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sábado, 13 de janeiro de 2024

Personalidades: Archimedes Fortini


Archimedes Fortini nasceu em Argel, em 28 de julho de 1887. Era filho de Ranieri e Clara Fortini. Sua família veio para o Brasil em 1892, se estabelecendo inicialmente em Juiz de Fora. A seguir a família Fortini morou no Rio de Janeiro, Montevidéu e Buenos Aires, chegando a Porto Alegre em 1899.

Archimedes Fortini começou a trabalhar com 14 anos, em 1901, ingressando no extinto Jornal do Comércio, como servente. Aos poucos, aprendeu a arte da tipografia e chegou a organizar uma seção de esportes no jornal. Em 30 de setembro de 1907 ingressou no Correio do Povo, inicialmente como tipógrafo e a partir de 1910 como jornalista.

Fortini gostava de esportes. Começando a trabalhar como jornalista no Correio do Povo, sempre abria espaço para os esportistas. Aproximou-se primeiro do remo, mas também do futebol, começando a praticá-lo. Primeiro ele começou a jogar no Sport Club 15 de Novembro, clube de Júlio Hanke e dos irmãos Carls. O clube servia como uma espécie de "filhotes" do Grêmio.

Provavelmente em 1907, Archimedes Fortini, Luiz Ludwig, Jacob Cechin, Pedro Calunho e João Ibañéz desligaram-se do Sport Club 15 de Novembro  e fundaram o Grêmio Foot-Ball Internacional, nas cores preto e branco. O material esportivo do clube era guardado no armazém do comerciante português José Antônio Cordeiro, localizado na chamada “Volta do Cordeiro” (onde hoje se localiza o HPS). Seus treinos ocorriam no campo em frente à Escola de Guerra. Esses primeiros clubes limitavam-se a jogar partidas internas, entre primeiros e segundos quadros.

Em 4 de abril de 1909 foi fundado, em Porto Alegre, o Sport Club Internacional. Pouco depois da fundação, Henrique Poppe procurou Archimedes Fortini e fez um convite. Os sócios de seu clube, do qual era secretário, se ingressassem no Internacional, seriam aceitos como fundadores. O GF Internacional fechou as portas e Archymedes Fortini foi declarado sócio benemérito do SC Internacional em 20 de abril de 1909.

Mas Archimedes Fortini era um entusiasta do futebol. Querendo ver o esporte se propagar na capital, participou da fundação de outros clubes. Em 15 de agosto de 1909, junto com Lothario Kluwe, João Kluwe, Percio Malater, Atanásio Vieira, Lourival Nuñes, Fidélis Prates, Arnaldo Corrêa dos Santos e Abílio Corrêa dos Santos, entre outros, Archimedes Fortini fundou o Grêmio Foot-Ball 7 de Setembro. No ano seguinte ele foi declarado sócio honorário do clube. Em setembro de 1909, Fortini apoiou um grupo de operários a fundarem o Centro Sportivo Operário. Entretanto, não deixou o remo de lado. Em 25 de julho de 1909 ele foi o timoneiro do gig Aquidaban, em uma competição interna do Almirante Barroso. Em 15 de maio de 1910 foi timoneiro do gig Garibaldi, do Clube Canottiere Duca degli Abruzzi, na disputa da Taça Federação Brasileira das Sociedades de Remo. Carnavalesco, no início de março de 1910 foi eleito 2º orador da Sociedade Tenentes do Diabo. Fora dos esportes, sua condição de jornalista o levou a cobrir a inauguração do Instituto Pasteur, vinculado à Faculdade de Medicina, em 1º de setembro de 1910.

Em 14 de maio de 1911, Fortini foi juiz em uma competição da Federação Rio Grandense de Remo. Em 19 de junho de 1911 foi eleito tesoureiro do recém-fundado Círculo de Imprensa, uma sociedade destinada à defesa dos interesses dos jornalistas. Em 16 de dezembro de 1911, uma notícia triste. Seu pai, um marmorista italiano, Rainieri Fortini, faleceu em Porto Alegre, aos 63 anos de idade.

Em 15 de janeiro de 1912, Archimedes Fortini foi eleito para a direção do Clube Italiano Canottiere Duca degli Abruzzi, no cargo de instrutor. Um outro lado da vida de Archimedes Fortini seria relacionado á educação. E já em 2 de fevereiro de 1912 ele esteve presente na formatura da turma de guarda-livros da Escola Mauá, representando o Correio do Povo, e discursou, em nome da imprensa. Nome respeitado, em abril de 1912 a Associação Comercial do Rio de Janeiro o escolheu para ser o responsável no Rio Grande do Sul pela coleta de doações para a construção de um monumento em homenagem ao Barão do Rio Branco, na capital do país.

Em 9 de abril o Correio do Povo sofreu um rude golpe com a morte inesperada de seu proprietário, Francisco Antônio Caldas Júnior. Segundo um depoimento de Jayme Copstein, a boa relação de Archimedes Fortini com os banqueiros da época foi essencial para evitar a falência do jornal, nos meses seguintes. (1)

Em julho de 1913, Grêmio e Fussball abandonaram a Liga de Foot-Ball Porto Alegrense. Com a direção da entidade em crise, foi realizada uma reunião do Conselho superior da Liga, em 31 de julho de 1913. Archimedes Fortini, atuando como secretário interino da Liga, presidiu a reunião, onde os clubes restantes, Internacional, Colombo e Frisch Auf, decidiram manter o campeonato. Nessa mesma reunião, Archimedes Fortini foi eleito presidente da Liga. Mesmo assim, sobrava tempo para as regatas. Em 7 de setembro de 1913 ele novamente foi o timoneiro do gig Garibaldi, chegando em 2º lugar na regata Liga Náutica Riograndense.

