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terça-feira, 5 de maio de 2020

Jogadores do passado: Ary



Hoje vamos relembrar um jogador que defendeu o manto alvi-rubro nos primeiros tempos do Rolo Compressor, o zagueiro Ary.

Ary disputou 5 partidas em 1941, 4 delas substituindo o titular Risada, na zaga, e a última atuando de centroavante, posição em que jogaria no Bancário:

07.09.1941 2x0 Cruzeiro - Campeonato Municipal - Montanha
21.09.1941 3x1 Força e Luz - Campeonato Municipal - Eucaliptos
12.10.1941 4x1 São José - Campeonato Municipal - Eucaliptos
19.10.1941 1x2 Grêmio - Campeonato Municipal - Baixada
18.12.1941 6x3 São José - Amistoso - Eucaliptos

Mas havia uma dúvida entre os pesquisadores. Quem seria este Ary? Nas listagens de atletas colorados, disponíveis na imprensa da época, três nomes poderiam se encaixar: Ary Cauduro Foschiera, Ary Vitória e Ary Lannes Macedo.

Via Twitter, os familiares de Ary, Paulo Roberto Fraga (filho) e Jacqueline Foschiera (neta), me localizaram, repassando as informações que aqui trago agora.

Ary Cauduro Foschiera nasceu em 25 de novembro de 1919, em Porto Alegre. Começou a jogar futebol no período em que estava surgindo o futebol profissional no Rio Grande do Sul, e os principais clubes costumavam manter equipes de profissionais e amadores, estes geralmente atletas muito jovens, o equivalente ao 2º quadro. Ary atuava nos amadores colorados quando, em 1941, foi chamado para o time principal, na ausência de Risada. Nas quatro partidas autou ao lado de um dos maiores zagueiros da história colorada, Alpheu.

Com a volta de Risada, na partida seguinte ao Gre-Nal, Ary retornou aos amadores, mas seu nome ficou gravado no grupo bicampeão municipal de 1941.

Em 1942, Ary jogou nos amadores do Internacional, e também no profissional do Bancário de Pelotas, o que gerou protestos dos gremistas em um dos clássicos do campeonato de amadores.

Ary também atuou no Cruzeiro, e após uma lesão mais grave, abandonou o futebol profissional e passou a defender o amador Theresópolis, clube que teve entre seus fundadores o pai do atleta.

Ary faleceu em 11 de fevereiro de 1994, em Porto Alegre.


Na foto a seguir, do acervo da família, Ary aparece ao lado de (da esquerda para a direita) Brandão, Assis e Niquelagem, na vitória de 4x1 sobre o São José.



Futebol em Porto Alegre - Capítulo VI - 1926-1930

Em 1926, alguns clubes da APAF decidiram voltar à APAD, para compor sua 2ª divisão. Enquanto isso, alguns clubes da LSPA. que desapareceu, ingressaram na APAF. Nos clubes da comunidade negra, continuava ativa a AAF. Os campeonatos dessas ligas ficaram assim constituídos:

APAD
1ª Divisão: Internacional, Grêmio, Cruzeiro, Porto Alegre, São José e Americano.
2ª Divisão: Brasil, Concórdia, Liége, Marechal de Ferro, Theresópolis e Ypiranga
APAF
1ª Divisão: Tiradentes, Ruy Barbosa, Municipal, Sokol e Vencedor.
2ª Divisão: Venezianos, Paulista, Mignon, Guhayba, Guarany e Boa Vista.
AAF
8 de Setembro, 1º de Novembro, Bento Gonçalves, Ford, Operário, Palmeira, Riograndense e União.

A temporada de 1926 começou problemática para o Internacional. Alguns jogadores estavam ausentes, outros doentes. O clube decidiu não disputar o campeonato de 3º quadro, por falta de atletas, decisão que mais tarde, a pedido de sócios, seria modificada. Mas o clube deixou de disputar o Torneio Início, e perdeu por WO a primeira partida do campeonato de 2º quadro, pois apenas 8 jogadores compareceram.

Para o campeonato de 1926, a APAD tomou algumas decisões: a lei do impedimento mudou, sendo necessário ter dois adversários pela frente, e não mais três, para estar em condição regular. Qualquer jogador adiantado, mesmo que fora do lance, seria considerado impedido. As mulheres não pagariam ingresso. Se uma equipe não se apresentasse completa em no máximo meia hora além do horário, seria considerada derrotada por WO. E as partidas só seriam suspensas mediante temporal na hora da partida.

Em maio, a APAF mudou o nome para Associação Gaúcha de Esportes Atléticos (AGEA).

O Grêmio venceu o campeonato da APAD, tendo o Internacional como vice. Na APAF/AGEA, o Ruy Barbosa ficou com a taça, e na AAF, o Operário, clube formado pelos funcionários do estaleiro Mabilde, sagrou-se campeão.

Em 1927, o Internacional reformulou seu plantel, com o objetivo de conquistar novamente a taça. Para o gol, veio Moeller, do Novo Hamburgo. O centroavante uruguaio Ross veio do 14 de Julho PF, e o ponteiro-esquerdo Miro trocou o Ypiranga, da 2ª divisão, pelo Colorado. Do 2º quadro subiram o zagueiro Gilberto e o atacante Nenê. Outros clubes também se reforçaram. O Americano contratou Bacalhau (ex-Rio Grande), Barulho (ex-Cachoeira) e João Lacave (veio de Pelotas). O Cruzeiro trouxe Luiz Silveira (ex-Guarany de Bagé) e Franklin Jorgens (veio de Santa Maria). Mesmo na AGEA, reforços eram comuns. O Paulista formou uma seleção, com Laminha (ex-Theresópolis), Fundunga (ex-Boa Vista), Nestor (ex-Porto Alegre), Lambique e César (ex-Brasil de Pelotas).

Os torneios estavam assim constituídos:
APAD
1ª Divisão: Internacional, Grêmio, Cruzeiro, Porto Alegre, São José e Americano.
2ª Divisão: Brasil, Concórdia, Liége, Marechal de Ferro, Theresópolis e Ypiranga
AGEA
1ª Divisão: Ruy Barbosa, Municipal, Paulista, Sokol e Vencedor.
2ª Divisão/Série A: Mignon, Guhayba, Guarany, Vasco da Gama e Boa Vista.
2ª Divisão/Série B: Treme Terra, Rio Branco, Carioca, Bello Horizonte e São Paulo.
AAF
Bento Gonçalves, Ford, Operário, Riograndense e União.

