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sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Um caso centenário do futebol nas páginas policiais

 

Noite de sábado, 4 de setembro de 1920

Em uma "residência coletiva de mulheres de vida fácil", segundo a imprensa da época, localizada na Rua Espírito Santo nº 50, chegaram alguns rapazes, estudantes e funcionários do comércio: Adalberto Gomes Figueiredo, Tácito Correia Bayma e Brasilino Guilhermelli.

Pouco depois, chegam os amigos Fontoura Borges, Bruno Reiswitz Ponding e Acelyno Leal Machado. E mais um pouco, chegam Cyd Velloso e Jacy de Paula Esteves (menor de idade). Amigos, todos conversam animadamente e bebem cerveja.

Mais um pouco e chega, agitado, Anacleto da Rocha Contreiras, 19 anos, funcionário do comércio e jogador do Cruzeiro. Também era árbitro da liga, tendo dirigido o Gre-Nal de 22 de agosto. Ele explicou aos amigos que faria Pedro Azevedo "engolir" os pedaços de uma pulseira. Os dois jovens disputavam as atenções de Alayde Ramos, uma das moças que moravam na casa. Anacleto a havia presentado com uma pulseira, e Pedro, enciumado, havia arrebentado o presente.

Pedro não estava no local. Havia chegado mais cedo e saiu com Alayde, para passear. Os jovens continuaram a beber e conversar. Em certo momento, Tácito Bayma, já embriagado, começou a cometer "desatinos". Preocupados com seus excessos, os amigos resolvem ir embora. Chegando à rua, Tácito começou a falar palavrões em voz alta. A algazarra chamou a atenção do inspetor Fortunato José da Rosa, que foi até o grupo e pediu para que parassem com a confusão. Tácito, irritado, tentou agredir o inspetor, sendo contido pelos amigos, com exceção de Jacy, que sacou um revólver e ameaçou alvejar Fortunato.

Sem condições de prender os desordeiros, Fortunato passou a tentar acalmá-los, enquanto Tácito e Jacy o xingavam e o ameaçavam. Nesse momento, passou na rua um "auto de aluguel", dirigido por Anchieta Barbosa. Os jovens fazem sinal e embarcam no carro. Um agente policial também se aproximou, para dar apoio ao inspetor.

Quando tudo parecia se resolver, mal o carro se afastava, e partiram tiros de dentro do mesmo, contra o inspetor, que revidou aos disparos. Anacleto, que estava ajoelhado no banco da frente, voltado para seus companheiros, caiu ferido. O carro deslocou-se rapidamente para a Chefatura de Polícia, depois para o 1º Posto. Anacleto recebeu curativos e foi enviado, em estado grave, para a Santa Casa, onde faleceu na manhã de domingo.

No carro, foram encontrados um revólver em uma bolsa, reconhecido pelo motorista como seu. No chão do veículo, dois outros revólveres, um 32, reconhecido como de Anacleto, com duas cápsulas deflagradas, e outro 38, que ninguém reclamou como seu, com todas as cápsulas deflagradas. Também foi encontrado um coldre, pertencente a Jacy.

Fortunato, Tácito e Jacy foram indiciados como responsáveis pela morte de Anacleto. O julgamento ocorreu em março de 1921, e aparentemente apenas Fortunato foi condenado, pegando uma pena de 6 anos de prisão. Em novembro de 1921, porém, foi absolvido e libertado por decisão do Supremo Tribunal do Estado. Em 1926, Fortunato foi demitido do cargo de inspetor de polícia, sem que os motivos tenham sido declarados na imprensa.


2 comentários:

  1. Aqui tem uma matéria do Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, noticiando o falecimento de Anacleto Contreiras:
    http://memoria.bn.br/pdf/089842/per089842_1920_07860.pdf

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    1. Muito legal! Uma demonstração de que o caso foi notícia nacional.

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