Apesar da saída da dupla Grêmio/Fussball da Liga, em outubro o Frisch Auf enfrentou o Fussball pelo Wanderpreiss. Fortini esteve presente ao jogo e entregou a taça de campeão ao Fussball. Em novembro de 1913, voltou a ser timoneiro, agora do gig Mirabello, em regatas em homenagem ao Bristol, clube uruguaio que visitava Porto Alegre. Em disputa acirrada, o Mirabello venceu a regata Bristol Football Club. O curioso é que o Bristol veio a Porto Alegre a convite do Grêmio, que proibiu os uruguaios de jogarem com o Internacional ou qualquer outro clube da Liga. E a regata em homenagem ao Bristol foi vencida por um colorado e presidente da Liga.

Em maio de 1915 Archimedes Fortini foi testemunha em um processo no qual José Ferreira de Lima, vulgo "Juca Torto", era acusado de roubo. Em novembro do mesmo ano, foi nomeado perito para avaliar as causas do princípio de incêndio ocorrido na loja Thalita, localizada na rua Marechal Floriano nº 88. Em outubro de 1917, Fortini fez parte da comissão organizadora da 1ª Exposição Canina de Porto Alegre. Entre julho e agosto de 1918, ele fez parte da comissão nomeada pelo intendente José Montaury, para percorrer as firmas de proprietários italianos ou de origem italiana, para participarem da Exposição de Produtos Italianos, organizada em homenagem á vista da embaixada italiana a Porto Alegre. No dia 7 de abril de 1918, Fortini comprou o quadro "Rio dei Frazi", do pintor ítalo-brasileiro Torquato Bassi, que estava expondo no Clube do Comércio.

Mas voltando ao futebol, em 17 de outubro de 1919, na Chácara dos Eucaliptos, o "team" da Imprensa enfrentou o 2º quadro da Escola de Engenharia. Com Fortini no gol, o time da imprensa venceu por 5x3. Em novembro de 1920 o Grêmio foi à Pelotas, jogar as partidas finais do campeonato gaúcho, e Arcchimedes Fortini foi junto, como parte da delegação da Federação Rio Grandense de Desportos.

Em 1922, além de continuar trabalhando no Correio do Povo, Archimedes Fortini também colaborava com a revista "Illustração Sportiva". Em setembro de 1922, discursou em nome da imprensa na inauguração do prédio do Banco Alemão, em Novo Hamburgo. Em outubro, o Botafogo da Tristeza organizou uma série de provas atletas, e a prova de salto em altura foi denominada Archimedes Fortini. Em 13 de dezembro de 1922, Archimedes Fortini passou por uma cirurgia, realizada pelo doutor Giovanni Campelli.

Em 1923, Archimedes Fortini foi convidado pelo desembargador André da Rocha para dar aulas de taquigrafia na Escola Superior de Comércio, que mais tarde se tornaria a Faculdade de Economia e Administração da Universidade do Rio Grande do Sul. 

Em agosto de 1924 foi fundado o 1º Grupo de Escoteiros de Porto Alegre, e a esposa de Archimedes Fortini, Assunta De Marchi Fortini, foi eleita tesoureira. Em maio de 1925, ela era eleita 2ª tesoureira da Sociedade Auxiliadora de Senhoras da ACM. Em julho de 1925, Archimedes Fortini foi um dos sócios fundadores da Arcádia Riograndense. Em agosto, foi fundada a The Motta's School of Languages, tendo Archimedes Fortini como um de seus professores. Em março de 1926, Fortini fez parte da banca examinadora da primeira turma que se fomava no curso de datilografia da Escola Oficial Underwood. Em dezembro de 1926 foi novamente membro da banca examinadora.

Em 15 de novembro de 1926, Archimedes Fortini foi um dos juízes da Festa da Locomoção, provas automobilísticas de um quilometro, organizadas pela Associação de Estradas de Rodagem. As provas seriam realizadas na Avenida 13 de Maio (atual Avenida Getúlio Vargas), indo da Igreja do Menino Deus até a ponte do Menino Deus.

Sua participação em movimentos classistas continuava, e em 17 de julho de 1927 ele foi nomeado para uma comissão que pretendia organizar uma sociedade que congregasse todos os jornalistas de Porto Alegre. No dia seguinte, ele associou-se à Sociedade Uruguaia Artigas. Em 23 de novembro de 1927 faleceu Clara Fortini, mãe de Archimedes Fortini. Natural de Pisa, ela tinha 80 anos.

Em janeiro de 1929, Fortini era o secretário geral da Devoção de Nossa Senhora dos Navegantes e responsável pela organização das festas de Navegantes. Archimedes Fortini era católico e fervoroso devoto de Santo Antônio.

A família Fortini gostava de participar de associações e sua filha Anerys De Marchi Fortini também demonstrava uma queda para a imprensa. Em agosto de 1929 ela era diretora da recém-criada revista Hellantho, órgão das alunas do Ginásio Nossa Senhora do Bom Conselho.

Em 31 de outubro de 1929, Archimedes Fortini foi uma das cinco testemunhas convidadas a assinar o contrato entre a Intendência Municipal e a firma Dyckerhoff & Widmann, para a construção do viaduto da Avenida Borges de Medeiros. Em 1931, Fortini era professor do Instituto de Contabilidade Ovídio Martins, dando aulas para as turmas do 3º ano.