Na APAD, a preocupação com o profissionalismo tomava conta. Luiz Carvalho, do Grêmio, e Grant, do Internacional, foram acusados de profissionalismo, mas absolvidos pela liga. E o futebol já encantava a todos. obre o Gre-Nal de 8 de maio de 1927, o Correio do Povo escreveu: “Ali estavam representadas todas as classes sociaes de Porto Alegre, desde a mais alta até a mais humilde”. No final da temporada, o Internacional sagrou-se campeão. Na AGEA, o Ruy Barbosa levantou a taça, e na AAF, o Riograndense ficou com o título.


Em 1928, o Ruy Barbosa trocou a AGEA pela APAD, que aumentou para 9 o número de clubes na elite, com o acesso de Concórdia e Ypiranga. Mas logo os problemas começaram. Em 5 de março de 1928 a APAD rompeu o pacto com a FRGD, no qual se comprometia em realizar três partidas por domingo nas duas primeiras rodadas do turno e do returno, para encerrar o campeonato municipal antes do início do estadual. Além disso, a entidade anunciou que se o prazo de definição do campeão da capital não fosse prolongado até 30 de outubro, a APAD abriria mão de participar do estadual. Internacional e Ruy Barbosa votaram contra essa decisão.

Também em 5 de março de 1928, Lara, Adroaldo e Nenê, ex-atletas gremistas, ingressaram no Porto Alegre. Ainda no início de março, o Porto Alegre contratou Ernesto Delvaux (Leon III), que estava no 14 de Julho de Passo Fundo. Em 9 de março de 1928 o goleiro Moeller trocou o Internacional pelo Grêmio.

Em 12 de março de 1928 a APAD decidiu não apresentar representante para o campeonato estadual, decisão que depois seria revertida.

Em 30 de abril de 1928 a reunião da APAD apresenta duas polêmicas: a inscrição de Fagundes, ex-atleta do Americano, pelo Cruzeiro, sem respeitar a Lei do Estágio, e a transferência do Gre-Nal de 3 de maio para o fim da temporada. A denominada, pelo Correio do Povo, “facção esquerdista”, formada por Internacional, Americano, São José e Ruy Barbosa, abandona a reunião. Os “representantes direitistas” eram compostos por Grêmio, Cruzeiro, Ypiranga, Concórdia e Porto Alegre. Diante da crise, o presidente da APAD, tenente Armando Cattani, renunciou ao cargo.

Em 1º de maio de 1928 foi dada continuação à reunião da APAD, sem os clubes rebeldes. Os clubes “direitistas” aprovaram a realização do Dia do Desporto em 3 de maio. Em 13 de maio de 1928 a rodada do campeonato municipal previa a realização dos seguintes confrontos: Internacional x Ypiranga e Americano x Cruzeiro, mas os clubes rebeldes decidiram não jogar. Em 15 de maio de 1928, em reunião da APAD com a participação apenas dos clubes “direitistas”, a entidade decidiu declarar Internacional e Americano derrotados por WO. O vice-presidente da entidade, Paulo Dohms, e o 2º secretário, Orestes Leite, renunciaram a seus cargos.

Em 20 de maio de 1928 a rodada previa Internacional x Porto Alegre e Grêmio x São José. Novamente os clubes rebeldes não jogaram. Em 22 de maio de 1928 a APAD declarou Internacional e São José derrotados por WO. Somente em 2 de junho de 1928 foi pacificado o futebol da capital, as derrotas por WO anuladas e as partidas remarcadas.

Mas os ânimos continuavam exaltados. No clássico Gre-Nal de 10 de junho de 1928, o Grêmio vencia por 3x2 quando, aos 28' do 2º tempo, Maysonave, zagueiro gremista, cometeu dois pênaltis consecutivos, não marcados pelo árbitro, Carlos Froelich. A partida fica paralisada, com a reclamação de jogadores e torcedores colorados. No meio da confusão, o torcedor Farias Ortiz invadiu o campo e esbofeteou o juiz. A partida foi suspensa. Em 12 de junho de 1928, a APAD decidiu confirmar a vitória gremista e punir Lampinha com 8 jogos de suspensão, por agredir o árbitro, e Ribeiro e Barros com 4 jogos de suspensão, por ofensas ao juiz. A punição gerou revolta no meio esportivo, e em 4 de julho a APAD reduziu as penas de Ribeiro e Barros para dois jogos de suspensão. Em 16 de julho de 1928 a APAD anulou a suspensão imposta aos atletas colorados Ribeiro, Lampinha e Barros, mas este último, irritado com a punição, decidiu encerrar a carreira de jogador. Na mesma reunião, a APAD estabeleceu as regras para a Lei do Estágio: o atleta que se transferisse de clube teria que passar um ano sem disputar partidas oficiais, contando a partir da sua última partida pelo clube anterior.

Fora da liga principal, as confusões também ocorriam. Em 4 de março de 1928, na várzea, o Botafogo perdia por 4x0 para o Bloco Veranistas, na Chácara dos Taquarais, quando a torcida do clube invadiu o campo, aos 25’ do 2º tempo, paralisando a partida. Mas o pior estava por vir. Em 26 de agosto de 1928, Brasil e Tiradentes se enfrentavam na Rua Larga, pelo campeonato da 2ª divisão da APAD. Nos minutos finais da partida, com o Tiradentes vencendo por 2x1, um jogador do Brasil lesionou-se, tendo que abandonar o campo. Por esse motivo, começou uma discussão que logo virou briga generalizada entre atletas, dirigentes e torcedores dos dois clubes. No meio da confusão, Lothario Krieger, que participava ativamente da briga, foi esfaqueado no peito e morreu. Krieger era atleta do 3º quadro do Tiradentes e aluno de uma academia de boxe. Em 31 de agosto de 1928, a APAD decidiu suspender por 6 meses os dois clubes envolvidos.

O ano de 1928 também foi traumático para o Internacional, com uma briga interna entre os defensores do amadorismo puro, capitaneados por Antenor Lemos, e os que queria preparar o Internacional para os novos tempos do profissionalismo, liderados por Ildo Meneghetti. A disputa política refletiu-se em resultados desastrosos em campo.

