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quinta-feira, 24 de março de 2022

Jogadores do passado - Brites


Felix Amado Britez Román nasceu em 24 de março de 1967, em Assunção (PAR).

Brites começou a jogar futebol profissionalmente no Cerro Porteño, em 1985. Na temporada de 1987 Brites foi fundamental na conquista do título nacional, acabando com dez anos de jejum. Brites foi o artilheiro do campeonato. No site da Associação Paraguaia de Futebol, está assim registrada sua participação no título de 1987:

FÉLIX BRÍTEZ ROMÁN: LETAL DENTRO DEL ÁREA 

El popular Félix “Zanahoria” Brítez Román, uno de los grandes ídolos de la historia de Cerro Porteño, recordó aquel momento inolvidable de 1987 para él y sus ex compañeros. “Fue el campeonato más pasional que Cerro tuvo, con un cariño entre la hinchada y los jugadores. Ese cariño mutuo se fue dando en la medida que nosotros íbamos mostrando en el campo de juego lo que el hincha quería ver”.

Em 18 de outubro de 1987 o Cerro Porteño bateu o Libertad por 1x0 e conquistou o título. Uma semana depois o Internacional contratou o centroavante, por empréstimo até o final do ano. Brites chegou a Porto Alegre em 25 de outubro. O Colorado havia vencido o 1º turno do seu grupo e estava garantido na semifinal do campeonato, mas vinha de três derrotas consecutivas, sem marcar gols. O centroavante Amarildo, titular da equipe, vinha sendo questionado. Mas Brites, em sua primeira entrevista, evitou polêmicas:

Enquanto o jogador regularizava sua situação, o Internacional perdeu mais duas partidas. Sua estreia estava prevista para o dia 7 de novembro, contra o Goiás.

Porém, um atraso na papelada do jogador ameaçava a estreia:

Mas no dia seguinte o clube conseguiu regularizar a situação do jogador junto à CBF. Entetanto, Ênio Andrade, o técnico colorado, alertou que o jogador começaria a partida no banco, pois havia treinado pouco e precisava de entrosamento. No dia 4 de novembro, no coletivo, os titulares venceram os reservas por 8x0 e Brites marcou dois gols.

Na partida contra o Goiás, no Beira-Rio, o Internacional ficou no 0x0. Brites entrou no time durante a partida, substituindo Amarildo. Na partida seguinte, contra o Santos, o Colorado venceu e Amarildo recuperou-se, marcando os dois gols da partida. Brites não jogou. Contra o Coritiba, novo 0x0, com Brites entrando no time no lugar de Paulo Mattos. Contra o São Paulo, no Morumbi, Ênio Andrade resolveu utilizar um time misto, poupando jogadores para a semifinal. Brites jogou os 90 minutos na sua posição, mas o Internacional foi derrotado por 3x0.

No dia 29 de novembro o Internacional enfrentou o Cruzeiro, no Beira-Rio, no jogo de ida da semifinal do campeonato brasileiro. Brites voltou a entrar no time durante o jogo, na ponta-esquerda, subsituindo Paulo Mattos. E novamente o placar foi 0x0. No dia 3 de dezembro, na volta, Paulo Mattos estava lesionado e Brites foi confirmado como ponteiro-esquerdo titular. Logo aos 9' de jogo desperdiçou uma boa chance de gol, chutando por cima do arco. Aos 36' do 2º tempo, Amarildo se livrou de Gilmar Francisco e tocou para Brites, livre, no meio da área. chutar por cima do gol novamente. Em uma partida de muita marcação, o 0x0 estava se mantendo no placar até que Amarildo, aos 4' da prorrogação, marcou o único gol da partida. O Internacional estava na final.

Em 6 de dezembro de 1987, novamente Brites foi titular da ponta-esquerda, contra o Flamengo, no jogo de ida da decisão do campeonato brasileiro. No Beira-Rio, a partida terminou 1x1. No dia 13 de dezembro novamente Brites foi titular. O Flamengo venceu por 1x0 e conquistou o título. Brites teve atuação discreta nas duas partidas, onde sua principal função foi marcar as subidas de Jorginho.

