Juvenalino Cezar foi nosso primeiro centroavante, e jogou apenas uma partida, a primeira da história do clube.
Juvenalino nasceu no Rio Grande do Sul,
em 24 de agosto de 1885. Em um registro de eleitores de 1907, sua profissão,
aos 21 anos, é artista.
No carnaval de 1908, Juvenalino fazia
parte do Venezianos, sociedade carnavalesca que forneceria a maioria dos sócios
fundadores do clube. No dia 21 de março de 1908, a União Caixeiral promoveu um
baile em homenagem ao grande desfile de carnaval do Venezianos. Ao ser servida
a mesa de doces, Juvenalino saudou a senhorita Themira Azevedo, rainha do
Venezianos, e ofereceu-lhe um ramalhete de flores.
Juvenalino também era um militante do
Partido Republicano, como muitos dos futuros fundadores do Internacional. Em
novembro de 1908, junto o também republicano Alberto Póvoas, fundou o jornal O
Espelho. Em janeiro de 1909, ele fazia parte da lista de pessoas que foram ao
Palácio do Governo cumprimentar Borges de Medeiros pelo aniversário de governo.
Em fevereiro, participou da recepção ao senador Pinheiro Machado.
No dia 4 de abril de 1909, é fundado o
Sport Club Internacional. E logo os times começam a treinar. Os dois capitães
iniciais são Juvenalino e José Poppe, provavelmente por serem os mais velhos da
turma (Juvenalino com 23 anos, e Poppe alguns meses mais velho). Juvenalino
também fez parte da delegação que foi desafiar o Grêmio, para o primeiro jogo
do novo clube.
Antes da bola rolar, Juvenalino volta a
aparecer na imprensa devido a eventos sociais ligados à sua vida política. Em 7
de abril de 1909 ele esteve presente no funeral de Maria Benedicta Abreu e
Silva, esposa do deputado federal João Vespúcio de Abreu e Silva. No dia 6 de
maio, estava presente na recepção a Juvenal Octaviano Muller, vice-presidente
do estado. Em 2 de julho, ele estava presente ao embarque de Borges de
Medeiros, presidente do estado, rumo a Cachoeira do Sul. Dessa vez, já como
representante do jornal republicano A Federação.
Em 18 de julho de 1909, Juvenalino
estava em campo, como centroavante do Internacional, em seu primeiro jogo. O
resultado da partida não foi agradável para o clube, apesar de alguns atletas
terem sidos elogiados na matéria do jornal A Federação. Mas Juvenalino não
estava entre eles, ele estava entre os outros, que segundo o jornal, “si bem
que fossem valentes nada puderam fazer não só pelo estado em que estava o
ground como também pelo cansaço”.
A experiência com o futebol parece não
ter agradado Juvenalino. Na matéria de 24 de agosto de 1909, do jornal A
Federação, o primeiro centroavante não aparece na escalação de nenhum dos dois
quadros, reorganizados após a estreia do clube. A vida de atleta de Juvenalino
acabava, mas ainda havia a vida real para ser vivida.
Os eventos ligados ao Partido
Republicano continuam. Em uma época em que a vida durava pouco, muitos desses
eventos eram funerais, como a da senhorita Cecília Barreto Vianna, filha de
Manoel Barreto Vianna, presidente da Assembleia dos Representantes do Estado
(atual Assembleia Legislativa), em 1909, e da senhorita Antonieta Britto, filha
de Victor de Britto, em 1910. Essa última, de apenas 18 anos, vítima de um
pacto de suicídio feito com o noivo.
Juvenalino César também escrevia textos
para A Federação, como a homenagem a Álvaro Ubatuba, atleta de um dos clubes de
regatas de Rio Grande, que morreu afogado em uma prova no mar, em novembro de
1909. Também escreveu uma homenagem a Júlio de Castilhos e Benjamin Constant, e
ao próprio jornal A Federação, no aniversário do mesmo.
Ele também realizava conferências. Em
11 de fevereiro de 1910, ele realizou uma conferência intitulada “A Bola”, no
Clube Caixeiral, dedicada aos atletas do “Jogo da Bola” do clube. No dia 23 de
março do mesmo ano, fez a conferência “O Caixeiro”, no Salão Leopoldina, para
jovens empregados do comércio. E em 4 de julho, no mesmo Salão Leopoldina, fez
a conferência literária “Como se deve amar”. Em outubro, fez outra conferência
literária, em São Leopoldo, como o tema “A Alemanha Moderna”.