Os campeonatos estavam assim organizados:
APAD
1ª Divisão: Internacional, Grêmio, Cruzeiro, Porto Alegre, São José, Ruy Barbosa, Concórdia, Ypiranga e Americano.
2ª Divisão: Liége, Marechal de Ferro, Theresópolis, Bancário, Brasil e Tiradentes.
AGEA
1ª Divisão: Vencedor, Guahyba, Bello Horizonte, Carioca, Flamengo e Peñarol.
Infelizmente, faltam informações sobre a 2ª divisão da AGEA (provavelmente nem foi disputada) e sobre o campeonato da AAF. Na APAD, o Americano foi o campeão.

Em 1929, novas mudanças no futebol da capital. O Internacional, agora sob influência de Ildo Meneghetti, liderou uma campanha pelo fim da Lei do Estágio, que resultou na fundação de uma nova entidade: a Associação Metropolitana Gaúcha de Esportes Atléticos (AMGEA).

Com a cisão entre AMGEA e APAD, e o fim da Lei do Estágio na nova entidade, os clubes “amgeanos” passaram a atrair os atletas das equipes “apadianas”. O Concórdia reforçou-se, em maio de 1929, com Astro e Mabília, ex-jogadores do São José, Léo e Alfredo Mancuso, ex-Theresópolis, Mingo, Ernesto Delvaux (Pitch) e Andrade, ex-Porto Alegre. Também reforçou-se com Barulho, ex-jogador do Americano, clube que logo viria a ingressar na AMGEA. Outro reforço foi Darte Lopes, ex-Pelotas. O Ruy Barbosa contratou Ammes e Cauduro (ex-Porto Alegre), Fernando (ex-Americano), Dinga (ex-Associação de Amadores), Grigolo (ex-Guarany de Bagé) e Edgar (ex-Grêmio Ijuhyense). O Grêmio contratou Carlos Correa da Cunha, ex-centroavante do 14 de Julho de Santana do Livramento. O Bancário reforçou-se com Ervino Crusius (ex-Nacional de São Leopoldo) e Martim Mércio Silveira (ex-Guarany de Bagé).


Também estavam em atividade na capital outras ligas, como a Associação Gaucha de Amadores de Desportos (AGAD) e Federação de Esportes Proletários do Rio Grande do Sul (FEP). Por sua vez, a AGEA foi extinta. Também em 1929 o Internacional criou seu Conselho Deliberativo.

Os campeonatos estavam assim organizados:
AMGEA
1ª Divisão: Internacional, Grêmio, Americano, Ruy Barbosa, Concórdia, Ypiranga e Bancário.
2ª Divisão: Tiradentes, Liége, Vencedor, Glória, Marechal de Ferro e Paulista.
APAD
Cruzeiro, Porto Alegre, São José e Theresópolis.
AGAD
Israelita, 14 de Julho, Villa Federal, Juvenil e Livramento (entre outros).
FEP
Sul Brasileiro, Wilson, Proletários, Caixeiral, Paladino, Tristezense e Esperança.
AAF
8 de Setembro (outros participantes desconhecidos).

Na AMGEA, o Americano venceu o campeonato. Na APAD, o Cruzeiro foi o campeão.. Na AGAD, a taça ficou com o Israelita e na AAF o 8 de Setembro ficou no 1º posto. Nõa há informações sobre o campeão da FEP. 

Em 1930, o Cruzeiro abandonou a APAD e ingressou na AMGEA. A antiga liga desapareceu, e POrto Alegre e São José ficaram filiados diretamente à FRGD. Novamente tivemos um ano conturbado, dessa vez devido à agitação política do país. Com a Revolução de 1930, o campeonato não chegou ao fim. Muitos atletas eram soldados da Brigada Militar e foram mobilizados para participar do levante contra o governo federal. O Grêmio acabou declarado campeão, por estar na frente na tabela.

Os campeonatos estavam assim organizados:

AMGEA
1ª Divisão: Internacional, Grêmio, Americano, Ruy Barbosa, Concórdia, Ypiranga, Cruzeiro e Bancário.
AAF: 1º de Novembro, Bento Gaonçalves, Riograndense e União (entre outros).
AGAD: Palácio e Uruguay (entre outros).

São desconhecidas informações sobre a 2ª divisão da AMGEA e sobre os campeões da AAF e AGAD.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Futebol em Porto Alegre - Capítulo V - 1921-1925

Após o campeonato de 1920, o São José, vice-campeão da APAD, trocou a entidade pela recém-criada APAF. Assim, os dois principais campeonatos da cidade ficaram assim organizados:

APAD
Internacional, Cruzeiro, Porto Alegre, Tabajara e Ypiranga.
APAF
1ª Divisão: Grêmio, Concórdia, São José, Municipal, Ruy Barbosa e Americano.
2ª Divisão: Endymion, Liége, Montevideo, São João, Sokol e Tiradentes.
3ª Divisão: Rio Branco, Marte, Nacional e River Plate, entre outros.

Durante as competições, porém, Americano e São José abandonaram a APAF e ingressaram na APAD. O Cruzeiro venceu o campeonato da APAD. Na APAF, o Grêmio venceu a 1ª divisão, o Liége a 2ª divisão e o Rio Branco a 3ª divisão.

Entre os clubes da comunidade negra, também ocorreu uma divisão. Na Liga Nacional de Foot-Ball Porto Alegrense, o 8 de Setembro ficou com a taça. Na dissidente Associação Sportiva de Foot-Ball, o Riograndense, clube que aceitava apenas mulatos, sagrou-se campeão.

Em 1922, as mesmas quatro ligas organizaram campeonatos, tendo a APAF as mesmas três divisões e a APAD duas divisões. Os clubes participantes eram os seguintes:

APAD
1ª Divisão: Internacional, Cruzeiro, Porto Alegre, São José, Americano, Tabajara e Ypiranga.
2ª Divisão: Caixeiral, Guahyba, Guarany, Pelotense e São Cristóvão.
APAF
1ª Divisão: Grêmio, Concórdia, Municipal, Ruy Barbosa, Liége e Tiradentes.
2ª Divisão: Montevideo, São João, Sokol, Rio Branco, Marechal Floriano e Universal.
3ª Divisão: Nacional, Força e Luz, Vencedor, Cruzeiro do Sul, Pátria e River Plate.
ASF
Riograndense, 1º de Novembro, Aquidaban, Bento Gonçalves, Operário, Palmeira e União.
LNFPA
8 de Setembro e Primavera, entre outros.

