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quarta-feira, 29 de julho de 2020

A verdadeira estatística dos Gre-Nais

A estatística usual do clássico Gre-Nal aponta os seguintes números:
425 partidas
156 vitórias do Internacional
135 empates
134 vitórias do Grêmio
585 gols do Internacional
553 gols do Grêmio

Mas esta estatística contém um equívoco, relacionado a um clássico que daqui a seis dias vai completar 102 anos, o "Gre-Nal de Sangue".

O clássico disputado em 4 de agosto de 1918, na Baixada, foi marcado por lances violentos, dentro e fora de campo. Aos 35' do 1º tempo, o juiz Oscar Fontoura marcou uma mão dentro da área colorada. Garibotti cobrou o pênalti e abriu o placar para o Grêmio. Poucos minutos depois, uma discussão sobre um lateral deu início a uma briga, envolvendo torcedores e jogadores. No meio da confusão, o torcedor gremista Manoel de Almeida Costa, armado de uma faca, esfaqueou o torcedor Octavio Telles de Freitas e o jogador colorado Álvaro Ribas. A partida foi interrompida aos 42' do 1º tempo.

O jornal A Federação, de 5 de agosto de 1918, na página 7, assim descreveu a confusão:

                                                                             Por questões de foot-ball estabeleceu-se uma discussão em que accidentalmente se viram envolvidos o jovem Alvaro Ribas, pertencente a 1º ‘team’ do ‘Internacional’, e sr. Octavio Telles de Freitas, funcionario da Delegacia Fiscal.

                                                                      Ambos foram aggredidos pelo sr. Manoel de Almeida Costa, que, armado de faca, desferiu golpes que attingiram Telles e Ribas, resultando-lhes ferimentos profundos na coxa esquerda.


A situação do jogo interrompido tornou-se motivo de debate nos primeiros dias após o acontecimento. No Correio do Povo, em 5 de agosto de 1918, na página 5, era publicado o seguinte comentário:

                                                                    “Nesta occasião, não obstante o   Grêmio já possuir sobre o                                                 seu antagonista a vantagem de 1 goal conseguido por um penalty, não se                                                 poderia precisar a quem caberia a palma da Victoria, pois o quinteto                                                       alvi-rubro vinha pondo em constantes perigos o goal adversário”.

No dia 12 de agosto de 1918, a Associação Porto Alegrense de Desportos (APAD) decidiu que o tempo restante seria disputado em setembro, após encerrados os jogos já previstos pelo calendário. Em 13 de setembro ocorreu a última partida do calendário. No dia 24 de setembro de 1918 a APAD se reuniu, para marcar a data em que seriam disputados os 48 minutos restantes. O Internacional queria a anulação da partida e que todos os 90 minutos fossem disputados. Mas a reunião transcorreu sem polêmica, pois o Grêmio desistiu de jogar, seja o tempo restante, seja uma nova partida, fazendo a entrega dos pontos. O Internacional foi declarado o VENCEDOR da partida. A própria pontuação final do campeonato, em que o Internacional aparece como vice-campeão, com 12 pontos ganhos, demonstra isso.

Então, uma partida que é contada como vitória gremista, é na verdade uma VITÓRIA colorada.

A verdadeira estatística dos clássicos é:

425 partidas
157 vitórias do Internacional
135 empates
133 vitórias do Grêmio
585 gols do Internacional
553 gols do Grêmio



terça-feira, 28 de julho de 2020

Ainda 1918

Além das informações sobre o campeonato municipal de 1918 ( https://futeboloutrahistoria.blogspot.com/2020/07/campeonato-municipal-de-1918.html ), mais algumas curiosidades esportivas do ano:

                                Equipe do São José em um treino, antes da abertura do campeonato.


Em maio, era fundada a Federação Rio Grandense de Desportos.
                                                        Reunião de fundação da FRGD.
                                                        Reunião de fundação da FRGD.

No início de julho, o Grêmio realizou um jogo-treino entre titulares e reservas, para marcar a inauguração da cumeeira da Baixada.
                                                                        Jogo-treino
                                                            Pavilhão da Baixada em obras

Em agosto de 1918, cinco cidadãos britânicos voluntários embarcaram para a Europa, para lutar na I Guerra Mundial. Um deles era Edgar Booth, ex-jogador do Grêmio e na época atleta do Internacional. Os voluntários chegaram à Europa em outubro, poucas semanas antes do fim do conflito, e não chegaram a entrar em combate.
            Os voluntários britânicos. Booth provavelmente é o 4º, da esquerda para a direita.

Existiam outras ligas na capital gaúcha. Uma delas era a Federação Porto Alegrense de Foot-Ball.
Foto do Municipal ou Ruy Barbosa, equipes da FPAFB. Os dois clubes enfrentaram-se na data, mas a revista Máscara não identificou qual a equipe da foto.

Outra liga era a Associação Sportiva Rio Grandense
                                                        Cruz de Malta, clube da ASRG

Havia também a Liga Bancária.
                                                        Equipe do Pelban (Banco Pelotense)

Além do campeonato municipal, a APAD organizou a Taça 7 de Setembro, que seria disputada em turno único, em campos neutros, com partidas disputadas até de manhã. O torneio não chegou ao fim.
                    Equipe do Cruzeiro que venceu o Grêmio por 4x2, na Baixada, em 02/10/1918, pela Taça 7 de Setembro
                                                            Baixada, em 02/10/1918

O futebol gaúcho também teve seu momento de luto. Jayme de Carvalho, presidente do Brasil de Pelotas, faleceu.
Funeral de Jayme de Carvalho. No alto, á esquerda, com a cabeça descoberta e mão à frente, Vicente Russomano discursa. Russomano, na época dirigente do Xavante, foi goleiro do Pelotas, do Internacional e do Brasil.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Campeonato Municipal de 1918

Em 1918, a cidade de Porto Alegre passava a ter uma nova liga. Em 14 de fevereiro de 1918, a Federação Sportiva Rio Grandense (FSRG) foi extinta e fundada a Confederação Rio Grandense de Desportos Terrestres (CRGDT), por Internacional, Cruzeiro, Porto Alegre e São José. No dia 20, o Grêmio filiou-se à nova entidade, que convocou o I Congresso Rio Grandense de Foot-Ball, com o objetivo de criar uma liga estadual. A ideia de uma entidade estadual fundada exclusivamente por clubes da capital assustou os clubes do interior. Assim, em março a CRGDT mudou seu nome para Associação Porto Alegrense de Desportos (APAD), ainda com a função de organizar, em maio, o congresso estadual que fundou a Federação Rio Grandense de Desportos (FRGD).

