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sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Técnicos: Daltro Menezes


 

O clima no Internacional, em setembro de 1968, não era bom. Em julho, o Grêmio havia conquistado o hepta gaúcho, maior sequência de títulos até então. O técnico colorado, Foguinho, tinha seu trabalho fortemente questionado pela torcida, além de ser fortemente identificado com o rival.

Nos três últimos amistosos antes do Robertão, o Colorado apenas empatou: Ypiranga (1x1), São Paulo de Rio Grande (0x0) e Montenegro (0x0). A partida contra a equipe da Noiva do Mar foi nos Eucaliptos, e a torcida vaiou fortemente o time. O início do Robertão também não foi positivo, com dois empates em Porto Alegre, com Palmeiras e Náutico, ambos por 1x1. No dia 14 de setembro, porém, o time teve grande atuação no Morumbi e venceu o São Paulo por 1x0.

Quando a situação parecia mais tranquila, Foguinho surpreendeu a todos ao pedir demissão do cargo de técnico no dia 17 de setembro, véspera da partida contra o Vasco. Na sua carta de demissão, argumentava que vinha sofrendo críticas injustas. Na mesma data, à noite, Foguinho participou do programa Conversa de Arquibancada, na TV Piratini, onde reclamou que não recebia apoio da direção e que não era consultado sobre as contratações, embora tenha negado os boatos de que a direção interferia na escalação.

O Internacional agiu rápido, e no mesmo dia contratou Daltro Menezes, jovem treinado que havia se destacado no campeonato gaúcho dirigindo o Juventude, após começar a carreira nas categorias de base do próprio Colorado. Daltro inclusive participou do programa da TV Piratini, já na condição de novo técnico colorado.

No dia 18 de setembro de 1968, Daltro estreava no Internacional, diante do Vasco da Gama, no Olímpico. Na torcida colorada apareciam faixas com os dizeres "Já Foi Tarde" (para Foguinho) e "Vamos Lá, Daltro, Mostra o Teu Valor". Em campo, o Internacional venceu por 2x1.

A campanha de Daltro, porém, foi irregular, chegando a perder inclusive partidas amistosas para equipes do interior. Seu trabalho começava a ser questionado, mas Daltro continuava confiante. Ele declarou em entrevista que "vamos apavorar o meio esportivo gaúcho, vencendo a todo mundo", antes da partida contra o Flamengo, pelo Robertão. Faltando cinco partidas para o fim da fase classificatória, era quase impossível a classificação para o quadrangular final. Mas Daltro realmente surpreendeu o Rio Grande do Sul. Sua sequência de jogos na fase classificatória: 4x0 Flamengo, 1x0 Botafogo, 0x0 Grêmio, 1x0 Fluminense e 2x1 Cruzeiro. No Quadrangular Final, porém, perdeu para Santos e Cruzeiro. Na última rodada fez 3x0 no Palmeiras treinado por Filpo Núñez (tio de Eduardo Coudet), ficando com o vice-campeonato do torneio.

Em 1969, Daltro comandou o Internacional na inauguração do Beira-Rio e retomou a hegemonia do futebol gaúcho, sagrando-se campeão estadual ao empatar com o Grêmio em 0x0, no dia 17 de dezembro de 1969. No Robertão, só não chegou ao Quadrangular Final pelo formulismo, pois teve a 3ª melhor campanha do campeonato, mas ficou em 3º no seu grupo e classificavam-se os dois primeiros, apenas.

No ano seguinte, Daltro conquistou o bicampeonato gaúcho, ao vencer o 14 de Julho de Passo Fundo por 2x0, em 1º de outubro de 1970. A relação de Daltro com a torcida colorada, porém, começou a azedar. Seu futebol de forte marcação e pouca preocupação ofensiva não entusiasmava os torcedores. Além disso, Bráulio, o ídolo da torcida, começou a ser sacado do time. Os títulos e o apoio do Mandarins (grupo que pretendia mudar o perfil do Internacional, priorizando a força na formação da equipe) conseguiam contrabalançar a pressão da torcida. Mas no final de 1970 a situação de Daltro começou a piorar rapidamente. No final de novembro de 1970, faltando três rodadas para encerrar a fase classificatória, o Internacional estava muito próximo do Quadrangular Final. O clube precisava de duas vitórias nos três jogos (ou dois empates e uma vitória). Os dois primeiros jogos foram no Rio de Janeiro, contra América e Flamengo. O Colorado perdeu os dois por 1x0, ficando fora da disputa antes da última rodada. E Daltro sequer levou Bráulio, ídolo da torcida, como reserva para o Rio. Na volta, a demissão do técnico era certa, mas os Mandarins conseguiram mantê-lo no poder.

O ano de 1971 não começou nada bem para Daltro. O time fracassou no Torneio do Povo. Pouco depois, o presidente Carlos Stechmann decide afastar o Mandarins do futebol, passando Aldo Dias Rosa para as finanças e aceitando a demissão de Ibsen Pinheiro e Cláudio Cabral, entre outros. A saída de Daltro parecia certa, mas ele continuou. Porém, foi avisado de que jogadores considerados de qualidade deveriam receber mais chances no time. Ao mesmo tempo, voltou ao clube um desafeto do técnico, Hugo Amorim, ex-Mandarim, para exercer a função de assessor de futebol.