O gosto pelo carnaval também era comum à família Fortini. Em 1931 sua filha Anerys era diretora do Grupo da Rainha da Sociedade Esmeralda. Seu pai era sócio da sociedade e sua casa era uma das que seriam "assaltadas" pela Esmeralda, entre janeiro e fevereiro de 1931. Em 29 de janeiro, o casal Fortini ofereceu uma festa ao Grupo da Rainha, no Palacete Rocco, em nome de sua filha.

Em março de 1931, Archimedes Fortini uniu duas de suas paixões: esporte e educação. O Athlético Bancário Club (onde jogava Vicente Rao) abriu um curso de estenografia, e contratou Fortini como professor. No mesmo mês, Fortini foi eleito para o Conselho Fiscal da Sociedade Esmeralda. Em 19 de novembro de 1931, ele foi professor homenageado dos formandos do curso de Ciências e Letras do Porto Alegre College.

Em 12 de agosto de 1932 faleceu a esposa de Archimedes Fortini, Assunta De Marchi Fortini. O casal teve dois filhos, Ruy Fortini, estudante de medicina, e Anerys Fortini. Em 29 de setembro de 1932, Fortini completou 25 anos de atividade jornalística. O jornal Correio do Povo decidiu homenageá-lo com uma missa, realizada na Igreja Nossa Senhora do Rosário, oficiada por D. João Becker. Após a missa, a Comissão Construtora da Nova Catedral o homenageou, pelo auxílio que ele prestava à mesma.

Ruy Fortini, filho de Archimedes, era aluno do curso de medicina, mas arriscava-se por outras áreas. Já havia vencido um curso de dança de tango, e em janeiro de 1933, a serviço do Correio do Povo, acompanhou o Internacional em sua excursão ao Paraná.

Em fevereiro de 1933, Archimedes Fortini foi eleito presidente da Associação dos Cronistas Desportivos (ACD). Em 16 de abril o jornal A Federação promoveu a Corrida Taça Flores da Cunha, e Fortini foi um dos juízes de chegada. A equipe do Internacional venceu a prova.

Em 26 de abril de 1933 o jornal A Federação divulgou a lista de eleitores registrados em Porto Alegre. Anerys De Marchi Fortini era uma das raras mulheres inscritas para votar.

Em 21 de maio de 1933 o Correio do Povo organizou uma prova de revezamento, e Ruy Fortini era membro da comissão organizadora da prova. Ele também fazia parte da direção da Sociedade Esmeralda. Já o pai, em julho de 1933 fez parte da comissão julgadora de um concurso popular de doces e outras receitas feitas à base de farinha de milho. Em agosto, foi nomeado secretário geral permanente da Devoção de Nossa Senhora dos Navegantes, crago que exercia há vários anos. Em setembro, foi eleito secretário geral da Comissão Auxiliadora do Orfanotrófio Santo Antônio do Pão dos Pobres.

Mesmo atuando como jornalista esportivo no Correio do Povo, ao lado do pai, Ruy Fortini não largou a medicina. E em outubro de 1933 fez parte da equipe da Faculdade de Medicina que disputou o II Campeonato Acadêmico de Atletismo. No mesmo mês, no dia 17, sua irmã Anerys tornou-se professora estadual.

Em 5 de outubro de 1933, Archimedes Fortini casou-se com Marieta Nasi. No final do mês, a Diretoria Regional dos Correios e Telégrafos realizou um concurso para auxiliares de 3ª classe. Archimedes Fortini, então professor do Instituto Superior de Comércio, foi o examinador das provas de datilografia. Em novembro, ele fez parte da banca examinadora dos exames dos formandos do curso de datilografia da Escola Remington Nº 1. Em 6 de dezembro de 1933, na formatura da turma de Ciências e Letras do Porto Alegre College, novamente Archimedes Fortini foi o professor homenageado. No final do mês, ele foi eleito suplente do Conselho Fiscal do Tiro de Guerra nº 4.

Em 30 de maio de 1934, Fortini foi eleito diretor noticiarista do Círculo de Pais e Professores do Colégio Elementar da Glória. Em junho, Ruy Fortini fez parte da excursão acadêmica da Faculdade de Medicina ao estado de São Paulo.

Em julho de 1934 Ruy Fortini foi eleito para o Conselho Fiscal da ACD. Na posse da nova direção, seu pai Archimedes Fortini foi aclamado presidente honorário da ACD, por ser o cronista esportivo mais antigo da capital. Em 21 de novembro de 1934, Archimedes Fortini fez parte da banca examinadora da prova de datilografia do Ginásio Bom Conselho.

Em julho de 1935 ocorreu a 3ª edição da Taça Flores da Cunha, e Ruy Fortini, assim como seu pai em 1933, foi um dos juízes de chegada. Em 8 de julho de 1935, seguindo os passos do pai nos esportes aquáticos, Ruy Fortini foi eleito para a direção da Liga Náutica Riograndense.

Em agosto de 1935, Archimedes Fortini foi nomeado 2º oficial interino da Assembelia Legislativa, uma função relacionada à imprensa. Em outubro de 1935 ocorreu a Grande Regata Bento Gonçalves. Ruy Peixoto fez parte da guarnição do out-rigger Porto Alegre B, do CR Porto Alegre, que disputou o 5º páreo, denominado General Bento Gonçalves. Em novembro ele passou a fazer parte do gig Bibi, também do CR Porto Alegre.

