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sábado, 16 de maio de 2020

Futebol em Porto Alegre - Capítulo VII - 1931-1935

Em 1931, a cidade passou a contar com seu primeiro "stadium" de fato, o Eucaliptos, inaugurado em 15 de março, na vitória colorada por 3x0 sobre o Grêmio, três gols de Javel.

Também em março de 1931 foi fundada a Liga Atlética Porto Alegrense (LAPA), pelos clubes Furão, Parahyba e Universal. Pouco depois, Athlético Porto-Alegrense e Fluminense filiaram-se à nova entidade.

Para o campeonato de 1931 os clubes começaram a se reforçar cedo. João Totte retornou ao Americano. O clube também contratou Waldomiro Zanini (ex-Bancário), Ary Bicca (ex-Guarany de Alegrete), Juvenal Gonçalves (ex-Floresta SM), Costa (ex-Ypiranga), Bueno (ex-Marechal de Ferro), Reginato (vindo dos juvenis do Concórdia), Edmundo (vindo do 2º quadro do Cruzeiro) e Dirceu Alves (que já havia atuado no Internacional). Lourival Zanini chegou a ser inscrito simultaneamente pelo Internacional e Bancário, ficando com este último. O Força e Luz contratou Ferreira (ex-Cruzeiro), Elpídio e Luizelli (ambos ex-Internacional). Tupan, que mais tarde viria a brilhar no Internacional, jogava pelo Concórdia.

São José e Porto Alegre ingressaram na AMGEA já com o campeonato municipal em andamento. A entidade decidiu marcar uma melhor-de-três entre as duas equipes. A vencedora poderia enfrentar o vice-campeão do campeonato municipal, e caso vencesse, jogar contra o campeão, pelo título da cidade. Mas este cruzamento com o vice e campeão da AMGEA nunca ocorreu.

No dia 30 de agosto de 1931 enfrentaram-se Grêmio e Americano, pelo campeonato municipal. Aos 30' do 2º tempo a partida foi interrompida por um conflito entre os jogadores. A partida vinha sendo marcada por lances violentos e Coró já havia dado duas entradas maldosas no goleiro Alegrete. Ao repetir essa jogada, entrando de sola no goleiro, Alegrete reagiu, acertando algumas bofetadas no gremista. Outros jogadores entraram na briga, que durou alguns minutos. Após a confusão acalmar-se, Lara acertou um soco em Alegrete. Mesmo assim, o tempo restante do jogo foi disputado. No dia 02 de setembro de 1931 a AMGEA decidiu punir apenas o goleiro Alegrete pelas confusões ocorridas. No da 3 de setembro o jonal A Federação demonstra estranheza com a ausência de punição para Coró e Lara e mesmo para outros atletas envolvidos na confusão.1 No mesmo dia, o Americano divulgou uma nota questionando a punição exclusiva de seu goleiro, denunciando que a não punição dos gremistas era em virtude do Tricolor estar na vice-liderança do campeonato e dificilmente chegaria ao título com os desfalques, e anunciando que pedia licença da AMGEA por tempo indeterminado.

Em 28 de setembro de 1931, a AMGEA discutiu a necessidade de se encerrar o campeonato municipal antes de dezembro, faltando ainda o 2º turno a ser jogado. Ildo Meneghetti chegou a propor que fosse realizado um único jogo, um Gre-Nal, para decidir o título. Grêmio e Cruzeiro propuseram que o 2º turno fosse disputado apenas por 5 clubes (o 1º turno teve 9 equipes). Ildo Meneghetti apresenta nova proposta, que acabou aprovada: o 2º turno seria disputado por 8 clubes, com 4 jogos por fim de semana.

O Grêmio conseguiu reverter a situação no campeonato da AMGEA, e ficou com o título. Na AAF, o 8 de Setembro levou a taça. Desconheço o campeão da LAPA.

Os campeonatos de 1931 estavam assim formados:
AMGEA
Internacional, Grêmio, Americano, Bancário, Cruzeiro, Concórdia, Força e Luz, Marechal de Ferro e Ruy Barbosa.
LAPA
Furão, Parahyba, Universal, Luzitano, Athlético Porto-Alegrense e Fluminense.
AAF
8 de Setembro e Bento Gonçalves, entre outros.

