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sexta-feira, 23 de abril de 2021

Técnicos: Teté


José Francisco Duarte Júnior nasceu em Pelotas, em 24 de agosto de 1907.

A carreira de Teté como jogador, assim como a de técnico, antes de chegar a Porto Alegre, é pouco conhecida. Existem várias versões disponíveis na internet e em livros sobre futebol.

Teté, como ficaria conhecido no mundo do futebol, jogou em clubes como o Ideal de Pelotas e Rio Grande. Em seguida foi estudar na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro.

Após concluir o curso e sair com o posto de aspirante, ele foi para Bagé, onde teria jogado no General Osório e em seguida convidado a ser técnico do Guarany. O seu primeiro título teria sido de campeão bageense com o Guarany. A partir daí surgem duas versões: uma aponta que Teté teria ido para o 9º Regimento (atual Farroupilha), sendo campeão estadual; outra diz que Teté continuou em Bagé, chegando ao 9º Regimento apenas em 1938, conquistando o citadino desse ano.

Entre 1940 e 1943 Teté treinou o Brasil, conquistando o citadino pelotense em 1941 e 1942. Em 1944 e 1945 treinou novamente o 9º Regimento, agora já chamado Farroupilha. E em 1946 voltou ao Brasil, conquistando seu quarto título pelotense.

Seu bom desempenho no futebol pelotense chamou a atenção dos clubes da capital, e o Cruzeiro o contratou em 1947. Mas Teté ficou pouco tempo na Montanha. Centralizador, ele gostava de controlar tudo. Como seu filho Paulo Duarte disse em uma entrevista, em 1999, "o Velho sempre quis ser o dono do time". E seu gênio forte bateu de frente com Ernesto di Primio Beck, o homem forte do clube estrelado. Teté dirigiu o Cruzeiro nos amistosos de pré-temporada e no Torneio Extra, mas no campeonato municipal ele já estava treinando o Nacional.

Em 1948 Teté foi chamado ao Rio de Janeiro, para voltar à ativa no Exército. No Rio, fez amizade com Ary Barroso e Flávio Costa, passando a frequentar os treinos do Flamengo. Na Gávea ele reencontrou Luizinho, que havia sido seu jogador no Cruzeiro.

No início de 1950 Teté retornou ao Rio Grande do Sul e ao Nacional. Bem relacionado no Flamengo e conhecendo os juvenis e aspirantes, conseguiu fazer um grande negócio. Trocou o promissor zagueiro Gago por quase um time inteiro do Flamengo: Quito, Florindo, Moreira, Quinzinho, Luizinho, Chico e Bodinho. O Nacional fez boa campanha no Torneio Extra, ficando em 3º, atrás apenas da dupla Gre-Nal, e no campeonato municipal, onde ficou em 4º, atrás da dupla e do Renner.

Teté começou a temporada de 1951 treinando o Nacional. Mas em 11 de abril de 1951, o técnico argentino Alfredo González rescindiu amigavelmente seu contrato com o Internacional. No dia 12 de abril de 1951, o Internacional contratou José Francisco Duarte Júnior (Teté). O novo técnico estreou no comando do Internacional no dia 22 de abril de 1951, atuando contra o Cruzeiro, no Passo da Areia, pelo Torneio Extra. Esperava-se uma partida equilibrada, mas o Internacional venceu com facilidade, goleando por 5x0. Dias depois, em 3 de maio, Teté conquistou seu primeiro troféu pelo Colorado, batendo seu ex-clube Nacional por 2x1, na decisão da Taça Cidade de Porto Alegre.

Em junho de 1951 o Colorado de Teté disputou o Torneio Triangular de Porto Alegre, com Botafogo e Grêmio. O Internacional empatou com o Botafogo (1x1) mas perdeu para o Grêmio (1x2) e os cariocas, que haviam vencido os tricolores, ficaram com a taça. Em 26 de agosto, na Baixada, ocorreu um empate no Gre-Nal (1x1). Esse clássico valeu pelo 1º turno do campeonato municipal e pelo 2º turno do Torneio Extra, que nesse ano teve dois turnos. Com o empate no clássico o Renner venceu o Torneio Extra. Mas em 25 de novembro de 1951 o Colorado bateu o Renner por 4x1 e conquistou o campeonato municipal com uma rodada de antecipação. O campeonato gaúcho foi decidido em um triangular com Pelotas e Rio Grande, e o título veio em 13 de janeiro de 1952, na vitória de 6x3 sobre o time da Noiva do Mar.

