Total de visualizações de página

terça-feira, 21 de julho de 2020

Primeiros relatos de público feminino nos campos de Porto Alegre



Em fevereiro de 1918, em seu primeiro número, a revista Máscara, de Porto Alegre, trazia um texto sobre o público feminino no futebol da capital gaúcha. Curiosamente (ou não) todos os nomes de atletas e dirigentes citados no texto eram colorados. Vale lembrar que em 2 de abril de 1918 o Internacional aceitou sua primeira sócia, Maria Von Ocklel. Chama a atenção, no texto, o momento de transição em que o futebol deixa de atrair apenas os amigos e familiares, e passa a ser assistido por um grupo maior de pessoas, onde o autor (ou autora) do texto coloca um jogador surpreso em não reconhecer as torcedoras que lhe chamam pelo nome.

Pequeno Comentario

As energias dispendidas por alguns enthusiastas do desporto, entre nós, não ficaram sem resultados. Conseguiram, depois de muitos esforços, é verdade, mas conseguiram diffundil-o na sociedade elegante.

A principio parecia haver uma notavel falta de vontade por parte de nossa população e particularmente das nossas familias, que consideravam o foot-ball, e o turf, etc, diversões exclusivamente do sexo forte, mas foram, depois, gradativamente, se convencendo de que a nossa vida social nunca attingiria o brilho que tem nas grandes capitales sem o concurso desse elemento antes irreflectidamente repudiado. E é digna de se registrar a rapidez com que se soube infiltrar na nossa sociedade, o desporto.

Hoje ha uma grande intensidade, uma grande actividade formilha, como nos grandes centros desportivos. Um match de foot-ball desperta hoje, no nosso mundo feminino, tanto interesse como a última creação de chapéo, e Simão lhes é tão familiar como Paquin, o grande costureiro.

É de ver a familiaridade com que num match sensacional, as nossas mais lindas creaturas gritam o nome dos sportsmen valorosos da sua sympathia e que muitas vezes apenas conhecem de vista:
- Anda! Anda, Tullio!
- Ora! Ora, espera, corre, Bitú...
- Che! Assim, assim, Müller!...

Ou então, quando por uma fatalidade, o jogador perde a bola:
- Ora, Godinho!
E o Godinho fica a olhar, a olhar,... pois não as conhece...

Mas, a quem devemos nós essa evolução?
Ao Lemos? Ao Fortini?
Eis uma enquête interessante que nós ainda havemos de iniciar, nesta secção, entrevistando os nomes mais em fóco do nosso meio desportivo.

Zut!

Nomes citados no texto:
Simão - Simão Alves da Silva Filho, zagueiro colorado no pentacampeonato municipal (1913 a 1917).
Tullio - Tullio Soares de Araújo, ponteiro-direito colorado de 1911 a 1917.
Bitú - Ricardo Kluwe, lateral-direito de 1914 a 1921 e 1923 a 1925, era irmão de Carlos Kluwe.
Müller - Carlos Edmundo Miller, atacante colorado de 1913 a 1919.
Godinho - Benjamin Godinho, atacante colorado de 1914 a 1920.
Lemos - Antenor Ribeiro Lemos, foi atleta colorado entre 1910 e 1912, e na época era dirigente do clube.
Fortini - Archymedes Fortini, jornalista e dirigente esportivo. Fez parte do grupo fundador do clube, além de incentivar a fundação de vários outros clubes na capital.






Nenhum comentário:

Postar um comentário