Total de visualizações de página

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Campeonato Brasileiro de Seleções 1922

Seleção gaúcha com o uniforme do Flamengo, na partida contra a seleção baiana.


Em junho de 1922, a Federação Rio Grandense de Desportos (FRGD) começou a preocupar-se com a organização do “scratch” que representaria o estado no primeiro Campeonato Brasileiro de Seleções.

 

O futebol da capital estava dividido desde 1920, e dos principais clubes da cidade, apenas o Grêmio permanecia fiel à FRGD. Com isso, coube a esse clube ser a base da seleção. Em tempos de amadorismo, formar um selecionado que jogaria fora do estado era algo difícil. Os jogadores do Brasil de Pelotas chamados a treinar no “scratch” não puderam comparecer em Porto Alegre, pois não obtiveram licença de seus empregadores. O presidente da FRGD, Paulo Hecker, teve que interferir pessoalmente aos dirigentes da Fiscalização de Serviços da Barra e ao Banco Nacional do Comércio, para conseguir a liberação de Coroliano e Miranda, atletas do Rio Grande.

 

Após vários treinos na capital, onde foram testados vários jogadores, no dia 16 de julho a seleção gaúcha partiu para Curitiba, onde enfrentaria os paranaenses. Os atletas que embarcaram foram os seguintes:

Goleiros: Lara (Grêmio) e Marcelino (Riograndense SM)

Zagueiros: Presser (Ruy Barbosa), Neco (Grêmio) e Romagna (Guarany de Cruz Alta)

Médios: Alfredo (Ruy Barbosa), Xingo (Pelotas), Quincas (Pelotas) e Luiz Assumpção (Grêmio)

Atacantes: Leon (Ruy Barbosa), Lagarto (Grêmio), Bruno (Grêmio), Mosquito (Riograndense SM), Ramão (Grêmio), Willy (Riograndense SM), Barros (Tamandaré SM) e Faeco (Pelotas)

 

No dia 23 de julho, no campo do Internacional, em Curitiba, mais de 10 mil pessoas comparecem para apoiar a equipe paranaense, no jogo eliminatório que valia o título da Região Sul. O árbitro era o carioca Carlos Miranda dos Santos. As equipes foram assim a campo:

 

RS: Lara; Presser e Neco; Quincas, Xingo e Alfredo; Leon, Lagarto, Willy, Mosquito e Ramão

PR: Hermógenes; Albano e Rosa; Rigolino, Falcico e Ninho; Maximino, Zito, Arthur, Joaquim e Djalmo

 

Os principais movimentos da partida ocorreram no início. Aos 9’, Mosquito lançou Leon em velocidade, pela esquerda. O jogador do Ruy Barbosa foi à linha de fundo e cruzou para Willy cabecear para o fundo das redes: gaúchos 1x0! Na saída de bola, os paranaenses atacaram com perigo e Alfredo derrubou Zito, na área. Arthur cobrou a penalidade, defendida por Lara, mas o mesmo jogador pegou o rebote e chutou para as redes. Estava empatada a partida aos 10’ de jogo. Depois, o jogo caiu em rendimento. Os gaúchos jogaram a segunda etapa com dez atletas, pois Alfredo, lesionado, não voltou do intervalo, e não existiam substituições. Mesmo assim, a imprensa gaúcha ressaltou que o juiz deixou de marcar dois pênaltis clamorosos para o Rio Grande do Sul. O empate obrigou à realização de uma nova partida, no dia seguinte.

 

No dia 24 de julho, no mesmo campo do Internacional, com o mesmo árbitro Carlos Miranda dos Santos, diante de outro público de mais de 10 mil pessoas, as duas equipes voltaram a enfrentar-se. Os times estavam assim formados:

 

RS: Lara; Presser e Neco; Faeco, Xingo e Alfredo; Leon, Lagarto, Willy, Mosquito e Barros

PR: Hermógenes; Albano e Rosa; Rigolino, Pena e Ninho; Maximino, Zito, Arthur, Joaquim e Taurizano

 

A partida começa com os gaúchos atuando adiantados, e em um contra-ataque, logo no inicio, Zito avançou em velocidade e abriu o placar para os paranaenses. Aos 14’, novo contra-ataque, mas Alfredo saiu em busca de Zito e chocou-se com ele. O médio-esquerdo gaúcho, que já havia se lesionado no primeiro jogo, precisou abandonar a partida, com fratura na clavícula esquerda. Novamente os gaúchos ficavam com dez em campo, e perdendo de 1x0. Tudo parecia desfavorável, mas a seleção reagiu. Aos 30’, Lagarto passou para Xingo, que chutou forte para empatar. No 2º tempo, mesmo com um jogador a menos, a seleção gaúcha foi para cima dos adversários. Pena cometeu pênalti em Lagarto, que Xingo cobrou e virou o jogo. A seguir, Mosquito lançou Barros, que avançou pela ponta e chutou cruzado para fazer o 3º gol gaúcho. Os paranaenses ainda descontam, quando Maximino escapou pela direita e marcou. Mas em seguida, Lagarto e Leon tabelaram, e quando Hermógenes saiu do gol, Leon chutou para as redes. Placar final: Rio Grande do Sul 4x2 Paraná.

 

Com esse resultado, o Rio Grande do sul classificou-se para o Quadrangular Final, com as seleções de São Paulo, Distrito Federal (cidade do Rio de Janeiro) e Bahia, que seria disputado no centro do país. No dia 25 de julho, embarcaram para São Paulo, onde encontrariam o resto da delegação, Dorival e Totte (Grêmio) e Miranda (Rio Grande).

