Em 1928 o Internacional foi atingido por uma bomba: o Asilo Providência, proprietário da Chácara dos Eucaliptos, "ground" do Colorado desde 1913, colocou o terreno a venda, por 40 contos de réis. A prioridade de compra era do clube, mas o mesmo não tinha recursos. O valor era elevado, mas a direção colorada recorreu a uma família de peso, os Chaves Barcellos, que além de colorados (em sua maioria), já tinham tido dois membros jogando no clube, Pedro e Plínio. Os Chaves Barcellos aceitaram emprestar o valor, a juros baixos, prazos longos para pagar, e provavelmente sequer cobrariam a dívida.
Na Assemblia Geral (na época os sócios reuniam-se para decidir os assuntos mais importantes) marcada para oficializar o empréstimo e a compra do terreno, Antenor Lemos, a maior liderança colorada da época, considerou o valor muito caro para um terreno, avaliou que o empréstimo comprometeria as finanças do clube, e que o Internacional precisava se preocupar em conquistar vitórias esportivas, não um patrimônio material. A vitória do grupo de Antenor Lemos, na Assembléia, fez com que várias lideranças coloradas, como Arquimedes Fortini e provavelmente os Chaves Barcellos, saíssem do clube, levando consigo muitos sócios.
A vitória de Antenor Lemos só agravou a crise do clube. Correndo o risco de ser despejado de seu campo, sem dinheiro, e perdendo vários associados, a situação ficou insustentável. O mesmo Antenor Lemos, em outra reunião, teria sugerido a extinção do clube. E isso poderia ter ocorrido, se não fosse um outro colorado que logo tornaria-se um líder maior que Antenor Lemos: Ildo Meneghetti.
Em 5 de janeiro de 1929 Ildo Meneghetti foi eleito presidente do Internacional. Na Assembleia Geral do Internacional de 31 de janeiro de 1929, o presidente Ildo Meneghetti apresentou um relato dramático aos sócios: o clube tinha dívidas de 20 contos de réis, não possuía material de treino e de jogo, e seu estádio, a Chácara dos Eucaliptos, alugada, estava deteriorada e fora posta à venda pelo proprietário.
Ildo Meneghetti conseguiu negociar um prazo com o Asilo Providência, para que o Internacional continuasse usando a Chácara dos Eucaliptos por mais um tempo, obteve o terreno para a construção de um novo estádio (o Eucaliptos) e acertou uma forma de pagamento que o clube pudesse cumprir. Com o Asilo Providência Meneghetti se comprometeu em utilizar seu escritório de engenharia para fazer a terraplanagem do terreno da Chácara. Assustados com os rumos que a crise havia tomado, muitos apoiadores de Antenor Lemos mudaram de idéia e não boicotaram os acordos feitos por Meneghetti.
Em 23 de abril de 1929, na sede do Internacional, no Edifício Lubisco, Rua das Flores (atual Siqueira Campos), número 874, sala 35, os sócios adquiriram cotas de 500 mil réis para o caixa do clube e construção do Estádio dos Eucaliptos. Ildo Meneghetti comprou dez cotas, Antenor Lemos cinco, Clóvis Pestana, José Pinheiro Borba, Willy Teichmann, Archimedes Fortini, Reinaldo Meneghetti, Carlos de Lorenzi, Florêncio Ygartua e Moisés Strougo uma cota cada. Portanto, o próprio Antenor Lemos, em março de 1929, doou 2 contos e 500 mil réis para a construção do novo estádio.
O terreno onde seria construído o estádio dos Eucaliptos (com 20 mil metros quadrados) foi adquirido por 220 contos. Dez por cento foram pagos à vista e o clube parcelou o restante em mensalidades de 3 contos. Os últimos 40 contos foram pagos após a negociação de Sílvio Pirillo (vendido ao Peñarol por 50 contos, em 1939).
Alguns dias antes da inauguração do estádio dos Eucaliptos, uma Assembleia Geral Extraordinária do clube anistiou todos os sócios ou atletas que estivessem cumprindo penas impostas pela direção ou pela própria Assembleia.
