Em
3 de janeiro de 1890, no Passo do Valente, interior do município de Bagé,
nasceu o menino Carlos Antônio Kluwe. Era filho de uma família de origem alemã
que se dedicava à pecuária.
Nos
primeiros anos do século XX, Carlos Kluwe mudou-se para Porto Alegre, para
cursar medicina. E ingressou no futebol, associando-se ao Internacional. Kluwe
não foi fundador do Colorado, mas estreou pelo clube em sua segunda partida, um
empate em 0x0 contra o Militar, no dia 7 de setembro de 1909.
A
família Kluwe gostava de futebol. No dia 15 de agosto de 1909, João, Lothario e
Guilherme Kluwe, provavelmente primos de Carlos Kluwe, fundaram o Grêmio Foot-Ball
7 de Setembro.
Kluwe
estava presente na primeira vitória colorada, 2x1 sobre o Militar, em 10 de
outubro de 1909. Também estava em campo na primeira partida válida por
campeonato, em 26 de junho de 1910, quando o Colorado bateu o Nacional por 5x0.
Kluwe
tinha uma personalidade forte e uma liderança natural. Assim, em 17 de abril de
1910 foi eleito capitão do time, que na época fazia parte da direção do clube.
Com
1,90 de altura e forte, Carlos Kluwe chutava a gol de qualquer distância, com
os dois pés. Apesar de jogar de centromédio, fazia seus gols. O primeiro deles
ocorreu em 6 de novembro de 1910, na vitória de 7x2 sobre o Frisch Auf. No
campeonato de 1911, marcou contra o Nacional e o 7 de Setembro. Em 30 de julho
de 1911, um tropeço: o Internacional vencia o Fussball por 3x2 e teve um
pênalti a seu favor. Kluwe cobrou e perdeu o pênalti. No último minuto do jogo,
o Fussball empatou.
Em
1912, doente, Kluwe não pode participar da excursão do clube a Pelotas, em
julho, quando conquistamos nossa primeira taça externa, “Centenário de Pelotas”,
ao bater o União por 6x0. Mas em 11 de agosto estava em campo na maior goleada
colorada, 16x0 sobre o Nacional, marcando um dos gols.
Em
1913, Kluwe comandaria o Internacional na conquista de seu primeiro campeonato.
O título veio em 24 de agosto, na vitória de 6x0 sobre o Colombo, na qual Kluwe
fez um dos gols. Em 1914 veio o bicampeonato, com destaque para a goleada de
15x2 sobre o Americano, na qual Kluwe marcou dois gols.
O
ano de 1915 seria marcante para Carlos Kluwe. Em 20 de março de 1915 ele
defenderia sua tese, formando-se em medicina. No dia 5 de abril, mais de 250
sócios colorados reuniram-se para eleger a nova direção, em uma acirrada
disputa entre duas chapas. Carlos Kluwe apoiou Felipe Silla, candidato da
situação, que venceu com 146 votos, contra 117 de Arthur Pinto de Souza Neves,
candidato da oposição. Curiosamente, o regimento eleitoral permitia que uma
pessoa concorresse por mais de uma chapa, e Felipe Silla, candidato a
presidente da chapa de situação, também era o candidato a vice na chapa de
oposição. No dia 15 de abril, em Assembleia Geral de posse da nova direção, realizada
no Palacete Rocco, o clube lhe entregou uma medalha de ouro em homenagem à sua
formatura.
No
dia 25 de abril de 1915, o Internacional enfrentou o Cruzeiro na inauguração da
Vila Cruzeiro, “ground” dos alvi-azuis. O Cruzeiro abriu 2x0, mas Kluwe marcou
e Vares empatou a partida, que terminou 2x2. Em 16 de maio, contra o mesmo
Cruzeiro, já pelo campeonato, o Internacional venceu por 7x0. Kluwe marcou o 4º
gol com um chute forte, segundo a imprensa da época, do meio do campo.
Preparando sua saída do futebol, que havia programado para acontecer após a
formatura, Kluwe não viajou com o clube para a excursão ao interior. Na volta
do Colorado, atuou em apenas mais uma partida do campeonato, que levaria o
clube ao tri municipal. Em outubro, porém, ele voltaria aos gramados para dois
amistosos: a vitória de 5x0 sobre o São Paulo de Rio Grande e a primeira
vitória em Gre-Nais, no dia 31 de outubro, por 4x1. Sobre sua atuação no
clássico, o jornal A Federação assim descreveu:
“Carlos Kluwe, capitão da éleven vencedora, mesmo visivelmente enfermo,
salientou-se no quadro alvi rubro. Figura de footballer, sympathico e
insinuante, seu jogo foi por todos admirado. Conhecedor do sport a que se
dedicou, muito estimado por seus companheiros, é á sua proficiência, energia e firmeza
de caracter, que se devem os louros colhidos pela equipe da Chacara dos
Eucalyptus, domingo ultimo.”
A
“Majestade nos Campos”, como era chamado pela imprensa, pela sua habilidade com
a bola, encerrava a carreira. Mas a família Kluwe continuava no time. Seu primo
Ricardo Kluwe, o Bitu, era o lateral-direito do time. E nos anos seguintes Cary
Kluwe e Nenito Kluwe atuariam pelo 2º quadro, com algumas aparições no time principal.
Em
1916, Carlos Kluwe foi clinicar em Lavras do Sul. Em setembro de 1916 o
Internacional enfrentaria a seleção uruguaia, e cogitou-se a possibilidade de
Kluwe voltar a jogar, porém ele não se encontrava na cidade. Mas no final de
1917 estava de volta a Porto Alegre, sendo eleito para o Conselho Fiscal do
clube na gestão de 1918. Nessa época, chegou a comandar treinos dos atletas.