O campeonato da APAD contou com cinco clubes participantes: Internacional, Grêmio, Cruzeiro, Porto Alegre e São José. Em relação ao ano anterior, a mudança foi o retorno do Grêmio e a saída do Americano, que teve sua filiação à APAD recusada.

O campeonato começou em 21 de abril.

1º Turno
21.04.1918 Internacional 0x2 Cruzeiro
Chácara dos Eucaliptos
Lance do jogo
                                                                        Lance do jogo
                                                                        Torcida
                                                                        Internacional
                                                                           Cruzeiro

28.04.1918 Grêmio 4x1 Porto Alegre
Baixada
Grêmio
Porto Alegre
Baixada
                                                                            Baixada

12.05.1918 Cruzeiro 4x0 São José
Vila Cruzeiro

19.05.1918 Internacional 5x3 Grêmio
Chácara dos Eucaliptos
Chácara dos Eucaliptos
Internacional
                                                                        Grêmio

26.05.1918 Porto Alegre 3x1 São José
Chácara das Camélias
Lance do jogo
                                                                    Torcida na Chácara das Camélias

02.06.1918 Cruzeiro 3x2 Grêmio
Vila Cruzeiro
Torcida na Vila Cruzeiro
                                                            Torcida na Vila Cruzeiro

09.06.1918 Internacional 5x0 Porto Alegre
Chácara dos Eucaliptos

16.06.1918 Grêmio 6x0 São José
Baixada

30.06.1918 Cruzeiro 3x0 Porto Alegre
Vila Cruzeiro

30.06.1918 São José 0x6 Internacional
Chácara das Camélias

2º Turno
14.07.1918 Cruzeiro 3x1 Internacional
Vila Cruzeiro

21.07.1918 Porto Alegre 0x5 Grêmio
Chácara das Camélias

28.07.1918 São José 0x10 Cruzeiro
Chácara dos Eucaliptos

04.08.1918 Grêmio 1x0 Internacional
Baixada
OBS: Partida interrompida aos 43' do 1º tempo, após uma briga generalizada, onde o atleta colorado Ribas acabou esfaqueado por Manoel de Almeida Costa, torcedor gremista. O Grêmio recusou-se a disputar o tempo restante em outra data e a APAD declarou o Internacional vencedor da partida.

11.08.1918 São José 2x1 Porto Alegre
Chácara dos Eucaliptos

18.08.1918 Grêmio 3x0 Cruzeiro
Baixada

25.08.1918 Porto Alegre x Internacional
Chácara das Camélias
OBS: O Porto Alegre desistiu de jogar e entregou os pontos da partida.

01.09.1918 São José 0x3 Grêmio
Vila Cruzeiro

08.09.1918 Porto Alegre x Cruzeiro
Chácara das Camélias
OBS: O Porto Alegre desistiu de jogar e entregou os pontos da partida.

15.09.1918 Internacional 13x0 São José
Chácara dos Eucaliptos

Classificação Final







sábado, 25 de julho de 2020

Um clássico - Internacional 5x3 Grêmio - 19/05/1918



Era o segundo jogo colorado no campeonato municipal de 1918. O time, como já dissemos em outros textos sobre essa temporada, estava em uma fase de transição, perdendo jogadores que haviam se destacado no pentacampeonato da cidade (1913/1917). Já o Grêmio, estava desesperado por uma vitória em clássicos. Não vencia desde 1913, e nos últimos três clássicos, três vitórias coloradas: 4x1, 6x1 e 3x2.

A partida foi realizada na casa colorada, a Chácara dos Eucaliptos. Na preliminar, o Grêmio venceu o clássico de 2ºs quadros por 5x2, aumentando a confiança dos adversários. As 16:00 começava a partida de 1ºs quadros. Os times foram a campo com:
IN: Bicca; Simão e Bello; Bitú, Mário Cunha e Evódio; Crespo, Ribas, Godinho, Bento e Guimarães
GR: Kuntz; Garibotti e Masson; Pavani, Dorival e Chiquinho; Jorge, Gertum, Rocha, Lagarto e Cossi

O jogo começa marcado por jogadas ríspidas, como definiu a revista Máscara, "um tanto violento". Aos 18' de jogo, pênalti para o Internacional. Mário Cunha cobrou e abriu o placar: Internacional 1x0! Mas aos 25', Lagarto empatou a partida. Porém, aos 41', Guimarães fez 2x1. A primeira etapa terminava com placar favorável ao Internacional.

No 2º tempo, logo no 1º minuto, Ribas ampliou para o Internacional. Poucos minutos depois, novo pênalti para o Internacional, mas Ribas, propositalmente, jogou para fora. Pavani diminuiu para o Grêmio aos 15', mas a violência gremista resultou em mais um pênalti, aos 25'. Esse, Mário Cunha cobrou para o fundo das redes. Aos 32', Lagarto voltou a diminuir para o Grêmio, mas a defesa gremista cometeu outro pênalti, aos 40'. Ribas cobrou, e dessa vez não perdoou: Internacional 5x3.

A violência gremista na partida fez a revista Máscara resumir assim a partida: "Era o triumpho do musculo sobre a destreza, chegando ao cumulo de jogadores atravessarem o campo aos encontrões, sem resultado pratico visivel, mais do que predisporem-se a angariar alguma lesão que os prejudicasse ou que desse motivo ao exercicio de jogo violento, sobre todos os pontos de vista abusivo e condemnavel".

O desespero gremista pela vitória chegaria ao auge no Gre-Nal seguinte, que não chegou ao fim e teve um jogador colorado esfaqueado por um torcedor gremista. Mas aí já é outra história...

Em relação ao desmanche do time colorado, na edição de 20 de maio de 1918, A Federação anunciava que Simão, zagueiro titular e capitão da equipe colorada,  que estreou no Internacional em 1911, mudaria-se para Santana do Livramento no dia 22. Era mais um ídolo do penta que deixava o time.

