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quarta-feira, 23 de setembro de 2020

NOSSOS TÍTULOS - Campeonato Brasileiro de 1979


 

O ano de 1979 não havia começado bem para o Internacional. No Gauchão, o Colorado terminou em 3º lugar, atrás de Grêmio e Esportivo. O clube começou o ano comandado por Cláudio Duarte, técnico que foi campeão gaúcho e 3º lugar no Brasileirão, no ano anterior. Mas Claudião não resistiu aos maus resultados no estadual e foi demitido em julho, às vésperas de um Gre-Nal. Otacílio Gonçalves assumiu a bronca, como interino, e empatou o clássico em 1x1. Na rodada seguinte Zé Duarte assumiu o time. Mas também o novo técnico sucumbiu aos resultados e foi demitido ás vésperas do último clássico, com o campeonato já decidido. Novamente Otacílio assumiu o time interinamente, empatando outra vez o Gre-Nal em 1x1.

Para o campeonato brasileiro, foi contratado o técnico Ênio Andrade, ex-atleta colorado, e que estava no Coritiba. Para o time, a única contratação foi Bira, centroavante artilheiro do Remo. Não parecia muito para a torcida se entusiasmar.

Na 1ª fase, sem os grandes do Rio e São Paulo, os clubes foram divididos em grupos de 10 equipes. Classificavam-se 5 para a fase seguinte, com exceção dos grupos dos grandes gaúchos e mineiros, que classificavam 8. O Internacional ficou no Grupo G, ao lado de Grêmio, Figueirense, Atlético PR, Coritiba, Operário MS, América RJ, Rio Branco ES, Santa Cruz e Sport.

A estreia ocorreu em 23 de setembro de 1979, três dias depois do clássico que encerrou o campeonato estadual. A partida marcava a estreia de Ênio Andrade no comando do Internacional. O Internacional jogou desfalcado de Mário Sérgio, expulso no Gre-Nal do Gauchão (na época cumpria-se a suspensão em oura competição, se fosse preciso). Assim, o empate em 0x0 com o Atlético PR, no Couto Pereira, foi considerado um bom resultado. Na rodada seguinte, o adversário era o Santa Cruz, no Arruda. Na estreia de Bira, o centroavante marcou, mas saiu lesionado. Seu substituto, Adílson, garantiu a vitória por 2x1, aos 42' do 2º tempo. Em seguida, no Beira-Rio, o Internacional enfrentou o Figueirense, desfalcado de Batista e Bira. Jair cobrou falta e garantiu a vitória por 1x0.

Na quarta partida, o Internacional enfrentava o Grêmio, no Beira-Rio. O Tricolor já tinha 4 partidas no torneio, com 3 vitórias por goleada. E estava sendo comandado por Ithon Fritzen, interinamente, pois havia dado férias a Orlando Fantôni, depois do título gaúcho. A partida se encaminhava para um empate quando, aos 43' do 2º tempo, Falcão foi cobrar uma falta perto da área. O craque colorado ameaçou bater direto, mas apenas rolou para o lado, onde Jair, aproveitando o movimento da barreira, mandou uma bomba, vencendo o veterano goleiro Manga. Internacional 1x0!

Na sequência, o Internacional fez 3x0 no Sport, no Arruda, gols de Jair (2) e Adílson. No Couto Pereira, 3x0 no Coritiba, com os mesmos artilheiros. Nessa partida, Falcão foi expulso, ao revidar uma falta maldosa de Duílio. Sem Falcão, Batista. Valdomiro e Bira, o Internacional apenas empatou com o América, no Beira-Rio, gol de Chico Espina. Na partida seguinte, Falcão e Bira voltaram ao time, e o Rio Branco pagou o pato. O Colorado venceu por 5x1, com gols de Falcão (2), Bira (2) e Jair. O primeiro gol colorado, de Falcão, foi de sem-pulo, de fora da área. O juiz ainda anularia um gol de Bira. No encerramento da 1ª fase, o Colorado recebeu o Operário, no Beira-Rio. Um empate bastaria para dar o 1º lugar do grupo ao time. E foi o que aconteceu. Novamente sem Bira, o time não jogou bem e empatou em 2x2, gols de João Carlos e Mário. No grupo colorado, Rio Branco e Sport foram eliminados.

Na 2ª fase, os clubes foram divididos em grupos de 8, classificando-se apenas os dois primeiros. O Internacional ficou no grupo K, com Anapolina, Atlético PR, Caldense, Desportiva, Goytacaz, Internacional SP e São Paulo RG. A estreia ocorreu contra o Goytacaz, no Beira-Rio. O Colorado foi a campo ainda sem Batista, Valdomiro e Bira. Com um temporal caindo na cidade, Mauro Pastor marcou logo no início e garantiu a vitória por 1x0. No jogo seguinte, também no Beira-Rio, o Internacional venceu o bom time do São Paulo de Rio Grande por 3x1, gols de Jair, Mário Sérgio e Bira, que voltava ao time. O jogo seguinte era em Poços de Caldas. O Internacional chegou na cidade as 4 horas da manhã do dia do jogo. Cansado, o time teve péssima atuação, e perdia a partida até os 42' do 2º tempo, quando João Carlos empatou e garantiu a invencibilidade: 1x1. Na volta, outra atuação fraca, contra o retrancado Anapolina, terminou em 0x0, no Beira-Rio, e a surpreendente Desportiva assumiu a liderança do grupo.

