Foto: Ricardo Duarte (site oficial do clube)
No final da década de 1980, Abel Braga era a grande revelação dos técnicos brasileiros. Começou a treinar em 1985, e após comandar Goytacaz, Rio Ave, Vitória, Galícia e ter uma breve passagem pelo Botafogo, estava fazendo um bom trabalho no Santa Cruz, ganhando o estadual em 1987. Em outubro de 1988 foi contratado pelo Internacional.
A chegada de Abel mudou bastante a forma de jogar. O Colorado passou a ser mais ofensivo (desagradando alguns nomes da imprensa esportiva da aldeia) e a avançar nas competições. No Brasileiro de 1988, após vencer o dramático "Gre-Nal do Século" acabou tropeçando contra o Bahia, na final, quando era apontado como favorito. Na Libertadores de 1989, após um começo confuso, o time avançou firmemente em direção ao título, mas no jogo de volta da semifinal, quando ninguém acreditava em uma eliminação, após a vitória sobre o Olimpia no Paraguai, o Colorado caiu fora. Pouco depois, Abel também deixaria o Internacional, com a sensação de duas obras incompletas.
Mas veio o ano de 2006, e Abel mais uma vez comandava o Internacional. Recebia dos céus uma segunda chance de conquistar a América. Pela Libertadores, novamente o clube chegou na semifinal contra uma equipe paraguaia (Olimpia em 1989, Libertad em 2006). Exorcizamos o fantasma daquela semifinal trágica, empatando no Defensores del Chaco e vencendo no Beira-Rio, os dois palcos da tragédia de 1989. Resultado? Conquistamos a Libertadores e o Mundial.
Uma fase de conquistas se abriu para o Colorado, mesmo com outros técnicos. Conquistamos mais uma Libertadores, uma Sul-Americana e duas Recopas. Mas faltava um título brasileiro. Clubes que nunca haviam vencido o Brasileiro chegavam ao título, mas o Colorado no máximo chegava perto. Após os tempos sombrios da década de 1990 e início do século XXI, o Internacional iniciou vários campeonatos brasileiros apontado como o favorito ao título, mas não confirmava em campo. O próprio Abel, em 2006, foi vice-campeão, mas em uma temporada que o clube abriu mão de disputar o título para focar no Mundial.
E veio 2020, e veio a pandemia de COVID-19. O Internacional começou o ano com grandes expectativas, mas sofreu com lesões (Guerrero, Saravia, Boschillia), com crises políticas internas e com a perda do técnico que liderava o campeonato brasileiro. Abel chegou desacreditado, e seus primeiros resultados não mudaram esse cenário. Mas...
Parece que novamente os deuses do futebol preparam uma redenção. Assim como em 2006 expurgamos o fantasma de 1989, parece que em 2020 será a vez do fantasma de 1988. A torcida colorada expiou qualquer pecado que tivesse em anos e anos de tropeços no campeonato brasileiro. Hoje, a maior parte da torcida colorada não sabe o que é comemorar um título brasileiro. Na primeira década do século, chegamos perto em 2005, 2006 e 2009. Mas na última década sofremos inclusive um inédito rebaixamento.
E a volta por cima trás vários detalhes interessantes. O Internacional, sob o comando de Abel, igualou seu recorde de vitórias consecutivas no campeonato brasileiro (8) estabelecido lá no distante ano de 1978, por Cláudio Duarte. E tem boas chances de ampliar esse recorde. Assim como em 1988, o campeonato brasileiro de 2020 avançou pelo ano seguinte. E assim como em 1988, o confronto com o Grêmio surgiu em um momento decisivo do campeonato. E como no campeonato de 1988, o rival estava invicto a vários clássicos (12 em 1988/1989, 11 em 2020/2021). Novamente como naquele ano fatídico, saímos perdendo o clássico e viramos o jogo quando ninguém mais acreditava. Em 1989 (campeonato de 1988), com um jogador a menos. Em 2021 (campeonato de 2020) nos minutos finais.
Mais alguns detalhes derrubam qualquer cético em relação ao que os deuses do futebol prepararam. Será um resgate incrível de todo esse tempo sem títulos brasileiros. Abel vai se redimir do título de 1988, nos vingaremos de 2009 e comemoraremos o título contra o Corinthians. Alguém esqueceu 2005? Eu não.
Em 2009 o Grêmio entregou para o Flamengo. Esse ano vai entregar novamente, mas não vai adiantar. Como dizia aquele grande pensador, a história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.
Vai lá, Abel! Segue os planos elaborados pelos deuses do futebol e cumpre teu destino!
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