Fotos da partida:

Equipe colorada

Equipe gremista

Momento do jogo

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Um jogo - Internacional 0x2 Cruzeiro - 21/04/1918



Início de 1918

O Internacional dominava o futebol da capital desde 1913, conquistando um inédito pentacampeonato, sem perder uma única partida. Após ser derrotado na sua primeira partida da temporada de 1913, o clube jogou 73 partidas, vencendo 63, empatando 7 e perdendo apenas três, duas delas para o Guarany de Bagé, em 1913 e 1914, e uma para a Seleção Uruguaia, em 1916. O Internacional perdia para uma equipe da capital desde 8 de junho de 1913, e não saía derrotado de campo desde 21 de setembro de 1916.

Na abertura da temporada de 1918, jogando contra o Juvenil, em Caxias do Sul, o Internacional venceu por 2x1, gols de Miller e Oswaldo. Mas o grande time que havia dominado a cidade estava se desmanchando. Silva, o goleiro em 1917, não estava mais no clube. Bendionda havia se mudado para Santana do Livramento, cidade para a qual logo Simão também iria. O atacante Túlio era outro que não estava mais no clube. Mesmo assim, o Internacional aparecia como o grande favorito na partida contra o Cruzeiro. Nas 12 partidas já ocorridas entre os dois clubes, o Cruzeiro havia conseguido apenas um empate. Das 11 vitórias coloradas, 8 haviam sido por goleada.

Então, às 16:00 horas daquele domingo, 21 de abril de 1918, os dois times entraram em campo na Chácara dos Eucaliptos com as seguintes formações:

IN: Bicca; Simão e Bello; Cary, Bitú e Evódio; Guimarães, Plínio Chaves, Ribas, Bento e Maia
CR: Barreto; Rafael e Osório; Lassance, Tyndaro e Paulo; Prunes, Candiota, Léo, Januário e Fontoura

E, para a surpresa de todos, Januário abriu o placar, aos 25' do 1º tempo. Na 2ª etapa, quando todos esperavam a reação colorada, Candiota fez 2x0, aos 17'. O Cruzeiro venceu por 2x0, sua primeira vitória sobre o Internacional, e encerrou um ciclo. O clube alvi-azul anunciava na abertura do campeonato que tomaria a hegemonia do futebol da capital. Naquele ano, o Cruzeiro seria campeão municipal pela primeira vez, evitando o hexa colorado.

Segundo a revista Máscara, o Internacional sentiu a falta de Mário Cunha, Oswaldo e Lúcio Assumpção, todos titulares em 1917. Mário Cunha e Oswaldo haviam atuado contra o Juvenil, mas Lúcio Assumpção, recuperando-se de duas cirurgias, só voltaria a jogar em junho. Mário Cunha voltou na partida seguinte, mas Oswaldo não jogaria mais pelo Internacional. A revista também noticiou o impacto que a vitória surpreendente do Cruzeiro causou nos meios esportivos da capital.

A seguir, fotos da partida publicadas pela revista:





terça-feira, 21 de julho de 2020

Primeiros relatos de público feminino nos campos de Porto Alegre



Em fevereiro de 1918, em seu primeiro número, a revista Máscara, de Porto Alegre, trazia um texto sobre o público feminino no futebol da capital gaúcha. Curiosamente (ou não) todos os nomes de atletas e dirigentes citados no texto eram colorados. Vale lembrar que em 2 de abril de 1918 o Internacional aceitou sua primeira sócia, Maria Von Ocklel. Chama a atenção, no texto, o momento de transição em que o futebol deixa de atrair apenas os amigos e familiares, e passa a ser assistido por um grupo maior de pessoas, onde o autor (ou autora) do texto coloca um jogador surpreso em não reconhecer as torcedoras que lhe chamam pelo nome.

Pequeno Comentario

As energias dispendidas por alguns enthusiastas do desporto, entre nós, não ficaram sem resultados. Conseguiram, depois de muitos esforços, é verdade, mas conseguiram diffundil-o na sociedade elegante.

A principio parecia haver uma notavel falta de vontade por parte de nossa população e particularmente das nossas familias, que consideravam o foot-ball, e o turf, etc, diversões exclusivamente do sexo forte, mas foram, depois, gradativamente, se convencendo de que a nossa vida social nunca attingiria o brilho que tem nas grandes capitales sem o concurso desse elemento antes irreflectidamente repudiado. E é digna de se registrar a rapidez com que se soube infiltrar na nossa sociedade, o desporto.

Hoje ha uma grande intensidade, uma grande actividade formilha, como nos grandes centros desportivos. Um match de foot-ball desperta hoje, no nosso mundo feminino, tanto interesse como a última creação de chapéo, e Simão lhes é tão familiar como Paquin, o grande costureiro.

É de ver a familiaridade com que num match sensacional, as nossas mais lindas creaturas gritam o nome dos sportsmen valorosos da sua sympathia e que muitas vezes apenas conhecem de vista:
- Anda! Anda, Tullio!
- Ora! Ora, espera, corre, Bitú...
- Che! Assim, assim, Müller!...

Ou então, quando por uma fatalidade, o jogador perde a bola:
- Ora, Godinho!
E o Godinho fica a olhar, a olhar,... pois não as conhece...

Mas, a quem devemos nós essa evolução?
Ao Lemos? Ao Fortini?
Eis uma enquête interessante que nós ainda havemos de iniciar, nesta secção, entrevistando os nomes mais em fóco do nosso meio desportivo.

Zut!

Nomes citados no texto:
Simão - Simão Alves da Silva Filho, zagueiro colorado no pentacampeonato municipal (1913 a 1917).
Tullio - Tullio Soares de Araújo, ponteiro-direito colorado de 1911 a 1917.
Bitú - Ricardo Kluwe, lateral-direito de 1914 a 1921 e 1923 a 1925, era irmão de Carlos Kluwe.
Müller - Carlos Edmundo Miller, atacante colorado de 1913 a 1919.
Godinho - Benjamin Godinho, atacante colorado de 1914 a 1920.
Lemos - Antenor Ribeiro Lemos, foi atleta colorado entre 1910 e 1912, e na época era dirigente do clube.
Fortini - Archymedes Fortini, jornalista e dirigente esportivo. Fez parte do grupo fundador do clube, além de incentivar a fundação de vários outros clubes na capital.






