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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

A voz da torcida


No início de agosto de 1967 a situação do Internacional não era nada boa. O último título havia sido o campeonato gaúcho de 1961. E o Grêmio avançava rumo ao hexa, tentando igualar o feito do Rolo Compressor (o Tricolor chegaria ao hepta, em 1968).

O time havia sido vice-campeão do Robertão, mas o futebol apresentado pela equipe não agradava a a torcida. Na estreia do Gauchão, dois empates em 0x0 irritaram os torcedores. No dia 23 de julho, na 3ª rodada, o Colorado bateu o Rio Grande por 1x0, mas perdeu o técnico, Sérgio Moacyr Torres, que se demitiu reclamando da pressão da torcida.

Florindo assumiu o time interinamnte, conquistando uma vitória e um empate. Nas mesmas cinco rodadas o Grêmio havia vencido quatro e empatado uma, abrindo dois pontos de vantagem (na época o campeonato era disputado em pontos corridos e vitória valia dois pontos). O presidente colorado Ephraim Pinheiro Cabral se esforçava para contratar o técnico Foguinho, do Aimoré, mas teve que se contentar com Pedro Ário Figueiró, que assumiria o clube na 6ª rodada e levaria até o fim do campeonato.

Para descobrir o que a torcida colorada pensava do momento do clube, o jornal Diário de Notícias foi às ruas ouvir os torcedores, escolhendo cinco deles: um engraxate, um comerciante de livros, um funcionário da CEEE, uma bancária e um estudante universitário. Eis os depoimentos:

Valdomiro Barreto dos Santos
engraxate na Praça da Alfândega
"O Robertão foi uma folguinha, mas já começou mal o campeonato. Parece que o time não se acerta mesmo. Vem técnico, vai técnico e a coisa continua na mesma. Acho que Sérgio deveria ter ficado no time. De qualquer maneira foi com ele que o Internacional conquistou o vice do Robertão".

Arnaldo Campos
sócio da Livraria Coletânea, na rua da Praia
"Acho que a solução para o Colorado é deixar de lado as simpatias e antipatias e dar maiores condições para o trabalho do técnico. Onde há paz, há união e só da união poderá sair a vitória. A gente sempre tem esperança no time e ainda há tempo para o Internacional impedir que o Grêmio tire o hexa. E se o Colorado não puder fazê-lo, ninguém mais o fará".

Assis Gonçalves de Souza
funcionário da CEEE
"Acho que o que acontece, atualmente, com o Internacional é uma coisa a que eu chamo de 'complexo de hexa'. O time entra em campo com todas as responsabilidades comuns a todos os times e, mais ainda, com a respoonsabilidade de continuar a ser o único [hexa] do Brasil. Isso é mau. Mas tem mais. Há o problema do técnico. Como é que um time vai poder enfrentar seus adversários se não tem uma direção técnica firme em que se possa confiar? Acho que o Sérgio deveria ter continuado como técnico. Afinal, nem sei por que ele saiu. O Florindo podia ser um bom técnico, mas acho que lhe falta experiência".

Marlene Terezinha Ribeiro
funcionária do Banco Agrícola Mercantil
"Acho que o Internacional tem tido pouca sorte, ultimamente, mas espero que ainda consiga se reabilitar. Além do problema de técnico, parece que a imprensa tem endeusado certos jogadores colorados, o que se torna contraproducente para o time. De qualquer maneira, tenho a impressão que ainda há esperanças em 1967. Se não, paciência, lá se vai o título e o hexa."

Carlos Alberto Pozo Raymundo
aluno de jornalismo da PUC
"Falta orientação segura por parte da direção e parece que a política e as pressões são os principais causadores da atual situação. Não há entrosamento entre técnicos e jogadores. Mendes Ribeiro desenvolveu um bom trabalho dando um futebol bonito ao Colorado. Acho que esse seria o ponto de partida para o futebol-gol, que é o que interessa ao time. Fazendo gols é que se ganha campeonatos. Depois veio Sérgio e o time ganhou o vice do Robertão. Mas algo houve e o Sérgio saiu. Agora, novamente o problema é técnico. É oportuno lembrar que aqui em Porto Alegre existe um homem honesto, inteligente e que, acredito, resolveria o problema. Chama-se Selviro Rodrigues".

Algumas curiosidades sobre o texto: Assis, Carlos e Marlene se declararam colorados desde a tenra infância. Valdomiro disse ser colorado "há uns quinze anos", sem maiores detalhes. Já Arnaldo, carioca, torcia pelo Internacional há 11 anos, desde que viera para Porto Alegre. No Rio era flamenguista.

Os técnicos citados pelos torcedores são:
Sérgio Moacyr Torres Nunes - treinou o Internacional em 1961, 1964/1965, 1967 e novamente em 1977. Foi campeão gaúcho em 1961, pelo Colorado, e em 1962, 1963 e 1968 pelo Grêmio.
Antônio Carlos Mendes Ribeiro - treinou o Internacional em 1963 e 1966.
Selviro Rodrigues da Silva - treinou o Internacional em 1959. Foi campeão metropolitano e gaúcho com o Renner, em 1954.





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