Em 19 de novembro de 1935, Archimedes Fortini foi eleito para a direção da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), compondo a Comissão de Sindicâncias e Assistência Social. Em dezembro sua filha Anerys foi eleita para a direção da Creche dos Navegantes.

Em 23 de janeiro de 1936, Ruy Fortini foi eleito para o Conselho Deliberativo do Clube de Regatas Porto Alegre. No dia 3 de março foi eleita a direção do clube, e Ruy Fortini tornou-se vice-presidente. Durante seu mandato, o Clube de Regatas Porto Alegre fundiu-se com o Clube de Regatas Guaíba, dando origem ao ayual Clube de Regatas Guaíba-Porto Alegre (GPA).

Em outubro de 1936, Archimedes Fortini, junto com mais quatro pessoas, foi condecorado com o título de Oficial da Academia, pelo Ministério da Instrução Nacional francês.

Em 12 de fevereiro de 1937, a recém fundada Coligação Gaúcha de Natação organizou sua primeira competição, com 12 provas. A 9ª prova chamou-se Archimedes Fortini. Seu filho, Ruy Fortini, após formar-se em medicina, foi residir em Garibaldi, onde passou a dirigir o Hospital São Pedro. Mas em 22 de abril, ao passar por Porto Alegre, Ruy Fortini recebeu um jantar em homenagem à sua formatura e aos serviços prestados ao clube. Até hoje Ruy Fortini é considerado uma figura importante na história do GPA, sendo citado em seu site. (2) Ruy Fortini casou-se com Dora Hugo, filha de um industrial porto-alegrense, em 24 de junho de 1937.

Em 30 de setembro de 1937, dia em que completava 30 anos de trabalho como jornalista, Archimedes Fortini foi homenageado pela ARI e pela Assembleia Legislativa. No Correio do Povo, Fortini teve um retrato inaugurado e recebeu da enpresa um refrigerador Nogel. Á noite, foi entrevistado pelas rádios PRF 9´(Difusora) e PRC 2 (Gaúcha).

Em dezembro de 1940, sua filha Anerys, então professora do Instituto de Educação, foi selecionada junto com outras nove professoras, para fazer um curso de especialização no Rio de Janeiro.

No seu segundo casamento, Archimedes Fortini teve mais uma filha: Maria Clara Nasi Fortini.

Em 1942 Archimedes Fortini tornou-se provedor da Santa Casa de Misericórdia, posto que manteve por vários anos.

Em 1947 Archimedes Fortini era novamente presidente da ARI. Também fazia parte da comissão que organizava as comemorações do centenário de Luciana de Abreu. Em 30 de setembro de 1947, novamente Fortini foi alvo de homenagens, ao completar 40 anos de jornalismo. Em 31 de outubro de 1947, Archimedes Fortini foi agraciado com a Comenda da Ordem de São Silvestre, uma das mais altas condecorações da Igreja Católica. O católico Jornal do Dia passaria a tratá-lo como comendador Archimedes Fortini.

Em 23 de março de 1948 foi eleita a nova direção da ARI. Fortini havia declarado que não concorreria à releição, mesmo assim chegou a receber 15 votos. Depois de encerrada a votação e eleita a nova direção, Fortini foi aclamado presidente honorário da ARI. Em abril, nasceu sua neta Maria Isabel, filha de Anerys Fortini Albano e João Pitanguy Albano. Em 4 de dezembro de 1948 Archimedes Fortini foi reeleito provedor da Santa Casa, para o triênio de 1949-1951. E em 18 de dezembro, na formatura da turma de administradoras escolares, no Instituto de Educação, Anerys Fortini Albano foi a professora homenageada.

Em 4 de maio de 1949 ocorreu uma Assembleia Geral da Irmandade da Santa Casa, onde foi debatido a laicização ou manutenção da natureza eclesiástica da entidade. As propostas de reforma não foram aprovadas e Archimedes Fortini renunciou ao cargo de provedor. Em 24 de maio de 1949, Archimedes Fortini foi eleito para o Conselho Deliberativo da Sociedade Portuguesa de Beneficencia.

Em janeiro de 1950, a Revista Taquigráfica, editada no Rio de Janeiro, pela Organização Taquigráfica Brasileira, publicou um texto intitulado "Biografia de Archimedes Fortini". Católico fervoroso, Archimedes e sua esposa Marieta, em março, foram eleitos juízes-festeiros da Festa do Senhor Jesus do Bonfim, que ocorreria em abril. No final do mesmo mês, Fortini foi eleito novamente presidente da ARI. Em 18 de maio, quando foi inaugurada a nova sede da Federação Rio Grandense de Futebol, Archimedes Fortini foi homenageado, como o mais antigo cronista esportivo em atividade. Em setembro de 1952, em comemoração ao Dia da Imprensa, foi inaugurado um retrato de Archimedes Fortini na sede da ARI.

Em 9 de setembro de 1953, Anerys Fortini Albano, filha de Archimedes, foi nomeada Superintendente do Ensino Normal, pelo governador Ernesto Dornelles. Mais tarde, no final da década, também seria Superintendente do Ensino Primário.

Em setembro de 1954, Fortini envolveu-se em uma polêmica com membros da cúpula da Igreja Católica. Em 11 de setembro de 1954, Fortini escreveu um texto na Folha da Tarde, elogiando Getúlio Vargas, recentemente falecido. Utilizando-se do Jornal do Dia, católico e consevador, algumas personalidades da Igreja atacaram o jornalista, utilizando-se de uma justificativa religiosa, que o mesmo elogiava e considerava um grande cristão um suicida. Mas em novembro, Fortini já estava na comissão que organizava a procissão de São Cristóvão.