Um clássico - Internacional 2x0 Grêmio - 20/07/1919



Em 1919 o Internacional passava por problemas. O time pentacampeão da cidade, entre 1913 e 1917, se desmanchou ao longo de 1918, época em que o mundo foi atingido por uma pandemia de gripe. Os atacantes Túlio e Oswaldo, e o goleiro Silva, saíram do clube no final de 1917. O atacante Bendionda e o zagueiro Simão mudaram-se para Santana do Livramento, e o atacante Ribas, que continuou jogando na temporada de 1918, foi esfaqueado em um Gre-Nal, encerrando a carreira.
Em 1918, o Cruzeiro levou a taça. E a temporada de 1919 não começava bem. Após seis meses e uma semana sem atuar (13/10/1918 - 20/04/1919) por causa da pandemia, o time voltou a campo com uma derrota para o Cruzeiro, em amistoso, 0x1. Na estreia no campeonato, novo tropeço, frente ao Porto Alegre (1x2). Para piorar, devido a acontecimentos nessa partida, o zagueiro colorado Dorval foi suspenso pela Associação Porto Alegrense de Desportos por 90 dias. No jogo seguinte, uma goleada sobre o São José (7x0), para tropeçar de novo diante do Cruzeiro (2x3). E pior, perder o centroavante Cezar Andrade, uma boa revelação do início de temporada, por lesão. Isso, faltando menos de um mês para o Gre-Nal. Na partida seguinte, vitória de 11x0 sobre o Tabajara, e o centroavante substituto, Barcellos, até fez dois gols, mas insuficiente para acalmar a torcida. Nessas condições surgiu a ideia de fazer um abaixo-assinado pedindo para Carlos Kluwe voltar a jogar. Kluwe não jogava desde 1915, e não era centroavante, pelo contrário, era centromédio. Mas era sua liderança que empolgava a torcida.

Cedendo a dezenas de assinaturas, entre as quais a da sua própria esposa, Kluwe decidiu jogar. No jornal A Federação da véspera da partida, aparecia a seguinte notícia: "quanto ao [time] do Internacional, si se verificar o que nos informaram, jogará com um admiravel elemento que o publico portoalegrense ha tempos não tem ensejo de apreciar nos fields". Na escalação do jornal, aparece o nome Antônio (Carlos Antônio Kluwe). A última vez em que ele vestira o sagrado manto alvi-rubro, havia sido em 31/10/1915, um Gre-Nal, nossa primeira vitória, onde ele também aparecia como Antônio na escalação.

No dia 20 de julho de 1919, a torcida estava apreensiva. Kluwe jogaria? As 14:00 horas ocorreu a partida de 2ºs quadros, vencida pelo Grêmio por 4x2. Poucos minutos antes das 16:00 horas, o time do Grêmio entrou em campo, puxado por Pavani. Em seguida, entra o time do Internacional, mas com apenas 10 jogadores. De repente, uma "prolongada e enthusiastica ovação" se ouve em toda a Chácara dos Eucaliptos: o doutor Carlos Kluwe entra em campo, com o uniforme do Internacional.

Os times foram assim a campo:

E Kluwe mostrou seu valor logo de início. A saída foi colorada, Lagarto roubou para o Grêmio, mas o Internacional recuperou a posse de bola, atacando. E Kluwe chutou em gol, obrigando Demétrio a defender para escanteio. Aí a imprensa se divide. Um jornal diz que foi Léo que cobrou o escanteio, outro que foi Crespo; um diz que Kluwe cabeceou, outro, que chutou fraco. mas todos concordam que, aos dois minutos de jogo, o Colorado vencia por 1x0, gol de Carlos Kluwe!

Logo depois do gol colorado, o Grêmio parte para cima. Bañolas faz uma defesa importante. Por 15 minutos os gremistas pressionam, mas em sua melhor oportunidade, Lagarto, próximo do gol, chutou por cima. Depois, por vários minutos, o jogo fica equilibrado no meio de campo. em determinado momento, Leonardo conseguiu uma escapada, e quando preparava-se para chutar a gol, foi desarmado por Só. Em seguida, o Grêmio tem uma falta próxima à area, que Py cobra para fora, a mais de um metro do gol.

Nos minutos finais da primeira etapa, o Internacional volta a dominar o jogo dando trabalho à dupla de zaga gremista. No final do primeiro tempo, Gertum tentou um contragolpe, mas foi desarmado por Léo, que imediatamente lançou Maia. O atacante preparava-se para cruzar para a área quando o juiz marcou impedimento, encerrando instantes depois a primeira parte do jogo.

No começo da segunda etapa, quase a história se repete. Meneghini perde a bola, o Internacional ataca com força e Demétrio defende para escanteio. Crespo cobrou o escanteio, mas Py afastou. E novamente, por vários minutos os gremistas pressionaram, fazendo Bañolas "atirar-se por terra ou dar saltos altíssimos para defender seu goal". Mas de nada adiantou. Aos 17', Genny avançou em contra-ataque, que a defesa gremista mandou para escanteio. Crespo (ou Léo, novamente a imprensa diverge) cobrou o escanteio. A defesa gremista concentrou-se em Kluwe, e a bola sobrou para Pedro Cunha chutar com força, para fazer o segundo gol colorado.

O Grêmio tentou pressionar, e o Colorado respondia em contra-golpes. Mais dois escanteios colorados levaram pânico à defensiva tricolor. Os líderes gremistas, Lagarto e Gertum, já não se entendem e tentam resolver sozinhos o jogo, facilitando o trabalho de Bello, que desmancha uma a uma as ofensivas gremistas. Gertum ainda teve uma boa chance, defendida por Bañolas. E finalmente a partida chegou ao fim. A torcida colorada invadiu o campo e carregou Kluwe em triunfo.

Kluwe ainda jogaria mais duas partidas pelo campeonato de 1919, contra o Porto Alegre (2x1) e novamente o Grêmio (2x3), na volta de Bendionda ao time. Na Taça 7 de Setembro, onde era permitido substituições, ele entrou no time contra o Tabajara e fez o 3º gol colorado, na vitória por 3x0. No campeonato de 1920, novamente foi chamado para jogar um Gre-Nal (1x4). Foi a última vez que Kluwe jogou pelo Colorado, pois na partida seguinte Cezar Andrade, aquele que se lesionara um junho de 1919, voltou ao time, após onze meses de recuperação.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Campeonato Brasileiro de Seleções 1925



Em 1924, a seleção gaúcha deveria enfrentar a seleção paulista, em 23 de novembro. Mas devido à situação política do estado, a Federação Rio Grandense de Desportos (FRGD) desistiu de formar um selecionado.

