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quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

HISTÓRIA - Briga de dirigentes colorados na TV


Em 9 de março de 1975 José Asmuz, diretor de futebol do Internacional, e Gilberto Medeiros, vice-presidente colorado, foram convidados a comparecer no programa Jogo Aberto, da TV Difusora (atual Bandeirantes de Porto Alegre). Os dois dirigentes estavam se preparando para concorrerem à presidência do clube, no final do ano. E o caso Escurinho marcou a declaração de guerra oficial entre os dois.


Os dois iriam dar suas versões sobre o caso Escurinho. O jogador, considerado um amuleto da sorte pela torcida, caiu em desgraça com o presidente do clube, Eraldo Hermann, por reclamar publicamente do não pagamento do bicho extra em uma partida do campeonato brasileiro de 1974. Além disso, os dirigentes haviam criticado o desempenho dos jogadores de forma dura, na imprensa. Para amenizar a situação, antes de uma partida Eraldo Hermann se reuniu com os jogadores no vestiário, pedindo desculpas e dizendo que os dirigentes eram torcedores e as vezes, levados pela emoção, falavam coisas que não deviam. Escurinho pediu a palavra, disse que também era torcedor, estava no clube há dez anos e sempre pensava muito antes de falar, o que enfureceu o dirigente.

Em março de 1975, o Internacional foi excursionar pela Europa, com Eraldo junto. O presidente deixou Asmuz com uma missão: renovar o contrato de Escurinho por, no máximo, 9 mil cruzeiros mensais. Escurinho esperava renovar por 15 mil, mas Asmuz era intransigente, fez a proposta do clube e se recusou a ouvir uma contra-proposta. Aborrecido, Escurinho chamou o dirigente de mal-educado e foi afastado do grupo, proibido até de treinar. Gilberto Medeiros, que ficou exercendo a presidência do clube temporariamente, afastou Asmuz da negociação, chamando-o de radical, e ligou para Eraldo Hermann, pedindo autorização para assumir a negociação. Autorizado pelo presidente, para garantir a permanência do jogador no clube e conquistar a torcida, renovou por 11.900 cruzeiros.


Escurinho renovou no dia 7 de março, mas a crise agravou-se. Quando Eraldo Hermann soube que Medeiros havia renovado por mais que os 9 mil iniciais, ficou enfurecido e quase voltou imediatamente da Itália, só permanecendo com a delegação após ser convencido por Franklin Veríssimo, outro vice-presidente que estava na excursão. Mas o próprio Franklin Veríssimo e José asmuz ameaçavam pedir demissão, devido a atitude de Medeiros. Por outro lado, na Itália, os jogadores comemoraram quando souberam da renovação de Escurinho.
Declaração de Eraldo Hermann sobre a decisão de Gilberto Medeiros, no Jornal dos Sports

Voltando ao programa de TV. Medeiros não compareceu e Asmuz começou a dar sua versão dos fatos. De repente, Medeiros aparece na TV e declara: "ouvi em casa o que você disse. É tudo mentira." E começou a contar sua versão. Só começou, porque Asmuz voou sobre Medeiros, agarrou-o pelos cabelos e começou a esmurrá-lo até derrubar o vice-presidente. Tudo ao vivo, na TV, que só saiu do ar após Medeiros estar rolando no chão. A confusão levou cerca de 500 torcedores para a frente da emissora, e Asmuz teve que sair pela porta dos fundos para não correr o risco de apanhar. Já Gilberto Medeiros aproveitou a situação e saiu pela frente, sendo aplaudido por alguns torcedores.


A crise continuou no dia seguinte. Sérgio Jockymann, cronista colorado e comentarista em um programa da TV Difusora, criticou o canal, também ao vivo, por desrespeitar o clube ao não cortar as imagens logo que começaram as agressões. O cronista foi imediatamente demitido.

No clube, Medeiros tratou de capitalizar a agressão. Grupos de torcedores se manifestaram a favor do vice, contra Asmuz. A agressão exigia uma resposta rápida, mas afastar Asmuz, que seria o correto, era complicado para a direção. Rico, Asmuz era avalista de mais de 5 milhões de empréstimos do clube. Além disso, contava com a simpatia dos jogadores, o que não ocorria com Medeiros. Por fim, alguns dirigentes conseguiram convencê-lo a afastar-se temporariamente do clube, sendo depois demitido do cargo. Mas no dia 24 de março, o segundo vice-presidente, Franklin Veríssimo, pediu demissão, contrário ao afastamento de Asmuz.

Mas se Gilberto Medeiros teve vantagem política ao apanhar, seus sonhos não foram longe, naquele ano. Diante da crise surgida com a briga, dirigentes começaram a procurar um nome alternativo. Em 31 de março Frederico Arnaldo Ballvé foi escolhido para o cargo de diretor de futebol, substituindo Asmuz, e no final de 1975 foi eleito presidente do Internacional.

José Asmuz e Gilberto Medeiros tornaram-se inimigos mortais. José Asmuz foi presidente do clube por três mandatos: 1980/1981, 1990/1991 e 1992/1993. Gilberto Medeiros foi presidente por um mandato (1986/1987). E o caso Asmuz/Escurinho ainda teria mais um capítulo, curto: o atacante havia saído do clube em 1978, jogando no Palmeiras (1978) e Internacional de Limeira (1979). No início de 1980 surgiu a possibilidade do jogador voltar ao clube, mas Asmuz, ainda magoado com os eventos de 1975, vetou a contratação de Escurinho.

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