Nas eleições de 1955, Fortini apoiou José Lino Avallone para vereador. Candidato do Partido Libertador, apoiado pela LEC (Liga Eleitoral Católica), Avallone não conseguiu eleger-se. Em abril de 1956, Fortini voltou à direção da ARI, agora como primeiro secretário. Em junho, foi eleito para o Conselho Deliberativo da União de Professores Riograndenses. Em julho, foi aclamado presidente honorário da Sociedade Beneficiente de Comerciários e Jornalistas. Em agosto, recebeu a medalha "Estrela da Solidariedade" do governo italiano.

Em 1957, seu filho, que era vereador em Garibaldi, também foi eleito suplente da Comissão Fiscal do GPA (Clube de Regatas Guaíba-Porto Alegre). Em 30 de setembro de 1957, no mesmo dia em que completava 50 anos de serviço ao Correio do Povo, Archimedes Fortini recebeu o título de "Cidadão de Porto Alegre". Em novembro, mais uma homenagem: Fortini tornou-se sócio honorário da Associação dos Cronistas Esportivos de Porto Alegre (ACEPA).

Em dezembro de 1958, sua filha Maria Clara formou-se em filosofia, na PUC. Em março de 1959, sua filha Anerys era secretária municipal de Educação e Assistência de Porto Alegre e participou de uma homenagem dos professores municipais ao governador Leonel Brizola.

Em julho de 1959, Archimedes Fortini foi um dos signatários de um telegrama de jornalistas gaúchos em solidariedade ao vice-presidente João Goulart, pela sua participação em um debate no Senado Federal, contra "falsos brasileiros reconhecidos entreguistas".

Em 13 de outubro de 1959, Anerys Fortini discursou, em nome da Aliança Populista Feminina, no ato de lançamento do Comitê Central de Campanha da chapa Wilson Vargas/Ephraim Pinheiro Cabral, candidatos do PTB à prefeitura de Porto Alegre. Curiosamente, os dois candidatos a vice-prefeito, Ephraim Pinheiro Cabral e Manoel Braga Gastal, da chapa do PDC, seriam presidentes do Internacional. Com a derrota da chapa do PTB, Anerys deixou o cargo de secretária da Educação, assumindo a subsecretaria do Ensino Primário, no governo do estado. Em junho de 1963, Anerys foi uma das organizadoras da Frente Nacionalista Feminina, em Porto Alegre.

Em 1967, voltando a Porto Alegre, Ruy Fortini tormou-se diretor-técnico do Hospital Nossa Senhora da Conceição.

Archimedes Fortini continuou por vários anos trabalhando no Correio do Povo e participando de campanhas assistênciais ligadas à Igreja Católica. Aposentou-se no final do ano de 1972, aos 85 anos de idade. Faleceu em 13 de junho de 1973.

domingo, 7 de janeiro de 2024

Jogadores do passado: Roger


Roger Rodrigues da Silva nasceu em Campinas (SP), em 7 de janeiro de 1985.

Roger começou sua carreira de centroavante na Ponte Preta, de sua cidade natal, em 2003. Em 2005 acabou contratado pelo São Paulo. No Tricolor Paulista nunca conseguiu tornar-se titular, e foi emprestado, nas temporadas seguintes, a Palmeiras (2006), Ponte Preta (2007), Al-Nassr da Arábia Saudita (2007/2008), Sport (2008), Fluminense (2009), Vitória (2009) e Guarani (2010). Seu melhor momento foi no Sport, campeão pernambucano e da Copa do Brasil.

Em julho de 2010, Roger foi negociado com o Kashiwa Reysol, do Japão. Em julho de 2011 foi emprestado pelos jaopneses ao Ceará. A seguir, jogou na Ponte Preta (2012), Sport (2013), Atlético PR (2013), Suwon Bluewings da Coréia do Sul (2014), Chapecoense (2015), Bahia (2015), Red Bull Brasil (2016), Ponte Preta (2016) e Botafogo (2017).

Em 25 de novembro de 2017 o Internacional contratou Roger. O centroavante estreou em 21 de janeiro de 2018, quando o Internacional venceu o Novo Hamburgo por 3x0, no estádio do Vale. No jogo seguinte, contra o Caxias (1x2), Roger começou no banco, entrando depois no lugar de Leandro Damião. No 3º jogo, contra o Avenida, vitória colorada por 3x0. Roger, atuando como titular, marcou dois gols. Seriam seus únicos gols pelo Colorado. Roger ainda atuaria, no campeonato gaúcho, contra Brasil de Pelotas (0x1), São José (4x0), São Paulo de Rio Grande (0x0), São Luiz (0x0), Cruzeiro (0x0) e duas vezes contra o Grêmio (1x2 e 0x3). Só não foi titular contra o São José e no 2º Gre-Nal. Pela Copa do Brasil, enfrentou Cianorte (2x0 e 2x0) e Vitória (2x1), sendo titular sempre.

A partida contra o Vitória, em 11 de abril de 2018, foi sua última defendendo o Internacional. Suas atuações não convenceram e em 20 de abril o Colorado o negociou com o Corinthians, em troca do empréstimo de Lucca e mais um valor em dinheiro.