 

Em 1925, porém, novamente a FRGD formou uma seleção para enfrentar os paulistas, em jogo eliminatório. A seleção foi formada exclusivamente com jogadores da capital. O jornal A Federação não publica a relação dos convocados, mas os atletas que são citados já em São Paulo e no Rio de Janeiro são:

Goleiros: Lara (Grêmio) e Pareja (Cruzeiro)

Zagueiros: Py (Grêmio) e Espir (Cruzeiro)

Médios: Ribeiro (Internacional), Lampinha (Internacional), Moreno (Internacional), Almo (Cruzeiro) e Hugo (Americano)

Atacantes: Coró (Grêmio), Coi (Grêmio), Oliverio (Grêmio), Danico (Porto Alegre) e Odorico (Porto Alegre)

 

A seleção viajou com desfalques. Luiz Carvalho, atacante gremista, não conseguiu liberação do Colégio Militar, onde era aluno, mesmo com a FRGD recorrendo ao Ministério da Guerra. O zagueiro Darcy, do Cruzeiro, também não conseguiu liberação. Havia divergência quanto à formação da equipe. O técnico e capitão do time, Jorge Py, escolheu um esquema mais defensivo, improvisando o médio Hugo na ponta-esquerda, e passando o ponteiro-esquerdo Danico para a direita, onde rendia muito menos. A imprensa cobrava a manutenção de Danico na esquerda e o ingresso de Odorico na direita. Também era cobrado o fato do zagueiro colorado Grant não ter sido convocado, quando era o defensor que melhor saía jogando na capital. Os convocados, inclusive Darcy, eram exclusivamente marcadores. Com todos esses problemas, a delegação gaúcha embarcou no navio “Comandante Alvim”, em 23 de julho, rumo a São Paulo, onde chegou no dia 29.

 

No dia 2 de agosto de 1925, diante de quase 30 mil pessoas presentes no Parque Antártica, a seleção gaúcha apresentou-se diante dos paulistas. O árbitro do jogo foi Joaquim Antônio Leite de Castro. As equipes estavam assim formadas:

RS: Lara; Py e Espir; Ribeiro, Lampinha e Moreno; Coró, Coi, Oliverio, Danico e Hugo

SP: Tuffy; Clodoaldo e Barthô; Abbate, Amílcar e Arthurzinho; Filó, Mário, Friedenreich, Neco e Feitiço

 

A equipe gaúcha começou jogando atrás, preocupando-se com a marcação. A imprensa do centro do país reclamou da demora em cada reposição de bola e da falta de ímpeto ofensivo. No 1º tempo Tuffy não fez uma única defesa, enquanto Lara se esforçava para manter o placar em branco. Mas aos 15’, Amílcar lançou Friedenreich, que driblou os zagueiros e Lara, antes de chutar para o fundo das redes. Ainda na 1ª etapa, Feitiço cobrou escanteio, a bola foi aos pés de Neco e o atacante chutou para as redes gaúchas: paulistas 2x0. E aos 35’, Neco serviu a Filó, que marcou o 3º gol de São Paulo. No 2º tempo, a seleção gaúcha tentou ser mais ofensiva, sem muito sucesso. Tuffy chegou a fazer três defesas na partida. E os paulistas marcaram mais um gol, após Friedenreich passar a bola para Mário. Placar final: São Paulo 4x0 Rio Grande do Sul.

 

Após a eliminação, a seleção gaúcha viajou ao Rio de Janeiro, para enfrentar o Vasco da Gama. No dia 9 de agosto, nas Laranjeiras, a Seleção Gaúcha perdeu para o Vasco por 1x0, com a seguinte equipe:

RS: Lara; Py e Espir (Hugo); Ribeiro, Almo e Moreno; Coi, Odorico Oliverio, Danico e Coró

 

Na preliminar, uma seleção “B”, formada por jogadores convocados e atletas gaúchos residentes no Rio, perdeu para o Andarahy por 3x1. Essa seleção foi assim formada:

RSB: Pareja; Octacílio e Léo; Gazippo, Lampinha e Honorino; Doca, Candiota, Lagarto, Ribeiro e Chagas

Pareja e Lampinha faziam parte da seleção gaúcha. Candiota (Flamengo) e Lagarto (Fluminense) eram titulares de seus clubes e da seleção carioca. Octacílio era titular do Botafogo. Os outros atletas eram jogadores do 2º quadro do Flamengo, Fluminense e São Cristóvão, além de três atletas sem clube, um deles Honorino, ex-zagueiro do Internacional.


Campeonato Brasileiro de Seleções 1923



Em 1923, com o futebol de Porto Alegre pacificado, a Federação Rio Grandense de Desportos começou a pensar em formar sua seleção em julho, quando o campeonato estava planejado para começar em agosto. Para facilitar a formação e treinamento da equipe, a entidade decidiu recorrer a jogadores apenas da capital. Após vários treinos, e com o adiamento do campeonato para setembro, no dia 11 desse mês a FRGD apontou sua seleção, que teria:

Goleiros: Lara (Grêmio) e Ávila (Cruzeiro)

Zagueiros: Py, Grêmio, Heitor (Americano) e Espir (Cruzeiro)

Médios: Ribeiro (Internacional), Floriano (Grêmio) e Almo (Cruzeiro)

Atacantes: Leon (Ruy Barbosa), Mandarino (Porto Alegre), Octacílio (Cruzeiro), Lagarto (Grêmio), Ramão (Grêmio), Danico (Porto Alegre) e Genny (Internacional)

 

O time titular, anunciado pela comissão formadora, era: Lara; Py e Heitor; Ribeiro, Floriano e Almo; Leon, Mandarino, Octacílio, Lagarto e Ramão. Essa é talvez a edição com pior cobertura da imprensa gaúcha. Algumas mudanças ocorreram, em relação à equipe que jogaria em São Paulo, mas não existem muitas informações. Lagarto, que antes da formação da seleção, havia informado que não jogaria o campeonato brasileiro, devido às suas aulas, não jogou. Teria ficado em Porto Alegre? Também ingressaram na seleção o médio Hugo (Americano) e os atacantes Nenê (Pelotas) e Bate-Bate (Bagé).