No início de 1988, com o fim do contrato de empréstimo, Brites voltou ao Paraguai. No dia 22 de março de 1988 ele defendeu o Cerro Porteño contra o Internacional. Aos 32' do 1º tempo, Tarciso (ex-Grêmio) cobrou escanteio, Brites atrapalhou Taffarel e a bola entrou direto. O Cerro Porteño saiu na frente, mas o Colorado virou a partida e venceu por 3x1. Entre 1988 e 1989 Brites disputou 15 partidas pela Seleção Paraguaia. Em 1990 Brites foi campeão paraguaio outra vez. Em 1992 o centroavante jogou no Guaraní e em 1993 no Libertad e no Sol de América, todos de Assunção. Nas temporadas de 1994 e 1995 Brites jogou no Everton, do Chile, voltando ao Cerro Porteño em 1996, para ser novamente campeão chileno. Brites permaneceu no Cerro Porteño até 1998 e na temporada de 1997 voltou a jogar uma partida pela Seleção Paraguaia. Em 1999 Brites jogou no peruano Deportivo Chimbote, encerrando a carreira em 2000, no paraguaio Atlético Colegiales PAR.

Seus números no Internacional:
7 partidas
1 vitória
4 empates
2 derrotas

terça-feira, 22 de março de 2022

Nossos títulos: Torneio Régis Pacheco - 1953


Em 5 de março de 1953 a imprensa noticiava que o Internacional disputaria uma competição denominada Taça Norte, que teria jogos em Salvador e reuniria, além do Colorado, Bahia, América SC, Atlético MG, Coritiba, América RJ, Portuguesa de Desportos e um representante de Pernambuco.
Jornal do Dia - Porto Alegre

A condição de tricampeão gaúcho e o fato de ter representado o estado no campeonato brasileiro de seleções de 1952, quando eliminou a seleção baiana, renderam ao clube o convite. Além disso, boa parte da torcida baiana se recordava da excursão do Rolo Compressor a Salvador, em 1945.

No dia 10 de março, noticiava-se que o Internacional viajaria dia 12 para Salvador. O "Torneio Quadrangular", organizado pelo Bahia, também contaria com o Flamengo do Rio e o Ypiranga de Salvador. A delegação colorada que viajaria estava assim composta:

Chefe: Abaddé Santos Ayub
Tesoureiro: Paulo Reginato
Jornalista: José Domingos Varela
Técnico: Francisco Duarte Júnior (Teté)
Massagista: Antônio Moura
Jogadores: Periquito, Milton, Florindo, Oreco, Paulinho, Salvador, Odorico, Luizinho, Jerônimo, Bodinho, Aírton, Argentino, Tarica, Mossoró, Alberi e Solis.

No dia 12 de março foi anunciado que o Vitória substituiria o Ypiranga no torneio, que passou a se chamar Régis Pacheco, em homenagem a Luís Régis Pacheco Pereira, governador da Bahia.

Na 1ª rodada, em 15 de março, jogariam Internacional x Bahia e Flamengo x Vitória.
Com gols de Jerônimo (2), Solis (2) Luizinho, Tarica e Bodinho, o Colorado venceu por 7x1, com Gereco descontando para o Bahia. O Internacional jogou com: Periquito; Florindo e Oreco; Paulinho, Salvador e Odorico; Luizinho, Jerônimo, Bodinho, Aírton Diogo (Solis) e Tarica (Albery). No jogo de fundo o Flamengo fez 8x2 no Vitória.
Jornal dos Sports - Rio de Janeiro

As duas goleadas sobre os clubes baianos levaram os organizadores a modificar a tabela do torneio, invertendo as duas rodadas seguintes. Assim, no dia 17 de março jogariam Internacional x Vitória e Flamengo x Bahia.

