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sábado, 30 de maio de 2020

The English Game - o real e o ficitício


A ótima minissérie "The English Game" retrata o início do profissionalismo no futebol, mesclando eventos reais com fictícios. Em muitos casos, adaptando a realidade.

Vamos ao início: os jogadores Fergus Suter e Jimmy Love. Os dois realmente existiram, mas suas histórias são um pouco diferentes do que foi retratado no seriado. Os dois jogaram juntos no Partick Football Club (e não no Partick Thistle Football Club, como algumas fontes apontam). E pelo Partick, disputaram amistosos na Inglaterra, enfrentando o Darwen e o Blackburn Rovers, futuros clubes de Suter.

Em 1878 (e não em 1879), Jimmy Love transferiu-se para o Darwen, seguido logo depois por Suter. Na série, os dois chegam juntos ao clube inglês, em 1879. Portanto, não chegaram apenas nas quartas-de-final da Taça de 1879.

Outro ponto que pertence á ficção é a discussão sobre prorrogação, após o empate do Darwen com o Old Etonians. A regra era realizar uma nova partida, em caso de empate. O próprio Darwen, na 2ª fase, já havia jogado um desempate, após empatar com o Eagley por 0x0, em 7 de dezembro de 1878. No dia 21 de dezembro, no desempate, o Darwen venceu por 4x1.

No seriado, o Darwen foi derrotado no desempate. Mas a disputa foi mais longa, sendo necessárias três partidas para decidir o semifinalista. Em 13 de fevereiro de 1879 ocorreu o empate por 5x5. No desempate, em 8 de março de 1879, nova igualdade: 2x2. Apenas no terceiro jogo, em 15 de março de 1879, o Old Etonians saiu vencedor por 6x2.

Na vida real, Jimmy Love não jogou mais no clube após a temporada de 1879. A principal hipótese é que tenha ingressado na marinha britânica. Já no seriado, ele se transfere para o Blackburn, junto com Suter. E a transferência para o Blackburn aponta outra modificação da realidade.

Existiam dois clubes, em Blackburn. O Blackburn Rovers FC, que contratou Suter, após o fim da temporada de 1880, e o Blackburn Olympic FC. No seriado, existe apenas um clube, chamado Blackburn FC, e que contrata Suter ainda durante a temporada de 1880. E ao final da temporada, o Blackburn derrota o Old Etonians, na decisão da Copa, tornando-se o primeiro clube operário a conquistar o torneio.

Na realidade, o primeiro campeão operário foi o Blackburn Olympic, e apenas em 1883. Na temporada de 1880, o Old Etonians sequer chegou á final. Em 1881, o Blackburn Rovers de Suter caiu na 2ª fase, eliminado pelo The Wednesday. O Darwen, por sua vez, chegou à uma inédita semifinal, quando foi derrotado pelo Old Carthusians, que depois venceria o Old Etonians na final.

Em 1882, o Blackburn Rovers chegaria à final, mas perderia para o Old Etonians por 1x0. No ano seguinte, novamente o Blackburn Rovers caiu na 2ª fase, batido pelo rival Darwen, por 1x0. E seu outro rival, o Blackburn Olympic, bateu o Old Etonians na final, por 2x1.

Nos anos seguintes, porém, o Blackburn Rovers e Suter viveriam seu período de glória. O clube foi tricampeão da Copa em 1884, 1885 e 1886, vencendo na final, nos dois primeiros anos, o escocês Queen's Park e no último ano o West Bromwich Albion. Em 1885, pela última vez um clube amador, o Queen's Park, chegaria a uma final da Copa.

Suter jogaria no Blackburn Rovers até 1888, quando encerrou a carreira. O Blackburn ainda levantaria a Copa em 1890 e 1891.

Sobre Arthur Kinnaird, que também é um personagem real, ele é o recordista de finais da Copa, tendo disputado 9 decisões. Começou jogando no Wanderers, onde foi campeão em 1873. A seguir, transferiu-se para o Old Etonians, onde foi vice-campeão em 1875 e 1876. Retornando ao Wanderers, foi novamente campeão em 1877 e 1878. Na temporada seguinte, estava novamente no Old Etonians, sendo campeão em 1879 e 1882, e vice em 1881 e 1883. Na única final que enfrentou Suter, em 1882, sagrou-se campeão e marcou o único gol do jogo. Nascido na Inglaterra, mas descendente de tradicional família escocesa, disputaria uma partida pela seleção da Escócia, em 1873.

Em relação á vida pessoal, em 1879 a esposa de Kinnaird não perdeu o bebê. Nesse ano nasceu Douglas Arthur Kinnaird, que morreria na Bélgica, em 1914, durante a I Guerra Mundial.

Outro personagem da série, Tommy Marshall, jogaria no Darwen até 1886, não tendo jogado com Suter no Blackburn Rovers. Ele atuaria no Blackburn Olympic, mas apenas em 1886. Jogou pela seleção inglesa em 1881.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Os confrontos entre os selecionados branco e negro em Porto Alegre


O futebol porto-alegrense, durante muito tempo, sofreu com a segregação. A comunidade negra, para poder praticar o futebol, precisou criar seus próprios clubes, ligas e competições.

Porém, em finais da década de 1920 e início dos anos 1930, os clubes da cidade começaram a abrir espaços para atletas negros. E esses atletas tiveram oportunidade de serem avaliados pelos dirigentes dos principais clubes em amistosos realizados entre selecionados brancos e negros. Pelo menos quatros amistosos entre esses selecionados ocorreram em Porto Alegre, em 1930, 1931, 1933 e 1942.

O confronto de 1930 eu desconheço detalhes. Infelizmente, na hemeroteca da Biblioteca Nacional não consta o ano de 1930 do jornal A Federação, único jornal porto-alegrense disponível online no período. Conheço apenas o resultado final, Selecionado Branco 2x0 Selecionado Negro.

O segundo amistoso ocorreu em 1931. A partida foi organizada por um grupo de atletas e teria no selecionado branco atletas dos clubes da Associação Metropolitana Gaúcha de Esportes Atléticos (AMGEA), que reunia as principais instituições esportivas da cidade, e no selecionado negro atletas dos clubes da Associação de Amadores de Futebol (AAF), a última das "Ligas da Canela Preta", reforçados por Tupan e Andrade (Concórdia) e Germano (Cruzeiro), que já atuavam na AMGEA.

Em 11 de janeiro de 1931, na Chácara das Camélias, os dois selecionados foram a campo. As seleções estavam assim compostas:

Selecionado Branco:
Penha (Internacional); Miro (Internacional) e Luiz Luz (Cruzeiro); Ribeiro (Internacional),
Magno (Internacional) e Risada (Internacional); Nenê (Internacional), Marroni (Internacional), Mingo (Marechal de Ferro), Fagundes (Cruzeiro) e Pesce (Cruzeiro)*

Selecionado Negro:
Alegrete (Americano); Batilana e Juvenal; Gradim, Andrade (Concórdia) e Souza; Sapo, Miúdo, Malacara, Germano (Cruzeiro) e Walter (Americano)**

 * Atuou no Cruzeiro em 1930.
** Provavelmente seja o Walter do Americano, que atuava de lateral-esquerdo.

Vários dos atletas escalados no selecionado negro não compareceram, o mais conhecido deles Tupan (os demais a imprensa não cita os nomes). No selecionado branco, os gremistas Luiz Carvalho e Foguinho, escalados, não compareceram. O árbitro da partida foi Arlindo Haensel, do Internacional.

Após a preliminar, em que dois clubes varzeanos, Conquistador e Padeiral, empataram em 1x1, começou a partida principal, que teve predomínio do selecionado branco no 1º tempo, e do selecionado negro na 2ª etapa.

Logo no início do jogo, Marroni abriu o placar para o selecionado branco. Mingo marcou mais dois, e Fagundes fez 4x0 para a equipe branca. No final da 1ª etapa, Sapo descontou para o selecionado negro.

No 2º tempo, o predomínio do selecionado negro foi incontestável. Logo no 1º minuto, Germano diminuiu, fazendo mais um gol pouco depois. Em seguida, em uma cobrança de escanteio, Risada fez 5x3 para o selecionado branco. A seguir, apenas o selecionado negro jogou. Sapo, um dos destaques da partida, marcou dois gols, empatando o jogo. Malacara virou o placar e Miúdo deu números definitivos ao jogo: Selecionado Negro 7x5 Selecionado Branco.

Os jogadores do selecionado negro que aparecem sem clube provavelmente atuavam nas equipes da Associação de Amadores, das quais não possuo as escalações. A indisponibilidade do jornal A Federação no ano de 1930 impede que se possa buscar mais informações. Mas na temporada de 1931, dois atletas do selecionado negro ingressam na liga oficial: Batilana, que foi jogar no Marechal de Ferro, e Gradim, no Força e Luz. Juvenal e Souza já haviam atuado no Ypiranga, em 1929. Em 1931, ingressaram, respectivamente, no Força e Luz e Cruzeiro.

Em 12 de fevereiro de 1933, no campo do São José, ocorreria novo confronto entre os dois selecionados, dessa vez para arrecadar em favor de um atleta cego.

As equipes estavam assim formadas:

Selecionado Branco
Salamoni (Grêmio); Dario (Grêmio) e Ireno (São José); Mabília (Internacional), Russo (Cruzeiro) e Sardinha II (Grêmio); Lacy (Grêmio), Javel (Internacional), Luiz Luaz (Americano), Zanini (São José) e Nenê (Grêmio)

Selecionado Negro
Trololó; Jorge e Museu; Lagarto, Gradim (Força e Luz) e Waldemar (Porto Alegre); Agostinho (Concórdia), Segismundo (Americano), Tupan (Internacional), Germano (Porto Alegre) e Dirceu Alves (Americano)

No selecionado negro, Waldemar e Germano jogaram no Porto Alegre em 1932, mas não aparecem em clubes na temporada de 1933. Agostinho jogou no Concórdia em 1932, mas o clube fechou as portas no final do ano. No início de 1933 acabaria sofrendo uma lesão no joelho e só voltaria a jogar em 1934, pelo Porto Alegre. E Dirceu Alves foi o primeiro jogador reconhecidamente negro a atuar pelo Internacional, em 1928. Voltaria ao clube em 1936.