 

No dia 23 de setembro de 1923, a seleção gaúcha entrava no campo do Parque Antártica para enfrentar os paulistas, em jogo eliminatório. O estádio recebeu um bom público, e na preliminar o ítalo venceu o São Geraldo por 1x0. A partida principal seria arbitrada por Antônio Augusto de Almeida, vulgo Ferramenta. Os times estava assim formados:

RS: Lara; Py e Espir; Ribeiro, Leon e Hugo; Mandarino, Nenê, Bate-Bate, Genny e Ramão

SP: Colombo; Clodoaldo e Barthô; Bertolini, Amílcar e Ciasca; Formiga, Neco, Friedenreich, Tatu e Netinho

 

A partida começou muito disputada, com os paulistas tomando a iniciativa, mas os gaúchos reagindo bem. O tempo ia passando, mas aos 36’ Friedenreich cruzou para Netinho, que quase me cima da linha apanhou a bola e entrou nas redes com ela, abrindo o placar para os paulistas. O gol abateu os gaúchos, e aos 39’ Formiga invadiu a área pelo lado e chutou alto, fazendo 2x0. No 2º tempo, os paulistas logo de início ampliaram o placar. Aos 6’, Netinho passou para Tatu, que passou para Formiga marcar. Os gaúchos reagiram com Genny, que aos 20’, que tomou uma bola reposta em jogo por Colombo e chutou alto, de fora da área, encobrindo o goleiro diminuiu. Mas aos 33’, Barthô cobrou falta, próximo à área, e venceu Lara. Placar final: São Paulo 4x1 Rio Grande do Sul. Os gaúchos foram eliminados no primeiro jogo.

 

Além dos dois atletas colorados convocados, o médio Floriano, do Grêmio, já havia jogado no Internacional. Nenê, do Pelotas, transferiu-se para o Internacional no ano seguinte. E Hugo teve uma rápida passagem no Internacional, em 1930.


Campeonato Brasileiro de Seleções 1922

Seleção gaúcha com o uniforme do Flamengo, na partida contra a seleção baiana.


Em junho de 1922, a Federação Rio Grandense de Desportos (FRGD) começou a preocupar-se com a organização do “scratch” que representaria o estado no primeiro Campeonato Brasileiro de Seleções.

 

O futebol da capital estava dividido desde 1920, e dos principais clubes da cidade, apenas o Grêmio permanecia fiel à FRGD. Com isso, coube a esse clube ser a base da seleção. Em tempos de amadorismo, formar um selecionado que jogaria fora do estado era algo difícil. Os jogadores do Brasil de Pelotas chamados a treinar no “scratch” não puderam comparecer em Porto Alegre, pois não obtiveram licença de seus empregadores. O presidente da FRGD, Paulo Hecker, teve que interferir pessoalmente aos dirigentes da Fiscalização de Serviços da Barra e ao Banco Nacional do Comércio, para conseguir a liberação de Coroliano e Miranda, atletas do Rio Grande.

 

Após vários treinos na capital, onde foram testados vários jogadores, no dia 16 de julho a seleção gaúcha partiu para Curitiba, onde enfrentaria os paranaenses. Os atletas que embarcaram foram os seguintes:

Goleiros: Lara (Grêmio) e Marcelino (Riograndense SM)

Zagueiros: Presser (Ruy Barbosa), Neco (Grêmio) e Romagna (Guarany de Cruz Alta)

Médios: Alfredo (Ruy Barbosa), Xingo (Pelotas), Quincas (Pelotas) e Luiz Assumpção (Grêmio)

Atacantes: Leon (Ruy Barbosa), Lagarto (Grêmio), Bruno (Grêmio), Mosquito (Riograndense SM), Ramão (Grêmio), Willy (Riograndense SM), Barros (Tamandaré SM) e Faeco (Pelotas)

 

No dia 23 de julho, no campo do Internacional, em Curitiba, mais de 10 mil pessoas comparecem para apoiar a equipe paranaense, no jogo eliminatório que valia o título da Região Sul. O árbitro era o carioca Carlos Miranda dos Santos. As equipes foram assim a campo:

 

RS: Lara; Presser e Neco; Quincas, Xingo e Alfredo; Leon, Lagarto, Willy, Mosquito e Ramão

PR: Hermógenes; Albano e Rosa; Rigolino, Falcico e Ninho; Maximino, Zito, Arthur, Joaquim e Djalmo

 

Os principais movimentos da partida ocorreram no início. Aos 9’, Mosquito lançou Leon em velocidade, pela esquerda. O jogador do Ruy Barbosa foi à linha de fundo e cruzou para Willy cabecear para o fundo das redes: gaúchos 1x0! Na saída de bola, os paranaenses atacaram com perigo e Alfredo derrubou Zito, na área. Arthur cobrou a penalidade, defendida por Lara, mas o mesmo jogador pegou o rebote e chutou para as redes. Estava empatada a partida aos 10’ de jogo. Depois, o jogo caiu em rendimento. Os gaúchos jogaram a segunda etapa com dez atletas, pois Alfredo, lesionado, não voltou do intervalo, e não existiam substituições. Mesmo assim, a imprensa gaúcha ressaltou que o juiz deixou de marcar dois pênaltis clamorosos para o Rio Grande do Sul. O empate obrigou à realização de uma nova partida, no dia seguinte.

 

No dia 24 de julho, no mesmo campo do Internacional, com o mesmo árbitro Carlos Miranda dos Santos, diante de outro público de mais de 10 mil pessoas, as duas equipes voltaram a enfrentar-se. Os times estavam assim formados:

 

RS: Lara; Presser e Neco; Faeco, Xingo e Alfredo; Leon, Lagarto, Willy, Mosquito e Barros

PR: Hermógenes; Albano e Rosa; Rigolino, Pena e Ninho; Maximino, Zito, Arthur, Joaquim e Taurizano

 

A partida começa com os gaúchos atuando adiantados, e em um contra-ataque, logo no inicio, Zito avançou em velocidade e abriu o placar para os paranaenses. Aos 14’, novo contra-ataque, mas Alfredo saiu em busca de Zito e chocou-se com ele. O médio-esquerdo gaúcho, que já havia se lesionado no primeiro jogo, precisou abandonar a partida, com fratura na clavícula esquerda. Novamente os gaúchos ficavam com dez em campo, e perdendo de 1x0. Tudo parecia desfavorável, mas a seleção reagiu. Aos 30’, Lagarto passou para Xingo, que chutou forte para empatar. No 2º tempo, mesmo com um jogador a menos, a seleção gaúcha foi para cima dos adversários. Pena cometeu pênalti em Lagarto, que Xingo cobrou e virou o jogo. A seguir, Mosquito lançou Barros, que avançou pela ponta e chutou cruzado para fazer o 3º gol gaúcho. Os paranaenses ainda descontam, quando Maximino escapou pela direita e marcou. Mas em seguida, Lagarto e Leon tabelaram, e quando Hermógenes saiu do gol, Leon chutou para as redes. Placar final: Rio Grande do Sul 4x2 Paraná.

