Em 3 de outubro de 1921 nascia o menino Osmar Fortes Barcellos, filho de Bonifácio Fortes Barcellos e Ernestina Alvima Fortes Barcellos. Sua família residia na rua Lobo da Costa. Seu pai era motorista e sua mãe dona de casa. O menino tinha dois irmãos mais velhos: Vilma e Ademar.
O avô de Tesourinha teve dois filhos mais velhos que seu pai. Mas eles não sobreviveram. Em 22 de janeiro de 1894, era sepultado o menino Ademar, de 3 anos de idade.
Uma semana depois, no dia 29, Bonifácio enterrava sua filha Clemencia, de 14 meses.
Mas em 1895 nasceu Bonifácio Fortes Barcellos, com o mesmo nome do pai. Em agosto de 1917 Bonifácio contratou casamento com Ernestina Alvima de Moraes, com quem teria três filhos. Um deles, Osmar.
O pai do menino Osmar, porém, faleceu em 16 de junho de 1925. Sua mãe, pouco tempo depois, casou com Fausto Venâncio dos Santos e a família foi morar na rua Baronesa do Gravataí. O padrasto de Osmar era um dos fundadores do Bloco Os Tesouras, e seus enteados foram apelidados de Tesoura (Ademar) e Tesourinha (Osmar). Mas a década de 1930 também traria tristezas para a família. Um dia, após tentar um salto mortal, Ademar, o Tesoura, feriu-se com seriedade e veio a falecer.
Tesourinha se criou nos campos de várzea de Porto Alegre, jogando em clubes como o Juventude, Madureira e Setembrino. Em 1939, após um amistoso entre o Setembrino e os juvenis do Internacional, Tesourinha chamou a atenção dos dirigentes colorados. O futuro craque já tinha um convite do Ferroviário, da Série B, para profissionalizar-se, mas acabou assinando com o Internacional.
Em 22 de outubro de 1939 o Internacional enfrentava o Cruzeiro, nos Eucaliptos, pela 2ª rodada do campeonato municipal. A estreia não havia sido boa, derrota em casa para o Grêmio, por 3x2. Para o Inter-Cruz o clube não apresentava novidades.
O nome da partida foi Brandão, que marcou os dois gols colorados, na vitória de 2x1. No 2º tempo, estreou no Internacional um garoto magricela, que substituiu Carlitos. Era Tesourinha.
E logo depois que estreou, Tesourinha não saiu mais do time. No início, foi favorecido pela convocação de Carlitos para a seleção gaúcha (Tesourinha era ponteiro-esquerdo de origem). Com a volta de Carlitos da seleção, Tesourinha foi para a direita, de onde não saiu mais.
Seu primeiro gol ocorreu em sua 4ª partida, goleada de 7x0 no Força e Luz. Esse foi seu único gol em 1939, onde disputou apenas as 4 últimas partidas da temporada. O jogo seguinte, já em 1940, mas ainda válido pelo campeonato municipal de 1939, era o Gre-Nal: vencemos por 6x1, e Tesourinha fez mais um gol. No campeonato de 1939, encerrado em fevereiro de 1940, o Internacional foi vice. Mas já estava germinando a semente do grande time dos anos 1940.
O primeiro contrato profissional de Tesourinha foi assinado somente em 1940. O atleta recebia 200 mil réis por mês, mais um quilo de carne e dois litros de leite diários, por sugestão do médico do clube, que o achava muito magro. Em 1940 Tesourinha foi campeão municipal e estadual, marcando 11 gols na temporada.
Em 1941, o bicampeonato, com 9 gols. No ano seguinte, tri, com 16 gols. Em 1943 o Colorado chegava ao tetra, com um recorde de gols: 27.
Na temporada de 1944, além do pentacampeonato, Tesourinha foi convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira. Flamengo, São Paulo e Palmeiras tentaram contratá-lo, sem sucesso. Pela Seleção Gaúcha, participou da memorável vitória de 2x1 sobre a imbatível Seleção Paulista, no Rio de Janeiro. Tesourinha também foi o artilheiro colorado da temporada, com 19 gols.
Em 1945 Tesourinha disputou o Campeonato Sul-Americano, no Chile, sendo eleito o melhor ponteiro-direito da América. No mesmo ano, o Internacional foi hexacampeão estadual. Seus atletas receberam uma premiação de três mil cruzeiros, cada, e foram diplomados "doutores em futebol". Tesourinha fez 24 gols pelo Internacional, na temporada.