A Federação deu pouca importância a partida. Informa a escalação, o placar (Selecionado Branco 6x4) e os artilheiros, esquecendo um dos artilheiros do selecionado negro. Para o selecionado branco, marcaram Zanini (2), Sardinha II, Javel, Lacy e Luiz Luz. Para o selecionado negro, Tupan, Segismundo e Dirceu Alves.

Finalmente, em 5 de maio de 1942, a Federação Rio-Grandense de Desportos (FRGD) tomou a iniciativa de realizar um amistoso beneficente, em favor do ex-jogador Artigas. Infelizmente não existem jornais on-line disponíveis no período. Tenho apenas o resultado da partida, Selecionado Branco 6x2 Selecionado Negro.

Há ainda mais uma partida, que teria ocorrido em 1929. Essa partida foi citada por Agostinho, em entrevista ao jornal Diário de Notícias, em 2 de julho de 1954. Ele afirma que em 1929 ocorreu um amistoso entre as seleções da AMGEA e da AAF, com as seguintes equipes:

AMGEA (brancos): Léo; Miro e Luiz Luz; Ribeiro, Magno e Risada; Mocinho, Ross, Luiz Carvalho, Marroni II e Fagundes

AAF (negros): Alegrete; Octacílio e Bombeiro; Zezé, Vadico e Trajano; Agostinho, Segismundo, Tupan, Dinga e Jaguarão

Mocinho, segundo Agostinho, apesar de ser negro, jogou na seleção da AMGEA pois era atleta do Internacional. Também segundo Agostinho, foi a primeira vez que dirigentes e torcedores dos clubes principais da cidade viram os atletas negros em ação. Tupan abriu o placar para a AAF, Luiz Carvalho empatou, Jaguarão e Tupan fizeram 3x1 para a AAF, e Fagundes descontou, terminando a partida 3x2 para o selecionado negro.

Após o jogo, ainda em volta do gramado, os atletas negros começaram a ser assediados pelos clubes brancos. O Americano teria contratado Alegrete, Zezé e Segismundo. O Ruy Barbosa ficou com Octacílio, Vadico, Trajano e Jaguarão. O Concórdia teria levado Tupan e Agostinho. E o Força e Luz contratado Bombeiro e Dinga. Essa partida marcaria o fim da AAF, que perdia assim seus melhores jogadores.

Confesso que não encontrei essa partida em jornais de 1929. Também há detalhes que não fecham:

Alegrete já era goleiro do Americano desde 1927, ano em que ingressou no clube, vindo do Ruy Barbosa.
Octacílio já era atleta do Ruy Barbosa desde 1928.
Bombeiro só aparece em escalações do Ruy Barbosa (e não do Força e Luz) em 1930.
Vadico já era jogador do Ruy Barbosa em 1928.
Trajano só aparece em escalações do Ruy Barbosa em 1931.
Zezé realmente ingressou no Americano em 1929, mas havia atuado no Cruzeiro na temporada anterior. Em 1936 ingressaria no Internacional.
Agostinho realmente ingressou no Concórdia em 1929.
Segismundo só aparece no Americano em 1931.
Tupan já era atleta do Concórdia em 1928.
Dinga ingressa no Ruy Barbosa em 1929, indo para o Força e Luz apenas em 1931.
Jaguarão já jogava no Ruy Barbosa em 1928.

Teria a partida ocorrido em 1928? Também não localizei essa partida no jornal A Federação. Teria ocorrido em 1930, antes da partida que o selecionado branco venceu por 2x0? É possível, mas não marcou o fim da AAF, que continuou em ação pelo menos até 1932, e nem representou a saída dos atletas da entidade para a AMGEA, pois vimos que alguns já haviam ingressado na entidade oficial antes, outros um tempo depois. Creio que Agostinho tenha se confundido, em suas memórias, misturando as partidas ocorridas nos anos 1930.

Mas certamente esses amistosos deram destaque à qualidade dos jogadores negros. Mesmo os que já estavam atuando na AMGEA tiveram oportunidade de jogar nos principais clubes da entidade, como o Internacional, Cruzeiro, Americano e Porto Alegre (o Grêmio, na época, não contratava jogadores negros).

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Jogadores do passado - Beliato


Em 21 de maio de 1950, nascia em São Paulo o menino João Augusto Beliato, que tornaria-se, no mundo do futebol, o zagueiro Beliato.

Em 1967, Beliato começou a carreira no Fluminense de Araguari, interior de Minas. Em 1970 jogou no Ypiranga de São Paulo, retornando no mesmo ano ao clube mineiro. Em 1971, surgia uma grande oportunidade, era contratado pelo Palmeiras. O Verdão paulista tinha uma zaga formada por Luís Pereira e Alfredo, e Beliato disputou apenas uma partida em sua passagem pelo clube. Mas fez parte do grupo campeão brasileiro em 1972.

Em 1973, buscando espaço, Beliato pediu para ser negociado e transferiu-se para o Náutico, onde faria história como um dos grandes zagueiros do clube, embora só tenha vencido o campeonato estadual de 1974.

Em 1977, o Internacional enfrentava problemas para substituir Figueroa. Marião, contratado junto ao Operário MS, fracassou. E em maio de 1977 o Internacional contratava Beliato, pagando Cr$ 1.600.000,00 (US$ 151.660,00, pela cotação da época), mais o passe de Chico Fraga e o empréstimo de Marião.

No Colorado, Beliato estreou em 25 de maio de 1977, pouco depois de completar 27 anos de idade. O Internacional enfrentava o Coloradinho de Santa Maria, no Beira-Rio, pelo Gauchão, e usou uma equipe mista. Beliato formou dupla de zaga com Marinho Peres, na vitória colorada por 3x0. Na temporada de 1977, Beliato ficou na reserva, mas começou o ano de 1978 como titular. Mas em agosto, depois do fim do campeonato brasileiro, ele perdeu a titularidade. Paulo Marcos, João Carlos, André Luiz e Larry revezavam-se na posição. Mesmo assim, Beliato participou da campanha do título gaúcho, disputando a final contra o Grêmio.

No começo da temporada de 1979, novamente Beliato começou como titular, mas com a contratação de Mauro Pastor e a subida de Mauro Galvão para o time principal, perdeu espaço. Mas participou da campanha do tri brasileiro invicto.

Em 1980, Beliato mal começou o ano no clube. Sua última partida ocorreu em 10 de fevereiro de 1980, um amistoso onde o Colorado foi derrotado por 3x1 pelo Bahia, na Fonte Nova.

Depois de uma rápida passagem pelo Náutico, Beliato transferiu-se para o Pinheiro, ainda em 1980. No clube paranaense, encerrou a carreira, em 1981.

Pelo Internacional, disputou 115 partidas e marcou três gols, em 14 de julho de 1977 (3x0 Novo Hamburgo) e em 11 de abril de 1979 (6x0 Cachoeira), ambas as partidas no Beira-Rio, pelo Gauchão, e em 05.03.1978 (5x0 Ipiranga FW), um amistoso, em Frederico Westphalen.

Títulos da carreira:
campeão brasileiro em 1972 (Palmeiras) e 1979 (Internacional)
campeão gaúcho em 1978 (Internacional)
campeão pernambucano em 1974 (Náutico)
campeão do Torneio Triangular Cidade de Viña del Mar em 1978 (Internacional)

terça-feira, 19 de maio de 2020

A adoção do profissionalismo no futebol em Porto Alegre e no Internacional



O futebol na capital gaúcha, como em quase todo o mundo, surgiu amador. Pessoas dispostas a praticar o esporte reuniam-se e fundavam clubes para jogar. Aos poucos, porém, a competitividade começou a dar espaço para que atletas qualificados, mas sem condições de dedicarem-se ao futebol de forma amadorística, começassem a receber "ajudas" para jogar, que aos poucos tornaram-se pagamentos regulares, até oficializar-se o profissionalismo.
Ainda em 1917, antes do futebol na capital chegar ao seu décimo torneio, os clubes já demonstravam preocupação com o profissionalismo. A Federação Sportiva Riograndense (FSR), que comandava o futebol porto alegrense, no dia 13 de fevereiro de 1917 aprovou a Lei do Estágio, pela qual um atleta só poderia atuar no campeonato se já residisse na cidade a pelo menos 30 dias antes da partida. No dia 2 de abril, por iniciativa do Cruzeiro, a lei foi ampliada: jogadores estrangeiros só poderia atuar em partidas oficiais se tivessem pelo menos um ano de residência em Porto Alegre. O Grêmio, que havia acabado de receber três atletas uruguaios, sentiu-se prejudicado e abandonou a federação, ficando um ano sem disputar partidas oficiais. Aurélio Py, dirigente gremista que era o presidente da FSR, renunciou ao cargo.

A existência de várias ligas na capital possibilitava o assédio dos clubes da liga principal aos melhores atletas de outras ligas. Em julho de 1919, a Federação Porto Alegrense de Foot-Ball (FPAF) acusou a Associação Porto Alegrense de Desportos (APAD, que era a entidade principal da cidade) de profissionalismo, permitindo que seus clubes aliciassem atletas das entidades filiadas à Federação. Lewis, do Americano, e Soló, do Municipal, se transferiram para o Grêmio com os campeonatos das duas associações em andamento. (1)

Outro aspecto da Lei do Estágio é que, em caso de um jogador trocar de clube dentro da liga, precisaria ficar seis meses sem disputar partidas oficiais. Em 1920, Poly e Costa, atletas do Porto Alegre, ingressaram no Grêmio, que pretendia utilizá-los em jogos oficiais. A Federação Riograndense de Desportos (FRGD), entidade estadual, presidida pelo gremista Aurélio Py passou por cima da APAD e autorizou o Tricolor a utilizá-los. A APAD não aceitou a interferência e puniu o Grêmio com a perda de pontos em uma partida de 2º quadros, onde Costa havia atuado. A FRGD desfiliou a APAD, substituindo-a pela Associação Porto Alegrense de Football (APAF), criada pelo Grêmio.