No dia 17 de março, o Internacional voltou a vencer, abatendo o Vitória por 4x1, gols de Bodinho (2), Jerônimo e Luizinho. O Colorado jogou com Periquito; Lindoberto e Oreco; Paulinho, Salvador e Odorico; Luizinho, Jerônimo, Bodinho, Aírton Diogo (Solis) e Tarica (Albery). Na partida de fundo, Flamengo 2x1 Bahia.
Jornal do Dia - Porto Alegre

No dia 22 ocorreu a rodada final. Na preliminar, o Vitória bateu o Bahia por 2x1 e ficou na 3ª colocação. No jogo de fundo, a decisão. Logo aos 22' do 1º tempo, Dequinha passou para o ex-colorado Adãozinho, que entregou a bola a Índio. Este driblou Florindo e chutou para as redes. Flamengo 1x0. Mas aos 28' ocorreu uma confusão na área do Flamengo e a bola sobrou para Luizinho empatar. No 2º tempo, aos 5', Jerônimo passou para Bodinho marcar: Internacional 2x1. Aos 18', Luizinho fez 3x1 para o Internacional, mas o juiz Rui Carneiro anulou o gol, marcando impedimento duvidoso. Aos 33', mais uma decisão polêmica do juiz, que marcou um pênalti discutível. A equipe do Internacional abandonou o campo, retornando apenas 12 minutos mais tarde. Rubens cobrou a penalidade e marcou o gol de empate. Mas 3 minutos depois o jogo teve que ser interrompido, por falta de luz natural. Originalmente o desempate deveria ocorrer em uma prorrogação. Mas sem luz, o tempo restante e a prorrogação teriam que ficar para o dia seguinte. O Flamengo, porém, precisava viajar ara Buenos Aires, onde tinha um amistoso com o San Lorenzo. Assim o Internacional foi declarado campeão do Torneio Régis Pacheco pelo sistema de goal average (divisão dos gols marcados pelos gols sofridos). O Internacional jogou com: Periquito; Florindo e Oreco; Paulinho, Salvador e Odorico; Luizinho, Jerônimo, Bodinho, Aírton Diogo (Solis) e Albery.
Jornal do Dia - Porto Alegre

Depois da conquista o Internacional ainda disputou alguns amistosos no interior da Bahia e no Pará:
25/03 1x1 Seleção de Feira de Santana
29/03 2x1 Tuna Luso
02/04 8x0 Paysandu
05/04 1x1 Remo

sábado, 19 de março de 2022

Jogadores do passado: Marinho Peres


Mário Peres Ulibarri nasceu em Sorocaba (SP), no dia 19 de março de 1947.

O jovem zagueiro começou a jogar futebol no Estrada de Ferro Sorocaba, que disputava competições de base. Depois passou para o São Bento, também de sua cidade natal, onde atuou profissionalmente de 1965 a 1967. Na temporada de 1965 o São Bento chegou a ficar em 6º lugar no estadual. No ano seguinte formou a dupla de zaga do São Bento com outro jovem zagueiro que faria história no futebol brasileiro: Luís Pereira.

Em 1967 Marinho Peres se transferiu para a Portuguesa de Desportos, onde jogaria até 1971. Em 1968 foi convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira, jogando contra o Peru, na vitória canarinho por 4x0. Também em1968 enfrentou o Internacional pela primeira vez. Em 22 de setembro de 1968, pelo Robertão, Colorado e Lusa empataram em 3x3 no Pacaembu. Marinho Peres, cobrando pênalti, fez o primeiro gol do jogo. Em 12 de outubro de 1969, Marinho Peres participou de um jogo histórico. Pelo Robertão, no Beira-Rio, a Lusa venceu o Internacional por 3x1. Foi a primeira derrota colorada em um jogo oficial no Beira-Rio (até então o Colorado só tinha perdido um amistoso para a Seleção da Hungria, na nova casa). Em 29 de agosto de 1971, novo confronto com o Internacional, também no Beira-Rio. O Internacional massacrava a Lusa, mas não abria o placar. Marinho Peres saiu do banco para, em um contra-ataque, garantir a vitória da Portuguesa por 1x0. Em 9 de janeiro de 1972 a Portuguesa inaugurou novas obras no estádio Canindé, que recebia naquele jogo o nome oficial de Independência. O Benfica venceu a Portuguesa por 3x1, mas Marinho Peres marcou o primeiro gol da Lusa no estádio. Em 26 de abril de 1972 Marinho Peres voltaria à Seleção Brasileira, e para jogar no Beira-Rio. O Brasil venceu o Paraguai por 3x2 e Marinho foi titular. Mas em 13 de setembro de 1972, na segunda rodada do campeonato brasileiro, a Portuguesa perdeu em casa por 1x0 para o Santa Cruz. Na manhã seguinte o presidente da Lusa, Oswaldo Teixeira Duarte, afastou seis jogadores do grupo, entre eles Marinho Peres.