Na APAD, o Internacional sagrou-se campeão da 1ª divisão, e o Guarany venceu a 2ª divisão. Na APAF, o Grêmio venceu a 1ª divisão. O Bento Gonçalves sagrou-se campeão da ASF. O campeonato da LNFPA provavelmente não chegou ao final.

A temporada de 1923 começou novamente com quatro ligas, mas com uma novidade: nos clubes da comunidade negra, a LNFPA fechou as portas, mas a ASF passou a contar com uma rival poderosa, a Associação de Amadores de Foot-Ball. No início do ano, vários clubes da APAF filiaram-se à APAD. Nas duas principais ligas, os participantes eram:

APAD
1ª Divisão: Internacional, Cruzeiro, Porto Alegre, São José, Americano, Tabajara, Ruy Barbosa e Ypiranga.
2ª Divisão: Caixeiral, Guahyba, Guarany, Pelotense, Força e Luz, 15 de Setembro, Liége e Theresópolis. O São Cristóvão desistiu da competição.
APAF
1ª Divisão: Grêmio, Concórdia, Municipal, Tiradentes e Montevideo.

Com o andamento das competições, porém, os clubes restantes da APAF acertaram seu ingresso na APAD. Assim, os dois torneios passaram a ser chaves do campeonato unificado, e a final deveria ser realizada entre os dois vencedores de chave. Os clubes originais da APAD passaram a disputar o Torneio Ruy Barbosa, e os clubes da extinta APAF, o Torneio Rio Branco. O Porto Alegre venceu uma chave e o Grêmio a outra, mas nunca ocorreu a final entre os dois times. Na ASF, o Bento Gonçalves conquistou o bicampeonato. Na nova AAF, o Primavera ficou com a taça.

Em 1924, com a APAD unificando as duas principais ligas da capital, a entidade formou duas divisões, divididas cada uma em duas séries. Assim, os clubes ficaram divididos dessa forma:

1ª Divisão
Série A: Internacional, Grêmio, Cruzeiro, São José, Porto Alegre e Americano.
Série B: Ruy Barbosa, Concórdia, Ypiranga, Municipal, Tabajara e Tiradentes.
2ª Divisão
Série A: Caixeiral, Sokol, Força e Luz, Theresópolis, 15 de Setembro e Pelotense.
Série B: Marechal Floriano, Marechal de Ferro, Vencedor, Liége. Boa Vista e Independência (abandonou a competição).

O regulamento previa que os vencedores de cada série disputariam os títulos de suas respectivas divisões. E que na 1ª divisão, o campeão da Série B enfrentaria o último da Série A, por uma vaga na elite na temporada seguinte. Na 2ª divisão, 15 de Setembro e Marechal Floriano venceram suas séries e o 15 de Setembro conquistou a 2ª divisão. Na 1ª divisão, o surpreendente Americano ficou com a taça da Série A, tendo o Cruzeiro como vice. Na Série B, o Ruy Barbosa ficou com o título. Logo foi abandonada a ideia de um confronto entre Americano e Ruy Barbosa pelo título da cidade. Mas o confronto entre Porto Alegre e Ruy Barbosa, para definir quem jogaria a Série A em 1925, foi mardado para 7 de dezembro. O veterano Porto Alegre estava em crise, e com medo de ser rebaixado, não compareceu ao jogo. Aí a crise passou a ser do futebol da cidade. A APAD declarou o Ruy Barbosa vencedor e promovido, mas o Grêmio, em defesa de seu co-irmão germânico, propôs uma reformulação do campeonato. Pelos estatutos da APAD, apenas os cinco fundadores originais (Internacional, Grêmio, Cruzeiro, São José e Porto Alegre) poderiam modificar as regras do campeonato. E assim, por proposta gremista, foi ignorado o rebaixamento do Porto Alegre e definido que o campeonato de 1925 seria disputado pelos cinco fundadores mais um clube a ser definido pelos mesmos. Apenas o Internacional votou contra a virada de mesa. Na reunião seguinte, os clubes deveriam definir quem seria o sexto clube no torneio, Americano ou Ruy Barbosa. A maioria dos clubes, incluindo o Internacional, votaram no campeão da Série A, o Americano, enquanto o Grêmio votou no Ruy Barbosa.

Na comunidade negra, os campeonatos foram assim formados:

ASF
1º de Novembro, Bento Gonçalves, Aquidaban e Venezianos.
AAF
Ford, Primavera, Palmeira, 8 de Setembro, Riograndense, Operário, Arvoredo e União.

O campeonato da ASF não chegou ao fim, enquanto na AAF o Operário ficou com a taça.

Na temporada de 1925, houve uma diminuição de clubes na APAD. O Ruy Barbosa, descontente, abandonou a liga, refundando a APAF de 1921/1922, carregando consigo os clubes que disputavam as divisões inferiores da entidade. Também surgiu na cidade uma nova entidade, a Liga Sportiva Porto-Alegrense. Assim ficaram constituídos os campeonatos:

APAD
Internacional, Grêmio, Cruzeiro, São José, Americano e Porto Alegre.
APAF
1ª Divisão: Ruy Barbosa, Tiradentes, Ypiranga, Concórdia, Municipal (abandonou o campeonato em julho) e 15 de Setembro (foi suspenso em outubro).
2ª Divisão: Marechal de Ferro, Sokol, Boa Vista, Brasil, Vencedor e Guahyba.
AAF: Riograndense, Ford, 8 de Setembro, Operário, Bento Gonçalves, 1º de Novembro, Palmeira, Arvoredo, União e Viação Férrea.
LSPA: Porto, Bello Horizonte, Venezianos, Vasco Alves e Mignon.

Os campeões foram:
APAD: Grêmio
APAF: Ruy Barbosa
AAF: Riograndense
LSPA: Porto

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Futebol em Porto Alegre - Capítulo IV - 1916-1920

19/05/1918 Internacional 5x3 Grêmio - Chácara dos Eucaliptos

A recém fundada Federação Sportiva Rio-Grandense organizou duas divisões para o campeonato de 1916:
1ª Divisão: Internacional, Grêmio, Fussball, Cruzeiro e Colombo.
2ª Divisão: São José, São Paulo, Frisch Auf e Americano.

Sem muitas surpresas, o Internacional conquistou o tetracampeonato da cidade, enquanto o São José venceu o campeonato da 2ª divisão.

