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segunda-feira, 12 de abril de 2021

Jogadores do passado: Woebcke


Ernesto Woebcke era filho de uma tradicional família teuto-riograndense. Seu tio materno, Rudolph Ahrons, foi para a Alemanha, onde se formou engenheiro civil pela Escola Politécnica de Berlim. Em seguida cumpriu um estágio em São Petersburgo, na Rússia, onde participou da reforma do palácio de verão do czar Nicolau II.
O menino Ernesto Woebcke ao lado dos pais, avós e primas

O zagueiro Ernesto Woebcke começou a jogar futebol no Frisch Auf, em 1914. Seu primeiro confronto contra o Internacional ocorrreu em 14 de novembro de 1915, um amistoso onde o Colorado bateu o Frisch Auf por 7x2. Nessa época, Woebcke residia na rua Coronel Vicente, nº 2. Em 1916 Woebcke ingressou em outro clube da comunidade teuto-riograndense, o Fussball. Pelo novo clube sofreu uma impiedosa derrota 13x1 para o Internacional, em 10 de setembro de 1916.

No Fussball Woebcke enfrentou os tensos meses de 1917. Em 16 de abril de 1917, em virtude do torpedeamento do navio brasileiro Paraná (em 5 de abril) por submarinos alemães, começaram a ocorrer ataques a lojas e residências de alemães e seus descendentes, na capital. Diante do clima tenso e instável, a Federação Sportiva Rio Grandense, que controlava o futebol da capital, decidiu adiar por algumas semanas o início do campeonato de 1917.

Se a situação política acalmou-se um pouco, os ataques a navios brasileiros continuariam. Em 20 de maio, o navio Tijuca foi torpedeado perto da costa francesa. E no dia 23 de outubro de 1917, o cargueiro Macau foi torpedeado por um submarino alemão perto da costa da Espanha. Diante da crescente pressão popular, o Brasil declarou guerra à Alemanha e aos países da Tríplice Aliança no dia 26 de outubro.

A pressão anti-germânica atingiu todos os setores da vida nacional, inclusive o futebol. na capital gaúcha, clubes como Grêmio, São José, Fussball e Frisch Auf tinham suas origens na comunidade teuto-riograndense. Grêmio e São José, que não ostentavam sua "germanidade" nos nomes, ficaram em silêncio. Mas Fussball e Frisch Auf foram cobrados a assumir uma postura nacionalista.

Em 19 de novembro de 1917, a Assembleia Geral do Fussball aprovou por unanimidade a mudança do nome do clube de Fussball Club Porto Alegre (conhecido como Fussball) para Football Club Porto Alegre (conhecido como Porto Alegre). No dia seguinte, Assembleia Geral da FSRG aceitou a mudança de nome do Fussball, mas não aceitou a transformação do Frisch Auf em Grêmio Sportivo Rio Grandense. O Frisch Auf apresentou forte resistência à nacionalização de seu nome, e segundo informações divulgadas na assembleia, os sócios do clube pretendiam apenas fazer uma mudança de fachada, voltando ao antigo nome assim que possível. O dirigente colorado Antenor Lemos propôs que a votação para a expulsão do Frisch Auf fosse nominal, mas Walter Graf, do São José, sugeriu que votação ocorresse por aclamação, o que foi aceito por todos os demais. Após a expulsão do Frisch Auf ter sido aprovada, também foi aprovada por aclamação a elaboração de uma lista dos sócios do clube que votaram contra a nacionalização, e que os mesmos fossem considerados suspeitos de traição à Pátria e proibidos de ingressarem em outros clubes da FSRG.

Voltando aos gramados, formando a dupla de zaga com Viana, Lenz e Mena, Woebecke enfrentou o Colorado nas temporadas de 1916, 1917 e 1918. Viu o grande esquadrão colorado chegar ao pentacampeonato da cidade, com os títulos de 1916 e 1917, e o Cruzeiro surpreendentemente conquistar a taça, em 1918.
Woebcke, no destaque, atuando pelo Porto Alegre

Na reta final do campeonato municipal de 1918 Woebcke transferiu-se para o Internacional. Sua estreia ocorreu em 1º de setembro de 1918, em um amistoso na Chácara dos Eucaliptos, no qual o Internacional bateu o Juvenil de Caxias do Sul por 5x2. Desde que Simão, titular desde 1912, trocou Porto Alegre por Santana do Livramento, o clube vinha buscando um companheiro de zaga para Bello. Testou Zé Luís, Mascarello e Dorval, mas sem convencer o técnico (que era o próprio João Bello).

Woebcke disputou dois amistosos em 1918, mas em 1919 o Colorado começou a temporada com Bello e Dorval fazendo a zaga. Mas na primeira partida do campeonato, por razões não muito claras, Dorval foi punido pela liga com uma suspensão de 90 dias. Ele ainda jogaria pouco depois um amistoso contra o Militar, um clube não filiado, tendo Woebcke como companheiro de zaga. Com a saída de Dorval, seriam testados Guimarães e Só na zaga, mas em 13 de julho de 1919, em partida contra o Tabajara, Woebcke assumiu a titularidade. O Internacional venceu a partida por 11x0.
Equipe que venceu o Tabajara, com Woebcke em destaque

Dorval foi o titular no campeonato de 1919, mas o Internacional não conquistou o título da cidade, perdendo o último clássico por 3x2, em 14 de setembro de 1919, na Baixada.
Woebcke no Gre-Nal de 14/09/1919

Em 1920 novamente Woebcke formaria a zaga com Bello na maioria dos jogos, conquistando o campeonato municipal. Mas já surgia no clube um zagueiro que faria história, Reynaldo Meneghetti. Woebcke participaria de jogos marcantes, como as goleadas sobre o Municipal (14x2) e Tabajara (12x0). Também jogou na primeira partida do Internacional contra uma equipe europeia, vitória de 5x2 sobre  HMS Petersfield, equipe de um navio da marinha britânica. Mas nem Woebecke nem Bello jogaram a final do campeonato, quando o Colorado derrotou o São José em um jogo-extra, por 5x4. Nesse dia a zaga colorada foi formada por Pires e Meneghetti.

Em 1921 Woebcke começou a temporada como titular ao lado de Meneghetti, embora Pires e Rivadávia atuassem com frequência, também. Era também o capitão da equipe. Mas o zagueiro colorado já tinha outros planos de vida. Pretendia seguir os passos do tio e estudar engenharia na Alemanha. Em 3 de julho de 1921 Woebecke fez sua última partida pelo Colorado, uma derrota de 3x2 para o Cruzeiro, que seria o campeão daquele ano. No dia 14 de agosto de 1921 Woebcke embarcou rumo à Alemanha.
A Federação, 15/08/1921

Além do futebol, Woebcke também se dedicou ao remo e ao tênis, conquistando vitórias nos dois esportes. Na Alemanha, jogou futebol no Preussen Fussball, em 1922. Após completado o curso universitário retornou ao Brasil em 1928.

Seus números no Internacional:
26 partidas
18 vitórias
3 empates
5 derrotas
Campeão municipal em 1920

Colaboração: Luiz Pissutti

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