 

Com esse resultado, o Rio Grande do sul classificou-se para o Quadrangular Final, com as seleções de São Paulo, Distrito Federal (cidade do Rio de Janeiro) e Bahia, que seria disputado no centro do país. No dia 25 de julho, embarcaram para São Paulo, onde encontrariam o resto da delegação, Dorival e Totte (Grêmio) e Miranda (Rio Grande).

 

Os gaúchos chegaram a São Paulo no dia 27 de julho. No dia 30, uma surpresa: no Rio de Janeiro, os cariocas empataram com os baianos em 2x2.

 

Em 2 de agosto, os gaúchos entravam em campo, na Chácara da Floresta, para enfrentar a poderosa seleção paulista, de Friedenreich e Neco, e que nas eliminatórias havia batido Minas Gerais por 13x0. O árbitro era o carioca Henrique Vinhaes. As equipes foram a campo com a seguinte formação:

RS: Lara; Presser e Neco; Faeco, Xingo e Dorival; Leon, Lagarto, Willy, Mosquito e Barros

SP: Primo; Bianco e Barthô; Bertolini, Amílcar e Gelindo; Formiga, Heitor, Friedenreich, Neco e Rodrigues

 

Apesar de todo favoritismo paulista, aos 10’ de jogo Barros escapou em velocidade e chutou para o gol. O chute foi fraco, e Primo chegou a defendê-la, mas deixou a bola escapar entre suas mãos e morrer no fundo das redes. Aos 15’, em nova escapada, Barros chutou, a bola desviou em Bianco e foi para o fundo das redes: gaúchos 2x0. Ainda no 1º tempo, aos 39’, os paulistas reagem, Formiga cruzou para a área e Friedenreich cabeceou para as redes. No 1º minuto do 2º tempo, Formiga caiu na área, e o juiz deu pênalti, questionado pela imprensa gaúcha. Friedenreich cobrou o pênalti e marcou, empatando o jogo. Depois disso, a partida transcorreu sem grandes emoções, fora uma lesão de Lara, após chocar-se com Rodrigues. A partida ficou vários minutos parada, e quando Lara voltou, ainda preferiu sair de campo, deixando Mosquito no gol por dois minutos, até regressar a campo. A paralisação gerou uma confusão. Na época, era o cronometrista que marcava o tempo, e não o juiz. E um sinal do mesmo, em um momento que o jogo parou, gerou a impressão que a partida havia acabado. Os jornalistas gaúchos telegrafaram para Porto Alegre, anunciando o empate. Mas a bola voltou a rolar. E aos 35’, pouco depois do falso fim, Neco acertou um chute, virando a partida. Aos 37’, Rodrigues chutou rasteiro para fechar o placar: São Paulo 4x2 Rio Grande do Sul. E muita reclamação da imprensa gaúcha sobre a conduta do juiz.

 

Uma notícia divulgada pouco antes da partida irritou gaúchos e paulistas. A CBF teria declarado que o torneio não era campeonato brasileiro, e sim um festival de futebol para preparar os futuros jogadores da seleção brasileira que disputaria os Jogos Latino-Americanos. O motivo dessa decisão teria sido o empate dos cariocas com baianos, que deixaram os mesmos em posição de inferioridade na disputa pelo título. Realidade ou não, essa decisão não prevaleceu, e o torneio valeu como campeonato brasileiro.

 

No dia 6 de agosto, havia rodada dupla. Em São Paulo, paulistas x baianos, no Rio, cariocas x gaúchos. Os paulistas venceram seu jogo por 3x0. No Rio, em General Severiano, Carlos Miranda dos Santos, o mesmo árbitro carioca dos confrontos contra os paranaenses, comandaria a partida. As duas equipes foram assim a campo:

RS: Lara; Presser e Neco; Quincas, Xingo e Dorival; Leon, Lagarto, Willy, Faeco e Barros

DF: Haroldo; Palamone e Chico Netto; Laís, Alfredinho e Fortes; Leite, Zezé, Pastor, Junqueira e Antenor

 

Nos primeiros 15 minutos de jogo, os cariocas dominaram. Mas aos poucos os gaúchos passaram a controlar a partida. Em um ataque perigoso, Barros acertou um chute na trave. Mas aos 33’, Laís lançou Junqueira, impedido, que passou para Zezé marcar. No 2º tempo, os cariocas predominaram, e aos 21’, Fortes cruzou para a área, Lara escorregou e Leite apanhou a bola, passando para Zezé marcar novamente. Placar final: Distrito Federal 2x0 Rio Grande do Sul.

 

No dia 10 de agosto, na Rua Paissandu, enfrentaram-se as seleções do Rio Grande do Sul e Bahia. O árbitro foi o carioca Carlos Santos. Na preliminar, o segundo time do Flamengo venceu por 2x1 o River, campeão da 2ª divisão carioca. Depois, na hora de entrar em campo, um problema: as duas seleções tinha uniformes semelhantes. Assim, os gaúchos jogaram com o uniforme do Flamengo. As duas equipes foram a campo com a seguinte formação:

RS: Lara; Presser e Neco; Quincas, Xingo e Faeco; Leon, Lagarto, Willy, Mosquito e Barros

BA: Baby; Durval e Santinho; Mica, Popó e Nebulosa; Asterio, Petiot, Vivi, Manteiga e Sandoval

 

A partida foi parelha, com os gaúchos predominando no 1º tempo e os baianos na 2ª etapa. E aos 25’ do 2º tempo, Manteiga cruzou para Petiot marcar o único gol do jogo. Placar final, baianos 1x0 gaúchos. No dia 13 de agosto, em São Paulo, os paulistas venceram os cariocas por 4x1, ficando com o título brasileiro.

 

Da seleção gaúcha que disputou o primeiro campeonato brasileiro, o ponteiro-esquerdo Barros, no ano seguinte ingressou no Internacional. O goleiro reserva Marcelino seguiu o mesmo caminho, em 1924. O lateral-esquerdo Alfredo, irmão do atacante Leon, jogou no Internacional de 1931 a 1933.


sábado, 18 de julho de 2020

Campeonato Municipal de Basquete - 1936



Em 1936, a LARG (Liga Atlética Rio Grandense) organizou mais um campeonato municipal de basquete, ou cestobol, como era chamado na época.