A carrreira de Roger, a seguir, passou por Corinthians (2018). Ceará (2019), Ponte Preta (2019/2020), Operário PR (2020) e Internacional de Limeira (2021). Em Limeira encerrou a carreira e começou a trabalhar como auxiliar técnico. Na temporada seguinte começou a carreira de técnico, em clubes pequenos do Brasil.

Seus números no Internacional
13 partidas
6 vitórias
3 empates
4 derrotas
2 gols marcados

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Jogadores do passado: Didi Pedalada

 

Orandir Portassi Lucas nasceu em 23 de julho de 1946, em Bagé (RS).

No futebol, Orandir começou a carreira no Guarany de Bagé, em 1963. Atuava como atacante e tinha o apelido de Didi, complementado mais tarde com Pedalada, pelo seu drible característico, onde passava o pé sobre a bola. Veloz e raçudo, gostava de atuar pelo lado esquerdo. Defendendo o Guarany, Didi Pedalada enfrentou o Internacional sete vezes, entre 1965 e 1966, marcando um gol, em 4 de junho de 1966, em um amistoso no Estrela D'Alva, vencido pelo Colorado por 2x1.

O bom desempenho de Didi pelo Guarany chamou a atenção de outros clubes. Em janeiro de 1967, Didi foi fazer testes no Santos. Na mesma época o Vasco demonstrou interesse em contratá-lo. Mas nenhum dos negócios se concretizou.

Didi foi emprestado ao Internacional no início de abril de 1967, para a disputa do Robertão. Sua estreia ocorreu em 9 de abril de 1967, em partida contra o Cruzeiro, pela competição nacional. O jogo foi disputado no estádio Olímpico, e os mineiros saíram na frente. Didi Pedalada entrou no time no lugar de Leônidas. O Internacional empatou com Elton e, aos 33' do 2º tempo, o lance que encatou a torcida: Didi Pedalada recebeu a bola na intermediára e partiu para a área adversária. Driblou Procópio, depois Pedro Paulo, e na saída do goleiro Raul, desviou a bola para as redes. Internacional 2x1! No jogo seguinte, em 12 de abril, contra o Palmeiras, Didi já começou como titular. A partida terminou 2x2 e Didi Pedalada fez os dois gols colorados. No jogo seguinte, no Mineirão, 0x0 com o Atlético Mineiro. Mas de volta a Porto Alegre, o Colorado bateu o Fluminense por 3x0 e Didi Pedalada fez o terceiro gol. Em 26 de abril, o adversário era o Bangu. Didi Pedalada abriu o placar logo aos 4' de jogo, mas aos 16' teve que ser substituído por lesão, ao sofrer a segunda falta violenta de Pedrinho. O jogo terminaria 2x2. No jogo seguinte, 0x0 com o Vasco da Gama, mas Didi Pedalada acertou um chute na trave.

Suas boas atuações imediatamente chamaram a atenção de outros clubes. Ainda em abril, América do Rio, Vasco da Gama e Grêmio fizeram sondagens para contratá-lo. O Vasco chegou a oferecer 100 milhões de cruzeiros, enqquanto a proposta do Guarany para o Internacional era de 25 milhões, o empréstimo de dois jogadores e mais um amistoso com renda para o clube de Bagé. Em maio o Colorado fez uma proposta ao Guarany: 20 milhões de cruzeiros, divididos em seis parcelas. Mas em 8 de maio de 1967 o Cruzeiro de Belo Horizonte contratou Didi Pedalada, por 40 mil cruzeiros novos, e ainda levou Davi, atacante colorado, por 25 mil cruzeiros novos. Após seis partidas e cinco gols marcados, Didi ia embora do Internacional.

A passagem de Didi pelo Cruzeiro não foi positiva. E no início de 1968 o Internacional cogitava contratá-lo. Tentou por empréstimo, ou em troca por Toninho. Mas Didi ficou mais um ano em Minas. Em dezembro de 1968, Didi voltou ao sul, mas para jogar no Cruzeiro de Porto Alegre. No seu novo clube, enfrentou o Internacional quatro vezes. Entretanto, em agosto de 1969 o Internacional recontratou Didi.

A reestreia de Didi Pedalada ocorreu em 17 de agosto de 1969, em um amistoso contra o Cruzeiro de Porto Alegre, como parte do pagamento do passe do jogador. O Colorado venceu por 2x1 e Didi fez a assist~encia para o segundo gol do Internacional. No jogo seguinte, um amistoso contra a Seleção de Rivera. O Colorado venceu por 3x0 e Didi Pedalada fechou o placar do jogo. Em 7 de setembro, estreia colorada no Robertão, contra o Botafogo, um princípio de crise: quando os alto-falantes do Beira-Rio anunciaram a escalação de Valdomiro, a torcida vaiou com força, pois queria Didi Pedalada no time. Valdomiro, porém, provou seu valor. Marcou dois gols e deu o passe para o terceiro, na vitória por 3x1. No final do jogo ele foi substituído por Didi Pedalada. No jogo seguinte, em Curitiba, novamente Didi começou no banco, entrando no segundo tempo. nesse jogo ele marcou o segundo gol colorado, na vitória por 2x0 sobre o Coritiba. Contra o Palmeiras (3x0) novamnte Didi começou no banco, substituindo Claudiomiro. Voltaria a jogar contra o América (0x0), no Maracanã, novamente saindo do banco. No Pacaembu, contra o Corinthians (1x3) novamente jogou começando no banco de reservas. E dessa vez sofreu críticas, pois entrou no time no intervalo, no lugar de Claudiomiro, quando o Internacional vencia por 1x0. O time perdeu força ofensiva e sofreu a virada. Essa foi sua primeira derrota defendendo as cores coloradas.