O Santos aproveitou a crise e ainda em 1972 contratou Marinho Peres, pagando um milhão de cruzeiros, o maior valor já pago por um zagueiro, na época. No Santos Marinho Peres foi campeão paulista em 1973. No ano seguinte voltou à Seleção Brasileira, atuando em 12 partidas, sendo 7 delas pela Copa do Mundo, onde foi titular da zaga ao lado de seu ex-companheiro de São Bento, Luís Pereira. Também foi o capitão da Seleção Brasileira na Copa.
Nos amistosos pré-Copa Marinho Peres marcou um gol contra o Paraguai. Pelo Santos, Marinho Peres enfrentou o Internacional duas vezes, pelo campeonato brasileiro, saindo vitorioso em ambas: 28 de novembro de 1973 (0x2) e 24 de julho de 1974 (1x2). Perlo Santos, Marinho Peres disputou 74 partidas e marcou 5 gols.

As boas atuações de Marinho Peres o levaram a ser contratado pelo Barcelona em outubro de 1974. Mas apesar do clube catalão contar com nomes como Cruijff e Neeskens, os títulos não vinham. Para piorar, por Marinho Peres ser neto de espanhóis, o governo da Espanha exigia que ele cumprisse o serviço militar de um ano e meio. O país vivia a agonia do franquismo, mas a extrema-direita ainda era muito forte. Em 20 de novembro de 1975 o ditador Francisco Franco morreu e começou o processo de transição, mas os ultras (a extrema-direita franquista) ainda controlavam o exército. Marinho Peres estava desesperado para voltar ao Brasil e aí apareceu o Internacional.

Marinho Peres estreou no Internacional em 17 de fevereiro de 1976, em um amistoso contra o Flamengo, no Beira-Rio. O Internacional saiu na frente aos 22', com um gol de Lula, mas dois minutos depois Marinho Peres cometeu um pênalti sobre Caio Cambalhota e o Flamengo empatou. No 2º tempo, apesar da pressão colorada, o Flamengo segurou o 1x1. Marinho ficaria de fora das sete partidas seguintes, mas retornou ao time em 8 de abril, contra o Sá Viana, pelo campeonato gaúcho. No Beira-Rio o Colorado venceu por 4x0. A dupla Marinho Peres - Figueroa garantiu a segurança defensiva do time e o zagueiro conquistava a titularidade. Na Taça Libertadores, Marinho Peres disputaria apenas as duas últimas partidas, no Paraguai. O Internacional venceu o Sportivo Luqueño por 1x0 e empatou em 1x1 com o Olimpia. Nessa última partida, Marinho Peres foi expulso aos 32' do 2º tempo, quando a partida já estava 1x1.

No campeonato gaúcho, em 2 de maio de 1976 o Internacional venceu o Gaúcho por 4x0, no Beira-Rio, e Marinho Peres fez o último gol, o seu único pelo clube. No primeiro Gre-Nal que jogou, em 25 de julho de 1976, no Beira-Rio, o Internacional venceu por 2x0. Três dias depois, no Olímpico, vitória gremista pelo mesmo placar, que deu o título do 1º turno ao Grêmio. Marinho Peres não jogou o clássico que decidiu o 2º turno, vencido pelo Internacional. Mas em 18 de agosto estava em campo, no Olímpico, no clássico que terminou 1x1 e deu o título do 3º turno ao Internacional. No dia 22 de agosto, na decisão, no Beira-Rio, o Internacional venceu por 2x0 e conquistou o octacampeonato.