Em 1932 a AMGEA decidiu criar uma divisão de acesso, classificando os clubes em Série A e B. A Série A seria composta por Internacional, Grêmio, Cruzeiro, Americano, Porto Alegre e São José, e na Série B ficariam Marechal de Ferro, Concórdia, Ruy Barbosa e Força e Luz. O Marechal de Ferro desistiu logo de disputar o campeonato. Ruy Barbosa e Concórdia resolveram pedir licença da AMGEA e fechar seus departamentos de futebol, às vésperas do início do campeonato. Ambos consideravam que suas boas participações nos campeonatos anteriores deveriam garantir suas presenças na divisão principal.

Para a temporada de 1932 o Cruzeiro contratou Russo (ex-Grêmio, campeão gaúcho em 1931), Baptista (goleiro que veio de Alegrete), Luiz Luz (ex-Americano), Araújo (ex-América RJ, campeão carioca em 1931) e Bortegaray (atacante, ex-Juventude de Caxias do Sul). O Americano preparou-se para o campeonato contratando Ivo (ponteiro que veio de Pelotas), Joãozinho (ex- Vasco da Gama RJ) e Rancho (meia, ex-Ruy Barbosa).

Na AMGEA, o Grêmio conquistou o campeonato. O Força e Luz, único inscrito na Série B, foi declarado campeão. Na disputa do acesso, porém, o Força e Luz foi derrotado pelo São José, último colocado da Série A. Desconheço o campeão da AAF, que provavelmente organizou seu último campeonato.

Os campeonatos de 1932 estavam assim formados:
AMGEA
Série A: Internacional, Grêmio, Americano, Cruzeiro, Porto Alegre e São José.
Série B: Força e Luz.
AAF
8 de Setembro, Bento Gonçalves, Operário, Palmeira e Pelotas, entre outros.

No Torneio Início de 1933, vários clubes apresentaram seus novos atletas. O Internacional apresntou Venenoso (ex-Ideal de Pelotas), Tupan (ex-Porto Alegre), Mabília (ex-São José) e Cavaco. O Grêmio teve como novidade o goleiro Leal (ex-Americano). O Americano teve Barbosa e Lourival (ex-Internacional). O Porto Alegre estreou Folhinha, Jamegão, Viola, França, Amâncio e Mesquita. No Cruzeiro, Gonçalves, Hermínio, Vanário e Rotfuchs foram as novidades. No São José estreou Bavu e no Força e Luz, o zagueiro Faéco.

A temporada teve uma nota triste. Em 24 de abril de 1933, Ramiro Marroni, ex-atleta do Cruzeiro, foi assassinado com um tiro, ao reclamar com um vizinho a agressão sofrida por seu irmão. Um dia antes, Ramiro havia apitado a partida Grêmio 2x0 Americano, pelo campeonato municipal.

Também uma nova liga passa a organizar campeonatos na cidade, a Associação Porto Alegrense de Futebol.

Na AMGEA, o Grêmio venceu a competição. Na APAF, o Carioca ficou com a taça.

Os campeonatos de 1933 estavam assim formados:
AMGEA
Internacional, Grêmio, Americano, Cruzeiro, Porto Alegre e São José.
APAF
Carioca, Gaúcho, Nonohay, Ruy Barbosa, Sokol e Ypiranga.

Em 1934, o Internacional pretendia retomar a hegemonia municipal. Entre suas contratações, destacava-se Darcy Encarnação, atacante campeão gaúcho pelo São Paulo de Rio Grande, no ano anterior. Também chegaram o lateral-esquerdo Lewy (ex-14 de Julho de Santana do Livramento), o centromédio Poroto (ex-Grêmio), e o zagueiro Natal, que seria comparado a Domingos da Guia.

