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segunda-feira, 13 de julho de 2020

Jogadores do passado: Juvenalino César

Juvenalino Cezar foi nosso primeiro centroavante, e jogou apenas uma partida, a primeira da história do clube.

 

Juvenalino nasceu no Rio Grande do Sul, em 24 de agosto de 1885. Em um registro de eleitores de 1907, sua profissão, aos 21 anos, é artista.

 

No carnaval de 1908, Juvenalino fazia parte do Venezianos, sociedade carnavalesca que forneceria a maioria dos sócios fundadores do clube. No dia 21 de março de 1908, a União Caixeiral promoveu um baile em homenagem ao grande desfile de carnaval do Venezianos. Ao ser servida a mesa de doces, Juvenalino saudou a senhorita Themira Azevedo, rainha do Venezianos, e ofereceu-lhe um ramalhete de flores.

 

Juvenalino também era um militante do Partido Republicano, como muitos dos futuros fundadores do Internacional. Em novembro de 1908, junto o também republicano Alberto Póvoas, fundou o jornal O Espelho. Em janeiro de 1909, ele fazia parte da lista de pessoas que foram ao Palácio do Governo cumprimentar Borges de Medeiros pelo aniversário de governo. Em fevereiro, participou da recepção ao senador Pinheiro Machado.

 

No dia 4 de abril de 1909, é fundado o Sport Club Internacional. E logo os times começam a treinar. Os dois capitães iniciais são Juvenalino e José Poppe, provavelmente por serem os mais velhos da turma (Juvenalino com 23 anos, e Poppe alguns meses mais velho). Juvenalino também fez parte da delegação que foi desafiar o Grêmio, para o primeiro jogo do novo clube.

 

Antes da bola rolar, Juvenalino volta a aparecer na imprensa devido a eventos sociais ligados à sua vida política. Em 7 de abril de 1909 ele esteve presente no funeral de Maria Benedicta Abreu e Silva, esposa do deputado federal João Vespúcio de Abreu e Silva. No dia 6 de maio, estava presente na recepção a Juvenal Octaviano Muller, vice-presidente do estado. Em 2 de julho, ele estava presente ao embarque de Borges de Medeiros, presidente do estado, rumo a Cachoeira do Sul. Dessa vez, já como representante do jornal republicano A Federação.

 

Em 18 de julho de 1909, Juvenalino estava em campo, como centroavante do Internacional, em seu primeiro jogo. O resultado da partida não foi agradável para o clube, apesar de alguns atletas terem sidos elogiados na matéria do jornal A Federação. Mas Juvenalino não estava entre eles, ele estava entre os outros, que segundo o jornal, “si bem que fossem valentes nada puderam fazer não só pelo estado em que estava o ground como também pelo cansaço”.

 

A experiência com o futebol parece não ter agradado Juvenalino. Na matéria de 24 de agosto de 1909, do jornal A Federação, o primeiro centroavante não aparece na escalação de nenhum dos dois quadros, reorganizados após a estreia do clube. A vida de atleta de Juvenalino acabava, mas ainda havia a vida real para ser vivida.

 

Os eventos ligados ao Partido Republicano continuam. Em uma época em que a vida durava pouco, muitos desses eventos eram funerais, como a da senhorita Cecília Barreto Vianna, filha de Manoel Barreto Vianna, presidente da Assembleia dos Representantes do Estado (atual Assembleia Legislativa), em 1909, e da senhorita Antonieta Britto, filha de Victor de Britto, em 1910. Essa última, de apenas 18 anos, vítima de um pacto de suicídio feito com o noivo.

 

Juvenalino César também escrevia textos para A Federação, como a homenagem a Álvaro Ubatuba, atleta de um dos clubes de regatas de Rio Grande, que morreu afogado em uma prova no mar, em novembro de 1909. Também escreveu uma homenagem a Júlio de Castilhos e Benjamin Constant, e ao próprio jornal A Federação, no aniversário do mesmo.