Também existia outra entidade, a Liga Sportiva Porto-Alegrense, formada por Aliança, América, Concórdia, Fixum, Flamengo, Fluminense, Municipal, Nancy e Ruy Barbosa. O Fixum venceu o campeonato.

Em 12 de dezembro de 1916 o Grêmio venceu o Fussball por 5x1 e conquistou em definitivo a Taça Rio Branco. Esta taça havia sido ofertada em 1913, pelo Bristol, para ser disputada anualmente entre Grêmio e Fussball. O primeiro a vencer três edições ficaria com a posse definitiva. O Grêmio venceu as três edições, em 1914, 1915 e 1916.

Em 13 de fevereiro de 1917, a FSRG aceitou o pedido de filiação do Municipal e do Brasil, aceitando, condicionado a atenderem as exigências regulamentares, o Tiradentes e o Ruy Barbosa. Também foi recebido o pedido de licença por um ano, do São Paulo. Na mesma reunião, a Federação aprovou a "Lei do Estágio", uma manobra para impedir o profissionalismo. Por essa determinação, só poderiam participar do campeonato jogadores que residissem em Porto Alegre no mínimo 30 dias antes da partida em que fossem atuar.

Para a temporada de 1917, a Federação Sportiva Riograndense contava com as seguintes equipes:
1ª Divisão: Grêmio, Fussball, Internacional, Cruzeiro e São José.
2ª Divisão: Frisch Auf, Americano, Brasil, Municipal, Ruy Barbosa, Ypiranga e Tiradentes

Brasil, Municipal, Ruy Barbosa, Ypiranga e Tiradentes haviam se filiado na Federação no início de 1917. O São José subiu à 1ª divisão por ter vencido a 2ª divisão em 1916, substituindo o Colombo, que extinguiu-se.

Em 2 de abril de 1917, em outra reunião da FSRG, o Cruzeiro propôs que atletas estrangeiros só pudessem atuar em jogos oficiais após um ano de residência na capital. O Grêmio, que acabara de contratar três jogadores uruguaios, se sentiu prejudicado e desligou-se da FSRG. Com a saída do Grêmio, o Americano passou para a 1ª divisão. O Internacional venceu o campeonato da 1ª divisão, tendo como vice o Cruzeiro. Na Associação Sportiva Riograndense, o América foi o campeão.

Em setembro de 1917, o Oriental de Rivera jogou em Porto Alegre. No time uruguaio, dois atletas que depois atuariam no Internacional: Lampinha e Tito Arreguy.

Em novembro de 1917, a FSRG reuniu-se para tratar da expulsão do Frisch Auf, devido aos seus sócios recusarem-se a nacionalizar o nome do clube, após a declaração de guerra do Brasil à Alemanha. A expulsão do Frisch Auf foi aprovada por aclamação, assim como a elaboração de uma lista dos sócios do clube que votaram contra a nacionalização, e que os mesmos fossem considerados suspeitos de traição à Pátria e proibidos de ingressarem em outros clubes da FSRG. Na mesma época, o Fussball Club Porto Alegre mudou seu nome para Football Club Porto Alegre, deixando de ser chamado de Fussball e passando a ser chamado de Porto Alegre.

No final de 1917, os dirigentes da Federação Sportiva Rio Grandense, Antenor Lemos (Internacional), Victor Rodrigues (Cruzeiro), Miguel Borges da Fonseca (Porto Alegre) e José Rebello (São José e presidente da FSRG) decidem transformar a entidade da capital em uma federação estadual. José Rebello declarou à imprensa que, caso se tornasse uma entidade estadual, a FSRG seria reconhecida pela Confederação Brasileira de Sports (atual CBF). Antenor Lemos viaja a Pelotas e retorna com o apoio de Brasil e Pelotas à proposta. No início de 1918 vai a Caxias do Sul, onde ganha a adesão de Juvenil e Juventude.

A ideia de uma entidade estadual empolgou o meio esportivo gaúcho. Nacional de São Leopoldo e Novo Hamburgo declaram querer ingressar na FSRG. A Liga Pelotense também demonstrou interesse em fazer parte da entidade. Na capital, Globo, Guarany, Americano, América e Fixum também sonham em filiar-se à FSRG. O Brasil, que havia pedido licença da entidade, pede o cancelamento da licença. Até mesmo o Grêmio, desfiliado desde o início de 1917, demonstrou interesse em voltar à entidade.

Em 14 de fevereiro de 1918, em Assembléia Geral realizada no salão nobre da Sociedade Leopoldina, foi decidida a extinção da FSRG e a criação da Confederação Rio Grandense de Desportos Terrestres. Seus fundadores foram Internacional, Cruzeiro, São José e Porto Alegre. No dia 20 o Grêmio ingressou na nova entidade, que decidiu convocar o I Congresso Rio Grandense de Foot-Ball.

A ideia de uma federação estadual fundada exclusivamente por clubes da capital assustou um pouco os clubes do interior. Assim, em março a CRGDT transformou-se em Associação Porto Alegrense de Desportos, ainda com a tarefa de convocar e organizar o congresso estadual, marcado para maio.

Em 9 de abril de 1918 a APAD recusou os pedidos de filiação de Americano, Ruy Barbosa e Municipal. O campeonato da entidade seria disputado por Internacional, Grêmio, Cruzeiro, São José e Porto Alegre.

A Associação Sportiva Rio Grandense convidou os clubes da extinta FSRG que não haviam sido incluídos pela APAD. Mas pouco depois, Municipal, Ruy Barbosa e Municipal fundaram a Federação Porto-Alegrense de Football, reunindo os clubes da antiga 2ª divisão da FSRG.

Em 18 de maio de 1918 foi fundada a Federação Rio Grandense de Desportos, atual Federação Gaúcha de Futebol.

No campeonato da APAD, Internacional e Cruzeiro brigavam pelo título. Mas o momento marcante do torneio foi o Gre-Nal do returno, que ficou conhecido como "Gre-Nal de Sangue". No final do 1º tempo começou uma briga, que terminou com o atleta colorado Álvaro Ribas esfaqueado pelo torcedor gremista Octávio Telles de Freitas. Apesar de vencer os dois clássicos, o Colorado viu a taça ficar com o Cruzeiro, que tinha a seguinte equipe: Barreto; Raphael e Osório; Lassance, Godinho e Raymond; Prunes, Candiota, Léo, Januário e Fontoura. Para infelicidade do clube alvi-azul, a epidemia de gripe espanhola levou ao cancelamento do campeonato estadual, impedindo outra conquista.