Na década de 1920, o chamado "profissionalismo marrom" tornava-se cada vez mais comum. Em 26 de maio de 1925, a APAD decidiu tira o ponto do Internacional no empate em 3x3 no Gre-Nal de 25 de maio, sob a alegação de que o zagueiro colorado Grant residia em Canoas e seria profissional. Em 16 de junho, porém, o Conselho da APAD aceitou os argumentos da defesa colorada, de que Grant tinha residência em Canoas e Porto Alegre, e que trabalhava no comércio da capital, jogando de forma amadora. Por 3 votos a 1, o clube recebeu o ponto de volta.

Em 14 de maio de 1927, o Porto Alegre pediu a abertura de um inquérito para investigar as acusações de que Luiz Carvalho, atacante gremista, seria profissional, mas por 3 votos a 2, o Conselho da APAD negou o pedido. Outro atleta que despertava suspeitas de profissionalismo era o atacante uruguaio Ross, que jogava no Internacional. Ele chegou ao clube no início de 1927, já tendo em seu currículo a expulsão da liga de Cachoeira do Sul, em 1925, por acusação de profissionalismo. A mesma acusação marcaria sua passagem pelo futebol passo-fundense, em 1926. Moeller, goleiro que trocou o Novo Hamburgo pelo Internacional, também foi suspeito de profissionalismo. 

O ano de 1928 ficaria marcado por várias atitudes que demonstravam claramente uma discordância entre o discurso amadorista dos cartolas e a prática de pagamento de atletas. O Porto Alegre anunciava a formação de um esquadrão para disputar o campeonato. Tirou o goleiro Lara, Adroaldo e Nenê, do Grêmio, trouxe Risada do Guarany de Cruz Alta, Ernesto Delvaux do 14 de Julho de Passo Fundo  e chegou a sonhar com Araken, do Santos. O Cruzeiro reforçou-se com Javel, do Gaúcho de Passo Fundo. E o Grêmio tirou Moeller do Internacional, para substituir o lendário Lara. Ainda ocorreria uma polêmica transferência de Fagundes do Americano para o Cruzeiro.

No Internacional, no ano de 1928 uma grave crise interna surgiu entre a ala comandada por Antenor Lemos, defensor de um amadorismo puro, e outra que passou a ser liderada por Ildo Meneghetti, que já projetava uma transição para o profissionalismo. A disputa refletiu-se no campo, onde o clube teve vários reveses. Em meio à crise política, a iminência da perda do campo da Chácara dos Eucaliptos teria levado inclusive a Antenor Lemos propor o fechamento do clube. Alguns sócios chegaram a abandonar o clube, mas o grupo de Meneghetti conseguiu o controle da instituição. Os sócios que haviam saído regressaram e o clube intensificou a busca por jogadores que recebiam para atuar, como Dirceu Alves, o primeiro atleta reconhecidamente negro a atuar no Internacional.

Ainda em 1928, a APAD tentou reforçar o combate ao profissionalismo. Em 16 de julho, alterou a Lei do Estágio, ampliando para um ano o período em que um jogador que trocasse de clube teria que ficar disputando apenas amistosos. A Lei do Estágio oporia novamente duas lideranças coloradas: Ildo Meneghetti, então presidente do clube, e contrário à lei, e Antenor Lemos, presidente da FRGD, e defensor da lei. Por iniciativa colorada, os principais clubes da cidade abandonaram a APAD e fundaram a Associação Metropolitana Gaúcha de Esportes Atléticos (AMGEA), que aboliu a Lei do Estágio. A briga entre os dois dirigentes chegou ao ponto da Assembleia Geral do Internacional, em 23 de novembro de 1929, declarar Antenor Lemos o "maior inimigo que o clube jamais teve".

No início dos anos 1930, o profissionalismo "disfarçado" espalhou-se pelos clubes. Atletas da comunidade negra eram contratados por Americano, Concórdia, Porto Alegre e Internacional. O Colorado contratou Venenoso, atacante do Ideal de Pelotas, e Tupan, que já havia jogado no Concórdia e no Porto Alegre.

Em 1931, o futebol tornou-se oficialmente profissional na Argentina. No ano seguinte, no Uruguai. Em 1933 o futebol tornou-se oficialmente profissional em São Paulo e no Rio de Janeiro. O assédio dos clubes dessas praças sobre os atletas porto alegrenses começava a preocupar.

Em 1932, o Nacional de Montevidéu tentou levar Félix Magno e Pereira do Internacional. Em 1934, o Flamengo levou Alfredo Delvaux e tentou levar Javel, do Internacional. No mesmo ano, depois da Copa do Mundo, o Peñarol tentou levar o zagueiro Luiz Luz, do Americano. Em 1935, o Boca Juniors queria o zagueiro colorado Natal. Em 1936, o Flamengo ofereceu um salário de 500$000 e luvas de 6:000$000 (dois contos já ao assinar o contrato) para Natal, que só permaneceu no clube porque o Internacional ofereceu a seu zagueiro uma casa de 8:000$000. O Flamengo também tentaria a contratação de Luiz Luz, já no Grêmio, mas acabaria levando mesmo Natal, no início de 1937.

Mas a essa altura, mesmo em Porto Alegre, salários e valores de contratações não eram mais escondidos, embora as relações ainda fossem diferentes das atuais. Em abril de 1936, o Juventude pediu ao Internacional a devolução do passe de Florentino Severo, pelo qual o Colorado pagou 950$000.

Em 29 de abril de 1937, em um regime ainda oficialmente amador, o Internacional estabeleceu multas para jogadores que faltassem a treinos: 10$000 por falta para quem ganhava até 300$000, e 20$000 por falta para quem ganhava mais de 300$000.

Em fevereiro de 1937, os clubes paulistas profissionais iniciam tratativas com a CBD, amadora, para a pacificação do futebol brasileiro. Mas no Rio Grande do Sul a situação iria esquentar. Em abril de 1937, a dupla Fla-Flu convidou a dupla Gre-Nal a aderir ao futebol especializado (profissional) (2). Em maio, o presidente colorado viajou ao Rio de Janeiro, e os boatos de que a dupla Gre-Nal iria se profissionalizar aumentam, assim como declarações de cartolas colorados, como Milton Soares (presidente em 1936) e Edelberto Mendonça (presidente em 1927), ameaçando abandonarem suas carreiras esportivas, caso o clube adotasse o profissionalismo. No dia 14, o presidente colorado Iracy Salgado Freire, deu uma entrevista à Federação, desconversando sobre o assunto. (3)

As negociações prosseguiram, porém, graças à iniciativa de Luiz Pinto Chaves Barcellos. As 13 horas do dia 23 de junho, no escritório comercial da firma Chaves Barcellos e Cia. Ltda, Internacional e Grêmio assinaram sua adesão ao futebol especializado, em um convênio com a liga carioca e a Federação Brasileira de Futebol (FBF). (4) No mesmo dia, Cruzeiro, São José e Força e Luz aderiram ao futebol especializado.

A AMGEA, que organizava o campeonato da cidade, ficou dividida. Cinco clubes aderiram ao profissionalismo, mas dois (Americano e Porto Alegre) permaneceram fieis ao amadorismo. O campeonato, já em andamento, foi cancelado, e dois novos campeonatos foram organizados, pela AMGEA "especializada" e pela AMGEA "cebedense", que foi reforçada pelo Villa Nova, pelo Renner e pelo Novo Hamburgo.

Em 28 de junho de 1937, um grupo de conselheiros, descontentes com a adesão do clube ao futebol profissional, renunciou aos seus cargos. Eram eles Luiz Azevedo Júnior, Gomercindo Barcelos, Luiz Azevedo Maia, Luiz Sales, Pedro Moreira, Miguel Genta, Manoel Carriconde, Jarbas de Lorenzi Costa e Jorge Portela. De forma isolada, em um ofício menos duro do que o produzido pelos demais conselheiros, também renunciou o conselheiro Átila do Amaral. No dia 7 de julho de 1937, Miguel Genta seria eleito 1º vice-presidente da AMGEA “cebedense”. Mais tarde, a maioria destes dissidentes voltariam ao clube. Miguel Genta seria presidente do Internacional em 1941, e Milton Soares em 1942 e 1950.

A primeira partida oficialmente profissional da cidade ocorreu em 11 de julho de 1937, na abertura do campeonato, entre Internacional e Força e Luz, na Timbaúva. O Internacional venceu por 5x2, mas Elesbão, do Força e Luz, teve a honra de marcar o primeiro gol profissional de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul.

O futebol gaúcho ficou dividido por duas temporadas, mas aos poucos clubes e ligas do interior iam aderindo ao profissionalismo. Em 1939, a FRGD decidiu reconhecer o profissionalismo, aceitando no campeonato estadual clubes amadores e profissionais. Na capital, a AMGEA voltou a ser uma única entidade. Em 1941, a FBF foi extinta e seus clubes voltaram a fazer parte da CBD. No ano seguinte, a FRGD criou campeonatos distintos para amadores e profissionais. mas as polêmicas continuariam.

Entre os clubes da capital, o Grêmio teve dificuldades de adaptar-se ao profissionalismo. Em janeiro de 1940, o clube anunciou que pretendia reduzir o número de atletas e chegou a divulgar que ficaria apenas com onze jogadores. Em 1941, o clube tentou encabeçar um movimento de retorno ao amadorismo, que não teve apoio nas demais entidades. No final de 1941, o Grêmio acusou o jogador colorado Ary, que disputou a final do campeonato municipal de amadores, de ser profissional, por ter atuado nessa categoria pelo Bancário de Pelotas.

Um novo movimento de retorno ao amadorismo foi tentado por alguns dirigentes gremistas, quando o clube anunciou a contratação de Tesourinha, em 1952, seu primeiro atleta reconhecidamente negro. Mas dessa vez não conseguiu ter apoio significativo nem dentro do clube.

O profissionalismo tornou o futebol mais competitivo e permitiu a atletas das camadas baixas da sociedade praticarem o esporte e saírem do anonimato. Nomes como Leônidas e Domingos da Guia, no futebol nacional, e Tupan e Tesourinha, no futebol gaúcho, foram possíveis apenas graças ao profissionalismo. Por outro lado, o profissionalismo decretou o fim das ligas e clubes operários e da comunidade negra.

(1) Correio do Povo, 30 de julho de 1919, p. 2.
(2) Correio do Povo, 27 de abril de 1937, p. 14; Correio do Povo, 30 de abril de 1937, p. 17.
(3) A Federação, 15 de maio de 1937, p. 4.
(4) A Federação, 24 de junho de 1937, p. 4.