Mesmo assim, o clube ainda enfrentou uma crise. Em 24 de maio de 1934, o major Santiago Borba renunciou ao cargo de presidente do Internacional, alegando ter tido muitos gastos com o clube. Foi substituído por Ildo Meneghetti. Também enfrentou o assédio do Flamengo, que levou o jogador Alfredo Delvaux. O futebol carioca era oficialmente profissional desde o ano anterior, enquanto no Rio Grande do Sul predominava o amadorismo, com pagamentos extra-oficiais.

Um destaque para o campeonato da cidade foi o zagueiro Luiz Luz,  do Americano, convocado para a Copa do Mundo. E com o fim da Série B, o Força e Luz foi incorporado ao campeonato.

No segundo semestre de 1934, surgiu na zona sul da cidade a Associação Tristezense de Esportes Atléticos (ATEA), enquanto a APAF continuava em atividade. Na ATEA, um conhecido jogador seria motivo de polêmica: Javel. O atacante que já havia atuado na dupla Gre-Nal, em 1934 havia sido inscrito por Internacional e Grêmio no campeonato da AMGEA. A confusão piorou quando ele foi para o Rio de Janeiro, acertar com o Flamengo. Não se concretizando a transferência para o futebol carioca, Javel ingressou no Botafogo da Tristeza. Mas disputou apenas uma partida, pois foi acusado de profissionalismo e expulso da liga, enquanto o Botafogo perdeu os pontos da partida.

No final da temporada, o Internacional venceu o campeonato da AMGEA, o Ypiranga venceu o torneio da APAF e o Rondon sagrou-se campeão na ATEA.

Os campeonatos de 1934 estavam assim formados:
AMGEA
Internacional, Grêmio, Americano, Cruzeiro, Porto Alegre, São José e Força e Luz.
APAF
Carioca, Ruy Barbosa, Ypiranga e Municipal, entre outros.
ATEA
Rondon, Castelo, Botafogo, Tristezense, Villa Nova, Aberta dos Morros e 1º de Junho.

A temporada de 1935 seria a última do histórico goleiro gremista Eurico Lara doente do coração,

O campeonato também teve outros momentos trágicos. Em 2 de julho de 1935, na partida Força e Luz 2x1 Porto Alegre, o jogador Walter Costa (Porto Alegre) quebrou a perna em um choque com um adversário.

Em 28 de julho, ocorreu o Gre-Nal do 1º turno. O Internacional vencia por 1x0 quando, no final da partida, um avião deu um rasante no gramado dos Eucaliptos. Avião ainda era uma novidade na época, e torcedores e jogadores distraíram-se com o aparelho barulhento, menos o atacante gremista Castillo, que pegou a bola, correu para o gol colorado e empatou a partida.

Em 25 de agosto de 1935, Michelena, atleta do Americano, foi expulso, na partida contra o Internacional, por ofender o juiz Celso Albert. Após a expulsão, o jogador agrediu o árbitro a bofetadas. Dias depois a AMGEA suspendeu o jogador por seis meses.

Em 12 de outubro de 1935, o Americano assinou um acordo com a Federação de Estudantes Universitários de Porto Alegre, tornando-se Americano-Universitário. Pelo acordo, o clube passaria a ser representado, em todos os esportes, por universitários, e na falta destes, por alunos de outros segmentos, escolhidos pela Federação.

Em 22 de setembro de 1935 ocorreu o Gre-Nal do 2º turno, na Baixada. O Internacional jogava pelo empate, para conquistar o bicampeonato. Preocupado, o Grêmio escalou Lara, que estava acamado. No 1º tempo, o Internacional exerceu forte pressão, mas Lara salvou o Tricolor. Sem condições de saúde para continuar jogando, Lara foi substituído no intervalo. Na 2ª etapa, o Internacional continuou dominando a partida, mas aos 37' do 2º tempo, o Grêmio abriu o placar. O Colorado jogou-se ao ataque, buscando o empate, mas o Grêmio marcou mais um, aos 39', conquistando o título.

A nota triste da temporada foi o falecimento de Eurico Lara, em 6 de novembro de 1935, menos de dois meses depois de sua última partida pelo Grêmio. Uma multidão acompanhou o funeral.

Nas outras ligas, o castelo venceu o campeonato da ATEA. A APAF organizou seu campeonato, mas desconheço se chegou ao final.

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