Faziam parte da 1ª divisão:

Internacional

Grêmio

Porto Alegre

Gaúcho (Grêmio Náutico Gaúcho)

Turner Bund (atual Sogipa)

ACM


E em 1936 também foi organizada uma 2ª divisão, com:

Americano

ACM "B"

Excursionista

Castelo

3ª FI (Formação de Intendentes)

CIM (Curso de Instrução Militar)

 

Em 5 de maio de 1936 a temporada começou, com a disputa do Torneio Início, na quadra da ACM. O Internacional venceu a ACM, na estreia, mas perdeu para o Gaúcho, na semifinal. O Grêmio Náutico Gaúcho, que venceu o Porto Alegre e o Internacional, bateu o Grêmio, na final, levando a taça. O Internacional atuou com Armando, Ernesto, Angelino, Kokot e Valdemar na 1ª partida e Evaldo, Ernesto, Angelino, Kokot e Valdemar, na 2ª partida.

 

O campeonato estava previsto para começar no dia 12 de maio. As partidas eram disputadas nas quadras dos clubes, que eram descobertas, ficando expostas ao mau tempo, assim muitas rodadas foram transferidas. A imprensa também não dava o mesmo destaque ao basquete que a outros esportes, e rodadas que ocorreram junto a eventos importantes no futebol ou nas regatas foram simplesmente ignoradas. Por isso, mesmo pesquisando nos jornais A Federação e Diário de Notícias, não foi possível resgatar todas as partidas do torneio. Na 2ª divisão, sequer foi possível confirmar a participação do Castelo, que aparece nas primeiras notícias e na divulgação das primeiras rodadas, mas não aparece em nenhuma das notícias posteriores.

 

A rodada do dia 12, que previa Internacional x ACM e Gaúcho x Porto Alegre, foi cancelada devido ao mau tempo. No dia 19 de maio, o campeonato começou, com dois jogos: ACM 15x13 Grêmio e Turner Bund 20x24 Porto Alegre.

 

O Internacional estreou na rodada seguinte, batendo o Porto Alegre por 33x12, na Chácara das Camélias. Na mesma rodada, a ACM venceu o Gaúcho por 22x14.

 

Na rodada seguinte, estes foram os jogos:

26 de maio

Internacional 34x13 Turner Bund

Gaúcho 24x17 Grêmio

 

No dia 29 de maio, ocorre o Gre-Nal, vencido pelo Colorado por 16x14. No mesmo dia, tivemos Porto Alegre 30x25.

 

Em junho, as notícias diminuem, mas no dia 12, o Internacional bateu o Gaúcho, na casa do adversário, por 20x16, em uma partida polêmica. O juiz do Turner Bund, indicado para a partida, não compareceu, e a LARG decidiu nomear dois juízes, um de cada clube. A torcida colorada participou ativamente da partida, descontrolando o juiz do Gaúcho. Irritado e acusando o juiz colorado de ser parcial, abandonou a partida, que terminou apitada apenas pelo árbitro do Internacional. Mais tarde, os árbitros da partida foram excluídos do quadro da LARG, mas a partida não foi anulada, como queria o “Tricolor da Praia de Belas”.

 

No dia 16 de junho, na Baixada, Grêmio 24x26 Porto Alegre. O clube da Chácara das Camélias seguia firme em segundo lugar.

 

No dia 19 de junho, duas “goleadas” para os placares da época: Turner Bund 17x45 Gaúcho e Internacional 40x18 ACM. Atuaram no Internacional, nessa partida, Evaldo, Foguinho, Miluchinha, Renê, Angelino e Milucha.

 

No 2º turno do campeonato, as notícias diminuem ainda mais. No dia 26 de junho, uma surpresa. O Internacional perdeu, em casa, para o Gaúcho, por 16x21. A equipe colorada atuou com Evaldo, Foguinho, Miluchinha, Frontão, Renê e Angelino.

 

No dia 29 de junho foi realizado, na quadra da ACM, o Torneio Vitor Sperb, em formato de torneio início. O Gaúcho sagrou-se campeão, com o Porto Alegre vice. O Internacional jogou o torneio com Foguinho, Miluchinha, Renê, Angelino e Milucha.

 

No dia 3 de julho, o Internacional bateu o Porto Alegre por 23x18, praticamente confirmando o título. No mesmo dia, tivemos Gaúcho 29x12 ACM. No dia 7 de julho teríamos Turner Bund x Internacional, mas não há informações sobre a partida.

 

Em 10 de julho, o Internacional carimbou o título vencendo o Grêmio por 18x5. Atuaram no Colorado Evaldo, Foguinho, Miluchinha, Renê, Angelino e Frontão. No dia 17 de julho estava marcado ACM x Internacional, novamente sem informações. E no dia 21 de julho, tivemos Porto Alegre 21x34 Gaúcho.

 

O quadro de campeões e vices dos torneios oficiais da LARG, em 1936, ficaram assim:

 

1º Quadro Internacional – Gaúcho

2º Quadro Grêmio – Gaúcho

3º Quadro Grêmio – ACM

Infantil ACM – Gaúcho

1º Quadro/2ª Divisão 3ª FI – CIM

2º Quadro/2ª Divisão Americano - 3ª FI

Torneio Início Gaúcho – Grêmio

Torneio Vitor Sperb Gaúcho – Porto Alegre

Torneio Porto Alegre Internacional – ACM

Torneio Encerramento Grêmio – Porto Alegre

 

Também existia basquete fora da liga oficial. Em junho, América (que chegou a anunciar que participaria da 2ª divisão), Jaime Teles, São Francisco e Papai Noel organizaram seu próprio torneio. E clubes como o Colorado Atlético Clube, General Osório, Treze e Bonsucesso também apareceram nas páginas da imprensa.

 

Em 5 de agosto de 1936 o Internacional homenageou os bicampeões citadinos de basquete com um jantar no Restaurante Belomo, na rua Uruguai. Foram homenageados o técnico Randolfo Torres Balbão e os jogadores Evaldo, Foguinho, Milucha, Miluchinha, Renê, Frontão, Quelin e Angelini, que participaram da conquista. A foto que ilustra este texto foi tirada nesse jantar.