Para quem gosta do assunto, indico três livros que tratam, entre outros assuntos, da profissionalização do futebol e da inserção das camadas populares no mesmo, na Inglaterra e no Rio de Janeiro.

MURRAY, Bill. Uma história do futebol. São Paulo, Hedra, 2000.
PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. Footballmania: uma história social do futebol no Rio de Janeiro, 1902-1938. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2000.
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da; SANTOS, Ricardo Pinto dos (org.). Memória social dos esportes: futebol e política, a construção de uma identidade nacional. Rio de Janeiro, Mauad/FAPERJ, 2006.

sábado, 16 de maio de 2020

HISTÓRIA - O dia em que o Grêmio sentou em campo


Vinte e dois de agosto de 1948. Nos Eucaliptos enfrentavam-se Internacional e Grêmio, em mais um Gre-Nal. A partida valia pela última rodada do 1º turno do campeonato municipal. O Colorado liderava o campeonato com 9 pontos e o Grêmio estava em 3º (6), atrás também do Cruzeiro (7). A derrota do Cruzeiro, no dia anterior, motivou os gremistas, que em caso de vitória voltariam à briga pelo título. Por outro lado, uma derrota deixaria o Grêmio em 4º, pois o Renner, também jogando no sábado, 21, venceu e chegou aos 7 pontos.

A partida começou agitada. Logo aos 6', Geada passou para Hermes, que chutou de longe, vencendo o grande goleiro Ivo. Grêmio 1x0. Mas aos 18'a alegria gremista diminuiu. Leônidas, Villalba e Elizeu trocaram passes na defensiva gremista, e este último chutou no ângulo direito, empatando a partida.

O Internacional passou a pressionar em busca da vitória. Aos 25', Leônidas livrou-se da marcação de Danton e chutou para as redes: Internacional 2x1! O Grêmio reagiu ainda no 1º tempo. Aos 37', Teotônio cobrou escanteio, Geada pulou mais alto que Nena e cabeceou para as redes, empatando novamente a partida.

Logo no início do 2º tempo, porém, Elizeu cruzou e Adãozinho cabeceou com força para marcar: Internacional 3x2.

E aos 25', ocorreria o lance polêmico do jogo. Touguinha chutou de fora da área, a bola bateu no pé de Abigail, subiu e bateu na mão do lateral colorado. O juiz José Carvalho marcou pênalti, mas os jogadores colorados o cercaram, mostrando que o bandeirinha havia marcado irregularidade no lance. O juiz consultou o auxiliar Ivo Tavares, que confirmou ter marcado impedimento de Hermes na jogada. O juiz, corretamente, anulou a marcação, mas os gremistas se revoltaram. Indignados, sentaram no gramado dos Eucaliptos, impedindo que a partida continuasse. Apenas o goleiro Júlio, ex-jogador do próprio Internacional, queria continuar a partida e chorou de vergonha com a atitude de seus companheiros.

A direção gremista tentou anular a partida. Ao perceber que não conseguiria reverter a decisão do juiz, tentou marcar uma data para que fossem disputados os 20 minutos restantes. Mas em 11 de setembro de 1948, a FRGD considerou a conduta dos jogadores gremistas irregular e confirmou a vitória colorada por 5 votos a 2.

No 2º turno, o Internacional iria aumentar a diferença. Na última rodada do returno, já campeão, venceu o Gre-Nal por 7x0. O Colorado terminou o campeonato 9 pontos na frente do Grêmio.

Futebol em Porto Alegre - Capítulo VII - 1931-1935

Em 1931, a cidade passou a contar com seu primeiro "stadium" de fato, o Eucaliptos, inaugurado em 15 de março, na vitória colorada por 3x0 sobre o Grêmio, três gols de Javel.

Também em março de 1931 foi fundada a Liga Atlética Porto Alegrense (LAPA), pelos clubes Furão, Parahyba e Universal. Pouco depois, Athlético Porto-Alegrense e Fluminense filiaram-se à nova entidade.

Para o campeonato de 1931 os clubes começaram a se reforçar cedo. João Totte retornou ao Americano. O clube também contratou Waldomiro Zanini (ex-Bancário), Ary Bicca (ex-Guarany de Alegrete), Juvenal Gonçalves (ex-Floresta SM), Costa (ex-Ypiranga), Bueno (ex-Marechal de Ferro), Reginato (vindo dos juvenis do Concórdia), Edmundo (vindo do 2º quadro do Cruzeiro) e Dirceu Alves (que já havia atuado no Internacional). Lourival Zanini chegou a ser inscrito simultaneamente pelo Internacional e Bancário, ficando com este último. O Força e Luz contratou Ferreira (ex-Cruzeiro), Elpídio e Luizelli (ambos ex-Internacional). Tupan, que mais tarde viria a brilhar no Internacional, jogava pelo Concórdia.

São José e Porto Alegre ingressaram na AMGEA já com o campeonato municipal em andamento. A entidade decidiu marcar uma melhor-de-três entre as duas equipes. A vencedora poderia enfrentar o vice-campeão do campeonato municipal, e caso vencesse, jogar contra o campeão, pelo título da cidade. Mas este cruzamento com o vice e campeão da AMGEA nunca ocorreu.

No dia 30 de agosto de 1931 enfrentaram-se Grêmio e Americano, pelo campeonato municipal. Aos 30' do 2º tempo a partida foi interrompida por um conflito entre os jogadores. A partida vinha sendo marcada por lances violentos e Coró já havia dado duas entradas maldosas no goleiro Alegrete. Ao repetir essa jogada, entrando de sola no goleiro, Alegrete reagiu, acertando algumas bofetadas no gremista. Outros jogadores entraram na briga, que durou alguns minutos. Após a confusão acalmar-se, Lara acertou um soco em Alegrete. Mesmo assim, o tempo restante do jogo foi disputado. No dia 02 de setembro de 1931 a AMGEA decidiu punir apenas o goleiro Alegrete pelas confusões ocorridas. No da 3 de setembro o jonal A Federação demonstra estranheza com a ausência de punição para Coró e Lara e mesmo para outros atletas envolvidos na confusão.1 No mesmo dia, o Americano divulgou uma nota questionando a punição exclusiva de seu goleiro, denunciando que a não punição dos gremistas era em virtude do Tricolor estar na vice-liderança do campeonato e dificilmente chegaria ao título com os desfalques, e anunciando que pedia licença da AMGEA por tempo indeterminado.

Em 28 de setembro de 1931, a AMGEA discutiu a necessidade de se encerrar o campeonato municipal antes de dezembro, faltando ainda o 2º turno a ser jogado. Ildo Meneghetti chegou a propor que fosse realizado um único jogo, um Gre-Nal, para decidir o título. Grêmio e Cruzeiro propuseram que o 2º turno fosse disputado apenas por 5 clubes (o 1º turno teve 9 equipes). Ildo Meneghetti apresenta nova proposta, que acabou aprovada: o 2º turno seria disputado por 8 clubes, com 4 jogos por fim de semana.

O Grêmio conseguiu reverter a situação no campeonato da AMGEA, e ficou com o título. Na AAF, o 8 de Setembro levou a taça. Desconheço o campeão da LAPA.

Os campeonatos de 1931 estavam assim formados:
AMGEA
Internacional, Grêmio, Americano, Bancário, Cruzeiro, Concórdia, Força e Luz, Marechal de Ferro e Ruy Barbosa.
LAPA
Furão, Parahyba, Universal, Luzitano, Athlético Porto-Alegrense e Fluminense.
AAF
8 de Setembro e Bento Gonçalves, entre outros.

Em 1932 a AMGEA decidiu criar uma divisão de acesso, classificando os clubes em Série A e B. A Série A seria composta por Internacional, Grêmio, Cruzeiro, Americano, Porto Alegre e São José, e na Série B ficariam Marechal de Ferro, Concórdia, Ruy Barbosa e Força e Luz. O Marechal de Ferro desistiu logo de disputar o campeonato. Ruy Barbosa e Concórdia resolveram pedir licença da AMGEA e fechar seus departamentos de futebol, às vésperas do início do campeonato. Ambos consideravam que suas boas participações nos campeonatos anteriores deveriam garantir suas presenças na divisão principal.

Para a temporada de 1932 o Cruzeiro contratou Russo (ex-Grêmio, campeão gaúcho em 1931), Baptista (goleiro que veio de Alegrete), Luiz Luz (ex-Americano), Araújo (ex-América RJ, campeão carioca em 1931) e Bortegaray (atacante, ex-Juventude de Caxias do Sul). O Americano preparou-se para o campeonato contratando Ivo (ponteiro que veio de Pelotas), Joãozinho (ex- Vasco da Gama RJ) e Rancho (meia, ex-Ruy Barbosa).

Na AMGEA, o Grêmio conquistou o campeonato. O Força e Luz, único inscrito na Série B, foi declarado campeão. Na disputa do acesso, porém, o Força e Luz foi derrotado pelo São José, último colocado da Série A. Desconheço o campeão da AAF, que provavelmente organizou seu último campeonato.

Os campeonatos de 1932 estavam assim formados:
AMGEA
Série A: Internacional, Grêmio, Americano, Cruzeiro, Porto Alegre e São José.
Série B: Força e Luz.
AAF
8 de Setembro, Bento Gonçalves, Operário, Palmeira e Pelotas, entre outros.

No Torneio Início de 1933, vários clubes apresentaram seus novos atletas. O Internacional apresntou Venenoso (ex-Ideal de Pelotas), Tupan (ex-Porto Alegre), Mabília (ex-São José) e Cavaco. O Grêmio teve como novidade o goleiro Leal (ex-Americano). O Americano teve Barbosa e Lourival (ex-Internacional). O Porto Alegre estreou Folhinha, Jamegão, Viola, França, Amâncio e Mesquita. No Cruzeiro, Gonçalves, Hermínio, Vanário e Rotfuchs foram as novidades. No São José estreou Bavu e no Força e Luz, o zagueiro Faéco.