Didi já não entrava em todas as partidas. O ataque titular colorado era formado por Valdomiro, Sérgio Galocha, Claudiomiro e Canhoto, sendo difícil encontrar uma vaga. mais uma vez saindo do banco, atuou contra o Santos (3x0), Portuguesa (1x3) e Cruzeiro (0x1). Em 13 de novembro, foi titular em um amistoso contra o Itabaiana. O Colorado venceu por 1x0. O gol saiu após um chute de Didi, que o goleiro defendeu parcialmente e deu rebote a Tovar, que marcou. Ele voltarai a jogar em outro amistoso, com o Bahia (0x2), dessa vez saindo do banco. Contra o São Paulo (1x1), pelo Robertão, Didi foi titular. Também foi titular em um amistoso com o Novo Hamburgo (1x4).

Na temporada de 1970, logo na estreia, Didi saiu do banco para o campo, no empate em 0x0 com o Sparta Praga. A mesms situação ocorreu contra o Internacional de Lajes (1x0) e Seleção da Romênia (1x1). No amistoso com o Tupy de Crissiumal (5x1), Didi começou como titular e marcou dois gols. Também começou como titular o amistoso com o Nacional do Paraguai (3x0). Didi ficaria fora do time por vários jogos, voltando a atuar em 15 de março, na derrota por 1x0 para o Atlético Mineiro, em partida válida pela Taça Cidade de São José dos Campos. Também atuou, igualmente saindo do banco de reservas, contra a Seleção do Peru (3x0). Pelo campeonato gaúcho, atuou em 8 de abril contra seu antigo clube, o Guarany de Bagé (4x0). Saindo do banco de reservas, marcou o terceiro gol colorado. Foi titular contra o Aimoré (3x0), no jogo seguinte, pois a equipe principal colorada estava no Uruguai. Mas em 26 de abril ele foi com o grupo principal para o Peru, participando dos amistosos com o Juan Aurich (4x2) e Seleção do Peru (2x0), sempre ssaindo do banco. Também jogaria um amistoso contra o Glória de Carazinho (4x0). No Gauchão, voltou a atuar contra o Santa Cruz (2x0). Em 9 de maio, no amistoso de inauguração do novo sistema de iluminação do Olímpico, empate em 0x0 no Gre-Nal. O Internacional havia anunciado que jogaria com uma equipe reserva, mas foi pressionado para jogar com os titulares, pois estaria presente no estádio o ditador Emílio Garrastazu Médici. Didi entrou no time substituindo Mosquito, mas também acabou substituído por Valmir. Pelo Gauchão, voltaria a atuar contra o Novo Hamburgo (1x1). Em seguida foi titular no amistoso com o Vitória de Setúbal (1x1).

Didi jogou várias partidas pelo Gauchão de 1970, seja saindo do banco, seja como titular. Em 1º de outubro de 1970, quando o Colorado bateu o 14 de Julho de Passo Fundo por 2x0 e conquistou o bicampeonato, Didi atuou, entrando no time no lugar de Tovar. No Robertão também atuou em algumas partidas.

Na estreia do Gauchão de 1971, o Internacional bateu o Ypiranga por 4x0. Didi Pedalada fez o terceiro gol colorado. Em 3 de fevereiro, pelo Torneio do Povo, o Internacional bateu o Atlético Mineiro por 3x0 e Didi fechou o placar. Entre jogos do Torneio do Povo, amistosos e campeonato gaúcho, Didi Pedalada atuou em várias partidas. Em 12 de maio o Internacional venceu o São Paulo de Rio Grande por 6x0 e Didi Pedalada marcou seu último gol pelo Internacional. Em 15 de julho, o Internacional bateu o Esportivo por 2x1, no último jogo de Didi pelo Internacional.

Seus números no Internacional:
84 partidas
49 vitórias
22 empates
13 derrotas
17 gols
Campeão gaúcho em 1969, 1970 e 1971

A seguir, começa um período pouco conhecido de Didi. Não encontrei informações de onde ele jogou entre julho de 1971 e dezembro de 1972. Provavelmente esteve emprestado para algum clube pequeno ou mesmo no exterior. Quando foi contratado pelo Atlético Paranaense, no início de 1973, foi anunciado como um jogador vindo do Internacional. Foi no Furacão que o apelido Pedalada foi definitivamente incorporado ao nome, para diferenciar de Didi Duarte, também jogador atleticano. Em julho de 1974, Didi transferiu-se para o América do México. Em julho de 1975 o Colorado/PR tentou contratá-lo por empréstimo e Didi chegou a treinar no clube paranaense, mas a negociação não se concretizou e ele voltou ao México. Aparentemente Didi Pedalada foi jogar nos Estados Unidos. Em 1976 voltou ao Brasil, indo jogar no Ypiranga de Erechim.

Quando encerrou a carreira, Didi estava desempregado e sem perspectivas. Recorreu aos ex-companheiros de Internacional, buscando uma indicação. E aí Jorge Andrade o apresentou a Pedro Seelig, delegado do temido DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). De família colorada, Pedro Seelig frequentava o Beira-Rio e gostava de ter amizades com os jogadores. Assim, Didi Pedalada, agora apenas Orandir, tornou-se escrivão da Polícia Civil gaúcha e foi trabalhar no DOPS.

