O Internacional, assim como a sociedade brasileira, tem inúmeras vinculações com tradicções religiosas de diversos matizes. A começar pelo Irmão Pedro, considerado mascote do clube nos anos 1920.
Irmão Pedro chegou a Porto Alegre em janeiro de 1916, para trabalhar no Instituto Pão dos Pobres, do qual foi o primeiro diretor após os lassalistas assumirem a instituição. Amante do futebol, em setembro do mesmo ano foi um dos três técnicos indicados pela Federação Sportiva Riograndense para organizar a seleção da capital que enfrentaria a seleção uruguaia. E logo se encantou com o Internacional. O religioso belga foi sócio do clube até sua morte, em 1945.
Mas essa identificação de um dos grandes nomes do catolicismo do estado com o clube não impediu que nas décadas de 1930 e 1940 o clube fosse chamado popularmente de "diabos rubros". Até mesmo o conservador católico Jornal do Dia utilizava o termo sem problemas (a notícia aqui postada é do jornal A Federação).
Nos anos 1950 (e certamente até o início dos anos 1980, pelo menos), os jogadores e torcedores, e provavelmente dirigentes, tinham grande proximidade com os cultos afro-brasileiros. Essas duas histórias relatadas pelo técnico Teté ilustram o caso:
Nos anos 1960 o clube era associado a São Jorge, e consequentemente a Ogum.
E também é verdade que o clube possui a Capela de Nossa Senhora das Vitórias, que em sua inauguração a santa teve direito a uma guarda de honra da torcida organizada Falcão Povão.
Hoje tivemos uma polêmica nas redes sociais sobre a não manifestação do clube em relação ao dia de Nossa Senhora das Vitórias. Curiosamente, no site do clube, com notícias desde 2003, há 70 menções à Nossa Senhora das Vitórias, e nenhuma sobre o dia da santa, 15 de agosto. Todas são sobre horário de missas ou sobre eventos que ocorreriam na Capela.
Ou seja: se o clube não se manifestou sobre o dia de Nossa Senhora das Vitórias, simplesmente manteve-se a tradição.
Minha opinião: o clube poderia se manifestar em datas como o Natal e a Páscoa, ou no dia de sua padroeira. Também poderia se manifestar no início do Ramadã, no dia do Yom Kippur, no dia de Ogum, no dia de Xangô, no dia de Vesak, do nascimento de Allan Kardec (ou de Chico Xavier), etc. Podia? Sim, por respeito às religiões. Certamente existem colorados adeptos do catolicismo, do islamismo, do judaísmo, das religiões afro-brasileiras, do budismo, do espiritismo ou de tantas outras. Ou não se manifestar em nenhuma. Não é uma questão de suma importância. Não é hoje e nunca foi. A fé (ou as fés) é dos torcedores, cabe ao clube respeitá-las e não tentar sobrepor uma ou outra às demais.
Não foi ideológica a não manifestação sobre o dia de Nossa Senhora das Vitórias. Provavelmente os responsáveis pelo site e pelas redes sociais do clube sequer sabiam da data. Ideológica foi a posição de parcela da direção do clube de não condenar a ditadura militar.
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