A temporada teve uma nota triste. Em 24 de abril de 1933, Ramiro Marroni, ex-atleta do Cruzeiro, foi assassinado com um tiro, ao reclamar com um vizinho a agressão sofrida por seu irmão. Um dia antes, Ramiro havia apitado a partida Grêmio 2x0 Americano, pelo campeonato municipal.

Também uma nova liga passa a organizar campeonatos na cidade, a Associação Porto Alegrense de Futebol.

Na AMGEA, o Grêmio venceu a competição. Na APAF, o Carioca ficou com a taça.

Os campeonatos de 1933 estavam assim formados:
AMGEA
Internacional, Grêmio, Americano, Cruzeiro, Porto Alegre e São José.
APAF
Carioca, Gaúcho, Nonohay, Ruy Barbosa, Sokol e Ypiranga.

Em 1934, o Internacional pretendia retomar a hegemonia municipal. Entre suas contratações, destacava-se Darcy Encarnação, atacante campeão gaúcho pelo São Paulo de Rio Grande, no ano anterior. Também chegaram o lateral-esquerdo Lewy (ex-14 de Julho de Santana do Livramento), o centromédio Poroto (ex-Grêmio), e o zagueiro Natal, que seria comparado a Domingos da Guia.

Mesmo assim, o clube ainda enfrentou uma crise. Em 24 de maio de 1934, o major Santiago Borba renunciou ao cargo de presidente do Internacional, alegando ter tido muitos gastos com o clube. Foi substituído por Ildo Meneghetti. Também enfrentou o assédio do Flamengo, que levou o jogador Alfredo Delvaux. O futebol carioca era oficialmente profissional desde o ano anterior, enquanto no Rio Grande do Sul predominava o amadorismo, com pagamentos extra-oficiais.

Um destaque para o campeonato da cidade foi o zagueiro Luiz Luz,  do Americano, convocado para a Copa do Mundo. E com o fim da Série B, o Força e Luz foi incorporado ao campeonato.

No segundo semestre de 1934, surgiu na zona sul da cidade a Associação Tristezense de Esportes Atléticos (ATEA), enquanto a APAF continuava em atividade. Na ATEA, um conhecido jogador seria motivo de polêmica: Javel. O atacante que já havia atuado na dupla Gre-Nal, em 1934 havia sido inscrito por Internacional e Grêmio no campeonato da AMGEA. A confusão piorou quando ele foi para o Rio de Janeiro, acertar com o Flamengo. Não se concretizando a transferência para o futebol carioca, Javel ingressou no Botafogo da Tristeza. Mas disputou apenas uma partida, pois foi acusado de profissionalismo e expulso da liga, enquanto o Botafogo perdeu os pontos da partida.

No final da temporada, o Internacional venceu o campeonato da AMGEA, o Ypiranga venceu o torneio da APAF e o Rondon sagrou-se campeão na ATEA.

Os campeonatos de 1934 estavam assim formados:
AMGEA
Internacional, Grêmio, Americano, Cruzeiro, Porto Alegre, São José e Força e Luz.
APAF
Carioca, Ruy Barbosa, Ypiranga e Municipal, entre outros.
ATEA
Rondon, Castelo, Botafogo, Tristezense, Villa Nova, Aberta dos Morros e 1º de Junho.

A temporada de 1935 seria a última do histórico goleiro gremista Eurico Lara doente do coração,

O campeonato também teve outros momentos trágicos. Em 2 de julho de 1935, na partida Força e Luz 2x1 Porto Alegre, o jogador Walter Costa (Porto Alegre) quebrou a perna em um choque com um adversário.

Em 28 de julho, ocorreu o Gre-Nal do 1º turno. O Internacional vencia por 1x0 quando, no final da partida, um avião deu um rasante no gramado dos Eucaliptos. Avião ainda era uma novidade na época, e torcedores e jogadores distraíram-se com o aparelho barulhento, menos o atacante gremista Castillo, que pegou a bola, correu para o gol colorado e empatou a partida.

Em 25 de agosto de 1935, Michelena, atleta do Americano, foi expulso, na partida contra o Internacional, por ofender o juiz Celso Albert. Após a expulsão, o jogador agrediu o árbitro a bofetadas. Dias depois a AMGEA suspendeu o jogador por seis meses.

Em 12 de outubro de 1935, o Americano assinou um acordo com a Federação de Estudantes Universitários de Porto Alegre, tornando-se Americano-Universitário. Pelo acordo, o clube passaria a ser representado, em todos os esportes, por universitários, e na falta destes, por alunos de outros segmentos, escolhidos pela Federação.

Em 22 de setembro de 1935 ocorreu o Gre-Nal do 2º turno, na Baixada. O Internacional jogava pelo empate, para conquistar o bicampeonato. Preocupado, o Grêmio escalou Lara, que estava acamado. No 1º tempo, o Internacional exerceu forte pressão, mas Lara salvou o Tricolor. Sem condições de saúde para continuar jogando, Lara foi substituído no intervalo. Na 2ª etapa, o Internacional continuou dominando a partida, mas aos 37' do 2º tempo, o Grêmio abriu o placar. O Colorado jogou-se ao ataque, buscando o empate, mas o Grêmio marcou mais um, aos 39', conquistando o título.

A nota triste da temporada foi o falecimento de Eurico Lara, em 6 de novembro de 1935, menos de dois meses depois de sua última partida pelo Grêmio. Uma multidão acompanhou o funeral.

Nas outras ligas, o castelo venceu o campeonato da ATEA. A APAF organizou seu campeonato, mas desconheço se chegou ao final.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Jogadores do passado - Schneider


Em 15 de maio de 1948, nascia em Montenegro o menino Luís Carlos Schneider, que ficaria conhecido no meio futebolístico como o goleiro Schneider.

Schneider começou a jogar em equipes amadoras de Montenegro. Em 1965 chegou ao Internacional. Sua estreia ocorreu em 20.03.1966, em um amistoso contra o Juventude, nos Eucaliptos. O Colorado perdeu por 2x1, em partida que estreava também o centroavante Claudiomiro.

Nas temporadas de 1966 e 1967, Schneider jogou pouco, na reserva de Gainete. Em julho de 1968, porém, em uma excursão ao interior de São Paulo, Schneider ganhou a titularidade, ao substituir Gainete em um amistoso contra o Andradina. Antes disso, já havia defendido o gol colorado no Torneio Imprensa, em janeiro de 1968, quando o clube foi campeão, enfrentando Flamengo de Caxias do Sul e Juventude. Em novembro, porém, Gainete recuperou a posição.

Na temporada de 1969, embora na reserva, Schneider jogou várias partidas. Na temporada de 1970, perdeu espaço para Valdir, que tornou-se a primeira opção ao titular Gainete. Em 1971, Valdir jogou os três primeiros meses como titular. A seguir, Gainete voltou ao gol. Schneider pouco jogou, tendo a concorrência de Rafael. Mesmo assim, ganhou a posição na reta final do campeonato brasileiro de 1971, na estreia de Figueroa, em 01.12.1971, na vitória de 3x0 sobre o Vasco da Gama, no Beira-Rio.

Schneider foi o titular por toda a temporada de 1972 e boa parte de 1973. Em 22.01.19972, ppela Copa Cidade de Bogotá, o Internacional enfrentava o Millonarios, perdendo por 1x0. Mas Schneider defendeu um pênalti cobrado por Villano. Em 26.03.1972, ocorreu um Gre-Nal comemorativo do bicentenário da capital gaúcha. Após o empate em 0x0 no tempo normal e na prorrogação, os dois clubes foram decidir a Taça Bicentenário da Fundação de Porto Alegre nos pênaltis. O Colorado venceu por 5x4, graças a Schneider, que defendeu a cobrança de Gaspar. Em novembro de 1973, Rafael ganhou a posição, mantendo-a até o final do campeonato brasileiro, em fevereiro do ano seguinte.

Schneider retomou a vaga no Brasileiro de 1974, que começou em março. Em 13.03.1974, o Internacional enfrentava o Avaí, em Florianópolis. Um minuto após o Colorado virar a partida para 2x1, o juiz marcou pênalti para os catarinenses. Zenon cobrou e Schneider defendeu, garantindo a vitória colorada. Foi o titular até 21.07.1974, no empate em 1x1 com o Cruzeiro, pelo Quadrangular Final do campeonato brasileiro, no Beira-Rio. Na partida seguinte estreava Manga.

Com Manga no gol, Schneider passou a ter cada vez menos oportunidades. Com a saída de Manga, em 1977, o paraguaio Benítez tomou conta do gol. Schneider não jogou nenhuma partida.

Em 1978, Benítez foi emprestado ao Palmeiras, mas Gasperin e Bagatini passaram a brigar pela posição. Mas Schneider ainda teria uma oportunidade de defender o gol colorado. Em 14.02.1978, o Internacional decidia o Torneio Triangular Cidade de Viña del Mar contra o Everton, do Chile. O Colorado abriu o marcador no início da partida e suportava uma pressão fortíssima. O governo chileno queria o título do torneio para o Chile, e o juiz Juan Silvagno se esforçava para auxiliar os donos da casa. Luisinho, centroavante colorado, foi expulso no início do 2º tempo. Aos 38', o juiz inventou um pênalti para os chilenos, mas Gasperin defendeu. Pouco depois, o juiz expulsou o goleiro Gasperin e o zagueiro Beliato, enquanto a torcida jogava objetos nos colorados e os "carabineros" tentavam intimidar os jogadores brasileiros. Nesse clima, Schneider ingressou no time, e fechou o gol colorado, em uma partida que foi até os 56' do 2º tempo. Foi a última partida de Schneider no gol colorado, e com mais uma taça. Curiosamente, o técnico colorado nessa partida era Carlos Gainete, o mesmo que durante anos disputou a posição com Schneider.

Ainda no ano de 1978, sem espaço no time e sofrendo com seguidas fraturas nos dedos, Schneider abandonou a carreira, aos 30 anos, tornando-se treinado de goleiros do clube. Entre os goleiros que formou, destacaram-se Gilmar e Taffarel.

Em 01.12.1999, em Porto Alegre, Schneider faleceu de câncer, aos 51 anos de idade.

Guia do Campeonato Municipal de 1913



Atualmente, é muito comum a publicação de guias das competições esportivas: campeonatos estaduais, brasileiro, Libertadores, torneios europeus, etc. Mas no início do século XX, quando o futebol começava a se implantar no país, isso não existia.

