerra dos seus partidarios.

Dentro do campo lutavam rapazes de camisetas cor de sangue, camisetas vivas como um grito de entusiasmo, por cuja vitoria a multidão parcial dos seus adeptos crepitava nos brados enérgicos, incendiava nas faces escarlates e nas mãos que agitavam as chamas dos grandes lenços vermelhos!

O Waldemar Correia fazia questão de ter o maior lenço encarnado, e levava um que era quase um lençol!

Alguns internacionalistas usavam gravatas e lenços de bolso 'colorados', outros levavam lenços de pescoço, e as namoradas se vestiam de vermelho, de modo que a nossa arquibancada parecia um incendio, pelo calor e pela expressão cromática.

Além dessa turma decorativa dos galhardetes e divisas, havia a turma da briga, constituída pelos rapazes da fronteira. Eram academicos de Livramento, Uruguaiana, Itaqui, São Borja, bagé, etc...

Lembro-me do Simão Alves, grande zagueiro e grande brigador. Fidelis, um morenão dobrado, de Alegrete, companheiro na zaga e nos 'banzés'...

Recordo os Flores da Cunha, os Fernandes da Cunha, os Correia, os Kluwe, Alfredo Escobar, Pelagio Lenzi, Chaér, Benjamin Vargas, Alvaro Ribas, os Telles, os Lemos, uma infinidade de rapazes que formavam a turma de choque no 'descasca a madeira'. Naquele tempo, um match de football era quase uma batalha legítima. Não precisava o clássico motivo do juiz, pois não havia separação entre a torcida das sociais e das populares, e o campo, pelo meio das facções, era um obstáculo nulo.

O Barão de Itararé era do Internacional e andava sempre junto com Benjamin Vargas, Simão Alves, Alfeu Escobar e João Flores da Cunha.

Em quantas turumbambas ele se viu envolvido por causa dessa turma da briga rasgada, que, depois de dissolver a outra torcida, fazia um combatezinho suplementar com a polícia?...

Os tempos passaram. Deixamos de fazer força fora do campo, todos os domingos. O Internacional ficou respeitado. A rapaziada da briga foi amadurecendo, terminando os cursos academicos, assumindo posições de responsabilidade... Mas a flama colorada ficou! O entusiamo rubro não morreu!"

Em campo, o Internacional mostrou seu valor e contra o forte Flamengo, no Rio, empatou em 2x2.









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