Ainda em 1918, a cidade contava com a Federação Porto Alegrense de Foot-Ball, formada por Americano, Concórdia, Municipal, Ruy Barbosa (campeão) e Tiradentes, Associação Sportiva Riograndense, composta por América, Globo e Marechal de Ferro, entre outros, e a Liga Sportiva de Foot-Ball, com clubes como o Juvenil e o São Cristóvão. Também existia a Liga Bancária e a Liga Colegial.

Em 1919 a APAD voltou a organizar seu campeonato com os mesmos cinco clubes do ano anterior e mais o Tabajara. O Grêmio conquistou o título municipal. 

Na Federação Porto Alegrense de Foot Ball, participavam o Municipal, Concórdia, Americano, Ruy Barbosa e Tiradentes. Os jogos eram disputados no Arrabalde de São João (campo do Municipal), no Partenon (campo do Americano) e no campo do extinto Frisch Auf (pertencente ao Turner Bund). O Ruy Barbosa seria novamente o campeão.

A Associação Sportiva Riograndense, formada por Tuyuti, Globo, Guarany e República, tinha seus jogos realizados no campo do Marechal de Ferro. O Guarany ficaria com a taça.

As ligas menores sofriam com o assédio da liga principal. Em julho de 1919 a FPAFB acusou a APAD de compactuar com o profissionalismo, permitindo que seus clubes aliciassem jogadores das equipes filiadas à Federação. Lewis, do Americano e Soló, do Municipal, transferiram-se para o Grêmio com os campeonatos das duas entidades em andamento.

Para resolver o problema entre as ligas, APAD e FPAFB assinaram um acordo, em abril de 1920. A FPAFB filiou-se à APAD como uma sub-liga, sendo proibida a transferência de jogadores entre os clubes, sem respeitar a Lei do Estágio. O acordo foi aprovado por unanimidade pelos seis clubes da APAD.

No início de 1920, os jogadores Poly e Costa, do Porto Alegre, transferiram-se para o Grêmio. Pela "Lei do Estágio", aprovada pelo próprio Tricolor, eles teriam que ficar seis meses sem atuar em partidas oficiais. O Grêmio não concordou e recorreu à FRGD, presidida pelo gremista Aurélio Py, que deu ganho de causa ao clube. Os dirigentes da APAD não aceitaram a decisão e puniram o Grêmio com perda de pontos em uma partida do 2º quadro, em que Costa atuou. A FRGD, por sua vez, puniu a APAD com uma suspensão de 30 dias, que acabou resultando em desfiliação. Antes do fim da temporada, o Grêmio retirou-se da APAD, perdendo os pontos. Internacional e São José encerraram o campeonato empatados em pontos, tendo que disputar um jogo-extra. Na primeira final da história do campeonato da cidade, o Internacional venceu por 5x4 e ficou com a taça.

A cidade contava, além da APAD, com pelo menos mais três ligas organizadas:
Federação Porto-Alegrense de Foot-Ball: Americano, Concórdia, Endymion, Municipal, Ruy Barbosa (campeão), São João e Tiradentes.
Liga de Foot-Ball Porto-Alegrense: Montevideo, River Plate, Três Estrelas, Universal e Universitário.
Liga Nacional de Foot-Ball Porto-Alegrense (a Liga da Canela Preta): 8 de Setembro, 1º de Novembro, Bento Gonçalves, Palmeira, Primavera, Riograndense, União (campeão) e Venezianos.

Com a chancela da FRGD, o Grêmio ingressou na FPAFB. Em 16 de novembro de 1920, em Assembleia Geral, a Federação Porto-Alegrense de Foot-Ball foi notificada pela Federação Riograndense de Desportos que seu pedido de filiação foi aceito, mas que deveria alterar seu primeiro nome para evitar confusões com a entidade estadual. Na mesma assembleia, mudou seu nome para Associação Porto-alegrense de Foot-Ball. Apesar de não ter sido campeão pela APAD (que proclamou o Internacional campeão), pela FPAFB (que já realizara seu campeonato) e pela APAF (que não organizou campeonato em 1920), o Grêmio foi declarado pela FRGD representante de Porto Alegre no campeonato gaúcho. 

sábado, 25 de abril de 2020

Futebol em Porto Alegre - Capítulo III - 1911-1915



Com o surgimento de novos clubes, surgem novos confrontos. Além do tradicional Grêmio x Fussball, a imprensa noticia jogos entre Internacional x Grêmio e Internacional x Militar. Imediatamente surge a ideia de formação de uma liga. No dia 12 de abril de 1910, Internacional, Grêmio, Fussball, Militar, Nacional, 7 de Setembro e Frisch Auf fundam a Liga de Foot-Ball Porto-Alegrense. Para maiores detalhes sobre essa primeira disputa, ver o texto  https://futeboloutrahistoria.blogspot.com/2020/01/primeiro-campeonato-de-porto-alegre-1910.html

O Militar venceu o campeonato de forma invicta. Dos jogos conhecidos do clube da Escola Militar, estão registrados apenas dois resultados sem vitória: um empate e uma derrota frente ao Internacional. Em 29 de setembro de 1910, surgia um novo clube, o Sport Club Colombo.

Mas no final de 1910 começam mudanças significativas no futebol da capital. A Escola Militar, que fora punida com a transferência para Porto Alegre, pela participação da Revolta da Vacina, em 1904, foi novamente transferida para o Rio de Janeiro. A maioria dos alunos seguiu com a escola e em janeiro de 1911 o Militar fechou suas portas. O Frisch Auf desfiliou-se da liga, deixando de disputar o campeonato. Para substituir os dois, a imprensa chegou a cogitar a possibilidade de filiação à liga do Athlético e do Riograndense, mas isso não se concretizou.

O Grêmio venceu o campeonato com facilidade, ficando o Fussball e o Internacional em 2º lugar. No 2º quadro, ocorreram polêmicas. Em 30 de julho de 1911, pelo campeonato municipal de 2º quadros, o Internacional empatou em 1x1 com o Fussball. Na 2ª etapa, o colorado Mendonça marcou um gol de falta, anulado pelo juiz Edwin Cox, sócio e atleta gremista. Com o empate, o Grêmio sagrou-se campeão do 2º quadro. Se o Internacional tivesse vencido a partida, provocaria a realização de uma partida-extra entre os dois clubes. O Colorado recorreu à Liga, pedindo a anulação da partida. Mas com os votos de Grêmio, Fussball e Nacional, o pedido colorado foi rejeitado. Com isso, começou uma disputa entre o Internacional e a Liga, com o clube desfiliando-se da entidade. A briga, porém, duraria pouco, e semanas depois o Internacional novamente ingressaria na liga.