No dia 15 de março de 1971 começou a agonia final de Daltro. Nesse dia, no Beira-Rio, o Colorado apenas empatou com o São José (1x1). No dia 20, novo empate em casa, com o Novo Hamburgo (0x0). Bráulio jogou, mas foi substituído. Em 24 de março, novamente no Beira-Rio, o Gre-Nal que decidia o Torneio Internacional de Porto Alegre. O Internacional perdeu por 2x0, sem Bráulio. Após a partida, o diretor de futebol Gildo Russowsky declarou à imprensa: "temos que tomar uma atitude. Esta situação não pode continuar". Daltro recebeu um ultimato, teria 15 dias para mostrar uma evolução do time. Isso incluía três partidas: um amistoso contra o Atlético de Carazinho, o Inter-Cruz pelo campeonato gaúcho, e o amistoso comemorativo do aniversário do clube, contra o Flamengo do Rio.

No dia 28 de março o Internacional bateu o Atlético por 4x1, em Carazinho. No dia 4 de abril, a partida contra o Cruzeiro foi preparada para ser uma grande festa de comemoração dos 62 anos do clube. Dirigentes históricos e ex-jogadores estavam presentes ao evento, e esperavam uma boa vitória. Mas o Colorado jogava pouco. Mesmo assim, aos 44' do 1º tempo, Dorinho, jogador de confiança de Daltro, fez 1x0. Entretanto, aos 10' do 2º tempo o veterano Ortunho empatou, 1x1. O Internacional apresentava dificuldades de criar novas chances de gol, e aos 20' Daltro resolveu mexer no time. E o fez da pior maneira possível: tirou Bráulio para colocar Jangada. Durante dois minutos o Beira-Rio tornou-se uma única voz, bradando "burro, burro, burro!". O Internacional ainda teria um gol legítimo mal anulado pelo juiz, mas nada desviou o foco da raiva dos torcedores. E aí vieram as entrevistas de fim de jogo...

Daltro (que treinou o time usando uma camisa azul), talvez sem perceber que estava cavando a própria sepultura, declarou aos repórteres: "a nossa torcida é espetacular. Acho que em matéria de vibração e de incentivo não existe outra. Acontece que ultimamente ela tem prejudicado muito o time. Resolveram endeusar o Bráulio. Isso não pode acontecer. Ele não é nenhum perna-de-pau, mas também não é fenômeno. É apenas um grande jogador, pode ser substituído".

Em outro ponto do estádio, Hugo Amorim declarava aos repórteres: "todas as manifestações da torcida são justas. Não podemos proibi-la de manifestar descontentamento, quando este é justo. Se ela acha que Bráulio é um grande jogador, tem razão. Ele não pode sobrar no plantel colorado. E, quando for substituído, só quando for por um grade jogador. Daltro deu o troco pelas rádios: "pode cair a casa inteira em cima de mim que eu tiro o Bráulio quando achar necessário." Na mesma noite começam as especulações sobre possíveis substitutos de Daltro: Didi, Sylvio Pirillo, Aimoré Moreira, Telê Santana, entre outros.

Na manhã de 6 de abril, após reunião da direção, Daltro Menezes foi demitido, e saiu disparando: "o Internacional voltou a priscar eras. A torcida pediu a cabeça do treinador e a diretoria atendeu". Gilberto Tim assumiu o comando do Internacional interinamente, e começou a busca por um novo técnico. Otto Pedro Bumbel (Sevilla ESP) e Sylvio Pirillo (Guarany PAR) foram descartados porque não seriam liberados por seus clubes. O nome preferido da direção era Didi, que estava no River Plate ARG, mas o valor da multa com o clube argentino era elevada demais. Também não foi possível tirar Telê Santana do Atlético MG. Assim, em 14 de abril o clube anunciava Dino Sani, que já havia feito um bom trabalho no Corinthians.

Em São Paulo, no dia 20 de abril, Daltro declarou à imprensa: "a torcida do Inter queria Bráulio no time, que jogava para ela. Mas ele não tinha condições de entrar no meu time. Por isso afastei-o." A bronca do ex-técnico também voltava-se para a torcida. "É preciso mudar a mentalidade daquela torcida. Eu não consegui, apesar de ter sido bicampeão do estado e quase tri." No dia seguinte, na estreia de Dino Sani, mesmo sem jogar bem o Internacional bateu o Riograndense, em Santa Maria, por 3x0. Ao final do jogo o presidente Carlos Stechmann respondeu a Daltro: "o time é o mesmo, você viu. Só que este time, agora, faz três a zero."
 
Após sair do Internacional, Daltro passou por Guarani SP, Grêmio, Juventude, Itabaiana, Criciúma, Francana, Coritiba, Comercial SP, Ceará, Santos, São Paulo RG, Vitória e Novo Hamburgo. Em outubro de 1985 voltou ao Internacional, para substituir Paulo César Carpegiani. Curiosamente, Carpegiani estreou como jogador no Internacional sob o comando de Daltro. Na sua estreia, em 9 de outubro de 1985, o Internacional bateu o Pelotas por 3x1. Daltro comandou o Internacional até o fim do campeonato gaúcho. Sua despedida ocorreu em 8 de dezembro de 1985, quando o Colorado perdeu o Gre-Nal por 2x1, resultado que deu o título ao Grêmio.

Depois de sair do Internacional, Daltro treinou o Próspera, Glória, Figueirense e Ypiranga. Daltro sempre sofreu com excesso de peso, e nos últimos anos de sua vida chegou a um quadro de obesidade mórbida. Em 18 de agosto de 1994, em Porto Alegre, Daltro Menezes faleceu, vítima de complicações decorrentes de sua obesidade mórbida.

Além dos títulos pelo Internacional, Daltro foi campeão gaúcho da 2ª divisão em 1988.

Em 1996 a FGF homenageou o técnico, dando seu nome à sua Copa, que foi vencida pelo Caxias.

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