Teté, ao chegar ao Internacional, já tinha o desejo de trazer seus pupilos do Nacional para os Eucaliptos. O primeiro a chegar foi o zagueiro Florindo, em julho de 1951. Em janeiro de 1952 chegaram Camargo e Luizinho. E em março, Bodinho e Lindoberto.

Em 24 de agosto de 1952 o Internacional bateu o Nacional por 3x1 e conquistou o Torneio Extra. O Nacional precisava vencer para provocar um jogo-extra. Mas em 21 de setembro perdeu o Torneio Grandes do Rio Grande do Sul para o Floriano. Na 1ª fase o Colorado havia eliminado o Pelotas e o Floriano eliminou o Grêmio. No dia 7 de dezembro o Internacional bateu o Grêmio por 5x1 e conquistou o tricampenato municipal. O campeonato gaúcho foi decidido em um quadrangular com Floriano, Brasil e 14 de Julho de Santana do Livramento. O título veio com uma rodada de antecipação, em 25 de janeiro de 1953, na vitória de 2x1 sobre o Floriano.

Em março de 1953 o Colorado conquistaria seu primeiro título além Mampituba. Convidado a disputar o Torneio Régis Pacheco, em Salvador, o Internacional venceu o Bahia (7x1) e o Vitória (4x1), empatando com o Flamengo (2x2) e levando o título no goal average (divisão dos gols marcados pelos gols sofridos). Na temporada de 1953 não foi disputado o Torneio Extra e o Campeonato Municipal transformou-se em Campeonato Metropolitano, com o ingresso do Floriano (Novo Hamburgo) e Aimoré (São Leopoldo). Em 1º de novembro, na Baixada, o Internacional bateu o Grêmio por 2x0 e conquistou o tetracampeonato. No dia 12, no amistoso de entrega de faixas de campeão, o Colorado bateu o Peñarol por 4x0, em uma partida que o juiz se recusou a marcar um pênalti para o Internacional aos 40' do 2º tempo, para evitar uma humilhação maior dos uruguaios. Na decisão do título gaúcho, duas vitórias (2x1 e 3x2) sobre o Brasil de Pelotas.

Na temporada de 1954 chegou o último púpilo dos tempos de Nacional: o goleiro uruguaio La Paz. A primeira competição da temporada de 1954 foi o Torneio Quadrangular Interestadual, disputado no Rio de Janeiro. O Internacional perdeu para o Fluminense (1x2) e empatou com o Botafogo (2x2). Com os dois times sem condição de chegar ao título, foi cancelada a partida com o Palmeiras. O Torneio Extra vltou a ser disputado em 1954, com nova fórmula. Os dez clubes foram divididos em dois grupos de cinco, classificando-se os dois primeiros para o Quadrangular Final. Internacional, Nacional, Grêmio e Floriano foram os classificados. Na abertura do Quadrangular Final estreou no Internacional o atacante Larry, vindo do Fluminense. Internacional, Nacional e Grêmio terminaram o quadrangular empatados e foi preciso ser disputado um supercampeonato. O Colorado venceu seus dois adversários, conquistando o título em uma goleada de 4x0 sobre o Grêmio, no dia 25 de julho. O título seguinte colorado também seria conquistado sobre o rival. No Torneio Internacional de Inauguração do Estádio Olímpico, o Colorado bateu o Liverpool do Uruguai por 4x0 e goleou o Grêmio por 6x2. No campeonato metropolitano, porém, o título ficaria com o surpreendente Renner.

Em 1955 o Internacionl vendeu Salvador, o líder daquele grupo em campo, para o Peñarol. Em 18 de maio de 1955 o Peñarol promoveu um amistoso cuja renda seria destinada para completar o pagamento de Salvador. Originalmente era para ter sido realizado um torneio quadrangular, com Internacional, Renner, Peñarol e Nacional, mas o Colorado não demonstrou interesse na competição, sendo apenas realizados dois amistoso. Na preliminar, Nacional 1x0 Renner. No jogo principal, o Peñarol abriu 3x0 de vantagem, mas Teté corrigiu o posicionamento de Florindo ainda no 1º tempo e o Colorado chegou ao empate, quase vencendo. Larry saiu de campo aplaudido de pé pela torcida uruguaia. Nesse jogo o Internacional ainda teve dois goleiros lesionados. La Paz, lesionado, foi substituído no intervalo por Mílton, que por sua vez se lesionou aos 25' do 2º tempo, substituído por Oscar. No campeonato metropolitano o 1º turno deixou a desejar, com derrotas para Floriano e Grêmio e empate com Renner, apesar das goleadas sobre Juventude (8x1) e Flamengo (7x1). Mas no 2º turno o Internacional venceu todas as 9 partidas, conquistando o título em 20 de novembro de 1955, ao bater o Força e Luz por 5x2. O irresistível ataque colorado marcou 60 gols em 18 partidas. O título gaúcho foi decidido novamente contra o Brasil, com duas vitórias: 1x0 em Pelotas e 3x2 em Porto Alegre, virando um jogo que perdia por 2x0.