O Internacional possuía ótima relação com os clubes da comunidade negra, desde seu princípio. Em 24 de setembro de 1911, Riograndense e União enfrentaram-se, tendo como juiz Otto Petersen, atleta colorado.

Em 1912, o campeonato da cidade teria dois turnos. Pelo menos dois jogadores trocaram de equipe para a temporada de 1912: Júlio Grünewald, que trocou o Grêmio pelo Nacional, e João Baptista, que saiu do Nacional para ingressar no Fussball. Os mesmos cinco clubes da temporada anterior disputariam a competição. Durante o torneio, o Nacional proporciou as maiores goleadas da dupla Gre-Nal, perdendo para o Grêmio por 23x0 e para o Internacional por 16x0. Em 18 de agosto de 1912, em jogo válido pelo campeonato, ocorreu um incidente entre Ferrão e Bohrer, atletas do Fussball e do 7 de Setembro, nos instantes finais do 1º tempo, paralisando a partida por alguns minutos. No intervalo houve um conflito generalizado entre os atletas dos dois clubes, e o 7 de Setembro desistiu de disputar a 2ª etapa. A Liga decidiu manter o resultado da partida (Fussball 4x0) e multar o 7 de Setembro, que resolveu desfiliar-se da Liga, retirando-se do campeonato. No final da temporada, o Grêmio sagrou-se bicampeão e o Internacional foi vice.

Fora da liga oficial, em 4 de julho surgia o Sport Club Americano, branco e grená, tendo entre seus fundadores a família Siegmann. No dia seguinte, nascia o América Foot-Ball club, no arraial da Glória. Ainda em julho surgiriam o Fulminante Foot-Ball Club, formado por alunos da Escola de Engenharia, e o Sport Club Independência. Em 21 de setembro nascia o Sport Club São Paulo, e em 27 de setembro, o Internacional Foot-Ball. Este novo clube teve uma vida curtíssima (provavelmente nem chegou a jogar uma partida). Logo após a extinção do clube, seu presidente, Randolpho Torres Balbão, associou-se ao Sport Club Internacional. Em 21 de julho de 1912, no campo da Redenção, o Riograndense derrotou o União por 3x0, em jogo que valia uma taça denominada Campeonato de 1912.

Em 1913, o Frisch Auf voltou para a Liga, que também aceitou a filiação do Colombo, para suprir as saídas do 7 de Setembro e Nacional. A Liga também passou a contar com um novo "ground", a Chácara dos Eucaliptos. Em 7 de julho, faleceu o atleta gremista Alfredo Mostardeiro. Em 13 de julho de 1913 ocorreu um incidente no jogo entre Fussball e Internacional. O Fussball protestou, com o apoio do Grêmio, mas a Liga de Foot-Ball Porto Alegrense posicionou-se a favor do Internacional. Em decorrência disso o Grêmio decidiu abandonar a Liga em 20 de julho de 1913. O Fussball tomou o mesmo caminho no dia 23 de julho. Restando apenas três clubes, o Internacional conquistou o título com facilidade, tendo o Colombo como vice.

Novos clubes continuavam surgindo. Em maio de 1911 foi fundado o Raidman Foot-Ball Club. Em julho de 1911 o clube passou a procurar outras equipes para formar uma liga de futebol. Em agosto, foi um dos fundadores da Federação Sportiva de Foot-Ball, que contou com a participação do Colombo, SC Parisiense, Riograndense, FBC Rio Branco, FBC Estrella do Mar e CS Cruzeiro do Sul. Não existem registros de partidas realizadas por essa liga ou se chegou a ser realizado um campeonato. No final do ano, em 22 de novembro de 1911, a Assembleia dos Representantes do Estado (atual Assembleia Legislativa) aprovou a Lei nº 139, que isentava os clubes de futebol do pagamento dos impostos estaduais.

Fora da liga, em 24 de maio foi fundado o Esporte Clube São José, por um grupo de alunos do Colégio São José. Em 31 de maio, surgia a Sociedade Sportiva Sokol, clube da comunidade polonesa, que ficou conhecido como o "Colorado da Rua São Pedro". E em 14 de julho, um grupo de 18 estudantes fundou o Esporte Clube Cruzeiro. No final do ano, surgia o Grêmio Sportivo de Foot-Ball, entre outros clubes.

No início de 1914, a Liga de Foot-Ball Porto Alegrense, presidida por Archymedes Fortini, decidiu abrir um período de 15 dias para serem apresentados pedidos de filiações. Três clubes pediram filiação: Cruzeiro, Americano e Universal. Os dois primeiros tiveram sua filiação aceita, mas o Universal teve que realizar um jogo-treino diante de observadores da liga, tendo sua filiação rejeitada.


O campeonato prosseguia bem até a partida entre Americano e Colombo. Na partida de 2ºs quadros ocorreu uma confusão. Em 3 de julho de 1914, o Americano e o Frisch Auf (já previamente acordados com Grêmio e Fussball) apresentam uma série de exigências à Liga: que esta declarasse o Americano vencedor do confronto; que o Colombo se desculpasse por escrito com o árbitro dessa partida, que era atleta do Frisch Auf e teria sido ofendido durante o jogo; que a Liga multasse o Colombo e por fim, queriam poder disputar seus jogos do campeonato nos “grounds” que desejassem, mesmo que estes houvessem sido interditados pela Liga. Caso suas reivindicações não fossem atendidas, ameaçavam abandonar a entidade. Diante deste quadro, a Liga desfiliou os dois clubes. Pouco depois, estes clubes, junto aos dissidentes de 1913, organizavam a Associação de Foot-Ball Porto Alegrense. No final da temporada, o Internacional sagrou-se campeão da Liga, enquanto o Grêmio venceu o campeonato da Associação. Ainda existia, na época, uma outra entidade, a Liga Sul-Americana de Foot-Ball, que contava entre seus filiados com o União e o 8 de Setembro, clubes da comunidade negra. Infelizmente quase não havia referência a ela na imprensa.