O "Guia" do Campeonato Municipal de 1913, evidentemente, não era um verdadeiro guia, apenas uma matéria publicada no jornal A Federação em 12 de maio de 1913, falando sobre os clubes que disputariam o torneio. O jornal prometia inclusive a publicar mais detalhes sobre os participantes, nas edições seguintes, o que não ocorreu.

Mas vamos à matéria em questão (manteve-se a escrita original):

"Está marcado, para o próximo domingo de junho, o 1º match da Liga Porto Alegrense.

Apezar de não estar tão bem constituída como em annos passados, a liga tem bons elementos que farão todo o esforço para que as provas sejam bastante disputadas.

Como se sabe, occupa actualmente o Gremio de Foot-Ball Porto Alegrense, o logar de campeão.

Pelo que dizem os seus mais enthusiastas socios, parece que as taças continuarão em poder do gremio ainda este anno.

Segue-se lhe a S.C. Internacional, que com afinco prepara seus teams "para dar um golpe de mestre em alguem" expressão de um Internacionalista decidido.

Vem em 3º logar o Fuss-Ball Porto Alegrense, que apezar de estar-se resentindo da falta de bons jogadores, fará entretanto todo o esforço para dar lettra.

Logo após aparece o Trisch Auf.

Quais desconhecidos, os elementos que compõem os teams sociaes; entretanto podemos assegurar que está elle fadado a fazer boa figura ou... quem sabe, a dar algum furo...

Depois o imparcial Black com o seu "Kraft Iungens! Verzueifelt nicht der Sieg ist sicht, incitando os jovens foot-ballers a peleja, fará animo aos do Frisch Auf e o inimigo precisará ter muito cuidado se não quizer comer a sempre lembrada salada de xúxús.

Em ultimo, como mais novo, figura o Colombo.

Não podemos ainda formar um juizo seguro das équipes deste club, por não conhecer-mos seu jogo.

Entretanto, fala-se que os teams, com especialidade o 1º, estão bem constituidos e trenadissimos sendo bem possivel que façam alguma cousa que ninguem espera.

Eis, em resumo, a maneira como está organisada a Liga."

No texto, dois pequenos erros nos nomes dos clubes: o correto é Fussball Club Porto Alegre, e não Porto Alegrense. E no Frisch Auf, um erro de impressão transformou o F em T, na primeira vez que o nome do clube aparece. Já o imparcial Black era o veterano Georg Black, ex-jogador gremista e fundador do Frisch Auf.




quinta-feira, 14 de maio de 2020

Jogadores do passado: Floriano


Em 14 de maio de 1903, nascia em Itapecerica (MG), o menino Floriano Peixoto Corrêa.

Floriano jogava na linha média, pela direita. Começou a jogar futebol na escola. Em 1916, matriculou-se no Colégio Militar de Barbacena. Nessa cidade jogou no Infantil Futebol Clube, no Mayrinck Futebol Clube e no Paisandú.

Em 1919 Floriano transferiu-se para o Colégio Militar de Porto Alegre, ingressando no Internacional, onde jogaria na equipe principal em 1920 e 1921. Na temporada de 1920 participou apenas de amistosos. No Colorado, Floriano também era conhecido pelo apelido de Carioca. 

Com a morte de seus pais, em 1920, Floriano não teve condições de prosseguir seus estudos e em 1921 desligou-se do Colégio Militar, mudando-se para Caxias do Sul onde passou a atuar pelo Juvenil. Apesar do futebol ainda ser considerado amador, pagava-se certa remuneração aos atletas. Em 1922 jogou no Porto Alegre e em 1923 no Grêmio, sendo convocado para a Seleção Gaúcha. Em seguida, assentou praça na 8ª Companhia de Metralhadoras Pesadas e foi convocado pela Liga de Esportes do Exército para a Seleção do Exército que enfrentou a Marinha, no Estádio da Gávea (Exército 2x1 Marinha).

Em 1924, transferido para o 3º Regimento de Infantaria, sediado na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, passou a jogar pelo Fluminense. Campeão carioca em 1924, os dirigentes do Fluminense o convenceram a dar baixa do Exército. Em 1925 foi campeão brasileiro de seleções pelo Rio de Janeiro. Recebeu o apelido de "Doutor da Bola" e foi convocado para disputar o Campeonato Sul-Americano de Futebol, em Buenos Aires. Em 1927 voltou a ser campeão brasileiro de seleções, pelo Rio de Janeiro. Mas no mesmo ano foi acusado de "vender-se" para o adversário, em um jogo com o América. Dispensado, ingressou no América, onde sagrou-se campeão carioca em 1928. No mesmo ano voltou a sagrar-se campeão brasileiro de seleções. Com esses títulos recebeu o apelido de "Marechal da Vitória". 

Na final do campeonato carioca de 1929, o América foi derrotado pelo Vasco da Gama e Floriano foi acusado de suborno. Em 1930 começou o  campeonato carioca pelo São Cristóvão, mas desistiu do futebol e mudou-se para Barretos, no interior de São Paulo. No mesmo ano atuou três meses pelo Barretos, até aceitar um convite do Santos, para onde transferiu-se em agosto de 1930. Em 1931 foi vice-campeão paulista pelo Santos. No final do campeonato, foi acusado de tentar subornar jogadores do Juventus, junto com o atacante Feitiço, mas os atletas santistas foram absolvidos.

Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, serviu como soldado no 7º BCR, dos rebeldes paulistas, participando efetivamente dos combates. Em 1933 publicou o livro "Grandezas e Misérias do nosso Futebol (Flores & Mano Editores, Rio de Janeiro), no qual contou sua atribulada vida de atleta, citando nominalmente os dirigentes que atrapalharam sua carreira. No mesmo ano transferiu-se para o Atlético MG, onde jogaria até 1935.

Em 1936, como técnico, levou o Atlético ao título do Torneio dos Campeões. Pouco depois retornou ao Rio de Janeiro, onde contraiu tuberculose. Buscando tratamento, foi para Nice, na França. Depois seguiu para uma colônia francesa, na África. Floriano faleceu no continente africano, em 19 de setembro de 1938. O local de sua morte é controverso. Fontes apontam Argel (Argélia), Dacar (Senegal) e Oran (Argélia).

Seus jogos pelo Internacional:

23.09.1920 2x0 União (Pelotas) - Amistoso - F
28.09.1920 0x2 Ideal (Pelotas) - Amistoso - F
09.06.1921 4x0 Seleção Acadêmica de Porto Alegre - Amistoso - N (Chácara das Camélias)
19.06.1921 2x1 Juvenil (Caxias do Sul) - Amistoso - F
21.06.1921 4x2 Garibaldi - Amistoso - F
29.06.1921 6x1 Ypiranga - Amistoso - C (1)
03.07.1921 2x3 Cruzeiro - Campeonato Municipal - C
31.07.1921 4x1 Americano - Campeonato Municipal - F
21.08.1921 3x4 Porto Alegre - Campeonato Municipal - C
28.08.1921 4x1 Contra-Torpedeiro Alagoas - Amistoso - C
04.09.1921 1x2 Taquarense - Amistoso - F

Resumo
11 partidas
7 vitórias
4 derrotas
1 gol marcado

quarta-feira, 13 de maio de 2020

História: antigo estatuto do Internacional


Segundo a Agenda Colorada, disponível no site do clube, o mais antigo estatuto conhecido do clube foi redigido em 5 de março de 1913, sendo aprovado em 6 de abril do mesmo ano, mas registrado apenas em 19 de abril de 1918. Creio, porém, ser um erro de redação no ano de registro, que seria 1913, e não 1918.

De qualquer forma, em 4 de fevereiro de 1916, a Assembleia Geral do clube aprovou um novo estatuto, que foi publicado no jornal O Diário, em partes, entre março e abril de 1916. Este provavelmente foi o terceiro estatuto do do clube. Infelizmente, observando as fotos que tirei do jornal, alguns anos atrás, notei que ficou faltando o artigo 7, relativo às funções do vice-presidente. A má qualidade de algumas fotos impediram a leitura de certas palavras, em poucos artigos, mas sem impedir sua compreensão. Segue o estatuto:

Capítulo I
Da sociedade e seus fins

Art. 1 - O Sport Club Internacional, fundado em 4 de abril de 1909, nesta cidade de Porto Alegre, tem por fim cultivar esportes desenvolvendo a educação física.

Capítulo II
Da direção

Art. 2 - A direção compor-se-á de um presidente, um vice-presidente, dois secretários (1º e 2º), dois tesoureiros (idem) e três membros para constituírem o conselho fiscal, eleitos todos em sessão da assembleia geral.

Art. 3 - A eleição será realizada no penúltimo domingo de dezembro.
§ 1º - No primeiro domingo do mês de janeiro, a diretoria eleita tomará posse, perante a assembleia geral.
§ 2º - Por essa ocasião, a diretoria precedente prestará contas e o presidente ou quem suas vezes fizer apresentará o relatório de sua gestão.

Art. 4 - Para dirigir os jogos a diretoria nomeará uma comissão esportiva, composta de três membros, tendo um as funções de diretor de campo e sendo os dois outros capitães dos times oficiais.
§ único - Em caso de discordância, os atos da comissão esportiva estarão sujeitos à intervenção da Diretoria.

Art. 5 - Nenhum cargo da Diretoria poderá ficar vago por mais de um mês, devendo a eleição ser feita em sessão da assembleia geral extraordinária, salvo o caso do parágrafo 1°.
§ 1º - No caso de ficar vago o 2º secretário ou 2º tesoureiro a diretoria nomeará  um membro ad-hoc, fazendo proceder a eleição na primeira assembleia geral que se realizar.
§ 2º - Essa eleição será feita sob o mesmo critério da eleição geral de dezembro.

Capítulo III
Das atribuições

Art. 6 - Ao presidente compete:
a: convocar, presidir e encerrar as sessões.
b: manter a ordem durante o seu funcionamento.
c: encaminhar os assuntos e desempatar as votações, com seu voto de qualidade.
d: rubricar os livros e assinar conjuntamente com o secretário e tesoureiro os documentos relativos às suas pastas.
e: representar a sociedade em juízo e fazê-la representar-se em todos os atos para que for convidada.
f: visar as contas, autorizando os respectivos pagamentos.