No campeonato brasileiro, Marinho Peres ficou de fora de apenas duas partidas, contra Fluminense (1x1) e Caxias (2x0). Esteve presente em todas as demais partidas, entre elas o Gre-Nal de 7 de Setembro (3x1), a semifinal contra o Atlético (2x1) e a final contra o Corinthians (2x0). O Internacional conquistou o bicampeonato brasileiro com Marinho Peres na zaga. Com suas atuações também foi mais uma vez convocado para a Seleção Brasileira, disputando um amistoso em 6 de outubro de 1976, quando o Flamengo derrotou o Brsil por 2x0.

Em 1977 Marinho Peres começou a temporada fazendo dupla de zaga com Gardel. Na estreia na Taça Libertadores, em 3 de abril, contra o Corinthians, marinho não pode jogar, pois havia sido expulso no último jogo do torneio de 1976. A partir do jogo seguinte, passou a formar a dupla de zaga com Marião. Mas no começo do 2º turno do grupo da Taça Libertadores, em 23 de abril, novamente contra o Corinthians, a zaga passou a ser Marinho Peres e Hermínio. Mas cinco jogos depois voltou a ser Marinho Peres e Gardel. Essa mudança constante na zaga gerou uma crise no Beira-Rio. Na véspera do primeiro Gre-Nal do Gauchão de 1977, em 17 de abril, os zagueiros Hermínio e Marinho Peres se recusaram a concentrar se fosse para ficar no banco de reservas. O Colorado perdeu o clássico por 3x0. Hermínio jogou, mas Marinho Peres não. No dia seguinte o técnico colorado Carlos Castilho se reuniu com a direção e foi orientado a definir de vez a sua defesa, com os dois jogadores entre os titulares.

Logo a crise parecia superada. Na Taça Libertadores o time avançou ao triangular semifinal, enquanto no gauchão nos três Gre-Nais seguintes o Internacional dominou, vencendo dois por 1x0 e empatando um em 0x0, conquistando o 1º turno. Mas o rodízio na zaga voltou. Gardel, Beliato e Beretta se revezavam ao lado de Marinho Peres e as vezes no lugar do próprio. Em uma partida o Internacional chegou a jogar com três laterais (Chico Fraga, Cláudio Duarte e Vacaria) e um zagueiro (Gardel). O Colorado foi eliminado da Taça Libertadores e trocou de técnico, com Sérgio Moacyr Torres Nunes substituindo Carlos Castilho. No dia 14 de agosto, sem Marinho no time, o Internacional perdeu para o Grêmio por 2x1. Na rodada seguinte o Colorado empatou um jogo polêmico com o Esportivo e o Gr~emio venceu o 2º turno. No dia 18 de setembro, com Marinho Peres em campo, o Colorado perdeu por 2x0 para o Grêmio, que conquistou o 3º turno. No jogo seguinte, em 25 de setembro, o Grêmio venceu o clássico novamente, por 1x0, em jogo encerrado antes do tempo. Com o resultado o Grêmio ficou com o título gaúcho.

O clássico decisivo de 1977 foi o último jogo de Marinho Peres pelo Internacional. Em 13 de outubro de 1977 Marinho Peres foi trocado, junto com Escurinho, pelo meia Vasconcelos, do Palmeiras. Marinho Peres ficou no Palmeiras até o início de 1980, disputando 72 partidas (35 vitórias, 22 empates e 15 derrotas), marcando um gol. Foi vice-campeão brasileiro em 1978 e disputou a Taça Libertadores em 1979. No Palmeiras enfrentou o Internacional três vezes, todas em 1978. Em amistoso em 18 de março (Palmeiras 2x0) e na semifinal do campeonato brasileiro, em 3 de agosto (Palmeiras 2x0) e 6 de agosto (empate 1x1).

Em 1980 Marinho Peres transferiu-se para o América carioca, onde ficaria até 1981. No América Marinho Peres logo começou a acumular as funções de técnico e jogador. na temporada de 1981 encerrou a carreira de jogador, tornando-se exclusivamente técnico. Marinho Peres trabalhou muitos anos em Portugal, comandando Sporting, Vitória de Guimarães, Marítimo e Belenenses, onde foi campeão da Taça de Portugal em 1989 e encerrou a carrreira, em 2011.