No Couto Pereira, novo 0x0, contra o Atlético PR, na partida que marcou a volta de Valdomiro. A Caldense venceu a Desportiva, e o Colorado, o clube capixaba e a Internacional de Limeira passaram a liderar, com 7 pontos. Contra a Desportiva, no Beira-Rio, o Colorado atuaria a primeira vez com seu time completo, pois Batista voltava depois de longo tempo de lesão. O Internacional venceu por 4x0, com gols de Bira (3) e Batista. O lance dramático da partida ocorreu logo no início. Aos 3' de jogo, Bira cabeceou com força, mandando a bola para as redes e acertando também a cabeça do lateral Zé Rios. O defensor da Desportiva teve convulsões no campo, foi levado às pressas ao hospital, onde passou por uma cirurgia de emergência e ficou vários dias entre a vida e a morte. Recuperou-se, mas jamais voltou a jogar futebol e ficou com várias sequelas. Na última rodada da 2ª fase o adversário era a Internacional de Limeira, no interior de São Paulo. A equipe paulista contava com o veterano Escurinho e ainda sonhava com a classificação, mas o Colorado venceu por 1x0, gol de Valdomiro. O Internacional encerrava a fase como líder do grupo.

Na 3ª fase os clubes foram divididos em quadrangulares, onde apenas o campeão passaria à semifinal. O Internacional ficou no Grupo R, com Atlético MG, Cruzeiro e Goiás. Na estreia, no Beira-Rio, o Internacional fez 1x0 no Goiás, gol de Mário Sérgio, enquanto o mineiros empataram o clássico em 0x0. Mas logo depois começaram as confusões extra-campo. O Galo sentiu-se prejudicado, pois o único jogo que disputaria no Mineirão seria o clássico. Pediu para a CBD mudar o mando de campo da partida contra o Goiás e ao não ser atendido ameaçou abandonar o campeonato.

Na 2ª rodada, o Colorado enfrentava o forte Cruzeiro de Nelinho e Joãozinho, no Mineirão. O jovem João Carlos, um zagueiro improvisado na lateral-direita, anulou o endiabrado Joãozinho. Aos 28' do 1º tempo, Falcão abriu o placar. Aos 33', na única jogada que levou vantagem sobre João Carlos, Joãozinho empatou. Mas aos 33' Zezinho Figueroa marcou contra, e aos 43' Valdomiro fez 3x1. Alexandre descontou aos 43' do 2º tempo, mas era tarde demais. Colorado 3x2. No outro jogo do grupo, o Atlético cumpriu a ameaça e não compareceu a Goiânia, perdendo por WO para o Goiás.

Na última rodada, bastaria um empate contra o Galo para classificar-se. Mas já se sabia que o time mineiro não compareceria e o Colorado já estava na semifinal. Os atletas colorados fardaram-se e, com a arbitragem, ficaram 20 minutos em campo, para formalizar o WO. No Serra Dourada, Goiás e Cruzeiro ficaram no 1x1.

Na semifinal, o adversário era o Palmeiras de Telê Santana. Na fase anterior, havia massacrado o Comercial SP (5x1), o São Bento (4x0) e o Flamengo de Zico, em pleno Maracanã (4x1). Na véspera do jogo de ida, o Atlético MG ainda conseguiu uma liminar na 20ª Vara Cível do Rio de Janeiro suspendendo a partida, mas a CBD rapidamente a cassou. No dia da partida, no Morumbi, o Jornal da Tarde perguntou, em manchete: "Mococa ou Falcão?" Mas em campo, o que se assistiu foi um show de Falcão. Aos 34' do 1º tempo, Baroninho, no campo do Palmeiras, lançou Jorge Mendonça, na ponta direita. O meia cruzou para a área, Benítez cortou com um soco e a bola sobrou novamente para Baroninho, de fora da área, chutar. Benítez ainda tocou nela mas não conseguiu evitar o gol. Aos 44' do 1º tempo, porém, Falcão já demonstrou quem comandaria a partida. Mário Sérgio passou para Falcão, dentro da área. A bola passou pelo craque, que girou o corpo e deu uma bicicleta, quase marcando o gol de empate. Aos 5' do 2º tempo, Mário Sérgio livrou-se da marcação de Rosemiro e passou para Jair, que chutou de fora da área. O chute foi fraco, mas a bola bateu no terreno, subiu e enganou o goleiro Gilmar, passando por sobre seu corpo. Estava empatado o jogo. O Palmeiras passou novamente à frente aos 10', quando Pires fez um longo lançamento para Jorge Mendonça, já dentro da área colorada. O meia girou o corpo, livrando-se da marcação de Mauro Galvão, e chutou livre para as redes. O Colorado empatou outra vez aos 19', quando Jair cruzou da direita, Falcão subiu mais que a defesa e cabeceou para as redes. Finalmente, aos 25', Cláudio Mineiro roubou a bola no meio campo e passou para Mário Sérgio, que devolveu para Cláudio Mineiro ao lado da área. O lateral cruzou para a área, Bira disputou de cabeça, a bola sobrou para Valdomiro em outra disputa, e caiu para Falcão chutar e recolher a perna, escapando da solada de Mococa. Internacional 3x2. No dia seguinte, o próprio Jornal da Tarde respondeu sua pergunta, em outra manchete: "Falcão, é claro."