Em 1946 Tesourinha voltou a ser escolhido o melhor ponteiro-direito da América. Pelo Colorado, marcou 11 gols.
Em 1947 o Internacional voltou a conquistar o título gaúcho, com 17 gols de Tesourinha.
A temporada de 1949 foi marcada por conquistas pessoais. Primeiro, foi eleito o "Melhoral dos Cracks", disputando o voto popular com os principais jogadores do país. Depois, pela Seleção Brasileira, foi campeão sul-americano, feito que não ocorria desde 1922. Tesourinha marcou dois gols na decisão, quando o Brasil goleou o Paraguai por 7x0. No final da temporada de 1949 finalmente o Internacional concordou em negociar Tesourinha, vendendo-o para o Vasco da Gama, por 300 mil cruzeiros, o passe do atacante Solís e mais a renda de um amistoso a ser disputado. Na sua última temporada no Internacional, Tesourinha marcou 20 gols. Seu último jogo ocorreu em 4 de dezembro de 1949, um amistoso contra o Santa Cruz, em Santa Cruz do Sul.
No Vasco, Tesourinha foi campeão carioca em 1950, conquistando, no mesmo ano, o título brasileiro pela Seleção Carioca. Na véspera da Copa do Mundo, porém, uma lesão no joelho o deixou fora do Mundial. Em 1952, com um problema crônico, Tesourinha voltou ao sul, e surpreendentemente, para jogar no Grêmio, tornando-se o primeiro negro a vestir a camisa tricolor.. Isso levou o humorista Carlos Nobre a dizer: "sua importância foi tão grande que, por sua causa, assinaram a Lei Áurea no Grêmio". Pelo Grêmio, Tesourinha não conquistou títulos, nem fez gol em Gre-Nal. Em 1955 acabou transferindo-se para o pequeno Nacional, onde jogou até 1957. Tesourinha encerrou a carreira dois dias antes de completar 36 anos. Sua despedida do futebol ocorreu em 1º de outubro de 1957. No Olímpico, festejava-se o Dia do Cronista. Na partida de fundo, seria disputado o amistoso Grêmio x Corinthians. Antes da partida, vestindo a camisa do Nacional, Tesourinha foi ao centro do gramado e chutou a bola. A seguir, deu uma volta olímpica, seguido por garotos com as camisas de Internacional, Grêmio, Vasco da Gama, Nacional, Seleção Gaúcha e Seleção Brasileira.
Em 1960 Tesourinha teve uma breve passagem como técnico do Montenegro. Depois, trabalhou nas categorias de base do Internacional.
Em 26 de março de 1969, o Internacional despedia-se do antigo estádio dos Eucaliptos. O Beira-Rio seria inaugurado dias depois. O clubes disputava um amistoso com o Rio Grande. Perto do final do jogo, é anunciada uma substituição nos auto falantes do estádio: Tesourinha no lugar de Bráulio. E para a surpresa da torcida, era o antigo ídolo, que voltava a jogar. Após o fim da partida, ao som da Valsa do Adeus, Tesourinha e Carlitos, outro antigo ídolo, retiraram as redes do campo.
Em 1977 Tesourinha começou a sentir os primeiros sintomas de um câncer de estomago. Em 1978 vieram as primeiras internações. E em 17 de junho de 1979 Tesourinha faleceu.
Tesourinha marcou 178 gols pelo Internacional. Suas vítimas:
29 gols
São José
26 gols
Força e Luz
17 gols
Grêmio e Nacional
15 gols
Cruzeiro
13 gols
Renner
6 gols
Pelotas e Floriano
5 gols
Guarany de Cachoeira do Sul
3 gols
Porto Alegre, Internacional SM, 14 de Julho PF, Rio Grande e Figueirense SC
2 gols
Combinado de Porto Alegre, Juventude, Brasil de Pelotas, Bagé, Riograndense RG, Gaúcho, Ypiranga BA e Sol de América PAR
1 gol
Atlântico, Bancário, Armour, Flamengo de Caxias do Sul, Montenegro, Farroupilha, Bahia BA, Palmeiras SP, América RJ, Paula Ramos SC, Coritiba PR, Estudiantes ARG e Defensor URU
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