 

Os gaúchos chegaram a São Paulo no dia 27 de julho. No dia 30, uma surpresa: no Rio de Janeiro, os cariocas empataram com os baianos em 2x2.

 

Em 2 de agosto, os gaúchos entravam em campo, na Chácara da Floresta, para enfrentar a poderosa seleção paulista, de Friedenreich e Neco, e que nas eliminatórias havia batido Minas Gerais por 13x0. O árbitro era o carioca Henrique Vinhaes. As equipes foram a campo com a seguinte formação:

RS: Lara; Presser e Neco; Faeco, Xingo e Dorival; Leon, Lagarto, Willy, Mosquito e Barros

SP: Primo; Bianco e Barthô; Bertolini, Amílcar e Gelindo; Formiga, Heitor, Friedenreich, Neco e Rodrigues

 

Apesar de todo favoritismo paulista, aos 10’ de jogo Barros escapou em velocidade e chutou para o gol. O chute foi fraco, e Primo chegou a defendê-la, mas deixou a bola escapar entre suas mãos e morrer no fundo das redes. Aos 15’, em nova escapada, Barros chutou, a bola desviou em Bianco e foi para o fundo das redes: gaúchos 2x0. Ainda no 1º tempo, aos 39’, os paulistas reagem, Formiga cruzou para a área e Friedenreich cabeceou para as redes. No 1º minuto do 2º tempo, Formiga caiu na área, e o juiz deu pênalti, questionado pela imprensa gaúcha. Friedenreich cobrou o pênalti e marcou, empatando o jogo. Depois disso, a partida transcorreu sem grandes emoções, fora uma lesão de Lara, após chocar-se com Rodrigues. A partida ficou vários minutos parada, e quando Lara voltou, ainda preferiu sair de campo, deixando Mosquito no gol por dois minutos, até regressar a campo. A paralisação gerou uma confusão. Na época, era o cronometrista que marcava o tempo, e não o juiz. E um sinal do mesmo, em um momento que o jogo parou, gerou a impressão que a partida havia acabado. Os jornalistas gaúchos telegrafaram para Porto Alegre, anunciando o empate. Mas a bola voltou a rolar. E aos 35’, pouco depois do falso fim, Neco acertou um chute, virando a partida. Aos 37’, Rodrigues chutou rasteiro para fechar o placar: São Paulo 4x2 Rio Grande do Sul. E muita reclamação da imprensa gaúcha sobre a conduta do juiz.

 

Uma notícia divulgada pouco antes da partida irritou gaúchos e paulistas. A CBF teria declarado que o torneio não era campeonato brasileiro, e sim um festival de futebol para preparar os futuros jogadores da seleção brasileira que disputaria os Jogos Latino-Americanos. O motivo dessa decisão teria sido o empate dos cariocas com baianos, que deixaram os mesmos em posição de inferioridade na disputa pelo título. Realidade ou não, essa decisão não prevaleceu, e o torneio valeu como campeonato brasileiro.

 

No dia 6 de agosto, havia rodada dupla. Em São Paulo, paulistas x baianos, no Rio, cariocas x gaúchos. Os paulistas venceram seu jogo por 3x0. No Rio, em General Severiano, Carlos Miranda dos Santos, o mesmo árbitro carioca dos confrontos contra os paranaenses, comandaria a partida. As duas equipes foram assim a campo:

RS: Lara; Presser e Neco; Quincas, Xingo e Dorival; Leon, Lagarto, Willy, Faeco e Barros

DF: Haroldo; Palamone e Chico Netto; Laís, Alfredinho e Fortes; Leite, Zezé, Pastor, Junqueira e Antenor

 

Nos primeiros 15 minutos de jogo, os cariocas dominaram. Mas aos poucos os gaúchos passaram a controlar a partida. Em um ataque perigoso, Barros acertou um chute na trave. Mas aos 33’, Laís lançou Junqueira, impedido, que passou para Zezé marcar. No 2º tempo, os cariocas predominaram, e aos 21’, Fortes cruzou para a área, Lara escorregou e Leite apanhou a bola, passando para Zezé marcar novamente. Placar final: Distrito Federal 2x0 Rio Grande do Sul.

 

No dia 10 de agosto, na Rua Paissandu, enfrentaram-se as seleções do Rio Grande do Sul e Bahia. O árbitro foi o carioca Carlos Santos. Na preliminar, o segundo time do Flamengo venceu por 2x1 o River, campeão da 2ª divisão carioca. Depois, na hora de entrar em campo, um problema: as duas seleções tinha uniformes semelhantes. Assim, os gaúchos jogaram com o uniforme do Flamengo. As duas equipes foram a campo com a seguinte formação:

RS: Lara; Presser e Neco; Quincas, Xingo e Faeco; Leon, Lagarto, Willy, Mosquito e Barros

BA: Baby; Durval e Santinho; Mica, Popó e Nebulosa; Asterio, Petiot, Vivi, Manteiga e Sandoval

 

A partida foi parelha, com os gaúchos predominando no 1º tempo e os baianos na 2ª etapa. E aos 25’ do 2º tempo, Manteiga cruzou para Petiot marcar o único gol do jogo. Placar final, baianos 1x0 gaúchos. No dia 13 de agosto, em São Paulo, os paulistas venceram os cariocas por 4x1, ficando com o título brasileiro.

 

Da seleção gaúcha que disputou o primeiro campeonato brasileiro, o ponteiro-esquerdo Barros, no ano seguinte ingressou no Internacional. O goleiro reserva Marcelino seguiu o mesmo caminho, em 1924. O lateral-esquerdo Alfredo, irmão do atacante Leon, jogou no Internacional de 1931 a 1933.


Nenhum comentário:

Postar um comentário