O Seelig colorado importante para o clube foi outro. Júlio Seelig foi eleito presidente do Internacional por três mandatos consecutivos: 1912, 1913 e 1914. Foi o responsável pelo aluguel da Chácara dos Eucaliptos e em sua gestão ocorreu a conquista do primeiro título oficial do clube, o campeonato municipal de 1913. Em abril de 1915 chegou a ser eleito para o cargo de tesoureiro, mas dias depois renunciou, devido aos seus afazeres profissionais, que estavam tomando muito tempo. Ele era farmacêutico. Mas em 1916 voltou a fazer parte da direção, ocupando um cargo no Conselho Fiscal. E em nada na sua trajetória o aproxima do que viria a fazer seu descendente, Pedro Seelig.

O temido delegado da ditadura começou a vida profissional como motorista de ônibus. Mais tarde entrou para a Guarda Civil, compondo a sua Tropa de Choque. Em 1963 tornou-se escrivão da Polícia Civil. Em 1964 teve uma rápida passagem pelo DOPS e, após trabalhar em delegacias do interior do estado, voltou ao DOPS de Porto Alegre em 1969. Violento, já havia respondido a processos por lesão corporal e agressão. Uma vez no DOPS, causou a morte de seu enteado, Luís Alberto Pinto Arébalo, de 17 anos. Querendo dar um "susto" no enteado, o levou para o DOPS, onde ele foi torturado e acabou morrendo. No plano esportivo, Seelig usava a força de seu cargo para frequentar o Beira-Rio, os bastidores do clube e se aproximar dos jogadores, de quem almejava a amizade. Buscando demonstrar poder, chegou a organizar desnecessários "esquemas de segurança" para o clube, em jogos considerados complicados, no interior. Entretanto, nunca houve uma ligação que favorecesse o clube, de alguma forma. Aliás, é bem possível que tenha Seelig que avisou as autoridades federais que o Internacional pretendia homenagear João Goulart com um minuto de silêncio, na final do campeonato brasileiro de 1976. O clube foi proibido de fazer a homenagem.

Voltando a Didi Pedalada. O evento que o tornaria tristemente conhecido, de certa forma, envolvia também o Internacional. Vivia em Porto Alegre o casal uruguaio Universindo Díaz e Lilian Celiberti, membros do PVP (Partido de la Victoria del Pueblo), que passou a ser alvo dos órgãos de segurança do Uruguai. Em plena era da Operação Condor, as forças de repressão brasileiras colaboraram com a ditadura vizinha. Mas o que isso tem a ver com o Internacional? Universindo era torcedor do Internacional (e do Peñarol, no Uruguai), e no dia 12 de novembro de 1978 se preparava para ir ao Beira-Rio, assistir Internacional x Caxias, pelo campeonato gaúcho, quando teve sua casa invadida por agentes do DOPS. Lilian conseguiu avisar outro membro do PVP de que havia algo errado. O jornalista da VEJA em Porto Alegre, Luiz Cláudio Cunha, foi avisado da situação, e resolveu ir até o apartamento do casal uruguaio. Queria levar um fotógrafo, e convidou João Batista Scalco, da revista Placar, para ir junto. Chegando ao apartamento, quase foram presos, confundidos com outros militantes do PVP. Desfeita a confusçao, foram mandados embora. mas JB Scalco reconheceu, entre os agentes do DOPS, o ex-jogador Didi Pedalada.

Publicada a denúncia na VEJA, uma onda internacional de solidariedade ao casal uruguaio se formou, e talvez tenha salvo a vida deles. No Brasil, formou-se um processo contra os principais envolvidos no sequestro do casal uruguaio: Pedro Seelig, João Augusto da Rosa, Janito Keppler e Orandir, o Didi Pedalada. Seelig e Keppler foram absolvidos. Em 21 de julho de 1980, Didi Pedalada e João Augusto da Rosa foram condenados a uma pena de seis meses de detenção pelo crime de abuso de autoridade, com a proibição de trabalhar em Porto Alegre por dois anos. Mais tarde, João Augusto da Rosa conseguiu um recurso para não cumprir a pena. Apenas Didi Pedalada, a "arraia-miúda" entre os tubarões, não conseguiu escapar à condenação, embora a pena de prisão tenha se transformado em suspensão do serviço. Um detalhe: dos quatro acusados, o único punido era também o único homem negro na lista.

Muitos que conviveram com o atleta Didi Pedalada jamais conseguiram entender o policial Orandir Portassi. Na revista Veja de 3 de janeiro de 1979, cita-se que um amigo dele lhe teria dito, em uma conversa durante o processo: "Eu te falei, Didi, tu não devia ter entrado para a polícia. Tu não dá para isso". Na revista Placar de 28 de junho de 1985, um ex-atleta colorado, companheiro de Didi nos jogos de veteranos, declarou: "um peixe miúdo que caiu em fria".

Cumprida a pena, Didi Pedalada voltou a trabalhar na Polícia Civil em Porto Alegre, em 1983, sempre buscando ficar fora dos holofotes. Por algum tempo, também frequentou as peladas de ex-atletas do Internacional, jogando pelos veteranos. Morreu em 1º de janeiro de 2005, devido a uma parada cardíaca, em conseqüência de complicações no fígado e diabetes.

Para aprofundar o tema, algumas sugestões de leitura:

Texto sobre Didi Pedalada

Reportagens da Veja sobre o caso do sequestro dos uruguaios

Texto sobre Pedro Seelig

Texto sobre o sequestro dos uruguaios

O livro de Omar Ferri: Sequestro no Cone Sul