A inauguração do Estádio dos Eucaliptos era para ter ocorrido dia 8 de março de 1931, mas teve de ser transferida para o outro final de semana devido ao mau tempo. Para a partida de basquete realizada na inauguração foi disputada a Taça “Recordação da Inauguração do Estádio dos Eucaliptos”, oferecida pelo Internacional. No Gre-Nal foi disputada uma taça oferecida pelo Bataclan, de Quaraí. Na inauguração do estádio, o Colorado bateu o Grêmio por 3x0, com três gols de Javel no lendário goleiro Eurico Lara. No basquete, o Colorado foi derrotado pelo Almirante Tamandaré por 27x26.
Melhor estádio da cidade, e o primeiro a receber a denominação "stadium", os Eucaliptos logo receberam eventos municipais, como o Torneio Início de 1931, o Torneio da Vitória (vencido pelo internacional) e o Torneio Início de 1932 (também vencido pelo Internacional). Os Eucaliptos presenciariam várias conquistas do Internacional. A primeira delas em torneio oficial foi o título municipal de 1934. Mas a conquista não foi obtida no estádio, e nem em jogo do clube. No dia 7 de outubro de 1934, no Caminho do Meio, o Cruzeiro bateu o Grêmio por 4x3, dando o título ao Colorado com uma rodada de antecipação.
Também conquistado na Era Eucaliptos foi o segundo título gaúcho do Internacional, também em 1934. Mas sem jogos no estádio. Era costume costume os clubes da capital jogarem o estadual em estádios neutros e a primeira partida do Colorado nos Eucaliptos, pelo campeonato gaúcho, ocorreu na edição de 1951.
Em 29 de novembro de 1936 o Internacional conquistaria seu primeiro título no estádio, ao bater o Força e Luz por 6x2. O Colorado sagrava-se campeão municipal com uma rodada de antecipação, na primeira vez que a Fórmula Fraga (campeão do 1º turno x campeão do 2º turno) era utilizada no Rio Grande do Sul. Mas nessa temporada não teve final, pois o Internacional venceu os dois turnos.
Artigas marcando o 1º gol colorado sobre o Força e Luz
Em 10 janeiro de 1939 o Internacional inaugurou a nova iluminação do Estádio dos Eucaliptos, a cargo da Companhia General Eletric. O Internacional bateu o Renner por 7x0, em amistoso.
Os Eucaliptos viram desfilar em seu gramado o Rolo Compressor, com sua escalação clássica que atuou apenas em 1942: Ivo; Alpheu e Nena; Assis, Ávila e Abigail; Tesourinha, Ruy, Villalba, Russinho e Carlitos. Com essa escalação, nos Eucaliptos, o Internacional empatou com o Força e Luz em 27 de setembro de 1942, conquistando o tricampeonato municipal, o primeiro desde 1915. No dia 4 de outubro o Colorado bateu o Combinado de Porto Alegre, formado por jogadores do Grêmio, Cruzeiro e Força e Luz, por 3x0. Carlitos marcou os três gols do amistoso, que tinha por objetivo arrecadar fundos para a construção de abrigos antiaéreos na capital. Vivíamos os tristes anos da Segunda Guerra Mundial.
Em 14 de fevereiro de 1944 o Estádio dos Eucaliptos passou a chamar-se oficialmente Estádio Ildo Meneghetti, em homenagem ao patrono do clube e principal responsável pela construção do mesmo.
Com a escolha do Brasil para sede da Copa do Mundo de 1950, Porto Alegre passou a ser uma das cidades onde ocorreriam jogos. Inicialmente chegou-se a cogitar a construção de um estádio municipal, como o Pacaembu paulistano e o Maracanã carioca. Mas logo mudou-se para reformar um dos estádios da cidade e utilizá-lo no Mundial. A Montanha (Cruzeiro) e os Eucaliptos (Internacional) candidataram-se para receber os jogos do Mundial, mas a escolha recaiu sobre o estádio colorado. Em 20 de maio de 1950 a prefeitura de Porto Alegre aprovou uma verba de 500 mil cruzeiros para as obras de ampliação do estádio, que saltaria de 10 mil para 30 mil pessoas. Tamb´me passaram a ser vendidos bônus para a torcida colabora.
