Em 28 de março de 1981, no Beira-Rio, enfrentariam-se Internacional e Palmeiras.
No campeonato brasileiro de 1981 a 2ª fase foi dividida em quadrangulares, que classificariam dois clubes para as oitavas de final. O Internacional ficou no Grupo J, com Palmeiras, Goiás e Sport. Na 1ª rodada, jogando em casa, Internacional e Palmeiras venceram Goiás e Sport, por 1x0. Na rodada seguinte o Internacional venceu o Palmeiras, em São Paulo, por 1x0. Em Recife o Sport bateu o Goiás por 4x0 e assumiu o 2º lugar no grupo. Já na 3ª rodada, o Palmeiras venceu o Goiás, em Goiânia, por 3x1, enquanto no Beira-Rio o Colorado empatou em 2x2 com o Sport. O Verdão voltava ao 2º lugar. Na abertura do returno, porém, enquanto o Internacional empatava em 0x0 no Serra Dourada, o Sport batia o Palmeiras por 3x1 em Recife. Restando duas rodadas, o Internacional liderava o grupo com 6 pontos, o Sport vinha em 2º, com 5, o Palmeiras em 3º, com 4, e o Goiás na lanterna, com 1 ponto. O jogo do Beira-Rio se tornava importante para as pretensões de classificação do Internacional e principalmente do Palmeiras. Por isso, mais de 30 mil torcedores compareceram ao Beira-Rio, na tarde daquele sábado.
Para além das questões de classificação, o jogo também era importante para um jogador colorado: Batista. O meia do Internacional vinha jogando na Seleção Brasileira como centromédio, com funções exclusivamente defensivas. Sem se arriscar a chegar na frente, despertava a ira da imprensa do centro do país, que cobrava sua saída do time e ingresso de Toninho Cerezo. João Saldanha o chamou de "cabeça de bagre", enquanto era quase consenso na imprensa do Eixo que Batista era um jogador tecnicamente limitado.
E todas essas críticas ocorriam mesmo depois de uma entrevista de Telê Santana, publicada pelo Jornal dos Sports em 2 de janeiro de 1981. Nela o técnico da Seleção deixava claro o papel que ele queria que Batista exercesse:
Quando o Brasil estivesse sem a bola: "Batista procurará colocar-se entre os zagueiros para funcionar como líbero e combater o adversário que tiver a bola, se ele ultrapassar a marcação de Renato, Cerezo ou dos laterais. A função de Batista é permitir que Oscar e Luizinho fiquem sempre como homens de sobra, sem se expor ao combate direto contra um adversário com a jogada dominada".
Quando o Brasil estivesse com a bola: "Batista deverá ser muito cauteloso em seus avanços. O ideal é que não passe do meio-campo, procurando passar a bola a um companheiro e se preocupando com a marcação do adversário mais avançado para cortar a possibilidade de um contra-ataque que pegue os zagueiros brasileiros desprotegidos".
No Internacional do técnico Cláudio Duarte, Batista jogava com a camisa 10 e tinha liberdade para atuar em todo o campo. Irritado com a intensidade das críticas após o jogo do final de semana anterior, pela Seleção, quando o Brasil bateu a Bolívia por 3x1 e se classificou para o Mundial da Espanha, o meia colorado estava disposto a mostrar seu valor.
Logo aos 13' de jogo, Batista deu um drible de corpo em Édson e tocou de pé esquerdo por cima de João Marcos. Internacional 1x0.
Aos 35', Mário Sérgio recebeu um passe de Batista, driblou três adversários e passou para Cléo marcar. Internacional 2x0.
Se o 1º tempo terminou com uma boa vantagem colorada, a 2ª etapa seria magnífica. Logo aos 2', Batista cobrou falta no ângulo esquerdo e marcou. Internacional 3x0.
Aos 17', Mário Sérgio cobrou escanteio, a zaga palmeirense ficou indecisa e a bola sobrou para Mauro Pastor chutar para as redes. Internacional 4x0.
Aos 21', Batista recebeu a bola pela direita, matou no peito, passou por dois marcadores e cruzou para Nílson Dias marcar. Internacional 5x0.
Aos 26', Rodrigues Neto quase marcou, acertando a trave.
E finalmente aos 38', Jair cobrou escanteio da direita, Sílvio recebeu e centrou na área, para Mauro Pastor mandar para as redes.
Com o resultado, o Internacional garantiu sua classificação para as oitavas de final com uma rodada de antecedência, enquanto o Palmeiras ficou em uma situação difícil. Precisava vencer o Goiás e torcer para o Internacional derrotar o Sport, na última rodada. Batista, após o jogo, desabafou: "Espero que agora eles entendam de uma vez que eu, o Batista da Seleção Brasileira, tenho talento para jogar em qualquer posição da meia-cancha. Não sou limitado, e agora acho que não preciso provar mais nada". E ainda apontou as diferenças de seu futebol na Seleção: "Com o Cláudio Coutinho, os laterais eram mais marcadores. Eu cobria os beques de área, saía tocando de primeira, podia até dar cobertura aos laterais, mas isso não era obrigatório. Agora não. Com o Telê, tenho que cobrir os laterais sempre, porque o Edevaldo e o Júnior são quase atacantes".
E apesar de jogar os 90 minutos em alta intensidade no sábado, no domingo Batista estava no Serra Dourada, onde novamente jogou os 90 minutos na vitória da Seleção Brasileira por 5x0 sobre a Venezuela.
Para os jogadores colorados, tudo era festa.
Essa história parecia se encaminhar para um belo final feliz. Porém, no programa Sala de Redação, no início da semana, Paulo Santana provocou o presidente colorado José Asmuz, dizendo que o Internacional colocaria os reservas contra o Sport, para eliminar o Palmeiras. Asmuz caiu na provocação, apostou com Santana que o Internacional venceria a partida e cobrou de Cláudio Duarte que escalasse os titulares em um jogo que nada valia para o Colorado. E nessa partida Merica quebrou a perna de Batista. O jogo terminou 0x0, o Palmeiras foi eliminado, Asmuz perdeu a aposta e o Internacional ficou sem seu melhor jogador. Ainda conseguiu eliminar o Atlético MG nas oitavas, mas caiu diante do São Paulo, nas quartas de final. No final do ano, Batista se desentenderam na renovação de contrato, o passe do jogador foi para a Federação e Batista acabou no Grêmio. Ele foi para a Copa do Mundo, mas na condição de reserva. E embora continuasse um grande jogador, não conseguiu mais exibir o mesmo futebol que possuía, antes da fratura.
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