Art. 7 (falta)

Art. 8 - Ao 1º secretário compete:
a: a redação das atas, a correspondência e guarda dos arquivos do clube.
b: fazer me sessão da assembleia geral a chamada dos sócios, pela lista de presença, bem como a leitura das atas e do expediente.
c: trazer na devida ordem a correspondência do clube, para o que poderá dispor dos livros que julgar necessários.
d: fornecer ao presidente os dados necessários à confecção do relatório.
e: oficiar aos sócios, no prazo máximo de quatro dias, comunicando sua admissão, suspensão, eliminação, nomeação ou eleição para qualquer cargo ou comissão.
f: substituir o vice-presidente em seus impedimentos.
g: convocar, de ordem do presidente, as sessões de assembleia geral, fazendo o anúncio durante três dias, com a ordem do dia e em jornal oficial do clube ou a folha mais lida da capital.

Art. 9 - Ao 2º secretário compete:
§ 1º - auxiliar o 1º secretário, sempre que se torne necessário.
§ 2º - substituí-lo em seus impedimentos.

Art. 10 - Ao 1º tesoureiro compete:
a: organizar o livro de matrícula.
b: expedir os recibos de joia e mensalidade com a respectiva assinatura.
c: recolher a um estabelecimento bancário, indicado pelo presidente, os fundos sociais sempre que excedam de rs. 200$000.
d: efetuar o pagamento das contas visadas pelo presidente ou quem suas vezes fizer.
e: arrecadar os dinheiros pertencentes ao clube.
f: escriturar com precisão e clareza a receita e despesa do clube, para o que fará a aquisição dos livros que julgar necessários, devendo submetê-los à rubrica do presidente.
g: apresentar trimestralmente um balancete à Diretoria.
h: fornecer ao presidente os dados necessários à confecção do relatório.
i: organizar o balancete anual que será apresentado à assembleia geral da posse da nova diretoria.
j: avisar aos sócios sempre que estes estejam em atraso de mais de dois meses e simultaneamente avisar à diretoria, para que sejam tomadas as necessárias providências.

Art. 11 - O tesoureiro é o único membro da sociedade que pode guardar os dinheiros do clube, por isso que é o único responsável por eles.

Art. 12 - Ao 2º tesoureiro compete:
§ 1º - auxiliar o 1º tesoureiro sempre que se torne necessário.
§ 2º - substituí-lo em seus impedimentos.

Art. 13 - Ao diretor de campo compete:
a: organizar o quadro de jogadores do clube.
b: organizar os times, de acordo com os capitães, sendo líder da comissão esportiva.
c: promover "matches" de acordo com a diretoria.
d: escolher os "referees" para os "matches" extraordinários em que os quadros do clube tomem parte.
e: dirigir os "trainnings", procurando agir sempre de acordo com os capitães.
f: zelar e fazer zelar pelo material do clube, para o que indicará à diretoria um auxiliar, cujas funções serão classificadas de guarda sport.
g: marcar os "trainnings" oficiais e fazer publicar na imprensa.
h: comparecer ao campo sempre que esteja anunciado "trainning" oficial.
i: tomar parte nas reuniões de diretoria, não tendo, porém, voto nas discussões.
j: intervir nos "trainnings" ou suspendê-los, sempre que não estejam sendo feitos na devida ordem.
k: ministrar instrução aos principiantes, para o que poderá nomear, de acordo com a diretoria, um auxiliar competente.

Art. 14 - Compete ao guarda sport:
a: guardar o material do clube, inventariando de três em três meses.
b: trazer sempre em boa ordem os aparelhos de jogo, zelando pela sua conservação.
c: promover a compra do material necessário, de acordo com o diretor de campo.
d: zelar e fazer zelar pela conservação do terreno, que deve estar perfeitamente demarcado em dia de "match" oficial.
dd: para o mister acima, o guarda-sport terá pessoal competente, correndo as despesas por conta do clube.
e: comparecer ao campo em dias de "trainning" comum ou oficial, bem como em dia de "match", tendo pronto o material necessário.

Art. 15 - Aos capitães dos times oficiais compete:
a: constituir, junto com o diretor de campo, a comissão esportiva.
b: organizar os quadros que deverão treinar ou disputar "matches", submetendo-os a apreciação do diretor de campo.
c: comparecer no campo, sempre que esteja anunciado "trainning" oficial.
d: dirigir este, podendo intervir, sempre que se torne necessário, na colocação dos jogadores.

Capítulo IV
Dos sócios

Art. 16 - Haverá seis categorias de sócios.
a: Fundadores - os que assinaram a ata de fundação.
b: Beneméritos - os que tenham oferecido ao clube dádiva importante, a juízo da diretoria.
c: Honorários - os que tenham prestado relevantes serviços ao club, a juízo da assembleia geral.
d: Remidos - os que tenham contribuído, de uma só vez, aos cofres do clube, com a quantia de duzentos mil réis.
e: Efetivos - os que pagarem a joia de 10$000 e a mensalidade de 2$000.
f: Correspondentes - os que, em lugar distante, no país ou no estrangeiro, prestarem serviços ao clube.

Art. 17 - Para ser admitido como sócio do clube são condições necessárias:
a: ser maior de quinze anos.
b: ter bom comportamento civil.
c: saber ler e escrever, bem como falar o idioma do país.
d: ser proposto por um sócio, quites com a tesouraria.

Art. 18 - Para gozar os direitos de sócio é mister estar de posse do recibo de joia e mensalidade, bem como do ofício de admissão, que antecede a estes.

Art. 19 - Os sócios beneméritos e honorários são isentos de mensalidade, mas não podem'prescindir do cartão permanente que trata o art.
§ único - gozam também das mesmas regalias os sócios correspondentes, que são também obrigados a apresentação de um ingresso especial que lhes será fornecido pelo tesoureiro, quando de passeio se acharem da capital.

Capítulo V
Dos deveres e direitos dos sócios

Art. 20 - São deveres dos sócios:
a: comparecer às reuniões.
b: aceitar as comissões para que forem designados.
c: manter alta linha de moralidade, principalmente na sede da sociedade.
d: acatar as deliberações da Diretoria e assembleias.
e: comunicar por ofício quando tiverem de se ausentar da capital, sem o que não ficarão isentos do pagamento das mensalidades.
f: observar fielmente os presentes estatutos, bem como os regulamentos internos.

Art. 21: São direitos dos sócios:
a: votar e ser votado.
b: participar com sua família de todas as diversões promovidas pelo clube, mediante apresentação do ingresso permanente que lhe será dado pelo tesoureiro.
c: tomar parte nos exercícios do clube, de acordo com os regulamentos especiais.
d: utilizar-se dos jogos, canchas e aparelhos do clube, sem danificá-los e igualmente de acordo com os regulamentos especiais.
e: tomar parte nas discussões das assembleias e propor medidas que julgar convenientes à boa marcha do clube.
f: reclamar à Diretoria, quando julgar-se ofendido nos seus direitos, solicitando uma sessão de assembleia geral, em ofício assinado por 25 sócios quites com a tesouraria.
g: passar procuração a outro sócio para o representar nas eleições, com o direito de voto, de acordo com o art.

Art. 22 - Para os filhos e irmãos de sócios, até a idade de 15 anos, haverá uma seção especial, denominada Menores, isenta de qualquer contribuição.

Capítulo VI
Das penalidades

Art. 23. Perde a qualidade e o direito de sócio, seja qual for a sua categoria:
a: o que for condenado pelos tribunais do país e quando de culpabilidade notória.
b: o que, no desempenho de qualquer cargo ou comissão, defraudar os cofres do clube.
c: o que não tiver uma ocupação honesta ou compatível com os créditos da sociedade.
d: o sócio efetivo que durante o espaço de três meses deixar de fazer o pagamento de suas mensalidades.

Art. 24 - O sócio que tiver sido eliminado nas condições do art. anterior, poderá ser readmitido a juízo da diretoria e pagando ainda nova joia.

Art. 25 - A diretoria pode aplicar aos sócios infratores as penas de suspensão e eliminação, conforme a gravidade da falta cometida.

Art. 26 - Incorre nas penas de suspensão:
a: o sócios que publicamente promover o descrédito da sociedade.
b: o que perturbar ou fazer perturbar a boa ordem no recinto do clube.
c: o que propositalmente maltratar o material.
d: o que publicamente desrespeitar qualquer membro da diretoria, o diretor de campo ou os capitães, quando no exercício de seus cargos.
e: o que não se portar convenientemente nas reuniões, uma vez admoestado pelo presidente ou quem suas vezes fizer.
f: o que faltar, sem causa justificada, aos "matches" oficiais, tendo sido previamente avisado por quem de direito.
g: o que não manter uma linha de moralidade no recinto do clube.
h: o que deixar de cumprir, por sua vontade ou desídia, os presentes estatutos e regulamentos especiais.

Art. 27 - As penas de suspensão variam de 15 a 90 dias, conforme "veridictum" da diretoria.
§ único - o sócio suspenso, perdendo embora os direitos de sócio, na parte constante do art. 24, letras a, c, d e e, fica entretanto obrigado ao pagamento das mensalidades.

Art. 28 - Incorre nas penas de eliminação:
a: o sócio que deixar de satisfazer o pagamento de suas mensalidades, de acordo com o art. 26, letra d.
b: o que deixar de esforçar-se por uma vitória do clube, por sua vontade, desídia ou venalidade.
c: o que lesar, direta ou indiretamente, a sociedade, já se apossando de dinheiros ou objetos que a ela pertençam, já facultando direitos de sócios a quem o não é ou esteja incurso no art. 26, letra d.

Art. 29 - Qualquer falta grave não constante nos presentes estatutos, poderá ser punida pela Diretoria.

Art. 30 - As penas a serem aplicadas nos membros da Diretoria, eleitos ou nomeados, são da alçada da assembleia geral.

