Em 30 de julho de 1971, reta final do campeonato gaúcho, na sua coluna diária na Zero Hora, denominada Bola Branca, Mendes Ribeiro escreveu um texto sobre a diferença de rendimento de Internacional e Grêmio. O título da crônica era o mesmo desta postagem. E é muito interessante a conclusão a que ele chega:
"1. Não é a diferença de três pontos que, esta, matematicamente, não é decisiva. É a diferença entre um time e outro. Não. Não é a diferença do melhor para o que não é tão bom ou de um atleta superior em qualidade para outro que não seja tão perfeito. É a diferença da tranquilidade. O Internacional me dá a impressão de um quadro respaldado, sereno. O Grêmio, mesmo na vitória, parece acuado, exatamente o oposto de seu adversário. Mas respaldado em que se o comentarista nega que seja a diferença de três pontos e também nega a superioridade como base do respaldo? Na torcida, pura e simplesmente na torcida.
2. O Internacional é um time diferente. Está acostumado a ver sua torcida reclamar sempre, ganhando ou perdendo. Não é um pavilhão quieto, acomodado, de gravata, colarinho duro e medo de gritar. É um pavilhão de camisa esporte, sem camisa até, de gritaria aberta. Por isso, não é o bastante triunfar mas 'ganhar como a torcida quer e com quem a torcida quer'. O mérito de Dino e dos que estão mandando no Internacional foi exatamente este. Não contrariar os donos do time: os torcedores. Estão mortos, já a essa altura, os possíveis saudosistas dos mandarins. Este campeonato, no rumo que vai, será o mais facilmente conseguido dos três que ficarão acumulados. E conseguido sem brigas com o pavilhão, sem atrito de cúpula, sem grupos esbravejando contra grupos, sem pressões sobre a imprensa, sem entrevistas bombásticas, sem proibição de técnico falar, sem uma porção de coisas, as mesmas coisas que derrubaram os mandarins, mesmo os mandarins ganhando.
3. Foi tranquila a vitória do Colorado. Sem problemas maiores, natural com imensa superioridade. E cada dia que passa a diferença de pontos aumenta sem aumentar. Não há paradoxo. É que diminui a margem de pontos que podem ser perdidos e, consequentemente, o terreno para o Grêmio vai diminuindo. Nessa desesperança atual do Grêmio, a mesma, o Internacional ergueu o Beira-Rio. A torcida do Grêmio, eu sei, está reconstruindo o Olímpico, concluindo o ginásio e uma série de coisas. Porém é apática, quase que omissa. Quando as coisas preteiam, se omite. Quando vai bem demais o barco (lembram do hepta?) também esfria. Essa a diferença que vai para dentro de campo. Um time com o maior de todos os respaldos. Um pavilhão presente e atuante. Onde o dirigente sabe que está vigiado e o jogador sente que não está sozinho. Não estou insinuando que a direção do Grêmio necessite vigilância. Longe disso. Acho os dirigentes do Grêmio homens dignos, responsáveis, abnegados e, Flávio Obino, particularmente, entre outros, é uma das amizades que tenho em alta conta. É que o pavilhão do Internacional tem a malandragem que falta ao pavilhão do Grêmio. E malandragem, em futebol, é muito importante. Olhem bem os acontecimentos e acabarão por entender que cabe razão ao comentarista. Até amanhã."
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