 

Ele também realizava conferências. Em 11 de fevereiro de 1910, ele realizou uma conferência intitulada “A Bola”, no Clube Caixeiral, dedicada aos atletas do “Jogo da Bola” do clube. No dia 23 de março do mesmo ano, fez a conferência “O Caixeiro”, no Salão Leopoldina, para jovens empregados do comércio. E em 4 de julho, no mesmo Salão Leopoldina, fez a conferência literária “Como se deve amar”. Em outubro, fez outra conferência literária, em São Leopoldo, como o tema “A Alemanha Moderna”.

 

Juvenalino também continuava gostando de carnaval. Em 1911 fez parte da Sociedade Esmeralda, sendo o orador do “zé-pereira” (a bateria). Em 15 de fevereiro, estando a sociedade Esmeralda na casa do coronel Francisco Antônio de Oliveira Moraes, Juvenalino saudou a filha do dono da casa, a senhorita Picucha Moares, que estava de aniversário.

 

Pouco depois do carnaval, Juvenalino mudou-se para Uruguaiana. Em Porto Alegre, havia trabalhado em A Federação (1909/1910) e no Jornal do Comércio (1910/1911), ambos alinhados com o Partido Republicano. Na fronteira, continua trabalhando na imprensa republicana, agora no Diário da Fronteira. Em março de 1912, ajudou a organizar uma junta pró-Borges de Medeiros, na cidade. Em fevereiro de 1913, foi nomeado pelo ministério da agricultura, para auxiliar extraordinário para combater epidemias.

 

Em outubro de 1913, Juvenalino mudou-se para o Rio de Janeiro. A partir daqui, Juvenalino desaparece da imprensa gaúcha, e aparece na imprensa carioca.

 

Em julho de 1914, Juvenalino participa da festa de aniversário do acadêmico de medicina Ademar Morpurgo, onde declama poesias. Em julho de 1915, participa de uma reunião de acadêmicos gaúchos no Rio de Janeiro, que elaboram um documento em homenagem a Borges de Medeiros e Pinheiro Machado.

 

Em 1916, Juvenalino tornou-se almoxarife na Colônia Correcional de Dois Rios, na Ilha Grande, que tinha como objetivo principal aprisionar bêbados, mendigos, vadios e capoeiras. No mesmo ano, em 19 de agosto, casou-se com Carmen Faria Braga. O já doutor Ademar Morpurgo foi testemunha no casamento civil.

 

A passagem pela Colônia Correcional foi problemática. Em fevereiro de 1917, ele foi acusado de abandonar a Ilha Grande para aproveitar os festejos de carnaval, com dinheiro da Colônia. Em abril de 1917, nova denúncia, de que Juvenalino desviava recursos do almoxarifado para si próprio. Segundo o jornal Gazeta de Notícias, suas boas relações com o chefe de polícia e com o ministro da justiça, o também gaúcho Carlos Maximiliano, impediam que o capitão Pedro Duarte, diretor da colônia, pudesse puní-lo. No mesmo mês de abril, Juvenalino pediu licença para tratar da saúde, renovada em maio. Em agosto de 1917, Juvenalino enviou telegrama de felicitação pelo aniversário ao chefe de polícia do Rio de Janeiro, Aureliano Leal. Em outubro de 1917, Juvenalino aparece em uma lista de pessoas que enviaram telegramas de solidariedade ao presidente Wenceslau Bráz pela declaração de guerra à Alemanha. Finalmente, em 3 de abril de 1918, Juvenalino pediu exoneração do cargo na Colônia Correcional.

 

Após um tempo fora da imprensa, Juvenalino reaparece em 1925, eleito 1º secretário da União dos Empregados do Comércio do Rio de Janeiro. Era funcionário da Casa Lohner. A firma era representante da Siemens no Brasil e vendia equipamentos para laboratórios e hospitais. Juvenalino era também sócio do Fluminense, e em novembro de 1925 estava presente à despedida da seleção brasileira que iria disputar o campeonato sul-americano em Buenos Aires. Em dezembro, fez parte da comissão de brinquedos e doces do Natal das crianças pobres do Fluminense. Nos anos seguintes, seria presença constante nessa atividade.

 

Em 1926, torna-se representante do Fluminense junto à AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Atléticos), função que vai desempenhar até 1930. Com isso, era designado delegado da entidade em partidas do campeonato carioca.