Para 1915, a Liga aceitou a filiação do Cruzeiro e do São Paulo. A Associação formou duas divisões. Na 1ª divisão, ficaram Grêmio, Fussball, Americano e Frisch Auf. Na 2ª divisão, São José, 7 de Setembro, Sportivo e Mauá. Na Liga, um novo "ground" é inaugurado, a Vila Cruzeiro, na Estrada do Mato Grosso. Na Associação, o Fussball estava construindo a Chácara das Camélias. Mas havia muita gente descontente com a cisão do futebol da capital. No Correio do Povo de 20 de maio de 1915 encontra-se uma carta pedindo a união das ligas. O principal argumento era econômico: enquanto que entre 1912 e 1913 os jogos tinham rendas de 50$000 a 1:000$000, os melhores jogos de 1914 não ultrapassaram os 200$000. O motivo para essa redução no público era a falta de competitividade, pois todos sabiam de antemão que Internacional e Grêmio venceriam suas respectivas ligas.

O óbvio ocorre: o Internacional vence a Liga e o Grêmio vence a Associação. Mas no segundo semestre de 1915, para unificar o futebol da capital, surge a Federação Sportiva Rio-Grandense (FSRG). Em 26 de setembro de 1915, o Internacional venceu o Porto Alegre por 10x2, em um amistoso comemorativo da unificação do futebol da cidade. Antes, porém, delegados do Grêmio e da recém fundada FSRG tentaram evitar a realização da partida.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Futebol em Porto Alegre - Capítulo II - o "boom" de 1909


Apesar de existirem outros clubes na capital além da dupla Grêmio - Fussball, no período que vai de 1903 a 1909, as poucas notícias na imprensa resumem-se aos dois representantes da comunidade germânica.

Mas a situação mudaria radicalmente a partir de 1909. No dia 3 de abril desse ano, A Federação publicou uma pequena nota sobre um novo clube que seria fundado na cidade. E, no dia seguinte, na atual avenida Redenção, atual João Pessoa, foi fundado o Sport Club Internacional, que só receberia seu nome no dia 11 de abril. Logo, Henrique Poppe, um dos fundadores do Sport Club Internacional, procurou Archymedes Fortini, um dos dirigentes do Grêmio Football Internacional, e convidou-o para ingressar no novo clube. Assim, o GFB Internacional desapareceu e seus associados ingressaram no SC Internacional.

No dia 31 de maio, Georg Black, ex-centromédio do Grêmio, fundou o Fussball Manschaft Frisch Auf, ligado ao Turnerbund, atual Sogipa. Sobre este clube (Frisch Auf), há divergências sobre o ano de fundação, com algumas fontes apontando no ano de 1908 e outras 1910. Porém, a data de 1909 é a mais aceita.

O mês de agosto vê a onda de fundações se ampliar. No dia 7 de agosto surgiu o Sport Club Nacional, alvi-negro, no arrabalde do Partenon. No dia 14, os alunos da Escola de Guerra fundam o Militar Football Club, azul e branco. E no dia seguinte, no arrabalde do Menino Deus, foi fundado o alvi-verde Grêmio Football 7 de Setembro, tendo entre seus fundadores a família Kluwe, que tinha Carlos Kluwe no elenco colorado, e Archymedes Fortini.

Em setembro de 1909 foi fundado o Sport Club Theresópolis, tendo entre seus primeiros dirigentes Tertuliano Gonçalves e Alcides Ortiz, fundadores do Internacional. Em novembro, no Menino Deus, surge o Football Club Brasil.

O futebol espalhava-se pela cidade, com a participação ativa de colorados.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Futebol em Porto Alegre - Capítulo I - As origens


O futebol no Brasil surgiu no final do século XIX, e teve seu primeiro representante no Rio Grande do Sul no Sport Club Rio Grande, da cidade de mesmo nome, fundado em 19 de julho de 1900. Para divulgar o futebol, o Rio Grande viajava pelo estado, fazendo apresentações com seus dois quadros.

Em 7 de setembro de 1903, o Rio Grande apresentou-se em Porto Alegre, onde alguns jovens já praticavam o esporte, mesmo sem maiores conhecimentos das regras. A partida demonstração ocorreu no Velódromo da União Velocipédica, onde hoje se encontra o prédio da Rádio da Universidade, no Campus Central da UFRGS.

Logo após a partida, sócios da União Velocipédica tentaram fundar um clube de futebol, mas não chegaram a um acordo. Dias depois, porém, ocorreriam duas reuniões. No dia 15 de setembro, os sócios da Rodforvier Verein Blitz, rival da União Velocipédica, reuniram-se e fundaram o Fussball Club Porto Alegre. No mesmo dia, no Salão Gram, na rua 15 de Novembro (atual rua José Montaury), um outro grupo da comunidade teuto-riograndense fundava o Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense.

O Fussball alugou um campo nos fundos da Sociedade Blitz, pertencente a Luiz Englert, uma área hoje cortada pela rua Almirante Tamandaré. O "ground" foi inaugurado em 9 de novembro de 1903, em um "match" interno. Como não havia bola, foi confeccionada uma esfera de couro, recheada de palha, sendo apelidada pelos atletas de "ameixa". O Grêmio treinou em vários terrenos, antes de inaugurar seu campo, a Baixada, em um "match" interno em agosto de 1904.

O primeiro confronto entre dois clubes da capital ocorreu em 6 de março de 1904. Como o Grêmio não tinha casa, a partida foi realizada no campo do Fussball. Os dois clubes passaram a disputar a Taça Wanderpreiss, um torneio semestral, tendo suas partidas a duração de 60 minutos. Em 1907 o torneio tornou-se anual.

Apesar da versão apontar a existência de apenas esses dois clubes no período entre 1903 e 1909, outras associações existiram, mesmo que de forma efêmera. O Sport Club 15 de Novembro era um deles. Espécie de "categoria de base" do Grêmio, era presidido por Júlio Hanke e pelos irmãos Carls e já estava ativo em 1906. No ano seguinte, Luiz Ludwig, Jacob Cechin, Pedro Calunho, João Ibañéz e Arquimedes Fortini se desligaram do Sport Club 15 de Novembro e decidiram criar um novo clube, o Grêmio Foot-Ball Internacional, nas cores preto e branco. Também em 1907, no dia 12 de dezembro, foi fundado o Foot-Ball Club Riograndense.