O Internacinal ficaria dois meses, entre abril e junho de 1950, sem jogar em seu estádio, devido às obras da Copa. Nos Eucaliptos ocorreriam duas partidas do grupo do Brasil no Mundial: Iugoslávia 4x1 México e Suíça 2x1 México.
Aos obras e a venda de bônus para a ampliação do estádio continuaram mesmo após a Copa do Mundo.
Jornal do Dia, 12 de julho de 1950
Na primeira metade dos anos 1950 os Eucaliptos assistiriam ao Rolinho de Larry e Bodinho desfilar pelo gramado. Também nos Eucaliptos o Colorado disputaria (e chegaria ao título) do primeiro campeonato gaúcho unificado, em 1961. Em 1962 o estádio presenciaria a estreia do Internacional em competições nacionais, na Taça Brasil. Mas logo o estádio começaria a se demonstrar pequeno para as aspirações do clube e da torcida. Nas edições do Torneio Robertão de 1967 e 1968, o clube mandaria seus jogos no estádio Olímpico.
Os planos de um novo estádio começaram ainda na década de 1950. A pedra fundamental do Beira-Rio foi lançada em 1959, mas a construção ganhou corpo a partir de 1965. Mas os Eucaliptos continuaram sendo a casa colorada. O começo da retomada da hegemonia estadual, em 1969, começou na velha casa colorada. O Internacional estreou no Gauchão de 1969 em 27 de janeiro, batendo o São Paulo por 5x0, nos Eucaliptos. O último jogo oficial do Internacional nos Eucaliptos ocorreu em 23 de março, vitória colorada por 1x0 sobre o Pelotas. O último jogo foi um amistoso com o Rio Grande, em 26 de março. O Internacional venceu por 4x1, com direito a Tesourinha jogar os minutos finais e depois, junto com Carlitos e ao som da Valsa do Adeus, retirar as redes dos Eucaliptos.
Durante algum tempo os Eucaliptos serviram de casa para as categorias de base coloradas. O Cruzeiro de Porto Alegre chegou a mandar alguns jogos ali, no início dos anos 1970. Aos poucos, o estádio foi caindo no abandono.
No final de 1999 o Internacional decidiu reativar o Estádio dos Eucaliptos. Pensava-se inclusive de usar o mesmo em jogos de menor público do campeonato gaúcho. Em 11 de dezembro de 1999 o Internacional reinaugurou o estádio, batendo o Rio Grande por 6x2. Mas os sonhos de voltar a reutilizá-lo morreram na praia. O gramado, depois de muitas intervenções, não tinha mais o tamanho oficial.
Aos poucos o estádio voltou a cair no esquecimento. Em 2008 os Conselhos Consultivo e Deliberativos do Internacional aprovaram por unanimidade a autorização de venda do Estádio dos Eucaliptos, concretizada em agosto de 2010, por um valor não divulgado, mas acima dos R$ 20 milhões do lance mínimo. O Estádio dos Eucaliptos começou a ser demolido em 9 de fevereiro de 2012.
Na região, foi construído um condomínio residencial com sete torres. Em 22 de dezembro de 2015, na mesma rua Silveiro onde se localizava o estádio, foi inaugurada a Praça Memorial Eucaliptos.
Números do Internacional nos Eucaliptos:
501 partidas
329 vitórias
92 empates
80 derrotas
1333 gols a favor
578 gols contra
755 gols de saldo
Maior goleada: 26/08/1945 12x0 Força e Luz
Maiores artilheiros:
1º Carlitos - 85 gols
2º Bodinho e Larry - 72 gols
4º Tesourinha - 57 gols
5º Ivo Diogo - 47 gols
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