No jogo de volta, o Internacional começou administrando a partida, enquanto o Palmeiras precisava da vitória. A melhor chance paulista do 1º tempo foi uma cobrança de falta de Jorge Mendonça que acertou a trave. No 2º tempo, logo aos 5',  Cláudio Mineiro, quase no meio de campo, cruzou para a entrada da área, onde Adílson ajeitou de cabeça para Bira. De costas para o gol, o centroavante atrasou para Jair, que da entrada da área fuzilou para as redes. Mas aos 7', Rosemiro passou para Jorginho, que lançou para a área. A bola passou por todo mundo e chegou a Mococa, livre, na frente de Benítez, desviar para as redes. Com o empate, o Palmeiras deveria crescer em campo, mas não foi o que ocorreu. Apenas uma chance foi criada pelos visitantes, logo após o empate. No restante do jogo, o Internacional foi mais perigoso e classificou-se para a final com o empate em 1x1.

O adversário colorado na final era o Vasco da Gama. E no jogo de ida, no Maracanã, o Internacional tinha desfalques importantes: Falcão e Valdomiro. Seus reservas eram Valdir Lima e Chico Espina. Para tranquilizá-los, o dirigente colorado Frederico Arnaldo Ballvé renovou seus contratos na véspera do jogo. E aos 28' do 1º tempo os reservas provaram seu valor. Mário Sérgio passou para Valdir Lima, que lançou Chico Espina. O atacante driblou Paulo César e chutou na saída de Leão. Internacional 1x0. Aos 10' do 2º tempo, a zaga colorada afastou um ataque vascaíno e a bola sobrou com Chico Espina, que tocou para Bira, iniciando um contra-ataque. Bira devolveu para Chico Espina, que venceu seu marcador na velocidade, invadiu a área e chutou para as redes. Internacional 2x0 e o campeonato praticamente decidido.

A partida final ocorreu no Beira-Rio, em 23 de dezembro de 1979. O Vasco da Gama precisava vencer por três gols de diferença para conquistar o título. Santana, massagista do Vasco e pai-de-santo, recomendou que o time entrasse com o uniforme de mangas compridas, preto com a faixa branca, apesar do calor da tarde de verão gaúcha. O Internacional começou a partida cauteloso, o que permitiu ao Vasco manter uma partida equilibrada nos primeiros minutos de jogo. Mas a partir dos 25', o Colorado tomou conta do jogo. Aos 41', Mário Sérgio lançou a bola para o ataque, Bira ganhou na cabeça de Gaúcho e Ivã, tocando para Jair, que entrou por trás da defesa vascaína, saindo na frente de Leão. Tranquilamente, o meia colorado driblou Leão e chutou para as redes. Internacional 1x0. Aos 7' do 2º tempo, Valdomiro cobrou falta, acertando o poste esquerdo. Aos 13', Mário Sérgio lançou Cláudio Mineiro, que cruzou rasteiro para a área. Bira disputou a bola com Leão e o rebote sobrou para Falcão, que chutou forte, de primeira, no canto. O Vasco começou a perder a cabeça, depois do 2º gol colorado. Aos 20', após sofrer uma série de dribles de Mário Sérgio, o lateral Xaxá agrediu o atleta colorado com um pontapé, recebendo apenas cartão amarelo. Aos 39', quando a torcida já festejava o título, Wilsinho chutou de longa distância, a bola pegou efeito e enganou Benítez, que falhou no lance. Pouco depois, o juiz José Favilli Neto apitou o fim da partida, O goleiro Benítez entregou a bola ao juiz e, emocionado, deu-lhe um abraço. Aproveitando  a confusão, Bira deu um "peteleco" na bola, roubando-a do juiz e correndo para o vestiário colorado, escondendo-a em um armário.

O Internacional sagrava-se tricampeão brasileiro invicto, feito que nenhum outro clube jamais conseguiu! 

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