Em
1919 o Internacional enfrentava um problema. Após o pentacampeonato de 1913 a
1917, o clube havia perdido o título de 1918 para o Cruzeiro. A temporada de
1919 também não havia começado bem, com derrotas para o Porto Alegre e
Cruzeiro. Para piorar, o centroavante Cezar Andrade havia se lesionado e se
aproximava o Gre-Nal. Um grupo de sócios colorados pensou que Kluwe poderia ser
o reforço ideal para o time, mesmo que nunca tivesse jogado nessa posição.
Assim, foi enviada uma carta, assinada por mais de 80 pessoas, a maioria
torcedoras do Internacional, entre elas a sua esposa Iracema Teixeira Kluwe,
mas também por algumas personalidades coloradas, pedindo que ele voltasse aos
gramados. Assim, em 20 de julho de 1919, Kluwe voltou a vestir a camiseta
colorada. E logo aos dois minutos de partida, após uma cobrança de escanteio de
Lio, Kluwe cabeceou para as redes, abrindo o placar. Mais tarde, aos 17 minutos
do 2º tempo, novo escanteio. A defesa gremista concentrou-se em Kluwe, mas Lio
cobrou em direção a Pedro Cunha, livre, que ampliou. O Internacional venceu o
clássico por 2x0. No sábado seguinte à partida, um grupo de sócios organizou um
chá dançante no Palacete Rocco, em homenagem a Carlos Kluwe e sua esposa. Kluwe
ainda jogaria mais duas partidas do campeonato, mas não conseguiu evitar o
título gremista.
Em
2 de maio de 1920, Kluwe voltou a campo, novamente em um Gre-Nal com muita
confusão. O Grêmio vencia por 2x0 quando, no início do 2º tempo, o
Internacional desperdiçou dois pênaltis seguidos, com Rosário e Bello. Após o
último pênalti perdido, aos 20 minutos, a torcida colorada invadiu o campo e a
partida foi paralisada. O tempo restante foi disputado no dia 9 e a partida
terminou 4x1 para o Grêmio. No jogo seguinte, Cezar Andrade estava de volta,
após longo período de recuperação e Kluwe abandonou de vez os gramados. Mesmo
assim, participou da conquista do título de 1920.
Logo
em seguida, Carlos Kluwe retornou a Bagé, onde chegou a atuar pelo Guarany, em
1921. Também atuou como árbitro em uma partida de campeonato entre Cruzeiro e
Porto Alegre, em 24 de abril de 1921. Em 25 de setembro, apitou Ypiranga x
Cruzeiro. No final de setembro de 1921 mudou-se para Caxias do Sul.
No
início de 1923 Carlos Kluwe estava novamente morando em Porto Alegre, mas no
mesmo ano mudou-se para Bagé. Em novembro de 1926, ele doou ao Museu Júlio de
Castilhos, de Porto Alegre, fósseis encontrados na Sanga da Baronesa, em Bagé.
Na sua cidade natal, Carlos Kluwe clinicava na Beneficência Portuguesa, ao lado
de outro ex-atleta colorado, Ernesto Médici Sobrinho.
Em
fevereiro de 1929, Carlos Kluwe concorreu ao Conselho Municipal de Bagé, pelo
Partido Libertador, recebendo 1903 votos. Em dezembro do mesmo ano foi eleito para a
Mesa Diretiva da Santa Casa de Bagé, no biênio 1930-1931.
Em
1945, com a reorganização partidária, o PSD resolveu arregimentar os antigos
libertadores de Bagé. Em julho, ocorreu uma reunião entre lideranças dos dois
grupos, presidida por Carlos Kluwe. Em 1947, o “médico dos pobres” concorreu a
prefeito de Bagé, pela aliança PSD/PRP/PSP, sendo eleito com 5.534 votos.
Coincidentemente, Kluwe substituiu na prefeitura Gil de Souza, outro ex-atleta
colorado. Carlos Kluwe foi prefeito de Bagé entre 1948 e 1951.
Em
1959, por ocasião do cinquentenário do Internacional, foi inaugurado em retrato
de Carlos Kluwe, no Salão Nobre do Estádio dos Eucaliptos.
Em
16 de setembro de 1966, Carlos Kluwe faleceu, em Bagé. O Colégio Estadual de
Bagé, instalado durante seu mandato como prefeito, passaria a se chamar Escola
Estadual de Ensino Médio Doutor Carlos Kluwe. Um busto em sua homenagem foi
colocado na praça central da cidade, em 1968, e uma rua da Vila Kennedy, na
periferia da cidade, leva seu nome.
Seus números no Internacional:
61 partidas
42 vitórias
7 empates
12 derrotas
20 gols marcados
Campeão
municipal em 1913, 1914, 1915 e 1920
Suas
vítimas:
Cruzeiro
– 5 gols
Nacional
– 4 gols
Frisch
Auf – 3 gols
Americano
– 2 gols
7
de Setembro, Combinado de Viamão, Colombo, Guarany de Bagé, Grêmio e Tabajara –
1 gol
OBS: Várias fontes disponíveis na internet apontam a data de falecimento de Carlos Kluwe como 16 de setembro. Porém, o jornal Diário de Notícias de 7 de outubro de 1966 aponta sua data de falecimento como 28 de setembro e seu sepultamento no dia 29.
Nenhum comentário:
Postar um comentário