Teté gostava do futebol ofensivo, do time jogando para a frente. Detestava passes para trás. Se um jogador, em treino ou partida, recuava uma bola, ele gritava: "bota prá fora! Se não sabe o que fazer com a bola, chuta para fora!". A famosa tabelinha Larry-Bodinho foi ensaiada inúmeras vezes, e com uma alternativa: Luizinho aparecendo de surpresa. Teté também costumava usar um ponteiro ofensivo e outro recuado, dando espaço para o lateral subir. Era um futebol técnico, trabalhado, que fazia oposição à escola do futebol força representada por Foguinho, que comandou Cruzeiro e Grêmio na mesma época.

A temporada de 1956 começou com uma surpresa. O Rio Grande do Sul foi escolhido para representar o Brasil no Campeonato Pan-Americano do México. Teté foi o técnico escolhido e formou uma seleção tendo por base o Internacional. A história em detalhes dessa epopeia que acabou com o título brasileiro pode ser conhecida nesse texto: https://futeboloutrahistoria.blogspot.com/2014/01/campeonato-pan-americano-de-1956-o-rio.html .

Na volta do Campeonato Pan-Americano o Internacional era apontado como o grande favorito para o título metropolitano, mas teve alguns tropeços durante a competição. Na reta final do campeonato o Internacional estava em 3º lugar com 26 pontos, e ainda tinha dois jogos. O Grêmio liderava com 28 pontos e tinha 3 jogos. O Renner era o 2º colocado, mas só tinha um jogo. E as duas partidas que faltavam ao Internacional eram contra Grêmio e Renner. O Colorado venceu o Gre-Nal por 1x0, empatando com o Grêmio em pontos. Mas depois o Grêmio venceu o Nacional por 3x1, acabou com as chances do Renner e ficou com uma mão na taça. O Internacional precisava vencer o Renner e depois torcer por uma derrota gremista contra o Juventude. O Colorado perdeu para o Renner por 3x1, ficando em 3º lugar. Já com o título ganho, o Grêmio perdeu para o Juventude.

A temporada de 1957 não começou bem. Nos primeiros jogos do ano o Internacional foi derrotado pela Seleção Uruguaia (1x3), Bangu (2x3) e Brasil de Pelotas (1x4). Mas a seguir os resultados voltaram a aparecer, inclusive uma vitória maiúscula sobre o Boca Juniors por 4x2. Quando o campeonato metropolitano começou, os primeiros resultados foram bons, com vitórias sobre Força e Luz (2x0), Floriano (2x1) e Juventude (3x0). Mas logo vieram quatro partidas sem vitória: Cruzeiro (0x2), Renner (1x2), Aimoré (2x2) e Grêmio (1x1). O clube estava em crise. No final de julho de 1957 a direção colorada convidou Abelard Jacques Noronha para assumir o Departamento de Futebol do clube, vago desde a demissão de Sebastião Lopumo, mas ele não aceitou, alegando compromissos profissionais. No dia 4 de agosto, nos Eucaliptos, o Internacional venceu o Flamengo por 2x1, jogando mal. O time de Caxias do Sul teve um gol anulado nos minutos finais. A torcida vaiou o time e a crise chegou a um ponto de ebulição.

No dia 6 de agosto, o Correio do Povo publicou a seguinte matéria:
Importante a reunião de hoje
Como é público e notório, o plantel colorado não vem rendendo o suficiente. Em parte porque não se entrosa, em parte porque apresenta deficiência de preparo físico, em parte porque jamais se apresenta duas vezes com a mesma escalação e, ultimamente, talvez porque ande preocupado com outras coisas – a verdade é que vai de decepção em decepção, em que pese contar com nome de expressão do ‘soccer’ nacional. Ainda domingo passado, a decepção foi enorme: jogando contra uma equipe quase inexpressiva como é a do Flamengo, ainda assim custou imensamente para obter uma vitória pela diferença mínima. Segundo boatos que andam pelas rodas esportivas, na reunião de hoje, da diretoria, alguns diretores pretendem sugerir fórmulas revisionistas. Impressionados com o alto custo do plantel e em especial de alguns jogadores, sem o rendimento condizente, pretendem que essa situação seja revisada, se for o caso até negociando alguns dos caríssimos valores que não vêm rendendo metade do que podem”. 