Em 20 de julho de 2019 Marinho Peres sofreu um AVC, não se recuperando completamente. Em setembro de 2023 sua saúde agravou-se e ele foi internado com pneumonia, agravada por problemas cardíacos e renais. Marinho Peres faleceu em 18 de setembro de 2023.

Seus números no Internacional:
84 partidas
57 vitórias
16 empates
11 derrotas
1 gol marcado
campeão brasileiro em 1976
campeão gaúcho em 1976

domingo, 13 de março de 2022

A questão do racismo nos clássicos


O tema deste texto já vem há muito merecendo a atenção do blog. E após o último Gre-Nal, atendendo a uma solicitação do Alexandre Perin, resolvi escrever sobre o assunto.

Comecemos por os tuítes que deram início à discussão mais recente:


Desconheço as fontes em que o autor se baseou para escrever seu TCC, mas apontaria alguns equívocos nos tuítes:
* A Chácara dos Eucaliptos passou a ser utilizada pelo Internacional em 1913, e não em 1912. Mas esse certamente é um equívoco pequeno.
* Os mesmos dão a impressão de que Chácara dos Eucaliptos/Eucaliptos são a mesma coisa, quando se refere à "Era do Eucaliptos". A Chácara dos Eucaliptos foi utilizada pelo Internacional de 1913 a 1930, e o Estádio dos Eucaliptos foi utilizado de 1931 a 1969.
* Em 1912 (e também em muitos anos depois) a expressão "macaco" não era utilizada em relação aos torcedores do Internacional.

A Chácara dos Eucaliptos, como o próprio nome diz, era um espaço grande. Além do "ground", existiam vários outros espaços: áreas para churrasco, passeio a cavalo, quadras de tênis. O nome da chácara vinha, obviamente, das árvores existentes no espaço, principalmente no caminho que levava ao campo, como mostra essa foto da revista Máscara, de 1918.

Na volta do campo, as árvores eram menos numerosas.

E, principalmente, não existem relatos de torcedores empoleirados em árvores. Isso pode se perceber olhando algumas fotos de partidas na Chácara dos Eucaliptos.
Internacional 0x2 Cruzeiro 21/04/1918
Internacional 5x3 Grêmio 19/05/1918
Internacional 2x0 Grêmio 20/07/1919

Note-se que mesmo nos Gre-Nais, com grande público, não há registro de pessoas penduradas nas árvores. Aliás, qual o motivo levaria um torcedor a deixar de ocupar seu lugar nas arquibancadas e espaços junto ao campo para subir em uma árvore? Talvez os defensores dessa "tese" quisessem fazer referência a torcedores sem ingresso, subindo em árvores para "espiar" o jogo de fora do campo. Mas isso era impossível, pois vimos na foto da entrada da Chácara que o campo de jogo ficava distante da mesma. E além disso as árvores ficavam dentro do espaço da Chácara.

Além disso, árvores eram comuns nos grounds da época. E nenhuma outra torcida foi chamada de "macaca". O motivo? Simples. Ver os jogos pendurados em árvores não era algo comum. E o motivo de chamarem os colorados de "macacos" nunca teve relação a subir em árvores.
Baixada - ground do Grêmio - 1918
Vila Cruzeiro - ground do Cruzeiro - 1918

Então, parece que a tese de que os torcedores colorados se empoleiravam nos eucaliptos da Chácara caiu por terra. mas antes de deixarmos a Chácara dos Eucaliptos, vejamos como "O Exemplo", o principal jornal da comunidade negra porto-alegrense, se refere a ela, em 27 de março de 1921:

O Internacional, como em várias outras ocasiões, cedeu seu campo para uma partida entre clubes da comunidade negra (1º de Novembro e Palmeira).