Capítulo VII
Da Diretoria

Art. 31 - Á Diretoria compete:
a: reuniões ordinariamente uma vez por mês e extraordinariamente sempre que for convocada pelo presidente ou quem suas vezes fizer.
b: fazer cumprir fielmente os presentes estatutos.
c: aceitar, nomear, suspender e eliminar sócios, quando achar de direito, (?) (?) prejudicar a apelação para a assembleia geral.
d: resolver qualquer assunto omisso nos presentes estatutos e regulamentos especiais.
e: em qualquer caso, para validade da resolução é mister que estejam presentes mais de (?) membros, inclusive o presidente ou quem suas vezes fizer.
f: interpretar as disposições dos presentes estatutos e regulamentos especiais sempre que se ofereçam dúvidas a respeito.

Art. 32 - Os assuntos tratados em sessão de diretoria são privativos de seus membros.


Capítulo VIII
Das Assembleias Gerais

Art. 33 - Haverá anualmente duas sesssões da assembleia geral ordinária. Uma no primeiro domingo de janeiro, para dar posse à diretoria eleita, (?) das contas, etc, e outra no penúltimo domingo de dezembro, para eleger-se a nova diretoria e conselho fiscal.

Art. 34 - Sempre que um grupo de 25 sócios em dia requerer em ofício à Diretoria, será convocada sessão de assembleia geral extraordinária.
§ único - para a convocação das assembleias a que se refere o presente artigo, é necessário fazer constar do ofício os motivos, para conhecimento dos sócios em geral.

Art. 35 - A Diretoria poderá convocar uma assembleia geral extraordinária, sempre que julgar de urgente necessidade.

Art. 36 - Para funcionar uma assembleia é necessário que estejam presentes à chamada mais de trinta sócios com direito a voto.
§ único - Na segunda convocação a assembleia poderá funcionar com 25 sócios e se não atingir a esse número funcionará uma hora depois com qualquer número.

Art. 37 - As assembleias gerais deverão ser convocadas com ordem do dia declarada durante três dias no jornal oficial do clube ou na folha mais lida da capital, a juízo da diretoria.

Art. 38 - A sessão de assembleia geral extraordinária é órgão competente para destituir qualquer membro de diretoria de suas funções, caso tenha sido para isso convocada.
§ único - Nas condições do artigo acima, podem ser anuladas as deliberações da diretoria julgadas claramente irrefletidas e manifestamente prejudiciais ao clube.

Art. 39 - No caso de incompatibilidade da diretoria, assumirá a presidência dos trabalhos um sócio idôneo, indicado pela maioria da assembleia.

Art. 40 - Qualquer sócio poderá fazer uso da palavra nas assembleias, contanto que, pela ordem, a tenha solicitado ao presidente.
§ único - o presidente, de acordo com a mesa, pode negar a palavra a um orador quando ela for impertinente, ou caçá-la quando for desrespeitosa.

Art. 41 - Nenhum assunto poderá entrar em discussão sem que se tenha dado por findo o que primeiro foi aventado.

Art. 42 - Os atos de uma assembleia só poderão ser revogados por outra, passados trinta dias (?).

Capítulo IX
Das eleições (o jornal não publicou o título do capítulo,, mas creio ser esse)

Art. 43 - Anualmente, no penúltimo domingo do mês de dezembro, proceder-se-á a eleição da diretoria e do Conselho Fiscal.

Art. 44 - A eleição será por escrutínio, assinando o sócio a respectiva chapa e colocando-a na urna.
§ único - As chapas podem ser impressas ou manuscritas mas não devem ter emendas nem reservas.

Art. 45 - No caso de um sócio não poder comparecer a eleição por motivo de força maior, poderá dar procuração a outro para representá-lo.
§ único - A procuração deve ser passada no verso da chapa, com o testemunho de dois sócios idôneos.

Art. 46 - Para a assembleia geral da eleição de diretoria, prevalece o art. dos presentes estatutos, não se contando as procurações.

Art. 47 - No caso de empate na eleição para qualquer cargo, a decisão será por meio de sorteio, pela forma mais prática.

Art. 48 - Terminados os trabalhos de apuração, o secretário procederá à leitura dos resultados e o presidente proclamará os eleitos.

Art. 49 - Qualquer membro da assembleia com direito a voto poderá impugnar os votos de sócios incorrentes no artigo dos presentes estatutos.

Art. 50 - Quaisquer dúvidas que se suscitarem sobre a votação ou aprovação, deverão ser imediatamente resolvidas pela assembleia.

Art. 51 - Não poderão votar nem ser votados os sócios honorários que nunca tenham sido efetivos.

Capítulo X
Do Conselho Fiscal

Art. 52 - Ao Conselho Fiscal compete:
a: auxiliar a diretoria em todos os seus atos.
b: formar, com ela, a administração do clube.
c: tomar as contas das diretorias anteriores, emitindo seu parecer, que deverá ser lido na sessão de posse da nova diretoria.
d: tomar parte nas sessões de diretoria, tendo direito de voto.

Capítulo XI
Disposições gerais

Art. 53 - As cores distintivas do clube serão branco e encarnada.

Art. 54 - Haverá regulamento para as diversas sessões do clube, e que terão força de lei, uma vez publicadas pela imprensa.

Art. 55 - Da renda líquida dos "matchs", 10% serão aplicados ao fundo de reserva da sociedade, para a aquisição de um campo.
§ único - A diretoria não poderá usar do fundo de reserva senão com licença da assembleia geral.

Art. 56 - Os cartões permanentes serão emitidos trimestralmente, tendo cada emissão sua cor especial.

Art. 57 - O Sport Club Internacional não poderá ser dissolvido se a isso se opuserem nove sócios quites com a tesouraria.
§ único - No caso de dissolução o que se apurar do acervo reverterá em favor dos sócios nas condições do artigo acima.

Art. 58 - Os presentes estatutos só poderão ser reformados dois anos após sua aprovação.

Art. 59 - Não são admitidas queixas ou reclamações a porta do "ground", em dia de "match", sendo motivo de suspensão eliminação as faltas nesse sentido.

Art. 60 - Para o ano social de 1916 a eleição de diretoria efetuar-se-á no dia 23 de maio, dando-se a posse no dia 30 do corrente.

Art. 61 - Revogam-se as disposições em contrário.

Porto Alegre, 4 de fevereiro de 1915 (1)
(1) Na última edição em que publicou os estatutos, o jornal colocou a data de 1915, mas em claro erro, pois na primeira edição em que começou a publicar os estatutos afirma que o mesmo foi aprovado em 4 de fevereiro de 1916.








































segunda-feira, 11 de maio de 2020

Jogadores do passado: Tom Mix


Ivo Ferreira nasceu em Bagé, no dia 11 de maio de 1914. Começou a jogar futebol no Independente de Bagé, em 1931, na posição de ponteiro-esquerdo, recebendo o apelido de Tom Mix. Seu bom futebol o levou ao Guarany de Bagé, onde atuou de 1932 a 1935, vencendo o campeonato municipal em 1932, 1934 e 1935.

Em 1935, Tom Mix foi convocado para a Seleção Gaúcha, e despertou interesse do Internacional. O Colorado o contratou no início de 1936. Ele permaneceu no clube até o início de 1937, disputando 26 partidas, com 17 vitórias, 3 empates e 6 derrotas. Marcou 8 gols pelo Internacional. Tom Mix foi campeão municipal de 1936 e marcou o primeiro gol colorado contra equipes argentinas. No período em que esteve no clube, só não disputou uma partida, um amistoso contra o Santa Cruz, por estar servindo à Seleção Gaúcha.

No início de 1937, o general Flores da Cunha, santanense, queria formar um time para vencer o campeonato estadual. E, apesar do amadorismo oficial, começou a contratar jogadores para o Grêmio Santanense. O alvi-rubro da fronteira, com dinheiro de sobra, levou do alvi-rubro da capital o zagueiro Alpheu e o ponteiro-esquerdo Tom Mix. Depois de levantar o título municipal e estadual pelo Santanense, Tom Mix foi para o Santos, novamente junto com Alpheu. No Santos, Tom Mix permaneceu até 1941. Depois, jogou na Portuguesa Santista (1941/1942), Jabaquara (1943/1947), Palmeiras de Franca (1948), Francana (1950) e Jabaquara (1951).

Partidas de Tom Mix pelo Internacional:

15.03.1936 1x1 Grêmio - Taça Martel - N (Timbaúva)
05.04.1936 3x1 São José - Amistoso - F
09.04.1936 3x3 Americano - Amistoso - C
21.04.1936 7x1 Porto Alegre - Amistoso - F
01.05.1936 3x0 Cruzeiro - Campeonato Municipal - F
10.05.1936 6x1 Juventude - Amistoso - F (2)
17.05.1936 2x3 Novo Hamburgo - Amistoso - F (1)
28.06.1936 4x4 Cruzeiro - Amistoso - F
15.08.1936 4x1 Americano - Campeonato Municipal - C (1)
30.08.1936 3x2 Grêmio - Campeonato Municipal - C
06.09.1936 3x0 São José - Campeonato Municipal - F (1)
20.09.1936 1x0 Força e Luz - Campeonato Municipal - F
11.10.1936 6x1 Porto Alegre - Campeonato Municipal - C
18.10.1936 3x0 Cruzeiro - Campeonato Municipal - C
25.10.1936 5x3 Americano - Campeonato Municipal - F (1)
01.11.1936 2x0 Grêmio - Campeonato Municipal - F
08.11.1936 1x2 Palestra Itália SP - Amistoso - C
15.11.1936 0x3 Palestra Italia SP - Amistoso - N (Timbaúva)
22.11.1936 3x1 São José - Campeonato Municipal - C
29.11.1936 6x2 Força e Luz - Campeonato Municipal - C (1)
13.12.1936 5x0 Porto Alegre - Campeonato Municipal - F
20.12.1936 9x0 Juventude - Campeonato Gaúcho - N (Timbaúva)
03.01.1937 3x5 Atlanta ARG - Amistoso - C (1)
10.01.1937 7x4 Riograndense SM - Campeonato Gaúcho - N (Chácara das Camélias)
17.01.1937 2x3 Rio Grande - Campeonato Gaúcho - N (Chácara das Camélias)
21.01.1937 0x2 Rio Grande - Campeonato Gaúcho - N (Timbaúva)

OBS: Optou-se por considerar campo neutro mesmo as partidas realizadas em Porto Alegre, fora dos Eucaliptos, contra adversários de outras cidades. Os números entre parênteses correspondem aos gols marcados.