Como resultado desta reunião, o presidente colorado, Ítalo José Michelin pediu que o técnico Teté se demitisse. Como ele não o fez, o clube o demitiu, ainda em 6 de agosto. Houve descontentamento de parte de alguns torcedores, associados e conselheiros, que chegaram a organizar um ato de solidariedade a Teté, em 8 de agosto de 1957. Mas chegava ao fim a mais longa permanência de um técnico no comando do Internacional: 6 anos, 3 meses e 25 dias.

Em um depoimento, 42 anos depois, Frederico Arnaldo Ballvé se referiu assim à demissão de Teté:
"O Internacional dispensar o Teté foi um troço. Puta que pariu! Frequentavam a casa do Teté todas as noites, o Ephraim, o Lopumo, o Sayão lobato, toda essa gente. Bebiam as palavras do Teté. Quando faziam qualquer coisa: 'será que o Capitão aceita?' O troço era assim. (...) Ele era o dono do clube, rapaz. Ele mandava mais que o presidente."

Depois do Internacional, Teté foi treinar o São José. Lá ele reencontraria Camargo, Luizinho e Bodinho, seus atletas desde o Nacional.

O final da década de 1950 foi ruim para o Internacional. O Grêmio conquistou os campeonatos de 1956 a 1959. Para 1960 o Internacional decidiu apostar novamente em Teté. O técnico reestreou em um amistoso contra o Veronese, vencendo por 2x1. Mas a saúde de Teté não era mais a mesma. Ele sofria de enfisema e era fumante. Depois do Pan-Americano do México sua saúde começou a piorar. E em 1960 ele não era mais o Marechal das Vitórias celebrado pela torcida colorada. Nos treinos não entrava em campo a todo momento para corrigir o posicionamento dos atletas. Nas partidas não tinha mais a mesma energia da época vitoriosa. No 1º turno do campeonato metropolitano sofreu duas derrotas, uma delas uma goleada no clássico: Juventude (5x0), Cruzeiro (5x3), Aimoré (2x1), Floriano (1x2), Veronese (4x1), Grêmio (1x5) e São José (2x0). O 2º turno começou com duas vitórias: Veronese (3x0) e Aimoré (2x0). Mas em seguida veio mais uma derrota para o Floriano (1x2).

No dia 23 de outubro de 1960 o Internacional enfrentava o Cruzeiro, na Montanha, pela 4ª rodada do 2º turno. E sofreu uma sonora goleada: 5x0. Na manhã do dia 24 Teté pediu demissão.

José Francisco Duarte Júnior não dirigiu mais equipes. Sua saúde ficou cada vez mais debilitada. Em 1961 quase não saía mais de casa. Seus últimos dias de vida passou hospitalizado. Seu amigo Ephraim Pinheiro Cabral, ao visitá-lo no hopital, desmaiou ao ver seu estado. No dia 18 de junho de 1962, um dia depois do Brasil conquistar o bicampeonato mundial no México, Teté faleceu.

Seus números no Internacional:
297 partidas
194 vitórias
50 empates
53 derrotas
839 gols a favor
394 gols contra
445 gols de saldo

Campeão estadual em 1951, 1952, 1953 e 1955
Campeão municipal/metropolitano em 1951, 1952, 1953 e 1955
Campeão do Torneio Extra em 1952 e 1954
Campeão da Taça Cidade de Porto Alegre em 1951
Campeão do Torneio Régis Pacheco em 1953

Teté é o 3º técnico que mais treinou o Internacional. No início do ano a imprensa noticiou que Abel se aproximava de Teté para ser o técnico com mais jogos pelo clube. Mas essa condição Abel Braga já tinha desde 2014, quando ultrapassou Cláudio Duarte, e não Teté.

Para saber mais sobre os técnicos que mais treinaram o Colorado, ver:   https://futeboloutrahistoria.blogspot.com/2021/01/numeros-os-tecnicos-que-mais-treinaram.html

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