A expressão "macaco" não era utilizada em campos de futebol, na época. Mas a partir da segunda metade da década de 1930 o Internacional começou a ser chamado pelos torcedores rivais de "clube dos negrinhos". Teria isso a ver com subir em árvores? Certamente não. E nessa época o Internacional já jogava no estádio dos Eucaliptos, que apesar do nome, tinha poucas árvores, mudas trazidas da antiga Chácara. E essas árvores também ficavam dentro do espaço do estádio. Mais uma vez, qual motivo levaria um torcedor a deixar a arquibancada para subir em uma árvore?


O Internacional, desde 1928 já contava com atletas reconhecidamente negros. O primeiro foi Dirceu Alves. E logo chegariam mais: Mocinho, Venenoso, Tupan, Natal... O Rolo Compressor, esquadrão imbatível dos anos 1940, tinha Alpheu, Nena, Ávila, Tesourinha, Adãozinho (com exceção de Alpheu, todos com convocações para a Seleção Brasileira). E nessa época a festa que a torcida fazia na arquibancada, lançando confetes, serpentinas e soltando fogos à entrada do time em campo, era considerada "coisa de crioulo" pelos rivais, que já chamavam o Internacional de "Clube dos Negrinhos". Mas aos poucos a torcida gremista passou a copiar a festa, dando origem à faixa produzida por Vicente Rao, no comando do Departamento de Propaganda e Cooperação, "Imitando o Negrinho, hem?".


A década de 1940 reforçaria a identidade popular do Internacional, seja dentro do campo, seja em sua torcida. No dia 8 de abril de 1944, na Timbaúva, o Colorado bateu seu rival de forma dramática por 2x1 e conquistou o pentacampeonato da cidade. Segundo Martim Aranha, ex-presidente gremista, após a partida Antenor Lemos fez um discurso de saudação aos seus atletas, ainda no gramado da Timbaúva, onde teria utilizado pela primeira vez a expressão "Clube do Povo". Em 24 de junho de 1945, na Baixada, o Internacional venceu o Grêmio por 4x1. Após o jogo, extensa passeata de torcedores colorados saiu da Baixada em direção ao centro da cidade, carregando bandeiras, flâmulas e cartazes humorísticos e de exaltação ao clube, no clássico onde provavelmente foi desfraldada a faixa "Imitando o Negrinho, hem?". Também foi na década de 1940 que se reforçaram as expressões racistas contra o clube.

Ainda nos anos 1940, o clube passa a ser identificado nas charges de Pompeo com o personagem Doutor Marmita, um típico "malandro" porto-alegrense.

Nos anos 1950 o Internacional, nas charges de SamPaulo, começa a ser representado como um homem negro.

O chargista Alberto, do Jornal do Dia, passou a representar o Internacional como um "guerreiro africano", em um desenho bastante preconceituoso.

O chargista Marco Aurélio também optou por representar o Internacional e sua torcida como um homem negro.

Portanto, a partir da década de 1940 o Internacional e sua tocida passam a ser cada vez mais identificados com a comunidade negra. E as referências a colorados como macacos começam na mesma época. Coincidência? Essa atitude também era institucional. Em 20 de agosto de 1972, no clássico disputado no Olímpico pelo Torneio Cidade de Porto Alegre, a direção gremista mandou colocar uma faixa com a frase "Maior macacada do Rio Grande" sobre o espaço onde ficariam os colorados.

A versão de que o termo macaco não é racista e sim referência a torcedores colorados que subiam em árvores não foi a primeira tentativa de negar o racismo existente no rival. No conhecido texto "Porque sou gremista", Lupicínio Rodrigues lista vários argumentos do motivo de sua escolha clubística. Mas havia um problema a ser resolvido: a não aceitação de atletas negros pelo Tricolor. Lupicínio responde a esse problema com uma explicação usada nos anos 1960 e 1970:

O Grêmio foi o último time a aceitar a raça, porque em seus estatutos constava uma cláusula que dizia que ele perderia seu campo, doado por uns alemães, caso aceitasse pessoas de cor em seus quadros. 
 
E aí temos alguns problemas: em nenhum dos estatutos gremistas conhecidos encontra-se tal cláusula (e creio que não teria valor legal, se realmente existisse). A Baixada não foi doada ao Grêmio, o clube a comprou, como consta na própria História Ilustrada do Grêmio, volume 1, publicação lançada pelo clube em 1983.