Juvenalino também continuava gostando
de carnaval. Em 1911 fez parte da Sociedade Esmeralda, sendo o orador do “zé-pereira”
(a bateria). Em 15 de fevereiro, estando a sociedade Esmeralda na casa do
coronel Francisco Antônio de Oliveira Moraes, Juvenalino saudou a filha do dono
da casa, a senhorita Picucha Moares, que estava de aniversário.
Pouco depois do carnaval, Juvenalino mudou-se
para Uruguaiana. Em Porto Alegre, havia trabalhado em A Federação (1909/1910) e
no Jornal do Comércio (1910/1911), ambos alinhados com o Partido Republicano.
Na fronteira, continua trabalhando na imprensa republicana, agora no Diário da
Fronteira. Em março de 1912, ajudou a organizar uma junta pró-Borges de
Medeiros, na cidade. Em fevereiro de 1913, foi nomeado pelo ministério da
agricultura, para auxiliar extraordinário para combater epidemias.
Em outubro de 1913, Juvenalino mudou-se
para o Rio de Janeiro. A partir daqui, Juvenalino desaparece da imprensa
gaúcha, e aparece na imprensa carioca.
Em julho de 1914, Juvenalino participa da
festa de aniversário do acadêmico de medicina Ademar Morpurgo, onde declama
poesias. Em julho de 1915, participa de uma reunião de acadêmicos gaúchos no
Rio de Janeiro, que elaboram um documento em homenagem a Borges de Medeiros e
Pinheiro Machado.
Em 1916, Juvenalino tornou-se
almoxarife na Colônia Correcional de Dois Rios, na Ilha Grande, que tinha como
objetivo principal aprisionar bêbados, mendigos, vadios e capoeiras. No mesmo
ano, em 19 de agosto, casou-se com Carmen Faria Braga. O já doutor Ademar
Morpurgo foi testemunha no casamento civil.
A passagem pela Colônia Correcional foi
problemática. Em fevereiro de 1917, ele foi acusado de abandonar a Ilha Grande
para aproveitar os festejos de carnaval, com dinheiro da Colônia. Em abril de
1917, nova denúncia, de que Juvenalino desviava recursos do almoxarifado para
si próprio. Segundo o jornal Gazeta de Notícias, suas boas relações com o chefe
de polícia e com o ministro da justiça, o também gaúcho Carlos Maximiliano,
impediam que o capitão Pedro Duarte, diretor da colônia, pudesse puní-lo. No
mesmo mês de abril, Juvenalino pediu licença para tratar da saúde, renovada em
maio. Em agosto de 1917, Juvenalino enviou telegrama de felicitação pelo
aniversário ao chefe de polícia do Rio de Janeiro, Aureliano Leal. Em outubro
de 1917, Juvenalino aparece em uma lista de pessoas que enviaram telegramas de
solidariedade ao presidente Wenceslau Bráz pela declaração de guerra à Alemanha.
Finalmente, em 3 de abril de 1918, Juvenalino pediu exoneração do cargo na
Colônia Correcional.
Após um tempo fora da imprensa,
Juvenalino reaparece em 1925, eleito 1º secretário da União dos Empregados do
Comércio do Rio de Janeiro. Era funcionário da Casa Lohner. A firma era
representante da Siemens no Brasil e vendia equipamentos para laboratórios e
hospitais. Juvenalino era também sócio do Fluminense, e em novembro de 1925
estava presente à despedida da seleção brasileira que iria disputar o
campeonato sul-americano em Buenos Aires. Em dezembro, fez parte da comissão de
brinquedos e doces do Natal das crianças pobres do Fluminense. Nos anos
seguintes, seria presença constante nessa atividade.
Em 1926, torna-se representante do
Fluminense junto à AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Atléticos),
função que vai desempenhar até 1930. Com isso, era designado delegado da
entidade em partidas do campeonato carioca.
Reeleito 1º secretário da UEC em 1926,
participou ativamente de campanhas da entidade, principalmente em favor das
férias para os comerciários e contra a instituição de um imposto sobre a renda.