 

Reeleito 1º secretário da UEC em 1926, participou ativamente de campanhas da entidade, principalmente em favor das férias para os comerciários e contra a instituição de um imposto sobre a renda. No mesmo ano, fez parte de uma delegação da UEC que viajou por Minas Gerais, visitando as associações de comerciários locais. Também conseguiu que Botafogo e Vasco disputassem um amistoso nas Laranjeiras, em homenagem ao Dia do Comerciário.

 

Em maio de 1927, no almoço oferecido à imprensa pelo Bonsucesso, campeão da 2ª divisão em 1926, e que iria inaugurar seu novo campo, foi destacado para fazer o discurso de homenagem ao clube.

 

Em outubro de 1931, Juvenalino liderou um movimento de filiados do Fluminense favoráveis ao Botafogo, na briga do clube contra a AMEA. Em uma partida do campeonato, após uma briga entre dois atletas, que foram expulsos, a torcida do Flamengo invadiu o campo e o Botafogo recusou-se a voltar a jogar. A AMEA deu os pontos da partida ao Flamengo e multou o Botafogo, mas depois voltou atrás. Em novembro, Juvenalino voltou a ser delegado do Fluminense na AMEA. Em 1932 e 1933, Juvenalino faz aparições na imprensa esportiva, escrevendo artigos no Jornal dos Sports.

 

Em 24 de fevereiro de 1934, Osvaldo F. da Cunha publica uma declaração dizendo que Juvenalino César abandonou o emprego, sem declarar contas de dinheiro que havia recebido, e que não se responsabilizava por compras que o mesmo fizesse, em seu nome, a partir daquela data.

 

Em junho de 1934, nova polêmica. No dia 24, é publicado na imprensa que Juvenalino César era um dos fundadores da recém criada Aliança Político-Social de São Cristóvão, sendo eleito seu 1º secretário. No dia 29, a própria Aliança diz que ele não faz parte da mesma e nem foi eleito para cargo algum.

 

Em julho de 1934, Juvenalino faz parte da Assembleia que organizava as eleições na UEC. E em agosto, passa a ser um dos organizadores do Partido Autonomista, buscando atrair o apoio dos comerciários para a sigla. Ele assume o cargo de diretor de publicidade do diretório de Rio Comprido. Em outubro de 1934, passa a ser um dos “orientadores políticos” do jornal Tribuna do Povo. Nas eleições de novembro, o Partido Autonomista tem grande votação no Rio de Janeiro, elegendo 8 vereadores, contra 3 da Frente Única, e dois deputados federais, contra um da Frente Única. O candidato mais nas eleições, apoiado por Juvenalino, foi Pedro Ernesto Batista, que havia sido prefeito do Rio de Janeiro de 1931 a 1934, e voltaria a ser de 1935 a 1936. Pedro Ernesto era simpatizante do tenentismo e foi preso, mais tarde, acusado de ser comunista.

 

Em janeiro de 1935, Juvenalino defende o apoio dos comerciários ao deputado federal Amaral Peixoto, ex-tenentista e revolucionário de 1930. Amaral Peixoto seria adversário do Estado Novo e da ditadura militar de 1964.

 

Em maio de 1936, Juvenalino César estava na comissão recebida por Getúlio Vargas para tratar de uma homenagem ao presidente no bairro Benfica, quando o mesmo retornasse de Petrópolis. Em agosto de 1937, Juvenalino César estava presente em uma reunião da colônia gaúcha no Rio de Janeiro, que se manifestava contra Flores da Cunha e a favor da candidatura de José Américo.

 

Com o golpe do Estado Novo, Juvenalino não seguiu a posição de Pedro Ernesto e Amaral Peixoto. Em maio de 1938, na condição de membro do Instituto dos Comerciários, fez parte de uma homenagem a Getúlio Vargas.

 

A última aparição de Juvenalino César na imprensa está relacionada ao futebol. Em junho de 1940, ele discursou, em nome da torcida, no jantar de comemoração da eleição de Mário Polo presidente do Fluminense. Na época, ele passou a fazer parte do “Grupo dos Crentes”, que reunia a velha guarda do Tricolor carioca. Depois disso, não localizei mais nenhuma informação sobre Juvenalino, que contava então com 54 anos de idade.

 


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