Além disso, falar em Grêmio e "alemães" como algo distinto, nos primeiros anos do clube, não correspondia à realidade. Boa parte dos fundadores do clube eram de origem germânica. Dos oito dirigentes da primeira direção gremista, cinco eram de origem germânica. Nas direções seguintes a proporção aumentou. Na direção de 1905/1906, dos nove dirigentes, oito eram de origem germânica. As primeiras documentações do clube eram bilíngues, e as primeiras competições que disputou, com o Fussball, tinha sua programação veiculada em alemão.

E uma das mais recentes versões é a de que o Grêmio aceitava atletas negros desde seus primórdios. Os irmãos Antunes (Álvaro e Armando), que jogaram na década de 1910, são citados por alguns como os primeiros atletas negros do Grêmio. Abaixo, fotos de Álvaro Antunes:

Foto de Armando Antunes:


Em 19 de abril de 2014, Dona Anaíze, esposa do neto de Armando Antunes, e que conviveu vários anos com o ex-atleta gremista, respondeu ao texto http://peleiagaucha.blogspot.com.br/2012/05/armando-luiz-antunes-o-primeiro-negro.html da seguinte forma:

Com mil perdões, senhor Fábio, mas Armando Luiz Antunes foi o sócio número 1 do Grêmio mas nunca foi negro nem jogador de futebol. Foi, isso sim, filho de portugueses e um grande empresário do ramo do vinho que fundou e fez crescer em Caxias do Sul, com filial em Porto Alegre e São Paulo a Vinhos Luiz Antunes S.A.

Por outro lado, é verdade que o Grêmio teve atletas que hoje seriam considerados negros, antes de Tesourinha: Adão nos anos 1920, Laxixa no final dos anos 1930 (e que antes jogou no Internacional) e Hermes nos anos 1940. Mas como disse, HOJE seriam considerados negros. O racismo existente na sociedade da época levava muitas pessoas a negarem suas origens étnicas. E um tom de pele um pouco mais claro, uma condição financeira um pouco mais elevada, podiam ser elementos para a aceitação pela sociedade local como brancos. Sérgio Endler, na sua biografia sobre Tesourinha, assim escreveu: "Na verdade o Grêmio já utilizara em sua equipe jogadores considerados 'baianos'. Isto é, homens com algum traço biológico negro, mas com predominância branca na sua aparência física. (...) Entretanto, Tesourinha era o primeiro negro, de pai e mãe, de corpo e alma, na aparência e no registro civil".

A própria direção gremista, na pessoa de seu presidente Saturnino Vanzelotti, reconhecia, em 1952, que o clube não contratava atletas negros.

"A Diretoria do Grêmio Foot-Ball Porto Alegre vem trazer a conhecimento de seus associados e simpatizantes que, por decisão unânime, decidiu tornar insubsistente a norma que vinha sendo seguida de não incluir atletas de côr em sua representação de futebol".

E a manifestação da direção gremista foi respondida com uma nota de "ex-associados e simpatizantes descontentes", contrários à contratação de um atleta negro. Portanto, não foi a imprensa, historiadores ou a torcida colorada que afirmaram que Tesourinha foi o primeiro atleta reconhecidamente negro a atuar no Grêmio. Foram os próprios gremistas da época.

A nota dos gremistas descontentes pode ser vista na já citada obra "Tesourinha", de Sérgio Endler:

Na mesma obra, uma charge sobre esse momento da história do futebol gaúcho:

Negar o passado e tentar justificá-lo estimula que o preconceito se mantenha nos dias de hoje. O Grêmio já foi punido no caso Aranha. Torcedores do próprio Grêmio já foram atacados por uma facção da torcida por utilizarem uma bandeira com a figura de Everaldo. E todo Gre-Nal tem os cantos racistas da torcida, além de não serem raros vídeos de torcedores imitando macacos.

O Grêmio, enquanto instituição, faria muito melhor à sua história se seguisse os passos do Náutico, que em 2020 reconheceu o passado racista e buscou discutir novos rumos.