No mesmo ano, fez parte de uma delegação da UEC que viajou por Minas Gerais,
visitando as associações de comerciários locais. Também conseguiu que Botafogo
e Vasco disputassem um amistoso nas Laranjeiras, em homenagem ao Dia do
Comerciário.
Em maio de 1927, no almoço oferecido à
imprensa pelo Bonsucesso, campeão da 2ª divisão em 1926, e que iria inaugurar
seu novo campo, foi destacado para fazer o discurso de homenagem ao clube.
Em outubro de 1931, Juvenalino liderou
um movimento de filiados do Fluminense favoráveis ao Botafogo, na briga do
clube contra a AMEA. Em uma partida do campeonato, após uma briga entre dois
atletas, que foram expulsos, a torcida do Flamengo invadiu o campo e o Botafogo
recusou-se a voltar a jogar. A AMEA deu os pontos da partida ao Flamengo e
multou o Botafogo, mas depois voltou atrás. Em novembro, Juvenalino voltou a
ser delegado do Fluminense na AMEA. Em 1932 e 1933, Juvenalino faz aparições na
imprensa esportiva, escrevendo artigos no Jornal dos Sports.
Em 24 de fevereiro de 1934, Osvaldo F.
da Cunha publica uma declaração dizendo que Juvenalino César abandonou o
emprego, sem declarar contas de dinheiro que havia recebido, e que não se
responsabilizava por compras que o mesmo fizesse, em seu nome, a partir daquela
data.
Em junho de 1934, nova polêmica. No dia
24, é publicado na imprensa que Juvenalino César era um dos fundadores da recém
criada Aliança Político-Social de São Cristóvão, sendo eleito seu 1º
secretário. No dia 29, a própria Aliança diz que ele não faz parte da mesma e
nem foi eleito para cargo algum.
Em julho de 1934, Juvenalino faz parte
da Assembleia que organizava as eleições na UEC. E em agosto, passa a ser um
dos organizadores do Partido Autonomista, buscando atrair o apoio dos
comerciários para a sigla. Ele assume o cargo de diretor de publicidade do
diretório de Rio Comprido. Em outubro de 1934, passa a ser um dos “orientadores
políticos” do jornal Tribuna do Povo. Nas eleições de novembro, o Partido
Autonomista tem grande votação no Rio de Janeiro, elegendo 8 vereadores, contra
3 da Frente Única, e dois deputados federais, contra um da Frente Única. O candidato
mais nas eleições, apoiado por Juvenalino, foi Pedro Ernesto Batista, que havia
sido prefeito do Rio de Janeiro de 1931 a 1934, e voltaria a ser de 1935 a
1936. Pedro Ernesto era simpatizante do tenentismo e foi preso, mais tarde,
acusado de ser comunista.
Em janeiro de 1935, Juvenalino defende
o apoio dos comerciários ao deputado federal Amaral Peixoto, ex-tenentista e
revolucionário de 1930. Amaral Peixoto seria adversário do Estado Novo e da
ditadura militar de 1964.
Em maio de 1936, Juvenalino César
estava na comissão recebida por Getúlio Vargas para tratar de uma homenagem ao
presidente no bairro Benfica, quando o mesmo retornasse de Petrópolis. Em
agosto de 1937, Juvenalino César estava presente em uma reunião da colônia
gaúcha no Rio de Janeiro, que se manifestava contra Flores da Cunha e a favor
da candidatura de José Américo.
Com o golpe do Estado Novo, Juvenalino
não seguiu a posição de Pedro Ernesto e Amaral Peixoto. Em maio de 1938, na
condição de membro do Instituto dos Comerciários, fez parte de uma homenagem a
Getúlio Vargas.
A última aparição de Juvenalino César
na imprensa está relacionada ao futebol. Em junho de 1940, ele discursou, em
nome da torcida, no jantar de comemoração da eleição de Mário Polo presidente
do Fluminense. Na época, ele passou a fazer parte do “Grupo dos Crentes”, que
reunia a velha guarda do Tricolor carioca. Depois disso, não localizei mais
nenhuma informação sobre Juvenalino, que contava então com 54 anos de idade.
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